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3 MÉTODO

3.3 METODOLOGIA

Levando-se em consideração o que foi apresentado acima em relação à abordagem da pesquisa, à metodologia de coleta e à análise de dados, pode-se afirmar que este é um estudo de casos cruzados (vide Figura 3.1); conforme indicado por (GERRING, 2007, p. 20):

“Um estudo de caso pode ser entendido como o estudo intensivo de um determinado caso único cujo propósito – ao menos em parte – é esclarecer uma grande classe de casos (uma população). A pesquisa de estudo de caso pode incorporar vários deles, isto é, pode tornar-se um estudo de casos múltiplos. Porém, em um determinado ponto, não é mais possível investigar esses casos em profundidade. A partir do ponto em que a ênfase do estudo muda de um caso individual para uma amostra de casos, pode-se afirmar que o estudo é um caso cruzado” (destaque nosso) (Gerring, 2007, p. 20)24

Considerou-se, ademais, que cada caso escolhido acompanhasse uma orientação de estudo de caso interpretivo, segundo sugerido no trabalho de Walsham (1995b), e usam-se as recomendações de entrevista qualitativa apresentadas no trabalho de Myers & Newman(2007) como ferramenta para coleta de evidência.

Walsham (ibidem) destaca o fato de que quando se realiza um estudo de caso interpretivo, devem ser consideradas as atividades do pesquisador como uma intrusão de um observador alheio ao ambiente de pesquisa – entendido como um universo particular onde será feita uma investigação especial. Então, ponderam-se nesta pesquisa os seguintes pontos (WALSHAM, 1995a):

24 Tradução livre para

: “A case study may be understood as the intensive study of a single case where the

purpose of that study is –at least in part – to shed light on a larger class of cases (a population). Case study research may incorporate several cases, that is, multiple case studies. However, at a certain point it will no longer be possible to investigate those cases intensively. At the point where the emphasis of a study shifts from the individual case to a sample of cases, we shall say that a study is cross-case.”

a) Papel do pesquisador. Uma vez que o pesquisador é um elemento externo ao ambiente onde desenvolverá a pesquisa, ele deve tentar guardar para si suas próprias opiniões e permitir que o sujeito explicite o mais que puder suas apreciações e interpretação do problema em estudo.

b) Evidência das entrevistas. Os entrevistados são a fonte primária dos dados, portanto as interpretações deles irão fornecer a massa critica de análise. É importante, então, a forma como é desenvolvida a entrevista. O seu estilo pode depender da percepção que se tenha do entrevistado. As entrevistas devem ser gravadas para que possam ser totalmente transcritas ou, em sua impossibilidade, para que considerem a maior quantidade de anotações. É importante mencionar que uma boa técnica não é condição suficiente para obter-se uma boa entrevista.

c) Métodos de fazer a reportagem. Em geral, a forma de anunciar os resultados é crítica, mas a situação é ainda mais grave no caso referente ao estudo interpretivo. Isto porque o pesquisador não está apenas expressando sua interpretação dos fatos, mas o está fazendo a partir da interpretação do sujeito que vivencia o problema. Portanto, passa a ser importante a maneira como esses dados serão repassados.

Esses três pontos devem foram considerados na etapa de levantamento de evidência na fase de campo.

3.3.1 Escolha dos casos

O critério utilizado para escolher os casos foi, fundamentalmente, o de que as empresas em estudo contemplassem as características das KIBS. Elas deveriam fornecer serviços baseados em conhecimento que por sua vez, possuem diferenças em relação serviços tradicionais. No ANEXO A: P-KIBS x T-KIBS, observam-se as considerações para escolher uma firma do tipo T-KIBS e firmas de serviços que não são consideradas KIBS. As P-KIBS são empresas de serviços tradicionais, as T- KIBS estão amplamente vinculadas a desenvolvimentos tecnológicos ou utilizam e modificam tecnologia para fornecer seu serviço.

Posteriormente, foram apreciadas a socialização e a memória organizacional como duas variáveis dependentes e a gestão de conhecimento como uma variável

independente. Nesse sentido, a premissa foi de que cada firma possui uma cultura organizacional própria e diferente das outras, refletindo nos seus processos de socialização e na forma como armazenam sua informação. De forma que foram utilizados três critérios na escolha das unidades de análise:

 Tempo de existência: é importante que a empresa haja atravessado pelos vários empecilhos decorrentes do fornecimento de um serviço. Isto é, deve existir uma base de experiência;

 Profissionais na área: considera-se importante que a empresa conte com especialistas, este requisito é importante para poder avaliara o modelo teórico e as proposições. Consideram-se profissionais às pessoas que hajam desenvolvido uma habilidade em torno a uma atividade específica e que a consigam desenvolver de forma diferenciada;

 Gestão da informação: para que uma unidade de análise seja considerada valida para esta pesquisa, deve-se identificar a existência de um KMS.

Baseando-se nesses critérios, foram escolhidas três KIBS, como descritas resumidamente:

a) KIBS 1: empresa fornecedora de serviço de teste de software e outras tarefas análogas: engenharia de mudanças, terceirização, treinamento especializado, etc.

b) KIBS 2: empresa de tipo OPT, dedicada a realizar pesquisa aplicada. Seus serviços incluem principalmente soluções de origem tecnológica.

c) KIBS 3: empresa de tipo OPT, totalmente especializada no desenvolvimento de software e no fornecimento de suporte a pequenas empresas de software.

