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Este estudo analisa a forma que a gestão do ensino médio público do Distrito Federal assumiu no sistema de ensino a partir da execução de uma política pública para a educação financiada por uma organização multilateral de crédito externo, especificamente no locus da Gerência de Ensino Médio (GEM) da Secretaria de Estado de Educação do Distrito Federal (SEDF), à luz das ações advindas do Ministério da Educação (MEC)/Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID).

Nestes termos, a concepção de educação busca problematizar um corpo de conhecimentos que ultrapasse o entendimento imediato na explicação, na aparência da realidade (KOSIK, 2002, p. 44). Os aspectos ontológicos que permearam a investigação foram norteados por questionamentos dirigidos ao objeto proposto, no intuito de apreendê-lo e aproximá-lo das necessidades reais da sociedade, na direção de mudanças de suas atuais estruturas (GAMBOA, 2007, p. 23).

Nesse sentido, partiu-se do pressuposto de que as concepções, as percepções e a prática dos gestores dessas instituições resultam da interação complexa de fatores enraizados na cultura política local e nas relações instituídas pelas ações humanas, “constituindo-se em um constante processo simultâneo de consolidação, contradição e

mudança” (GATTI, 2007, p. 13). Assim, optou-se pela abordagem qualitativa fundamentada na perspectiva histórico-dialética, em razão de que as nuanças de sentido e os elos existentes entre as compreensões e as percepções desses sujeitos sobre as realidades por eles vivenciadas explicam as relações, os movimentos e os elementos que as articulam.

A escolha dos princípios da dialética, como método de investigação, embasou-se na compreensão de que a relação da gestão educacional com a realidade histórica, política e socioeconômica apresentou-se como parte integrante do todo nas relações de produção. Nesse sentido, o materialismo histórico-dialético permite compreender a essência da matéria pela identificação de suas contradições e pelo esclarecimento das relações existentes entre o todo com a parte e da parte com o todo. Desse modo, a contradição constituiu-se categoria dialética neste estudo e define-se como principal instrumento de análise, ao tempo em que se compreendeu que a gestão da educação se estabelece e se configura em meio às contradições inerentes ao Estado capitalista neoliberal.

A perspectiva para a análise das ações dos sujeitos e dos discursos, contidos em documentos oficiais das instituições envolvidas, considerou que a realidade contém nexos e cisões e que, a partir dela, torna-se possível elaborar uma “visão de conjunto”, para velar os seus significados e captar o mais concretamente possível as contradições e as mediações contidas nas percepções desses atores (KONDER, 2007, p. 36).

Assim, coadunamos com o pensamento de Kosik (2002, p. 35 e 36) a respeito de realidade, ao afirmar que ela “é interpretada não mediante a redução a algo diverso de si mesma, mas explicando-a com base na própria realidade, mediante o desenvolvimento e a ilustração das suas fases, dos momentos do seu movimento”; e também que “o caminho entre a „caótica representação do todo‟ e a „rica totalidade da multiplicidade das determinações e das relações‟ coincide com a compreensão da realidade”.

Em razão da perspectiva de confronto intentada nesta investigação, entre o contido nos discursos dos sujeitos pesquisados e nos documentos do BID, MEC/FNDE e SEDF, para fins de elucidação dos posicionamentos contrários, elege-se a categoria gestão, no âmbito das contradições que permeiam o sistema de ensino do Distrito Federal, sobretudo quanto às determinações políticas, organizacionais e estratégicas originárias dos governos federal e distrital para o ensino médio público, e que orientam a consecução do objetivo desse estudo. Compreende-se que a gestão da educação constitui, em sentido amplo, uma “reação à forma descomprometida, „neutra‟, tecnicista e mantenedora da realidade vigente com que a administração da educação se desenvolveu na década de 70”, e que repercute, especificamente, no “processo político-administrativo, contextualizado e historicamente situado, através do qual a prática social da educação é organizada, orientada e viabilizada”

(GRACINDO; KENSKI, 2001, p. 113-114).

Os sujeitos da pesquisa constituíram-se de sete gestores envolvidos na execução do Promed, a saber, quatro da Secretaria de Educação do Distrito Federal (SEDF), dois do Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE) e um do escritório de representação do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), localizado na cidade de Brasília, Distrito Federal.

Os critérios de escolha dos sujeitos buscaram atender as especificidades de cada instituição, a saber:

a) SEDF – ter ocupado cargo de gestor nas fases de planejamento, execução ou prestação de contas do Promed/DF;

b) MEC/FNDE – ter integrado uma das áreas de concentração da fiscalização do Promed, em âmbito nacional;

c) BID – ter ocupado cargo ou gerenciado as ações do Promed no âmbito das áreas social ou educacional de seu escritório em Brasília, Distrito Federal.

Para a construção dos dados, optou-se pela utilização de entrevistas semi- estruturadas, por compreendermos que construir dados qualitativos proporciona “perspectivas possíveis para que o informante alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação” (TRIVIÑOS, 2008, p. 146). Concomitante à utilização desse instrumento, realizou-se uma análise documental junto às instituições envolvidas na execução do Promed, no intuito de traçar um perfil, compreender e desvelar as condicionalidades políticas, sociais e educacionais em que o programa foi acordado e captar a visão de educação que orientou a implantação do mesmo.

Os documentos do BID para análise incluem o relatório Secondary Education in Latin America and the Caribbean: the challenge of growth and reform, publicado em 2000; os relatórios anuais dos anos 2000 a 2008, referentes, respectivamente, ao período de 1999 a 2007; o Convênio Constitutivo, edição de 1996; o relatório de término do projeto Promed, aprovado pelo BID em 13 de junho de 2007; e a Proposta de Empréstimo no. BR-0300, incluindo-se o seu Sumário Executivo. No âmbito da Secretaria de Educação do Distrito Federal, analisou-se o relatório Promed - Projeto de Investimento, elaborado em abril de 2001; o Regimento Interno; o Termo de Convênio 097/2001, que permitiu a execução do programa nessa Unidade da Federação; e as normatizações para o sistema distrital e para seus estabelecimentos de ensino, em especial, a Lei no. 4.036/2007.

No Ministério da Educação, no Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação e no governo federal, examinou-se os relatórios e as sinopses estatísticas do Censo Escolar, referentes aos anos de 1991 a 2009; o Contrato no. 1225/OC/BR, firmado entre Brasil e BID para a execução do Promed; os Relatórios de Atividades do FNDE, dos anos 2004 a 2006; o relatório de gestão da Secretaria de Educação Básica/MEC, do ano 2004; e o processo administrativo que registrou e autorizou a contração do empréstimo do Brasil junto ao BID, na esfera de competência do Senado Federal, em que se incluem resoluções, requerimentos, pareceres e publicações no Diário do Senado Federal.

O exame dos documentos do Banco, juntamente com a legislação institucional, decorrentes do acordo Brasil x BID, permitiu compreender as políticas e as contradições existentes na educação básica pública, particularmente as financiadas por organismo multilateral de crédito externo, o prescrito por meio das ações oriundas do Promed e a realidade resultante da execução, no âmbito do ensino médio público do Distrito Federal.

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