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5 UNIVERSIDADE DE BRASÍLIA NO CONTEXTO DA CRISE: DA

5.2 A UnB hoje

Para caracterizar uma Universidade com dados além dos números, fiz uso dos instrumentos de gestão acima citados. Em especial, exponho os conceitos

36 Em “A conquista de uma Universidade de qualidade”, artigo publicado online na página UnB

de missão e visão desses documentos, bem como das análises ambientais presentes neles (análise SWOT – sigla em inglês que correspondem às palavras

forte (Strong), Fraco (weak), oportunidades (opportunities) e ameaças (threats)

– também chamada da análise FOFA, correspondente em português). Penso que como foram elaborados pelas mesmas pessoas que executam a gestão (não é uma lei, ou alguma resolução que venha de fora da Instituição), eles nos dão uma visão mais apurada do que é a UnB atual.

O documento de 2011 (a) e o de 2014 (b) trazem a visão e missão da UnB. Apesar de diferentes, como se verá abaixo, os textos trazem pontos em comum, que convergem para um mesmo modelo de gestão (em ambos os excertos, grifos meus):

a) Missão: “Ser uma Universidade comprometida com o saber e a busca

de soluções de problemas do País e da sociedade, educando homens

e mulheres para o compromisso com a ética, com os direitos humanos, o desenvolvimento socioeconômico sustentável, a produção de

conhecimento científico, cultural e tecnológico, dentro de referenciais

de excelência acadêmica e de transformação social.”

b) Missão: “Ser uma Instituição inovadora, comprometida com a

excelência acadêmica, científica e tecnológica formando cidadãos

conscientes de seu papel transformador na sociedade, respeitadas a

ética e a valorização de identidades e culturas com responsabilidade social.”

Ambas as visões mostram a UnB como uma Instituição comprometida com a melhoria da dimensão social em que a Instituição está inserida; preocupada com padrões de excelência, assim como ser promotora de valores éticos.

Quanto às visões (onde a Universidade pretende estar no futuro), tem-se o seguinte (grifos meus):

a) Visão: “Ser uma das três maiores Universidades Federais do País

e referência como: Instituição de excelência acadêmica, integrada internacionalmente às diversas áreas do conhecimento; inovadora

na geração, disseminação, aplicação e gestão do conhecimento;

padrão na gestão pública moderna, integradora, transparente e

democrática; Instituição humanizadora que ofereça à comunidade universitária qualidade de vida, infraestrutura adequada e boa relação entre as pessoas.”

b) Visão: “Estar entre as melhores Universidades do Brasil, inserida

internacionalmente, com excelência em gestão de processos que

fortaleça o ensino, pesquisa e extensão.”

Novamente foi possível perceber a convergência de aspectos a serem valorizados no presente para que se atinjam os resultados pretendidos no futuro. A posição da Universidade em rankings de qualidade (apesar de no caso b não apresentar especificamente uma posição como em a); a inserção internacional; e a excelência em gestão parecem ser as prioridades a serem buscadas.

Para apresentar as análises SWOT de ambos os casos, utilizo o quadro abaixo, de minha autoria:

Quadro 1 – Análise SWOT: fatores internos Fatores internos Documento a Documento b P on to s F or te s

• Qualidade acadêmica de professores, técnicos e estudantes;

• Capacidade de gerar e captar recursos e de fomento a atividades acadêmicas; • O patrimônio imobiliário e histórico; • Infraestrutura e capacidade laboratorial

instalada;

• Criatividade e independência intelectual da comunidade;

• Politização com comportamento proativo e ousado;

• Processo interno de reestruturação e modernização;

• O orgulho do servidor de ser UnB; • Compromisso com boas práticas de

gestão pública; • Comunicação social.

• Imagem institucional;

• Corpo docente, técnicos e discentes qualificados;

• Localização geográfica privilegiada;

• Patrimônio imobiliário;

• Inovação no ingresso e políticas de inclusão em estrutura

multicampi;

• Grande capacidade de gerar projetos inovadores;

• Programas de pós-graduação e pesquisa;

• EAD/TICS na educação; • Cursos de graduação com

excelência;

• Gestão democrática e oportunidade de discussão.

