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Incentivos à Produção de Energia Renovável na União Europeia

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Academic year: 2021

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INCENTIVOS À PRODUÇÃO DE ENERGIA RENOVÁVEL NA

UNIÃO EUROPEIA

Elísio António da Silva Cunha

Dissertação

Mestrado em Economia

Orientado por

Professora Doutora Maria Paula Vicente Sarmento

(2)

Nota biográfica

Elísio Silva Cunha nasceu a 4 de Março de 1993 em Ovar, Portugal.

Concluiu os estudos secundários na Escola Secundária José Macedo Fragateiro, em Ovar, em Ciências e Tecnologias. Durante esse percurso desempenhou diversos cargos de representação estudantil e teve assento no Conselho Geral.

Foi agraciado, em 2009, com as Chaves da Cidade da Cidade de Mineola, nos Estados Unidos da América.

Ingressou, em 2010, na Faculdade de Economia do Porto, na Licenciatura em Economia. Desde cedo a área da Economia o fascinou, tendo encontrado na FEP uma escola capaz de lhe lançar as bases científicas e académicas para um futuro cada vez mais exigente. Concluiu a Licenciatura em 2015. No mesmo ano, com o objetivo de aprofundar e consolidar o plano curricular da Licenciatura em Economia, inscreve-se no Mestrado em Economia, que o frequenta até à data.

Desde Outubro de 2016 trabalha no Banco Crédito Agrícola, onde começou por exercer na Área Operacional, tendo agora as funções de Analista de Risco de Crédito.

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Agradecimentos

Quero, em primeiro lugar, agradecer à Professora Paula Sarmento, não só por exercer a sua função de docente e orientadora de forma profissionalmente exemplar, mas também pelo cuidado, apoio e amizade na orientação e nos conselhos em cada etapa da realização da minha Dissertação.

Aos meus avós, Elísio e Maria José, um profundo obrigado porque que sem eles não me teria tornado na pessoa que hoje sou nem teria alcançado as vitórias que até hoje conheci. Um agradecimento que se estende a toda a minha Família.

À Maria, pela paciência e motivação diárias, pelos inputs dados para que se tornasse mais fácil a realização deste Dissertação, o meu obrigado.

Aos meus amigos, aqueles que constantemente me questionavam pelo evoluir desta Dissertação sempre com o intuito de nunca desistir, o meu obrigado.

Por fim, à Faculdade de Economia do Porto, que apesar das paredes frias e cinzentas, consegue ser a mais acolhedora Casa que um FEPiano pode conhecer: obrigado por tudo.

(4)

Resumo

O objetivo da presente dissertação é analisar os incentivos à produção de energia renovável na União Europeia percebendo, sobretudo, como funcionam os principais instrumentos regulatórios, quais são as variáveis motivacionais que influenciam a produção de energia renovável e qual o comportamento dos Estados-Membros nesse processo.

A dissertação permite fazer um ponto de situação sucinto da realidade Europeia na questão das energias renováveis, dando enfâse especial aos fatores responsáveis pelo incremento da energia elétrica renovável.

Na dissertação são adotadas duas abordagens: uma análise descritiva da situação atual quanto aos incentivos à produção de energia renovável em Portugal e na União Europeia e uma análise da evolução de algumas variáveis relativas à produção e consumo de energia renovável para a União Europeia no período 2010 a 2015, baseada em três critérios - um institucional, um económico e um ambiental – por forma a perceber o comportamento daquelas variáveis sob diferentes perspetivas. Posteriormente, recorrendo à análise cluster, testam-se em SPSS, as variáveis em estudo, para 2015, a fim de perceber qual o critério predominante na evolução das variáveis.

Os resultados da análise mostram que, de forma geral, os critérios têm uma influência positiva na evolução das variáveis, contudo não se encontrou uma relação de linearidade robusta, eventualmente por força das limitações do estudo, de qual o critério com maior impacto. Por outro lado, os resultados da análise cluster sugerem que é o critério institucional é o que tem maior impacto na evolução das variáveis.

Códigos-JEL: L50; L51; L52; L94

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Abstract

The main purpose of this dissertation is to analyse the renewable energy production incentives in the European Union, understanding how the main regulatory instruments work, what the motivational variables that influence the production of renewable energy are and what the behaviour of the member states is in this process.

The dissertation enable an understanding of European reality regarding renewable energies, emphasizing the responsible factors of electric renewable energy growth.

In this study there are two approaches of the subject: a descriptive analysis of the production of renewable energy incentives’ current situation in Portugal and in the European Union; and also an analysis of the evolution of a selection of variables related to renewable energy production and consumption in the European Union between 2010 and 2015, based on three criteria - institutional, economical and environmental- in order to perceive the behaviour of such variables in different perspectives.

Then, using a cluster analysis in SPSS the variables were tested to see which that influences variables’ evolution is in 2015. The results show that the criteria have a positive influence on the variables’ evolution, however there was no robust linearity relation found on the criterion with strongest impact. On the other hand, the cluster analysis results showed that the institutional criterion is the one that has the biggest impact on the variables evolution.

JEL-codes: L50; L51; L52; L94

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Índice

Nota biográfica ... ii Agradecimentos ... iii Resumo ... iv Abstract ... v Índice ... vi

Índice de quadros ... vii

Índice de figuras ... ix

Introdução ... 1

Capítulo 1. Instrumentos Regulatórios de Incentivo à Produção de Energia Renovável ... 5

1.1. Enquadramento ... 5

1.2. Classificação dos Instrumentos ... 5

1.3. Incentivos Fiscais ... 10

1.4. Quotas ... 14

1.5. Tarifas Feed-in ... 14

1.5.1. Definição ... 14

1.5.2. Modelos ... 14

1.5.3. Características de eficiência económica da Tarifas Feed-in ... 22

Capítulo 2. A Energia Renovável na União Europeia ... 24

2.1 Posição Histórica e Motivacional ... 24

2.2 Motivação Empírica ... 27

2.3 Os Incentivos às Energias Renováveis em Portugal e na Europa ... 32

Capítulo 3. Promoção da Energia Renovável: Análise Descritiva e Análise Cluster... 38

3.1 Metodologia ... 38

3.2 Análise das Variáveis ... 43

3.3 Análise Cluster ... 60

Conclusão ... 67

Apêndices ... 70

Referências bibliográficas ... 71

(7)

Índice de quadros

Quadro 1 – Classificação dos instrumentos regulatórios ... 8

Quadro 2 – Incentivos fiscais, em alguns Estados-Membros da UE-27 ... 13

Quadro 3 – Objetivos nacionais para os Estados-Membros da UE-27, para a quota de energia proveniente de fontes renováveis em 2020 ... 26

Quadro 4 - Objetivos anuais e trajetórias mínimas indicativas de cumprimento para Portugal ... 33

Quadro 5 - Principais instrumentos regulatórios usados nos Estados-Membros da UE - 27 na produção de energia elétrica renovável ... 36

Quadro 6 - Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 1 ... 39

Quadro 7 - Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 2 ... 41

Quadro 8 - Grupos de Estados-Membros formados de acordo com o Critério 3 ... 42

Quadro 9 - Médias das QER observadas para cada grupos formado com o Critério 1 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 44