Quadro 3.1 – Resumo das unidades de análise Unidade de

Análise Codificação Rubro KIBS/OPT Validada como T-KIBS

1 KIBS1 Teste de software KIBS Sim

2 KIBS2 Tecnologia OPT Sim

3 KIBS3 TI: software e hardware OPT Sim

3.3.2 Coleta de evidência

O método de coleta de dados que servirá para afirmar ou negar as proposições da pesquisa e para ajudar a responder suas perguntas é chamado de levantamento de evidência. No estudo de caso, o instrumento de coleta de dados (ou evidência) é a entrevista interpretativa, isto é, a focalização de roteiros semiestruturados (com uma sequência lógica de perguntas) e não estruturados (considerando as perguntas que aparecem a partir das observações de experimento25) de perguntas.

Portanto, requerer-se-ão fontes de informação e o acompanhamento e redação dos resultados dessa informação por meio de um catalisador: o pesquisador. Neste sentido, a ferramenta mais utilizada é a entrevista. Sendo assim, revisam-se aqui as formas de entrevista e as lacunas que poderiam ser consideradas quando requerida sua utilização.

Os estudos de caso se baseiam em entrevistas de diferentes tipos. Myers; Newman (2007) citam as seguintes como as mais genéricas:

 Entrevista estruturada: quando existem roteiros de perguntas fechadas e eles não podem ser modificados. Esta entrevista é mais utilizada em pesquisa do tipo survey;

 Entrevista desestruturada ou semiestruturada: realiza-se a partir de um roteiro incompleto, preparado com antecipação. Entretanto, o entrevistador deve estar pronto para improvisação;

 Entrevista de grupo: nesse caso, duas ou mais pessoas são entrevistadas, ao mesmo tempo, por um o mais pesquisadores. Essa entrevista pode ser estruturada ou desestruturada.

Os mesmos autores sugerem que os problemas e falhas que poderiam acontecer nesse tipo de levantamento de dados são:

 Artificialidade da entrevista: devido ao contexto ou ambiente em que a entrevista é realizada. Pode acontecer tanto porque o entrevistado não

25 A acepção da palavra experimento, aqui, está associada com a possibilidade de repetir a

construção de um caso – obtido através de pesquisa na literatura – contrastando características do que acontece na prática. Contudo, um experimento pode conter mais de uma perspectiva quando aplicado; dependendo do critério do(a) pesquisador(a).

demonstra interesse em registrar a entrevista, como também porque o pesquisador se sente desconfortável no ambiente ou influenciado por este;  Lacuna de confiança: algumas perguntas podem sugerir ao entrevistado

entrar em detalhes íntimos sobre a empresa ou situações similares;

 Lacuna de tempo: refere-se ao espaço de tempo ser muito curto para obter um ambiente favorável para a entrevista;

 Nível de acesso: poderia existir acesso apenas a um nível hierárquico ocasionando miopia no entendimento de outros níveis;

 Viés de elite: se o entrevistador considerar que o entrevistado tem muito conhecimento e sentir-se ameaçado por essa situação, pode acontecer de perder algumas ideias;

 Efeito Hawthorne: criar protótipos de pessoas e considerar alguns fatos antes de realizar uma entrevista;

 Construção de conhecimento: quando se enfrenta uma entrevista com pouco conhecimento sobre o tema, pode parecer que tudo é novidade. Esta percepção pode ser transmitida ao entrevistado, de modo a apenas recolher informações que podem não ser relevantes para a pesquisa;

 Ambiguidade linguística: a forma de realizar uma pergunta pode impedir que o entrevistado compreenda o sentido correto da pergunta e acabe explicando um tema que não corresponde àquilo que se está tratando de descobrir;  Entrevistas com incidentes: as entrevistas são repletas de detalhes, medos e

desconfianças, de modo que o entrevistador poderia ofender o entrevistado sem ter a intenção explícita de fazê-lo. Se acontecer, o entrevistado pode abandonar a pesquisa.

O trabalho de campo consiste em entrevistas semiestruturadas sucessivas com pessoas que possam fornecer dados referentes ao funcionamento e estrutura do sistema de gestão de conhecimento dentro das KIBS. Considera-se que essas entrevistas irão ajudar a gerar novas perguntas que serão feitas para outras pessoas. Do mesmo modo, as novas perguntas voltarão a ser elaboradas para os mesmos indivíduos, acrescentando as modificações resultantes de cada entrevista anterior. Chamamos esse processo de entrevista evolutiva, devido ao fato de que

cada rodada de entrevistas permite aprimorar as perguntas que possibilitem um entendimento ou interpretação de como o entrevistado interpreta o problema em estudo. Segundo Gerring (2004), o objetivo do estudo de caso piloto é criar uma base de conhecimento exploratória para os casos subsequentes e ajudar a formular novas hipóteses a serem testadas a partir dos próximos casos. Nesse estudo, os objetivos em cada caso foram considerados complementares para responder à pergunta inicial da pesquisa. A aplicação dessa metodologia na KIBS1 serviu como estudo de caso piloto e ajuda a discriminar as limitações e empecilhos que foram encontrados durante o desenvolvimento das atividades de campo nesta organização. Desta forma, o roteiro utilizado nessa empresa ajudou a formular a “evidência primária”. Esta, por sua vez, deu suporte ao roteiro utilizado na KIBS2 e, de igual forma, na aplicação na KIBS3. No entanto, sempre que possível, retornou- se indistintamente a cada empresa para avaliar a nova evidência (vide Figura 3.1). No próximo item, apresenta-se a estratégia de pesquisa, que seria o caminho a se seguir no intuito de coletar dados e responder às perguntas da pesquisa.