P on to s F ra co s

• Alta rotatividade de servidores em função dos baixos salários, capacitação

insuficiente e precárias condições de trabalho;

• Baixo envolvimento institucional dos servidores, falta de coesão interna e visão institucional e resistência a mudanças e ao funcionamento impessoal da Instituição; • Incapacidade gerencial;

• Espaço físico e infraestrutura

inadequados ou insuficientes em função de problemas na gestão/manutenção do patrimônio;

• TI desatualizada, ineficiente, desintegrada. Falta de documentação de processos, sistemas e procedimentos;

• Esvaziamento do quadro de pessoal; diferenciação, precarização dos contratos de trabalho;

• Comunicação institucional – falta de plano;

• Carência de política de sustentabilidade e gestão ambiental;

• Necessidade de aprimoramento em cursos de graduação ou pós-graduação.

• Ineficiência dos processos;

• Ineficiência das políticas, normas, e procedimentos em TI e

comunicação;

• Falta de integração em sistemas de informação e comunicação; • Fragilidade da comunicação

interna e externa (comunitária, institucional e com a sociedade); • Fragilidade de políticas de gestão

de pessoas;

• Inadequação qualitativa e

quantitativa da infraestrutura física e tecnológica para o novo contexto sociocultural;

• Inexistência da cultura do planejamento;

Incapacidade da execução de obras no tempo planejado; • Fragilidade na gestão do patrimônio

mobiliário e imobiliário;

• Insegurança patrimonial, intelectual e pública;

• Fragilidade na governância. Fonte: elaboração própria com base nos dados nos documentos em análise.

Quadro 2 – Análise SWOT: fatores externos Fatores externos Documento a Documento b O po rt un id ad es /p on to s fo rt es

• Facilidade de acesso a fontes de fomento e a financiadores nacionais e internacionais;

• Localização da UnB;

• Imagem da Universidade: confiança e credibilidade;

• Cenário nacional de ciência e tecnologia favorável ao fomento de atividades acadêmicas;

• Economia em expansão com demanda de recursos humanos especializados;

• Pressão externa por transparência.

• Legislação favorável;

• Fomento à melhoria das licenciaturas e programas de iniciação à docência – PIBID

• Adesão aos programas de ingresso de alunos e expansão de políticas de assistência estudantil no ensino superior; • Internacionalização, interculturalidade

e mobilidade; • Universíade;

• Acordo e autorização de novas vagas e liberação de vagas de servidores; • Industrialização do centro-oeste; • Avanços tecnológicos e tecnologia

aplicada ao ensino, pesquisa e extensão com a expansão do EaD e fomento à inovação tecnológica; • Proximidade geográfica com o pode

decisório; • Marca UnB.

A m ea ça s/ po nt os fr ac os • Descontinuidade da política de educação superior;

• Perda de pessoal qualificado para outros órgãos públicos;

• Limitações à autonomia universitária e descontinuidade do processo de implantação;

• Impactos negativos à imagem da UnB em face a sua atuação;

• Inadequação dos marcos regulatórios para as IFES e de controle de seus mecanismos de gestão;

• Baixos salários;

• Dificuldade de reposição de pessoal;

• Sistema educacional não-inclusivo, restrito e de baixa qualidade; • Redução de recursos

orçamentários.

• Restrição de recursos em função da conjuntura econômica e de baixo crescimento do país;

• Insegurança jurídica e excesso de legislação e inadequação desta; • Perda de servidores;

• Instabilidade de recursos financeiros locais para ciência, inovação e tecnologia e redução do financiamento

governamental (federal e local); • Greves frequentes;

• Inadequação da infraestrutura local oferecida pelo GDF (transporte, segurança);

• Indefinição do período de transição HUB/EBSERH que gera dispêndio financeiro à UnB;

• Redução na captação de recursos próprios em função da criação da O.S Cebraspe.

Fonte: elaboração própria com dados dos documentos em análise.

Levando em conta que a análise “a” foi feita em 2009 e a “b” em 2014, percebe-se que a primeira carrega um tom mais otimista que a segunda. Isso se justifica pelos momentos vividos em cada época. Em especial, na análise externa, alguns pontos citados são conflitantes entre a e b, inclusive alguns fatores considerados pontos fortes no primeiro aparecem como pontos fracos no segundo. O maior exemplo gira em torno da crise financeira. Em 2009, ainda via- se o “Cenário nacional de ciência e tecnologia favorável ao fomento de atividades acadêmicas”, bem como uma “Economia em expansão com demanda de recursos humanos especializados”. Já na análise mais recente esse otimismo deu lugar a uma “Restrição de recursos em função da conjuntura econômica e de baixo crescimento do país”; à “Instabilidade de recursos financeiros locais para ciência, inovação e tecnologia e redução do financiamento governamental (federal e local)”; além da insegurança gerada pelas reformas que atingiram o hospital universitário (HUB) – com a criação da Empresa Brasileira de Serviços Hospitalares (Ebserh) – e da extinção do Centro de Seleções e Promoção de Eventos (Cespe), que hoje foi substituído pelo Centro Brasileiro de Pesquisa em Avaliação e Seleção e de Promoção de Eventos (Cebraspe).