Quadro 10 - Médias das QER observadas para cada grupos formado com o Critério 2 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 45

Quadro 11 - Médias das QER observadas para cada grupos formado com o Critério 3 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 46

Quadro 12 - Médias da PER (em 1000 Toe) para cada grupo formado pelo Critério 1 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 49

Quadro 13 - Médias da PER (em 1000 Toe) para cada grupos formado com o Critério 2 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 50

Quadro 14 - Médias da PER (em 1000 Toe) para cada grupos formado com o Critério 3 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 50

Quadro 15 - PER per capita para cada grupo formado com o Critério 1 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 53

Quadro 16 - PER per capita para cada grupo formado com o Critério 2 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 53

Quadro 17 - PER per capita para cada grupo formado com o Critério 3 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 54

Quadro 18 – Taxas de crescimento da PER per capita, entre 2010 e 2015, para os 3 grupos formados pelos 3 critérios e para a UE-27 ... 54

(8)

Quadro 19 – Percentagem PEO para cada grupo de países formado com o Cirtério 1 e para

a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 55

Quadro 20 – Percentagem PEO para cada grupo de países formado com o Critério 2 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 55

Quadro 21 – Percentagem PEO para cada grupo de países formado com o Critério 3 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 56

Quadro 22 – Percentagem PES para cada grupo de países formado com o Critério 1 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 58

Quadro 23 – Percentagem PES para cada grupo de países formadoscom o Critério 2 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 58

Quadro 24 – Percentagem PES para cada grupo de países formado com o Critério 3 e para a UE-27, para os anos de 2010 a 2015 ... 58

Quadro 25 – Clusters e Outliers foarmados pelo Método do Vizinho Mais Próximo ... 62

Quadro 26 – Clusters e Outliers formados pelo Método do Vizinho Mais Longe ... 63

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Índice de figuras

Figura 1 - Árvore dos Incentivos à Produção de Energia Renovável ... 6

Figura 2 - Representação do Modelo do Preço Fixo... 16

Figura 3 - Representação do Modelo do Preço Fixo com Ajustamento de Inflação ... 17

Figura 4 - Representação do Modelo da Tarifa Front-end loaded ... 18

Figura 5 - Representação do Modelo do gap do Preço de Mercado ... 19

Figura 6 - Representação do Modelo do Preço Premium ... 20

Figura 7 - Representação do Modelo do Preço Premium Variável ... 21

Figura 8 - Representação do Modelo da Percentagem do Preço de Mercado ... 22

Figura 9 - Quota de Energia Renovável no Europa, em 2015 ... 48

Figura 10 - Produção de Energia Renovável na Europa, em 2015 ... 52

Figura 11 - Dendrograma dos Resultados Obtidos pelo Método do Vizinho mais Próximo, para 2015 ... 61

Figura 12 - Dendrograma dos Resultados Obtidos pelo Método do Vizinho mais Longe, para 2015 ... 63

Figura 13 - Dendrograma dos Resultados Obtidos pelo Método de Ward, para 2015 ... 65

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Introdução

As últimas décadas têm sido excepcionais para a Humanidade. As sociedades, no geral, têm vivido um período de crescimento e desenvolvimento económico sem par na História. A riqueza mundial aumentou, motivada pela conjuntura económica favorável, como a industrialização de regiões mais atrasadas do mundo, o aumento do rendimento e do consumo nas regiões mais desenvolvidas. O período de paz geral e as alterações aos paradigmas sociais, como o aparecimento dos sistemas de segurança social e os progressos da medicina, tiveram como consequência o aumento exponencial da população e o aumento da esperança média de vida. Em 2014 a população mundial atingiu os 7,2 mil milhões de humanos (Nações Unidas (2015)), quando em 1990 eram cerca de 5,3 mil milhões. As cidades cresceram fruto do aumento populacional e dos “êxodos rurais” nas regiões menos desenvolvidas do globo. Segundo o Departamento de Assuntos Económicos e Sociais das Nações Unidas (2015), 54% da população mundial vive em centros urbanos percentagem que pode chegar aos 67% em 2050. Por exemplo, em 1950 viviam em cidades 746 milhões de pessoas ao passo que em 2014 viviam, aproximadamente, 4 mil milhões de pessoas em centros urbanos. Por outro lado, enquanto em 1990 existiam 10 mega-cidades1, em 2014 existiam 28 onde habitavam 453 milhões de pessoas, cerca de 12% da população mundial. Adicionalmente, o progresso tecnológico trouxe consigo um sem número de inovações, consumidas massivamente por todo o mundo.

Tomando consciência que o crescimento económico, o aumento da riqueza, o crescimento da população urbana e o progresso tecnológico trouxeram um grande conjunto de benefícios para as sociedades, no geral, é certo que vieram com eles desafios e obstáculos que será necessário ultrapassar. Indubitavelmente, há um fator que é transversal ao sustento deste progresso civilizacional: a energia. Todas as atividades da Humanidade necessitam de energia, sob diversas formas. Podemos dizer que a energia é o fator de consolidação e de continuidade do crescimento e desenvolvimento económico e de todas as consequências que descrevemos anteriormente.

A produção de energia tem aumentado nos últimos anos, dando resposta aos processos económicos e sociais referidos anteriormente. Em 1990, a produção de energia

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era, em termos mundiais, segundo a International Energy Agency (2017b), de 102.454,6 TWh2, ascendendo a 160.557,27 TWh, em 2014. Um crescimento de cerca de 60 mil TWh. O aumento de produção energética, não constitui, em sentido restrito, um problema. O que constitui um problema são as fontes de produção e a tecnologia usada. De acordo com Arce e Sauma (2016), em 2009, 41% das emissões de CO2 a nível mundial resultaram da produção de energia com recurso a fontes de energia não-renovável. Em 2014, segundo a International Energy Agency (2017a), foram emitidas 32.381,04 milhões de toneladas de CO2. Por outro lado, a pressão sobre os recursos não-renováveis para a produção de energia culminará com a escassez dessas mesmas fontes. Desta forma, o grande obstáculo a este enorme volume de produção tem que ver com o esgotamento dos recursos, que sendo não-renováveis por definição são finitos, e os elevados níveis de poluição decorrentes da produção.

O problema atual está em balancear a alta e crescente procura de energia com o uso sustentável dos recursos e a redução dos níveis emissões de gases poluentes, por forma a diminuir as consequências resultantes da produção de energia. A forma mais eficaz de resolução desta questão é promover a produção de energia recorrendo a fontes renováveis. Segundo Arce e Sauma (2016), também no ano de 2009, apenas 3% da energia mundial, com exceção da energia hidráulica, era produzida com recurso a fontes renováveis. Killinc-Ata (2016) afirma que, entre 1990 e 2008, a percentagem de produção de energia com recurso a fontes renováveis foi de 4,21% na Europa e de 2,65% nos Estados Unidos. O objetivo maior é, assim, o de aumentar a quota de energia produzida recorrendo a fontes renováveis, quer na União Europeia quer a nível mundial, (Haas et al. (2011)). Este objetivo é de tal forma importante no âmbito europeu que o Parlamento Europeu e o Conselho Europeu emitiram uma diretiva3 conjunta – Diretiva 2009/28/CE de 3 de abril de 2009 - que estabelece as condições para o aumento da quota de energia através de fonte renováveis, determinando uma quota média para a União Europeia de 20%, sem prejuízo de objetivos mais ou menos ambiciosos para cada Estado-Membro.

