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Capítulo 3. Promoção da Energia Renovável: Análise Descritiva e Análise Cluster

3.1 Metodologia

No presente capítulo são analisados indicadores relativos ao uso das energias renováveis e indicadores que se prevê que se alterem com a promoção do uso das energias renováveis e com os objetivos traçados pela Diretiva 2009/28/CE.

A escolha da análise cluster para identificar mudanças na estrutura energética da União Europeia justifica-se pelo facto de se pretender estudar o comportamento da União como um todo e também o comportamento dos grupos de países com características semelhantes. A análise será realizada para a União Europeia a 27. Isto é, exclui-se a Croácia uma vez que, à data da emissão da Diretiva 2009/28/CE a Croácia não fazia parte da União Europeia, tendo só entrado em 1 de Julho de 2013. A exclusão deste país permite retirar desvios de análise de efeitos por não ter adotado as disposições da Diretiva desde do seu início.

De referir ainda que, a análise será feita para dois anos: 2009 e 2015. Por um lado, 2009 foi o ano da entrada em vigor da Diretiva 2009/28/CE, que define os objetivos da União Europeia quanto à produção de energia renovável para 2020. Por outro lado, 2015 é o ano para o qual se encontra informação mais recente.

Tendo por base os argumentos, a metodologia e as conclusões do trabalho de Marques et al. (2010) analisado no ponto 2.2., formação de grupos de países para desenvolver a análise cluster será realizada sob três critérios: i) critério institucional/legal, ii) critério económico e iii) critério ambiental. O primeiro critério considera os target definidos na Diretiva, o segundo critério tem em conta do PIB per capita dos Estados-Membros e, por fim, o último critério é baseado na emissão de gases com efeito de estufa per capita. De seguida cada critério é definido de forma mais detalhada sendo apresentados os grupos de países sob cada um dos critérios.

Critério 1 – Objetivo definido para 2020 na Diretiva (𝑺𝟐𝟎𝟐𝟎)

Aplicando o Critério 1 os Estados-Membros são distribuídos em 3 grupos de países de acordo com objetivos delineados na Diretiva para 2020. O Grupo I é constituído pelos

países com um objetivo superior ao da média Europeia (20%), o Grupo II é constituído pelos países com um objetivo próximo do objetivo médio da União Europeia e o Grupo III é constituído pelos países com um objetivo pouco exigente (menor que 15%):

𝑮𝒓𝒖𝒑𝒐 𝑰: 𝑺𝟐𝟎𝟐𝟎 ≥ 𝟐𝟎% 𝑮𝒓𝒖𝒑𝒐 𝑰𝑰: 𝟏𝟓% ≤ 𝑺𝟐𝟎𝟐𝟎 < 𝟐𝟎%

𝑮𝒓𝒖𝒑𝒐 𝑰𝑰𝑰: 𝑺𝟐𝟎𝟐𝟎 < 𝟏𝟓%

A utilização deste critério tem por objetivo verificar se, em termos médios, existem comportamentos distintos consoante a o nível de exigência para 2020.

O Quadro 6 apresenta os grupos de países formados de acordo com o Critério 1.

Quadro 6 – Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 1

Fonte: Elaboração própria.

O grupo de países estabelecidos de acordo com o Critério 1, permitem retirar algumas conclusões quanto aos avanços pretendidos pelo Estados-Membros na promoção das energias renováveis. Verificamos que 12 países da UE – 27, ou seja, 44%, apresentam um target para a quota de energia proveniente de energias renováveis superior à média fixada para a UE. No entanto, 30% dos países ainda apresentam objetivos inferiores aos 15% de energia proveniente de fontes renováveis. É importante reter que no universo da UE – 27, 66% dos Estados-Membros não pretende atingir o target de 20%, donde podemos concluir que o Grupo I é o motor da promoção das energias renováveis na União Europeia. O país com objetivo mais elevado é a Suécia, com um objetivo de 49%, e o país