De qualquer forma, apesar dessas diferenças, em ambas as análises percebe-se alguns pontos em comuns presentes, como a insegurança quanto à continuidade das políticas de ensino superior; a legislação (caracterizada como

excessiva, inadequada); a redução de recursos (tanto os repasses quanto as captações próprias da Universidade); e a manutenção de servidores nesse cenário, já que Brasília possui amplo mercado de trabalho para servidores públicos e as condições de trabalho na Universidade não são tão atraentes quanto no judiciário ou no legislativo (federal e distrital).

Por outro lado, há oportunidades identificadas que merecem ser analisadas para que se possa amenizar as dificuldades das ameaças. Entre elas, destacam-se como ponto comum entre os documentos a confiança que a marca UnB inspira e a localização geográfica da Universidade (proximidade às fontes de financiamento e ao poder decisório, industrialização do centro-oeste). O PDI ressalta ainda, como novidade ao PE de 2009, a internacionalização e as novas TICs. Quanto às políticas estudantis e às novas vagas para servidores, talvez hoje não sejam mais oportunidades, mas ameaças, visto os cortes crescentes que a educação sofreu.

Quanto ao ambiente interno da UnB – lembrando que esses ambientes não estão separados, mas interagem e se retroalimentam, sendo aqui apresentados apartados apenas por motivos de facilitar a análise – os documentos também apresentam coincidências e divergências, sendo estas mais brandas que as das análises externas. As fragilidades da gestão de pessoas, institucional e de comunicação organizacional aparecem em ambos planejamentos (a e b); bem como os problemas de infraestrutura e de TI, ambos considerados desatualizados para o contexto atual. Todos esses problemas acabam gerando efeitos na eficiência dos processos e, consequentemente, crises no ambiente de trabalho.

Quanto aos pontos fortes identificados no PE e no PDI, a maioria deles está focada nos recursos humanos da Instituição. Servidores, professores e alunos qualificados, com qualidade acadêmica, dão margem à oportunidade de uma boa gestão, à construção cursos de excelência e à inovação. Isso tudo impacta a imagem institucional da UnB, que também foi tida como ponto positivo. Além disso, foram citados os patrimônios – físico, histórico e intelectual – e o uso já consolidado na UnB das novas tecnologias para o ensino a distância.

Além dessa análise conjuntural, apresento a estrutura organizacional da UnB. Seus 3273 técnicos-administrativos e 2835 docentes, além de 1106 estagiários, estão distribuídos entre quatro campi – Darcy Ribeiro, na Asa Norte; Ceilândia, Gama e Planaltina. Esses são administrados numa estrutura composta por Reitoria, Unidades Acadêmicas, Centros, Conselhos Superiores e órgãos complementares, conforme organograma a seguir:

Figura 1 – Organograma UnB

Após a apresentação da UnB e da análise de sua conjuntura interna e externa, posso traçar um perfil da Universidade hoje: uma Instituição com uma

imagem inovadora, com boa capacidade de pessoal, mas que necessita melhorar seus processos internos de gestão em meio a um cenário de incertezas, em que as oportunidades não podem ser dispensadas. Ou seja:

a UnB é uma Instituição que possui as ferramentas necessárias para enfrentar a crise – financeira, política, de legitimidade – que a Universidade pública enfrenta no Brasil. E, uma das atividades que pode efetivar esse enfrentamento, conforme esta pesquisa procurou demonstrar, é a internacionalização.

Por fim, retomando o diagnóstico de Darcy Ribeiro acerca da Universidade brasileira e as reflexões do reitor Ivan Camargo acerca da necessidade de retomar a autonomia da Instituição, meu intuito foi contribuir para que essas discussões permaneçam e obtenham resultados proveitosos que possam indicar caminhos para a recuperação e avanço do ensino superior no Brasil. Nesse contexto, a UnB, pela sua história e pelo sua posição – geográfica e política – não pode se furtar de participar das discussões, tendo como orientação “a fidelidade aos padrões internacionais do saber e a busca de soluções para os problemas nacionais” (RIBEIRO, 1978, p. 87).

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