Dados os problemas descritos e a necessidade de cumprir metas legais, como é o caso da União Europeia, é preciso ter em conta as barreiras que se colocam na promoção das energias renováveis. De notar que os preços elevados das tecnologias que permitem a

2 TeraWatt por hora.

3 “Ato legislativo que fixa um objetivo geral que todos os países da União Europeia devem alcançar”. Cada país deve transpor para legislação nacional, através de um plano de ação, por forma a atingir os objetivos. Disponível em http://europa.eu/european-union/eu-law/legal-acts_pt, visto em 27/05/2018.

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produção de energia recorrendo a fontes renováveis e a intermitência das fontes necessárias a essa produção são dois dos principais problemas na produção de energia renovável. Há um conjunto significativo de instrumentos regulatórios que são eficazes na promoção da energia com recurso a fontes renováveis. Em conformidade com Killinc-Ata (2016), o instrumento regulatório mais utilizado no mundo é a Tarifa Feed-in, usado em cerca de 65 países. Adicionalmente, de acordo com Behrens et al. (2016), o crescimento significativo de produção de energia renovável, nos últimos anos deve-se à utilização daquele instrumento regulatório.

Neste sentido, dada a necessidade de promover as energias renováveis e face às barreiras que se possam colocar nesse processo, é necessário perceber em que ponto se encontra o mercado energético e, particularmente, qual o peso das energias renováveis no conjunto da produção de energia. Por outro lado, dado o número de instrumentos regulatórios que se dispõe para essa promoção é necessário estreitar a análise àquele que, de acordo com a literatura, é mais eficaz na promoção. Contudo, esta especificidade da análise não invalida uma abordagem geral, designadamente uma classificação dos instrumentos regulatórios.

A questão de investigação desta dissertação tem como foco principal o enquadramento histórico e motivacional da promoção das energias renováveis na União Europeia dando nota dos objetivos traçados e dos fatores impulsionadores dessa promoção. Pretende-se também perceber os fatores que influenciam a evolução recente da promoção de energia renovável.

A análise da promoção da energia renovável na União Europeia foi realizada através da consideração de três critérios (institucional, económico e ambiental) e através do estudo da evolução de alguns indicadores relativos à produção de energia renovável (quota de energia renovável no consumo total de energia; produção total de energia renovável; produção de energia renovável per capita; produção de energia eólica e produção de energia solar).

A dissertação será estruturada da seguinte forma: no Capítulo 1, proceder-se-á a uma explanação teórica dos instrumentos regulatórios de incentivo a produção de energia renovável; no Capítulo 2 proceder-se-á a uma descrição produção da energia renovável na União Europeia, nomeadamente ao nível dos objetivos traçados e das motivações subjacentes à definição dos objetivos; no Capítulo 3 far-se-á uma análise evolutiva de alguns indicadores definidos ao nível dos países da União Europeia a 27 sob determinados

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critérios definidos e uma análise cluster por forma a criar grupo de comportamento idêntico; por fim, enumeram-se as conclusões.

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Capítulo 1. Instrumentos Regulatórios de Incentivo à Produção de

Energia Renovável

1.1. Enquadramento

O aumento do investimento em produção de energia com recurso a fontes renováveis enfrenta dois grandes problemas: i) o elevado custo das tecnologias que permitem a produção de energia renovável; e ii) as características singulares das regiões e países que têm de ser tidas em conta na escolha do tipo de fonte ou fontes a ser utilizadas. Os reguladores dos diferentes países e regiões têm ao dispor um conjunto significativo de instrumentos regulatórios, todos eles de diferente aplicação e com vantagens e desvantagens. Segundo Haas et al. (2004), o principal objetivo daqueles instrumentos é a substituição de produção de energia através de fontes não renováveis por produção de energia através de fontes renováveis. Derivam deste objetivo principal, dois objetivos: i) a promoção do desenvolvimento tecnológico; e ii) a diminuição dos custos, de transação e de administração, de modo a manter os consumidores recetivos às tecnologias renováveis. Garcia et al. (2012) considera que um dos maiores objetivos da política energética é a produção de energia recorrendo a fontes renováveis de energia, considerando que face à intermitência das fontes renováveis de energia existe um trade-off no desenho regulatório. Contudo, é importante referir que as características específicas de cada região e país exigem uma análise cuidada de forma a ser implementados o instrumento ou a conjugação de instrumentos mais adequado.

1.2. Classificação dos Instrumentos

A Figura 1 representa os mecanismos regulatórios à disposição dos reguladores organizados por tipo de instrumentos.

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Figura 1 - Árvore de Incentivos à Produção de Energia Renovável

Fonte: Green Rhino Energy (2016)

A Green Rhino Energy (2016) divide os instrumentos em três grandes troncos: incentivos baseados na produção, incentivos baseados no investimento e os incentivos baseados na estrutura legal.

Os incentivos baseados na produção são aqueles que recaem sobre a quantidade de energia produzida. Como representado na Figura 1, os principais instrumentos são a tarifa Feed-in mínima, os créditos fiscais de produção e o sistema de quotas. Estes instrumentos vêm agregados com um conjunto de parâmetros que servem de complemento aos sistemas principais. Por outro lado, os incentivos baseados no investimento destinam-se a renumerar os investidores pelo seu investimento inicial podendo ser, por exemplo, incentivos fiscais, isenções fiscais, garantias bancárias ou depreciações aceleradas. Por fim, o terceiro tronco da árvore engloba a estrutura legal que diz respeito a incentivos não monetários, como por exemplo o tipo de regulador ou o modo como os projetos são aprovados.

Uma classificação alternativa dos incentivos à produção de energia renovável é apresentada por Hass et al. (2004).

Haas et al. (2004) apresentam uma classificação dos instrumentos regulatórios baseados em duas características: incentivo baseado no preço e incentivo baseado na

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quantidade. Nos incentivos baseados no preço, a entidade reguladora escolhe o preço e a quantidade é decidida pelo mercado, ao passo que os incentivos baseados na quantidade, a quantidade é escolhida pelo regulador e o preço é definido no mercado. Por um lado, Haas et al. (2011) consideram que os incentivos baseados no preço consistem num subsídio por unidade instalada (por kW4) ou um pagamento por unidade produzida e vendida (por kWh5). Por outro lado, Haas et al. (2011) descrevem que os incentivos baseados na quantidade consistem na definição, ao nível dos governos por via dos reguladores, de um nível de produção de energia renovável.

Os incentivos baseados no preço derivam em dois ramos: i) os incentivos podem ser focados no investimento, o que se traduz num pagamento por unidade de capacidade de produção (e.g. subsídios ao investimento, empréstimos com juros baixo, créditos fiscais); ou ii) os incentivos podem ser focados na produção, o que significa um pagamento fixo por unidade produzida (e.g. tarifa feed-in, prémio fixo). Haas et al. (2011) consideram que a atribuição de subsídios cobre “os custos de produção de energia convencional” permite a criação de concorrência entre os mercados de energia renovável e os mercados não havendo necessidade de intervenção governamental na fixação de quotas.