Grupo II 15% ≤ S2020 < 20% Grupo III S2020 < 15%

(12 países) S2020 (7 países) S2020 (8 países) S2020

1º Suécia 49% 11º Alemanha 18% 15º Eslováquia 14%

2º Letónia 40% 11º Grécia 18% 15º Países Baixos 14%

3º Finlândia 38% 12º Itália 17% 16º Bélgica 13%

4º Aústria 34% 13º Bulgária 16% 16º Chipre 13%

5º Portugal 31% 13º Irlanda 16% 16º Hungria 13%

6º Dinamarca 30% 14º Reino Unido 15% 16º República Checa 13%

7º Eslovénia 25% 14º Polónia 15% 17º Luxemburgo 11%

7º Estónia 25% 18º Malta 10% 8º Roménia 24% 9º França 23% 9º Lituânia 23% 10º Espanha 20% Grupo I S2020 ≥ 20%

com o objetivo mais baixo é Malta, com um target de 10%, dando uma amplitude 39p.p., o que revela a forte heterogeneidade entre países. Portugal integra o Grupo I, sendo o 5º país com o objetivo mais elevado (31% de quota para energias provenientes de fontes renováveis).

Critério 2 - PIB per capita

Aplicando o Critério 2, os Estados-Membros são divididos em três grupos de países de acordo com PIB per capita (a preços correntes de 2009) do seguinte modo:

Grupo I: 𝑷𝑰𝑩 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 ≥ 𝟐𝟕 𝟎𝟓𝟕€

Grupo II: 𝟐𝟐 𝟏𝟑𝟕€ ≤ 𝑷𝑰𝑩 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 < 𝟐𝟕 𝟎𝟓𝟕€

Grupo III: 𝑷𝑰𝑩 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 < 𝟐𝟐 𝟏𝟑𝟕€

Na definição do Critério 2 utilizou-se o PIB total15 da UE a 27 em 2009, a preços correntes de 2009, e o valor da população da União Europeia à data de 1 de Janeiro de 2010. O PIB per capita da UE foi então calculado em 24.597 €. Para estabelecer os parâmetros considerou-se que: i) os países com PIB per capita superior a 110% do PIB per capita da UE são considerados países de riqueza baixa; ii) os países com PIB per capita situado entre 90% e 110% do PIB per capita da UE são considerados países de riqueza média; e iii) os países com PIB per capita inferior a 90% do PIB per capita da UE são considerados países de riqueza alta. Os cálculos encontram-se efetuados nos Apêndices 1 e 2.

O Quadro 7 descreve os três grupos formados com a aplicação do Critério 2.

15 Fonte:http://ec.europa.eu/eurostat/tgm/table.do?tab=table&init=1&language=en&pcode=tec00001&plu gin=1, acedido em 27/05/2018.

Quadro 7 – Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 2

Fonte: Elaboração própria

No que concerne ao Critério 2, o número de países que se enquadra no grupo de rendimento médio é relativamente baixo comparativamente com os países que pertencem aos grupo de rendimento elevado e de rendimento baixo, que representam, respetivamente, 40,7% e 48,1% dos Estados-Membros. Lidera a tabela o Luxemburgo com um PIB per capita de 74.200€ e o país que se encontra em último lugar é a Bulgária com um PIB de 5.000€ per capita. Portugal insere-se no Grupo III – países de rendimento baixo- em 17º lugar com um PIB per capita de 16.600€.

Critério 3 - Emissões de gases com efeitos de estufa

Aplicando o Critério 3, os Estados-Membros são distribuídos em três grupos de países, de acordo com as emissões de gases com efeitos de estufa em toneladas, per capita (GGE16), de acordo com os seguintes critérios:

𝑮𝑮𝑬 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 ≥ 𝟏𝟐 𝒕𝒐𝒏.

𝟖 𝒕𝒐𝒏. ≤ 𝑮𝑮𝑬 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 < 𝟏𝟐 𝒕𝒐𝒏. 𝑮𝑮𝑬 𝒑𝒆𝒓 𝒄𝒂𝒑𝒊𝒕𝒂𝟐𝟎𝟎𝟗 < 𝟖 𝒕𝒐𝒏.

