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5 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NO CONTEXTO DA CRISE: DA

5.1 Os primeiros 50 anos

Dois anos após a criação de Brasília, a UnB nasceu inédita, com todas as dores e delícias que isso pode despertar, “sem molde nem precedente” (RIBEIRO, 1978, p. 47). No Brasil, pela inexistência, e no mundo, pela rigidez, elitização e hierarquização excessivas, a Universidade de Brasília foi projetada de forma livre e “ousadamente” fruto do “repensar radicalmente a Universidade como Instituição” (RIBEIRO, 1978, p. 65). Caberia, assim, à nova Instituição “atender os requisitos exigidos do centro cultural de uma cidade-capital recém- inaugurada” o que resultaria num “modelo original de Universidade para Brasília” (RIBEIRO, 1978, p. 57). Por outro lado, a originalidade despertou debates acalorados que o projeto da UnB levantava entre seus defensores e “os que se opunham a ela, em defesa de quadratice catedrática de pequenas glórias acadêmicas e de antigas posições hegemônicas no controle do ensino superior” (RIBEIRO, 1978, p. 24).

A ambição da Universidade de Darcy começou a ruir já na sua criação, mas agravou-se com o golpe de 64, que derrubou um governo que “não caiu por suas deficiências múltiplas: foi derrubado em função de suas qualidades. Fundamentalmente pelo temor que de que se concretizassem as reformas [...] entre elas a reforma universitária, que tinha seu plano-piloto na Universidade de Brasília. (RIBEIRO, 1978, p. 82-3). Se é certo que a UnB não foi diretamente a causadora dos incidentes de março de 1964, também o é que a Instituição foi duramente reprimida durante os anos de repressão. A primeira invasão ao campus se deu pouco mais de uma semana depois da tomada de poder pelos militares, com professores sendo presos e interrogados. No ano seguinte, a segunda violação, que resultou na demissão compulsória de 15 professores ao que se seguiu a saída voluntária de 223 dos 305 professores da Instituição. Em 1968, um protesto de estudantes nas dependências da UnB contra a morte de Edson Luis de Lima Souto, no Rio de Janeiro, levou a uma nova invasão e na

prisão de sete estudantes, entre eles Honestino Guimarães, cuja morte pelo regime militar foi reconhecida em 2013.

A UnB refletiu – pode-se dizer que ainda reflete, como se verá a seguir – no seu campus os processos políticos pelos quais o Brasil passou durante o Regime Militar. As obras, que eram, em grande parte, propaganda de manutenção da ditadura, também ocorreram em grande número na UnB nesse período: a Reitoria, o Centro Olímpico, o Restaurante Universitário ganharam forma em prédios modernos, cujos arquitetos de renome internacional lideravam o planejamento. Além disso, novos cursos foram instituídos, conforme modelo aprovado em 1961, em oposição ao conservadorismo da LDB do mesmo ano. Assim, enquanto a Universidade sofria grandes golpes contra seu corpo docente e discente (em especial), sua estrutura física e institucional crescia e se consolidava. É interessante que essa dualidade entre conservadorismo e inovação estava presente na UnB desde a sua criação. E permanece, de outras maneiras, até hoje.

Prova disso é que, no início daquela que seria a década perdida, ainda sob o jugo dos militares, a UnB implantou um programa de Ensino a Distância, no curso Introdução à Ciência Política, disponibilizado em nove Estados brasileiros. A instabilidade política continuou, com mais algumas greves de alunos e professores sendo deflagradas. A situação começou a se acalmar em 1984 quando Cristóvam Buarque foi eleito pela comunidade acadêmica Reitor da UnB. Seu mandato iniciou-se no ano seguinte, em 26 de julho. Ainda nos anos 80, em 87 e 88, duas iniciativas da UnB chamam atenção para os fins desta pesquisa, que versa sobre internacionalização: o 1º Festival Latino-Americano de Arte e Cultura (Flaac), em comemoração aos 25 anos da UnB em 1987; e a criação no ano seguinte da Casa da América Latina (CAL).

Os anos 90 iniciaram com uma emblemática concessão de doutor honoris causa a Nelson Mandela, título concedido quatro anos mais tarde também a Darcy Ribeiro, cujo nome foi dado ao Campus da Asa Norte da UnB, em 1995. Em 1996, a UnB criou o Programa de Avaliação Seriada (PAS), uma alternativa ao vestibular tradicional, o que segundo o ex-vice-reitor da UnB Isaac Roitman, foi uma medida para modificar a realidade na qual apenas egressos do ensino

médio da elite tinham acesso ao ensino superior36. Foram reservadas ao PAS 50% do total das vagas de ingresso na graduação. Como perceptível na UnB, a inovação foi seguida por uma greve de professores e servidores, contra reformas que o governo federal pretendia impor ao serviço público. O movimento foi repetido em 1998, com 104 dias de paralisação.

O novo século começou com inovação na UnB: a Universidade tornou-se a primeira Universidade federal a ter um sistema próprio de cotas, aprovado elo Conselho de Ensino, Pesquisa e Extensão (Cepe), em 2003. O Plano de Metas para integração social foi adotado no vestibular de inverno de 2004. A taxa de preenchimento das vagas destinadas a negros foi de 96,4%. Dois anos mais tardes foi a vez dos indígenas serem contemplados, com a disposição de 10 vagas às quais concorrem 600 índios. A inclusão também se dá na região com a expansão da UnB em dois campi: Ceilândia e Planaltina. O fim da década trouxe a renuncia do reitor Timothy Mulholland, acusado de desvios de verbas públicas em 2008. Em seu lugar foi eleito José Geraldo de Sousa Júnior.

Em seus primeiros 50 anos de história, a UnB oscilou entre momentos de invenção e de descaminho. Esses movimentos opostos construíram uma Instituição ímpar, cujo histórico e localização explicam suas peculiaridades atuais. Assim, após esse registro histórico apresentado, fiz uso de dois instrumentos de gestão para caracterizar a UnB nos dias de hoje: Bases do Planejamento estratégico (2011-2015) e Plano de Desenvolvimento Institucional (2014-2017). Essa escolha se deu, pois esses documentos abrangem a totalidade dos processos de gestão na UnB no período da atual reitoria (2013- 16).

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