Dos incentivos baseados na quantidade, Haas et al. (2011) destacam dois: os sistemas de leilão – tendering or bidding systems – o sistema de certificados transacionáveis – tradable certificate systems.

Haas et al. (2011) fazem também uma distinção entre incentivos diretos e indiretos. Os incentivos diretos (de que são exemplo os instrumentos baseados no preço e os instrumentos baseados na quantidade) são aqueles que visam o incentivo imediato à produção de energia renovável, focando-se o incentivo num tipo de produção. Pelo contrário, os incentivos indiretos são aqueles que têm como objetivo condições para o desenvolvimento do mercado da energia renovável no longo prazo, não tendo por princípio a promoção de uma fonte específica (e.g. taxas sobre a energia produzida através de fontes não-renováveis, taxas sobre as emissões de CO2 e remoção dos incentivos dados anteriormente a produção de energia com recurso a fontes convencionais). Os incentivos indiretos via sistema fiscal podem ser aplicados quer via isenção quer via reembolso dos impostos pagos.

4 KiloWatt.

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Haas et al. (2011) referem ainda a distinção entre incentivos voluntários e incentivos não voluntários. Os incentivos voluntários baseiam-se no princípio da boa vontade por parte dos consumidores em contribuir (e.g. donativos ou tarifas “verdes”).

O Quadro 1 resumem a classificação descrita anteriormente.

Quadro 1 – Classificação dos instrumentos regulatórios

Direto Indireto

Preço Quantidade

Regulatório Investimento Subsídios ao investimento, empréstimos com juros baixo, créditos fiscais

Sistemas de Leilão para investimento

Taxas ambientais

Produção Sistema Tarifas Feed-in Sistema de

Certificados transacionáveis

Voluntário Investimento Programas de Contribuição Acordos

voluntários Produção Tarifas “verdes”

Fonte: Elaboração própria, baseada em Haas et al. (2011)

Como referido anteriormente, Garcia et al. (2012), referem a intermitência natural das fontes renováveis como um obstáculo à promoção de energia renovável, originando um trade-off entre o instrumento a usar e o objetivo a que se propõe.

É, então, este trade-off que implica a existência de escolhas no instrumento a usar na promoção de energia renovável. Neste sentido, Garcia et al. (2012) desenharam um modelo de análise dos instrumentos de promoção da energia renovável, tendo avaliado dois instrumentos que os autores consideram ser mais utilizados – as tarifas Feed-in e o Renewable portfolio standards (RPS). Os RPS consistem na atribuição às empresas de produção de energia uma fração da produção global de energia recorrendo a fontes renováveis de energia 6.

O modelo desenhado mostra que os instrumentos regulatórios são necessários apenas na presença de economias de escala, adquiridas por learning by doing, ou quando existe excesso de capacidade instalada na produção de energia por fontes convencionais. O

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modelo mostra que nenhum dos instrumentos analisados – tarifas Feed-in e os RPS – consegue introduzir um ótimo-social no nível de investimento em energias renováveis:

1. A Tarifa Feed-in simples não consegue alcançar o nível ótimo social uma vez que os locais com melhores condições atraem investimento excessivo enquanto que locais menos favoráveis, mas ainda assim socialmente interessantes, ficam com investimento abaixo do ótimo. Por outro lado, as Tarifas Feed-in discriminatórias serão mais adequadas para atingir o nível de investimento certo. Estas tarifas consistem em valores diferentes de subsídio consoante o local do investimento;

2. Os Renewable portfolio standards induzem sub-investimento nas tecnologias convencionais dando origem a um aumento de preços de forma recuperar perdas que decorrem da tentativa de introduzir um nível ótimo social.

Estes resultados sugerem que a intervenção regulatória no incentivo à produção de energia renovável pode até se revelar ineficaz.

Numa outra abordagem, Arce e Sauma (2016) fazem uma análise comparativa a diferentes instrumentos regulatórios de incentivo à produção de energia renovável a vários níveis, tais como os preços, produção, emissão de CO2 e bem-estar social. Adicionalmente, os autores assumem alguns pressupostos de análise: i) procura sensível ao preço; ii) modelo de oligopólio à Cournot; e iii) os custos dos incentivos não são suportados diretamente pelos consumidores mas sim pelo Governo. Os resultados obtidos pela análise de Arce e Sauma (2016) são úteis para as decisões dos reguladores, uma vez que testa os efeitos nas quatro variáveis acima mencionadas. A principal conclusão a que Arce e Sauma (2016) chegam em termos de eficácia dos instrumentos regulatórios varia, significativamente, de acordo com 3 fatores: a estrutura de mercado assumida, os custos das energias renováveis e o “método de recuperação de subsídios considerado”. Por exemplo, dependendo da estrutura de mercado existem diferenças na eficácia na diminuição do CO2. Por um lado, se assumirmos um mercado oligopolista em que os consumidores não pagam diretamente os incentivos, os incentivos que se baseiam em subsídios, com as tarifas Feed-in e os pagamentos premium, são mais eficazes do que impostos e taxas. Por outro lado, num mercado de concorrência perfeita, as quotas e a política fiscal relativa ao carbono são mais eficazes na redução as emissões de dióxido de carbono. Ainda num contexto de mercado oligopolista com pagamento indireto dos subsídios, os autores concluem que as FiT são aquelas que conseguem atingir, para o mesmo nível de emissões de CO2, os preços nodais

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mais baixos e as taxas de penetração de energia renovável mais elevada, daí traduzindo a eficácia na promoção de energia renovável. Estes resultados são obtidos por 2 efeitos: i) os subsídios considerados reduzem os preços da energia no consumidor, aumentando o seu consumo7; e ii) os subsídios considerados contribuem para reduzir o poder de mercado das empresas produtoras de energia, uma vez que a subsidiação diminui os preços e aumenta a procura8. Se, contrariamente ao que descrevemos, considerarmos que os consumidores pagam diretamente os subsídios, independentemente de ser um mercado oligopolista ou de concorrência perfeita, as quotas são o instrumento mais eficiente na redução das emissões de CO2 (Arce e Sauma (2016)). Todas estas conclusões são corroboradas pela literatura, tal como indicam Arce e Sauma (2016):

- Champneys et al. (2014) (cfr. Arce e Sauma (2016)) afirmam que as quotas e os pagamentos premium são os mais eficazes, num mercado de concorrência perfeita que os autores modelaram com custos nivelado;

- Kumar e Verma (2013) (cfr. Arce e Sauma (2016)) concluem que as FiT leva ao aumento de produção de energia, quer recorrendo a fontes renováveis quer recorrendo a fontes convencionais, quando assumimos um modelo oligopolista;

- Fisher (2010) (cfr. Arce e Sauma (2016)) no seu modelo conclui que incentivos baseados em subsídios são mais eficiente do que que os incentivos baseados em impostos, tal como concluído por Pérez de Arce e Sauma (2016).

Apesar de as Tarifas Feed-in serem o instrumento regulatório mais utlizado na promoção da energia renovável, outros instrumentos são utlizados com o mesmo propósito. Não podendo realizar uma revisão exaustiva da literatura sobre todos os instrumentos de incentivo às energias renováveis, fica-se a presente pela abordagem a três: os incentivos fiscais, as quotas e, por último e mais exaustivamente, as tarifas feed-in.