Na definição e tratamento dos dados que deram origem ao Critério 3, incluiu-se a Croácia17 no valor do GGE per capita. Os intervalos para definir os grupos com base no

16 GGE – do inglês Greenhouse gas emissions.

Grupo II Grupo III

(11 países)

PIB per capita

2009 (3 países)

PIB per capita

2009 (13 países)

PIB per capita 2009

1º Luxemburgo 74.200 12º Itália 26.400 15º Grécia 21.400 2º Dinamarca 41.900 13º Espanha 23.300 16º Eslovénia 17.700 3º Irlanda 37.500 14º Chipre 23.100 17º Portugal 16.600

4º Holanda 37.400 18º Malta 14.900

5º Áustria 34.500 19º República Checa 14.200

6º Finlândia 33.900 20º Eslováquia 11.800

7º Suécia 33.300 21º Estónia 10.600

8º Bélgica 32.300 22º Hungria 9.400

9º Alemanha 30.600 23º Letónia 8.800

10º França 30.000 24º Lituânia 8.500

11º Reino Unido 27.600 25º Polónia 8.300

26º Roménia 6.100 27º Bulgária 5.000 Grupo I

Critério 3 têm como referência o valor de GGE per capita da UE-2818 que foi de 9,6 ton. per capita. Estabeleceu-se como valor médio de 10 toneladas per capita e considerou-se que uma amplitude de 4 toneladas em torno do valor médio seria considerado o grupo de emissões de intensidade intermédia, ou seja, o grupo cujas emissões se situavam, per capita, entre as 8 toneladas e as 12 toneladas. Países cujas emissões se encontram abaixo das 8 ton. per capita, são considerados países com emissões de intensidade baixa. Os países com emissões superiores a 12 ton. per capita, são considerados países com emissões de intensidade elevada.

A formação de grupos de acordo com o critério definido encontram-se no Quadro 8.

Quadro 8 – Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 3

Fonte: Elaboração própria.

Respeitante ao Critério 3, verifica-se que os grupos formados são mais homogéneos, em termos de números de países. O Grupo I, formado pelos países de emissões de intensidade elevada, representa cerca de 30% dos Estados-Membros. A mesma percentagem de países incluem-se no Grupo III, que corresponde ao grupo de países de emissões de intensidade baixa. Os restantes 40% dos Estados-Membros incluem-se no grupo de países de emissões de intensidade intermédia. O país com maiores emissões de GGE per capita é o Luxemburgo com 25,9 toneladas. No fundo da tabela está a Letónia com emissões de 5,3 ton. per capita. Portugal é o 19º Estado-Membro com menor emissão

17A inclusão da Croácia na definição deste critério prende-se com o facto de não se encontrarem dados onde este país esteja excluído. Considera-se que a emissão dos gases com efeito de estufa, pela Croácia, não seja tão significativa que altere os dados em análise.

18 Incluiu-se aqui a Croácia, pelas razões já explicadas.

Grupo II Grupo III

(12 países)

GGE per

capita 2009 (11 países)

PIB per capita

2009 (8 países)

PIB per capita 2009

1º Luxemburgo 25,9 8º Dinamarca 11,8 17º Malta 7,9

2º Irlanda 14,2 9º Alemanha 11,4 18º Bulgária 7,8

3º República Checa 13,3 9º Grécia 11,4 19º Portugal 7,2

4º Chipre 13,2 10º Polónia 10,2 20º Hungria 6,6

5º Holanda 12,9 11º Reino Unido 10,1 21º Suécia 6,5

5º Finlândia 12,9 12º Áustria 9,8 22º Lituânia 6,4

6º Estónia 12,6 13º Eslovénia 9,6 23º Roménia 6,2

7º Bélgica 12 14º Eslováquia 8,5 24º Letónia 5,3

14º Itália 8,5

15º Espanha 8,3

16º França 8,1

Grupo I

de GGE da UE, pertencendo ao grupo III, ou seja, de emissões de intensidade baixa (7,2 ton. per capita)

Note-se que, Portugal é um dos países com maior objetivo de quota de energia renovável em 2020 e simultaneamente, no ano de análise, ocupa o grupo de países de rendimento baixo e o grupo de países com emissões de intensidade baixa. Por outro lado, o Luxemburgo é o país mais rico da UE – 27, segundo o critério definido, e ocupa simultaneamente o primeiro lugar no critério de emissões de gases com efeitos de estufa e apresenta um objetivo para 2020 de apenas 11%, ocupando o penúltimo lugar. Daqui podemos inferir que a definição de objetivos mais ou menos elevados não está relacionados com a riqueza ou intensidade emissora de gases com efeito de estufa. Apenas a Finlândia pertence, consistentemente, aos três primeiros grupos formados pelos três critérios.

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