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7 METODOLOGIA

7.2 A METODOLOGIA NA PRÁTICA DESTA PESQUISA

Estes breves parágrafos a seguir servem para que, pesquisadores iniciantes – como eu – possam encontrar algum subsídio, um relato sobre como a pesquisa se deu. Assim, vou narrar rapidamente os caminhos que a minha pesquisa percorreu até a chegada dos resultados. Espero que isso sirva para orientar e desmistificar (um pouco) a pesquisa acadêmica.

O trabalho começou a ser escrito já durante as aulas do mestrado. Sempre busquei relacionar os assuntos das disciplinas ministradas com o tema internacionalização. Nem sempre foi possível, é verdade. Mas boa parte do aporte teórico da minha dissertação surgiu das aulas, dos debates e dos textos sugeridos pelos professores; ou da ressignificação de textos já conhecidos antes do ingresso no mestrado. Por isso, penso que a primeira “dica” ao mestrando iniciante seria esta: aproveite as aulas, os textos e os professores, sempre buscando relacionar os assuntos tratados em sala de aula com o tema da sua dissertação. É importante lembrar, também, que ao longo de quase todo primeiro semestre ainda não tinha certeza de quem me orientaria, nem mesmo se haveria mudanças no pré-projeto apresentado. O importante é direcionar as leituras e os trabalhos para o tema (por mais geral que seja até o início das orientações).

Paralelo a isso, tive a chance de participar de algumas reuniões do grupo de pesquisa coordenado pela minha orientadora. Apesar de não ter participado diretamente em nenhuma das pesquisas do grupo, estar presente nas reuniões e ouvir teoria e experiências contribuiu muito para que eu identificasse, dentro do meu tema, as perspectivas atuais que estavam em voga, já que eram pesquisas que estavam em andamento. Isso foi muito importante, pois, como

meu tema – internacionalização – é recente, há poucas pesquisas finalizadas sobre o assunto.

Assim, ao fim do segundo semestre de aulas, eu já estava com os capítulos teóricos da qualificação praticamente prontos (somente com a produção dos trabalhos em sala de aula e conhecimentos/leituras prévios ao mestrado), faltando apenas alguns aprimoramentos, como o Estado da Arte (EA). Ao se realizar o EA, acho importante destacar alguns pontos como “dicas”: a) delimitar um período histórico/de tempo que faça sentido à pesquisa (eu usei a criação do Programa Ciência sem Fronteiras, para demonstrar uma conexão entre políticas públicas e produção acadêmica); b) delimitar as palavras-chaves (as minhas foram internacionalização – ensino superior – educação superior), de maneira que os resultados sejam filtrados; c) escolher os bancos de dados (isso vai depender, creio, do tema da pesquisa, da experiência do mestrando e das orientações do/a orientador/a). Se ainda após esses filtros os resultados forem muitos numerosos, aconselho usar outras delimitações. Eu utilizei critérios como: interlocutores (apenas trabalhos com foco na Instituição; não nos estudantes); em instituições brasileiras; em língua brasileira; etc... Nesse ponto, a ajuda do orientador é fundamental.

O capítulo metodológico foi produzido como trabalho final da disciplina de Metodologia. Poucas mudanças foram feitas neste capítulo. Cabe aqui mencionar, porém, que isso pode não ocorrer. Ao longo da pesquisa, pode-se sentir necessidade de lançar mão de outros métodos de coleta e de análise de dados. É necessário ter em mente que a pesquisa não é estanque e sequencial, que os capítulos – teórico, metodológico e de análise – podem, e devem, ser alterados conforme as novas descobertas são feitas. Exemplo disso para mim foi que as entrevistas com os gestores fizeram surgir a necessidade de aprimoramentos no aporte teórico. Vejo isso como positivo, pois traz traços únicos à pesquisa, diferenciando-a do lugar-comum em que cai grande parte das dissertações e teses produzidas...

A produção dos dois primeiros semestres foi levada à qualificação em março de 2016. Esse é um momento importantíssimo para a construção da pesquisa, pois é – provavelmente – a primeira vez que alguém que não o autor e seu orientador olham sobre o material produzido. Como minha banca foi atenta

e pertinente, acatei praticamente todas as sugestões de melhorias. Mas é sempre necessário, porém, esclarecer a pertinência dessas sugestões com a orientação do trabalho: nem sempre tudo que foi sugerido pode ser feito ou tem pertinência relevante ao trabalho. Saber separá-las é fundamental.

Com a qualificação aprovada, esperei findar o semestre de aulas para dar início à pesquisa documental e entrevistas. Isso ocorreu em agosto/setembro do mesmo ano. Achei interessante que os gestores entrevistados deram dicas de aprimoramentos e, principalmente, indicaram documentos a serem analisados. Sem a ajuda deles, esse trabalho não poderia ter sido realizado. Especificamente sobre as entrevistas, cada uma das três executadas – um dos gestores não quis participar – foi única. Dois entrevistados pediram que enviasse as questões/pontos de debate antes da gravação da entrevista, mas não vi relação entre qualidade das respostas e conhecimento prévio do roteiro.

Na realização de uma das entrevistas uma terceira pessoa, servidora da UnB, juntou-se à conversa. Ela não estava prevista como fonte, mas suas colaborações foram fundamentais. Aqui, mais uma vez, ressalto que a pesquisa está repleta desses momentos, desses imprevistos. E eles devem ser aproveitados.

Em posse das entrevistas e de boa parte do material documental – vale salientar que a UnB entrou em greve, o que prejudicou o andamento desta pesquisa – montei um sumário do que eu percebi como sendo relevante e levei esse aporte à orientadora para, assim, definirmos as categorias de análise. Não foi possível definir uma linearidade na definição dessas categorias: umas foram definidas nas entrevistas; outras pelos documentos. A constatação de uma levava à outra ou invalidava uma terceira. Foi necessário manter “a cabeça aberta”, porém sempre tendo em mente as questões de pesquisa, bem como a hipótese, para que houvesse uma convergência entre os dados. O ponto de partida para essa definição foi a análise ambiental da UnB, no capítulo 5.

Categorizar as falas dos entrevistados foi tarefa especialmente trabalhosa, visto que nem sempre a pergunta era respondida na ordem requisitada. Houve, inclusive, um dos entrevistados que não respondeu a nenhuma pergunta, optando por proceder a uma conversa desestruturada.

Nesse caso, coube a mim instigar as respostas e, posteriormente, procura-las, já que estavam fora de ordem, misturadas umas as outras. Ocorreu, também, de não haver respostas para algumas perguntas. Mas até mesmo o silêncio pode – e deve – ser analisado. Pode representar desconhecimento, indiferença. Marcadores que merecem a atenção de um pesquisador.

Por fim, gostaria de esclarecer que esta pesquisa foi um processo que envolveu todos os aspectos da minha vida e, por isso, é parcial e pessoal. Procurei, em posse dos dados e leituras, dar significados a eles, um novo significado, inédito. Percebi muita preocupação, por parte dos colegas do mestrado, em buscar um modelo, um ideal de dissertação. Eu busquei o oposto: o diferente, o autoral. Trilhei um caminho ímpar e não me arrependo. Espero, assim, que esse breve relato ajude aos pesquisadores a fazer mais que apenas pesquisa: espero ter inspirado a verdadeira inovação.

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