1.3. Incentivos Fiscais

Os incentivos fiscais têm, de acordo com Cansino et al. (2010), sido aplicados em vários Estados-Membros da União Europeia como um conjunto específico da política regulatória de incentivo à produção de energia renovável, que tem sido usado para

7 No estudo considerado a energia consumida é totalmente fornecida por produção recorrendo a fontes renováveis.

8Estas conclusões não são de análise generalizada uma vez que toda a procura é coberta por energia produzida com recurso a fontes renováveis.

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aumentar a produção de energia renovável e, assim, diminuir os gases de efeito de estufa (CO2). Em todo o caso, a aplicação deste instrumento regulatório só é totalmente eficaz quando o framework regulatório o permite, de modo a introduzir estabilidade no mercado e proteger os investimentos. Segundo Goulder (1995), a utilização dos incentivos fiscais instrumento de promoção de energia renovável tem como consequência dois benefícios – “dividendo duplo”: i) permite a proteção ambiental, sendo um benefício direto; e ii) benefício em diferentes áreas (chamado, também, dividendo azul) como, por exemplo, aumento do emprego.

Cansino et al. (2010) dividem os incentivos fiscais em incentivos fiscais diretos e incentivos fiscais indiretos. Descrevem ainda uma terceira divisão onde descrevem outras taxas, com por exemplo as taxas pigouvianas.

Os sistemas de incentivo fiscal direto são aqueles que permitem reduzir custos de investimento em produção renovável de energia, através da isenção de impostos sobre particulares ou impostos sobre empresas. Segundo Cansino et al. (2010) existem três tipos de impostos na categoria dos incentivos fiscais diretos: impostos sobre o rendimento pessoa, impostos sobre empresas e impostos sobre propriedade:

- Imposto sobre o rendimento particular: este tipo de incentivo é usado em alguns Estados-Membros – República Checa, Bélgica, França e Luxemburgo – sendo aplicados consoante as características destes. A sua aplicação tem vindo a ser cada vez mais observável, uma vez que pode ser aplicada através de isenções ou deduções, que dependem do tipo de fontes utilizada na produção de energia renovável. Por exemplo, na República Checa, é atribuída uma isenção total aos ganhos obtidos com a produção e venda de energia com recurso a fontes renováveis. Totalmente suportadas pelo Estado checo, estas isenções são semelhantes às existentes nas empresas. Por outro lado, na Bélgica os custos de implementação dos sistemas de produção de energia renovável (fotovoltaico, solar e geotermal) podem ser deduzidos até 40% nos impostos sobre o rendimento pessoal. Os custos desta medida são suportados a nível nacional. Já em França é também possível deduzir os custos de fontes renováveis, como por exemplo, a eólica. Todavia, a capacidade instalada tem um limite. A dedução pode chegar aos 50% sendo suportado pelo orçamento regional. Por fim, temos o caso do Luxemburgo em que este tipo de incentivo é usado apenas na fonte fotovoltaica, sendo os rendimentos deduzidos na íntegra mas com limitação de capacidade instalada.

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- Imposto sobre empresas: este tipo de incentivo é utilizado na Bélgica e na Grécia, tendo sido também utilizado em Espanha. Como visto anteriormente, os rendimentos provenientes da produção de energia renovável têm isenção total de imposto. Na Bélgica e na Grécia existe uma isenção de parte das despesas em sistemas de produção de energia renovável. Na Grécia, é necessário criar um fundo de investimento com parte dos rendimentos gerados para novo investimento em fontes renováveis. Por outro lado, na Bélgica as isenções são atribuídas a sistemas que utilizem fontes que constem numa lista publicado pelo regulador. Em Espanha, ao contrário dos descritos, era possível fazer deduções fiscais graduais de uma percentagem do investimento, mas esse investimento tinha de ser mantido nos balanços das empresas por um período de tempo estipulado pelo regulador.

- Impostos sobre a propriedade: em Espanha e Itália existe um imposto local sobre a propriedade. O incentivo fiscal subjacente consiste em reduzir o imposto pago pelos proprietários que instalem sistemas de produção de energia renovável nos seus imóveis. Todavia, existem limites a estas deduções. Por exemplo, em Itália a redução apenas se aplica a imóveis que sejam primeira residência de família e que não se enquadre na categoria de imóvel de luxo.

Os sistemas de incentivo fiscal indireto constituem aqueles que tem como foco não os investimentos, mas a produção energética. Cansino et al. (2010) incluem nos incentivos fiscais indiretos:

- Imposto sobre o valor acrescentado (IVA): sendo um imposto comum no seio da União Europeia, o incentivo com base neste instrumento prende-se com a redução do IVA nas transações que envolvam a produção de energia renovável. É utilizado apenas em Portugal, em França e em Itália, sendo, em todos os casos, suportados pelo Estado. Por exemplo, em Portugal a compra de sistemas domésticos de produção de energia renovável vê aplicado a taxa intermédia de IVA. A aplicação deste incentivo carece de autorização da Comissão Europeia por força das regras de concorrência.

- Isenções em impostos especiais de consumo: este incentivo é utilizado na promoção de energia elétrica renovável através da isenção de imposto especial uma vez que a utilização deste tipo de energia não traz danos ao ambiente. Este tipo de incentivo é utilizado na Alemanha, na Dinamarca, na Roménia, nas Eslováquia, na Suécia e na Polónia. Pode ser aplicado a qualquer fonte de energia ou a fontes de energia específicos.

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Cansino et al. (2010) apresentam ainda um terceiro tipo de incentivo fiscal onde se inclui as taxas Pigouvianas e outras taxas, utilizadas na Holanda e na Finlândia.

O Quadro 2 resume a informação que até aqui se descreveu, segundo Cansino et al. (2010).

Quadro 2 – Incentivos fiscais, em alguns Estados-Membros da UE – 27 Incentivos Diretos Incentivos Indiretos e Outros

Impostos sobre o rendimento Particular Impostos sobre Empresas Impostos sobre a Propriedade IVA Impostos Especiais de Consumo Taxas Pigouvianas Outros Bélgica X X Rep. Checa X X França X X Grécia X Itália X X Luxemburgo X Espanha X X Dinamarca X Finlândia X Alemanha X Holanda X Polónia X Portugal X Roménia X Eslovénia X Suécia X Reino Unido X

Fonte: Elaboração própria, baseado em Cansino et al. (2010)

Batle et al. (2012), consideram que os incentivos fiscais servem como complemento aos instrumentos regulatórios convencionais de incentivo à produção de energia elétrica com recurso as fontes renováveis. Adicionalmente, referem outros incentivos fiscais como as tax exemptions e os créditos fiscais. Batle et al. (2012) classificam estes incentivos, genericamente, como “incentivos fiscais e outros incentivos baseados no preço”.

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1.4. Quotas

As quotas são outro instrumento regulatório de incentivo a produção de energia que consiste em atribuir uma percentagem da produção total de energia renovável aos produtores que apenas utilizam fontes renováveis de energia (Arce e Sauma (2016)). Batle et al. (2012) classifica este instrumento denominando-o Renewable Portfólio Standars (RPS), onde se estabelece quotas para a energia proveniente de fontes renováveis, considerando uma série de opções para a aplicação deste instrumento: sanções de não-conformidade, provisões de bandas (de preços – bandas de preços altos e preços baixos), obrigações contratuais de longo prazo e preços mínimos.

1.5. Tarifas

Feed-in

1.5.1.

Definição

Behrens et al. (2016) definem o sistema de Tarifas Feed-in como um valor pago aos produtores de energia por cada unidade de energia produzida com recurso a fontes renováveis, independentemente do valor de mercado dessa unidade produzida.

Couture e Gagnon (2010) afirmam que as FiT são o instrumento mais eficaz na promoção de energia renovável, implementado em 63 «jurisdições»9, que tem permitido fornecer energia renovável de forma mais eficaz e a custos mais baixos, face aos instrumentos regulatórios alternativos. De facto, em referência a uma informação da Comissão Europeia (2008), os sistemas de FiT, quando bem aplicados, são os mais eficazes e eficientes dos instrumentos regulatórios usados na promoção da energia renovável. De igual modo Behrens et al. (2016) reiteram que o crescimento significativo da produção de energia com recurso a fontes renováveis se deve à utilização das FiT e Killinc-Ata (2016), refere que o instrumento FiT é o instrumento mundialmente mais comum no que toca a promoção de energia renovável, usado em 65 países do mundo.

No estudo de Couture e Gagnon (2010) o princípio de suporte ao instrumento FiT é a oferta de um preço garantido, por unidade de energia produzida com recurso a fontes renováveis por um período de tempo. O preço é atribuído de forma “não-discriminatória”

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por cada unidade de energia produzida. O preço pode ser influenciado por vários fatores como por exemplo: i) o tipo de tecnologia; ii) o tamanho da instalação; iii) a qualidade da fonte de produção; e iv) outras variáveis específicas dos projetos. O valor pago no sistema FiT é baseado nos custos de produção de energia o que permite a viabilidade dos projetos, num sistema de pagamento ao longo da vida útil da tecnologia de produção, reduzindo os riscos para investidores e potenciando o crescimento da produção de energia recorrendo a fontes renováveis. De facto, há uma preocupação com a forma como os pagamentos FiT são efetuados uma vez que um sistema específico e remunerações estáveis são essenciais para o sucesso da implementação dos instrumentos regulatórios. Os autores referem ainda que existem várias formas de aplicação das FiT que são diferentes consoante as jurisdições e existem vários graus de sucesso das mesmas. De notar ainda que a aplicação daquele instrumento regulatório não exclui a utilização de outros instrumentos, sendo adaptados às especificidades de cada jurisdição.

1.5.2.

Modelos

Couture e Gagnon (2010) descrevem sete modelos de remuneração do sistema FiT dependendo se a remuneração é market-independent ou market-dependent. A remuneração market-independent corresponde ao pagamento de um preço fixo por unidade produzida, independentemente do preço de mercado. Segundo Pyrgou et al. (2016) o preço é determinado para um dado período de tempo com base em fatores que devem ser revistos periodicamente. A remuneração market-dependent corresponde a um pagamento acima do preço de mercado (isto é, implica um pagamento de um premium), contratado por um determinado período de tempo. Couture e Gagnon (2010) descrevem 4 modelos market-independent: Modelo de Preço Fixo (1), Modelo de Preço Fixo com Ajustamento de Inflação (2), Modelo do Pagamento Inicial (3) e Modelo do gap do Preço de Mercado (4) – e três modelos market dependent – Modelo do Preço Premium (5), Modelo do Preço Premium Variável (6) e Modelo da Percentagem do Preço de Mercado (7). De seguida cada um dos modelos mencionados será descrito detalhadamente.

1. Modelo de Preço Fixo:

No Modelo de Preço Fixo, o valor da FiT determinado pelo regulador é fixo, em conformidade com o tipo de tecnologia envolvida no projeto. Este valor não tem linha de

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conta outros fatores, tais como: a inflação e o preço dos combustíveis fósseis. De acordo com Fouquet e Johansson (2008) e Langniss et al. (2009) (cfr. Couture e Gagnon (2010)) o valor fixo estabelecido, que cumpre o objetivo e cobrir os custos, e a sua manutenção durante a vigência do contrato, permite o encorajamento do investimento em tecnologias de produção de energia com recursos a fontes renováveis. Couture e Gagnon (2010) admitem algumas limitações ao Modelo de Preço Fixo. Em primeiro lugar, o valor fixo estabelecido não tem em conta a inflação. A exclusão da inflação tem como consequências a depreciação real das receitas dos produtores, não permitindo conhecer os retornos do investimento. Em segundo lugar, o preço fixo não permite remunerar os bons desempenhos dos projetos, como por exemplo, os ganhos de eficiência. No entanto, o modelo de preço fixo tem também vantagens. O valor fixo atribuído garante o investimento durante todo o projeto, desde que esse valor seja adequado aos custos de produção e, consequentemente, permite que sejam geradas receitas dando estabilidade ao investimento.

Figura 2 - Representação do Modelo do Preço Fixo

Fonte: Couture e Gagnon (2016). Nota: Retail price designa o preço de mercado.

2. Modelo de Preço Fixo com Ajustamento de Inflação:

A introdução do ajustamento da inflação permite atualizar os valores da FiT por forma a proteger os investidores das perdas de valor por se manter um preço fixo. O

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ajustamento da inflação pode ser feito de diferentes maneiras dependendo da jurisdição em que são aplicadas. Couture e Gagnon (2010) referem alguns exemplos de como se procede ao ajustamento do valor atribuído à FiT. A Irlanda, em 2006, fazia o ajustamento do valor total FiT através de uma fórmula definida e conhecida, numa base anual. Por outro lado, na Província de Ontário, no Canadá, em 2006, o ajustamento foi feito apenas a uma parte do valor da FiT. Outra forma de ajustamento é o adotado em Espanha, em 2017. Neste caso, o valor total da FiT é ajustado sendo depois subtraído um número determinado de pontos base. Os ajustamentos pela inflação podem ser anuais ou trimestrais dependendo das jurisdições e dos contratos. Os ajustamentos pela inflação asseguram uma remuneração do investimento mais elevada perto do fim do projeto.

A introdução de ajustamento do valor do FiT garante aos investidores uma maior proteção ao valor dos investimentos, incentivando os investidores, ainda que avessos ao risco, a investirem em energia renovável.

Figura 3 - Representação do Modelo do Preço Fixo com Ajustamento de Inflação

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

3. Modelo da Tarifa Front-end loaded:

Este modelo consiste na realização de pagamentos mais elevados nos primeiros anos de vida do projeto e mais baixos nos restantes anos do projeto. Através deste modelo pretende-se não subsidiar em excesso os projetos que beneficiam de um conjuntura

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favorável em termos de fonte de energia, por forma a reduzir os custos gerais que os reguladores têm com o incentivo a energia renovável. Couture e Gagnon (2010) referem duas alternativas de implementação do modelo: i) na Alemanha e na Suíça os projetos com menor produção de energia renovável recebem pagamentos elevados durante mais anos; ii) em França e no Chipre os projetos com maior produção de energia recebem valores menores após o período inicial de pagamentos elevados.

De acordo com Couture e Gagnon (2010) são atribuídas algumas vantagens a este modelo. Em primeiro lugar, este modelo permite obter maiores proveitos no início da vida do projeto evitando que os custos se reflitam nos preços da energia em anos mais tardios, dando também a oportunidade de os investidores receberem cash-flows superiores quando os juros a pagar são maiores. Em segundo lugar, o modelo de pagamento transmite segurança aos investidores, já que é possível prever as receitas que o projeto produzirá durante toda a sua vida.

Figura 4 - Representação do Modelo da Tarifa Front-end loeaded

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

4. Modelo do gap face ao Preço de Mercado:

Este modelo consiste em definir a priori o valor da FiT, que é fixado por forma a cobrir os custos, sendo um subsídio que corresponde à diferença entre o valor da FiT e o preço de mercado. Desta forma, a remuneração do produtor é fixa mas o subsídio é

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variável, sendo tanto menor quanto maior o preço de mercado. Segundo Couture e Gagnon (2010) a razão pela qual este modelo é classificado como market-independent prendem-se com o facto de estipular fixo o valor da FiT.

Figura 5 - Representação do Modelo do gap do Preço de Mercado

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

5. Modelo do Preço Premium:

Este modelo atribui um valor à FiT constante, acima do preço de mercado. Este diferencial corresponde ao premium, permitindo remunerar as externalidades positivas, como por exemplo as sociais ou ambientais, ou até aproximar os custos dos projetos de energia renovável. Este tipo de modelo tem sido aplicado em mercados de energia não regulado, cujos preços variam de acordo com alguns fatores, como a oferta e a procura. Neste sentido, os premium pagos aos investidores variam também ele com as flutuações de mercado, no mesmo sentido. Estes premium podem ser diferentes de acordo com os projetos e as fontes utilizadas. Há que ter em conta, todavia, que o facto de o premium estar relacionado com o preço de mercado, os pagamentos aos investidores podem ser tanto altos, como extremamente baixos. Esta característica pode traduzir-se numa insegurança aos investidores, podendo comprometer o crescimento do mercado. Vários estudos apontam que este tipo de modelo é mais oneroso que o de preço fixo. Ainda assim, a literatura diz-nos que este tipo de modelo funciona melhor em mercados não regulados de

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energia. Este modelo é aplicado, na República Checa, na Eslovénia, na Estónia, na Dinamarca e em Espanha.

Figura 6 - Representação do Modelo do Preço Premium

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

6) Modelo do Preço Premium Variável

O modelo do preço premium variável consiste num sistema de remuneração do sistema FiT em que o produtor recebe o preço de mercado adicionado do premium e o premium diminui com o aumento do preço de mercado. Quando o preço de mercado atinge um determinado valor superior o premium é zero e o produtor recebe apenas o preço de mercado.

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Figura 7 - Representação do Modelo do Preço Premium Variável

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

No eixo horizontal da Figura 7 está representado o preço de mercado. A linha superior representa o montante recebido pelo produtor (preço de mercado adicionado do premium) e a linha inferior representa o premium. Este sistema garante que o produtor não recebe menos do valor designado por bottom line e o Estado não paga um premium maior que esse mesmo valor.

Segundo Gonzalez (2008) este modelo permite minimizar a parte dos ganhos não conhecidos, trazendo alguma segurança ao investidor. Embora este modelo não ofereça garantias tão fortes quanto as do modelo de preço fixo ou do modelo do premium fixo contém vantagens importantes: i) permite o pagamento dos custos envolvidos que incentiva a produção em alturas de procura mais elevada; ii) reduz os riscos dos investidores uma vez que atribui um preço mínimo de pagamento aos investidores e reduz, de igual forma, os custos sociais já que reduzem a remuneração dos projetos quando o preço aumenta, reduzindo a sobrecompensação dos projetos.

7) Modelo da Percentagem do Preço de Mercado

Este modelo consiste em estabelecer um valor para a FiT que corresponde a uma percentagem definida a priori em relação ao preço de mercado, ressalvando que essa percentagem poderá ser menor, igual ou maior a 100%. Este princípio de indexação do valor a pagar pela FiT apresenta desde logo, segundo Couture e Gagnon (2010), um risco para os investidores já que a exposição às flutuações do mercado é grande, não protegendo

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a viabilidade dos projetos. Este modelo foi adotado durante alguns anos pela Alemanha, Dinamarca e Espanha mas foi abandonado devido à elevada exposição da remuneração dos produtores á volatilidade do mercado.

Figura 8 - Representação do Modelo da Percentagem do Preço de Mercado

Fonte: Couture e Gagnon (2016)

1.5.3. Características de eficiência económica das Tarifas

Feed-in

A utilização das FiT pressupõe que, para cumprir o objetivo de promover as energias renováveis, estas respeitem um conjunto de características que introduzam eficiência económica. Como qualquer outro instrumento regulatório, as FiT apresentam benefícios e custos da sua utilização e a sua introdução carece de uma análise casuística (Lesser e Su (2008) e Câmara et al. (2017)).

Lesser e Su (2008) estabelecem quatro características que agora se explanam:

1. Para ser eficiente, o objetivo, quer da capacidade instalada quer o aumento da produção energia, deve ser definido de forma clara e a FiT deve ser aplicada de forma adequada aquele objetivo, por forma a garantir que a FiT não provoca a subcompensação ou sobrecompensação dos investidores;

2. Se a capacidade instalada de produção de energia renovável não estiver alinhada com a produção de energia renovável, as FiT têm pouco impacto,

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traduzindo-se em ineficiência. Desta forma, é necessário que os pagamentos do valor da FiT sejam adequados à quantidade de energia produzida;

3. A FiT deve ser implementada de forma a adequar-se ao objetivo da política num ótica de curto prazo – onde o instrumento tem por objetivo fomentar a produção de energia renovável com a capacidade instalada – e de longo prazo – cujo propósito é o de promover o desenvolvimento tecnológico. Contudo, estas óticas podem não estar em sintonia devido a característica intrínseca do desenvolvimento tecnológico: a endogeneidade10;

4. Os sistemas FiT eficientes deverão minimizar a dependência de informação administrativa, uma vez que os agentes preferem não fornecer todas as informações sobre a sua atuação. Neste sentido, os agentes preferem, ceteris paribus, grandes cargas de burocracia do que parâmetros tecnológicos exigentes.

10 O facto de o progresso tecnológico ser endógeno significa que as decisões de política hoje vão afetar o I&D hoje e no futuro afetando as taxas de inovação e do progresso tecnológico (Lesser e Su (2008))

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Capítulo 2. A Energia Renovável na União Europeia

2.1. Posição Histórica e Motivacional

Haas et al. (2011) afirmam que aumentar a produção de energia com recurso a fontes renováveis é o principal objetivo da União Europeia no âmbito da política energética. Contudo, segundo os mesmos autores, para alcançar esse objetivo é necessário adotar medidas e estabelecer estratégias, por forma a introduzir os instrumentos mais eficazes. Neste sentido, a União Europeia emitiu, uma Diretiva conjunta do Parlamento Europeu (PE) e do Conselho Europeu (CE) na qual estabelece as linhas orientadoras gerais, para os Estados-Membros, “relativa à promoção da utilização de energia proveniente de fontes renováveis” (Diretiva 2009/28/CE, doravante designada de Diretiva). O objetivo central é “reduzir as emissões de gases com efeito de estufa na Comunidade e a sua dependência das importações de energia”, conjuntamente com o “aumento da eficiência energética”. A Diretiva “fixa objetivos nacionais obrigatórios para a quota global de energia proveniente de fontes renováveis”.

O PE e o CE tomaram em consideração uma série de factos, que antecedem as normas constantes na Diretiva. Em particular, o PE e o CE atenderam aos compromissos assumidos, quer a nível comunitário quer a nível internacional, como é o caso do Protocolo de Quioto e da Convenção-Quadro das Nações Unidas sobre Alterações Climáticas por forma a cumprir a redução de gases com efeito de estufa, mas também potenciar o desenvolvimento económico, sobretudo das regiões menos desenvolvidas, através de uma política energética sustentável.

Sendo um assunto de alguma complexidade, devido à heterogeneidade dos países e regiões que compõem o espaço comunitário, e tratando-se de linhas orientadoras para todos os Estados-Membros, torna-se importante estabelecer uma linha mestre na adoção de medidas. Posto isto, “fixar regras transparentes e inequívocas para calcular a quota de energia proveniente de fontes renováveis e para determinar quais essas fontes” torna-se central na persecução do objetivo de estabelecer quotas mínimas para cada país e uma quota global para a União. O valor desta quota tem sido unânime nas diversas intervenções de órgãos da União Europeia. A Comissão Europeia (ComE), em Comunicação do dia 10 de Janeiro de 2007, definiu que um valor de “20% para quota global de energia proveniente de fontes renováveis” seria um “objetivo adequado e realizável, e que um enquadramento

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que inclua objetivos obrigatórios deverá fornecer ao mundo empresarial a estabilidade a longo prazo de que este necessita para realizar investimentos racionais e sustentáveis no sector das energias renováveis capazes de reduzir a dependência das importações de combustíveis fósseis e de fomentar a utilização de novas tecnologias energéticas”. Posteriormente, em Março desse mesmo ano, o CE “reafirmou o compromisso da Comunidade para com o desenvolvimento à escala comunitária de energia proveniente de fontes renováveis” e “aprovou como objetivo obrigatório uma quota de 20% de energia proveniente de fontes renováveis no consumo energético comunitário global até 2020 (…) de forma economicamente eficaz”. Mais tarde, em Setembro, o PE, no âmbito do Roteiro das Energias Renováveis na Europa, pediu à ComE para legislar sobre a questão, “referindo a importância de fixar objetivos para as quotas de energia proveniente de fontes renováveis a nível da Comunidade e dos Estados-Membros”.

Desta forma, e de acordo com as posições públicas do PE, o CE e a ComE, “deverão ser estabelecidos objetivos nacionais obrigatórios e coerentes com uma quota de 20% de energia proveniente de fontes renováveis (…) no consumo energético da Comunidade, a atingir até 2020”. Considerando como o “potencial de energias renováveis e o cabaz energético” de cada Estado-Membro, é importante que a transcrição dos objetivos globais para objetivos nacionais seja feito tendo em conta “uma repartição justa e adequada” dos esforços. Adicionalmente, o aumento da produção de energia renovável deve ser “repartido entre os Estados-Membros, ponderada em função do PIB, modulada de modo a refletir os respetivos pontos de partida e fazendo a contabilização em termos de consumo final bruto de energia tendo na devida conta os esforços já efetuados no passado”. Estes objetivos têm como principal finalidade “proporcionar certeza aos investidores e fomentar o desenvolvimento contínuo das tecnologias que produzem energia a partir de todos os tipos de fontes renováveis”.

Para além de um conjunto substancial de considerações técnico-jurídicas que a Diretiva inclui, o principal do documento prende-se com a forma como os objetivos globais são calculados, espelhado nos Artigos 3.º e 5.º bem como as quotas legais estipuladas.

Como anteriormente referido, os objetivos obrigatórios calculados “devem ser coerentes com uma quota de pelo menos 20% de energia proveniente de fontes renováveis no consumo final bruto de energia da Comunidade até 2020”. Deste modo, segundo o

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Artigo 5.º da Diretiva, o cálculo da quota de energia proveniente de fontes renováveis é feito do seguinte modo:

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 (𝑝𝑟𝑜𝑣𝑒𝑛𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑓𝑜𝑛𝑡𝑒𝑠 𝑟𝑒𝑛𝑜𝑣á𝑣𝑒𝑖𝑠)

𝐶𝑜𝑛𝑠𝑢𝑚𝑜 𝐹𝑖𝑛𝑎𝑙 𝐵𝑟𝑢𝑡𝑜 𝑑𝑒 𝐸𝑛𝑒𝑟𝑔𝑖𝑎 (𝑝𝑟𝑜𝑣𝑒𝑛𝑖𝑒𝑛𝑡𝑒 𝑑𝑒 𝑡𝑜𝑑𝑎𝑠 𝑎𝑠 𝑓𝑜𝑛𝑡𝑒𝑠) × 100%

em que o Consumo Final Bruto de Energia (proveniente de fontes renováveis) resulta da soma do consumo final bruto de eletricidade produzida a partir de fontes renováveis, do consumo final bruto de energia proveniente de fontes renováveis em aquecimento e arrefecimento e do consumo final bruto de energia proveniente de fontes renováveis nos transportes.

Deste modo, são estabelecidos na Diretiva, os objetivos nacionais para casa Estado-Membro da União Europeia. Os objetivos têm por base os valores das quotas de energia proveniente de fontes renováveis de 2005. Os valores dos objetivos para 2020 perfazem uma média comunitária de 20% e podem ser consultados no Quadro 3:

Quadro 3 – Objetivos nacionais para os Estados-Membros da UE – 27, para a quota de energia proveniente de fontes renováveis em 2020

País S2005 S2020 País S2005 S2020

Bélgica 2,2% 13% Luxemburgo 0,9% 11%

Bulgária 9,4% 16% Hungria 4,3% 13%

República Checa 6,1% 13% Malta 0,0% 10%

Dinamarca 17,0% 30% Países Baixos 2,4% 14%

Alemanha 5,8% 18% Áustria 23,3% 34% Estónia 18,0% 25% Polónia 7,2% 15% Irlanda 3,1% 16% Portugal 20,5% 31% Grécia 6,9% 18% Roménia 17,8% 24% Espanha 8,7% 20% Eslovénia 16,0% 25% França 10,3% 23% Eslováquia 6,7% 14% Itália 5,2% 17% Finlândia 28,5% 38% Chipre 2,9% 13% Suécia 39,8% 49%

Letónia 32,6% 40% Reino Unido 1,3% 15%

Lituânia 15,0% 23% Média 12% 21%

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em que S2005 representa a Quota do Consumo Final Bruto de Energia (proveniente de fontes renováveis) em 2005 e S2020 representa a Quota do Consumo Final Bruto de Energia (proveniente de fontes renováveis) em 2020.

Note-se que a estipulação dos objetivos foi feita tendo por base os valores de 2005 e estes eram valores históricos observados. Os valores de 2020 são, obviamente, objetivos que poderão ou não ser alcançados. A média das quotas de Consumo Final Bruto de Energia (proveniente de fontes renováveis), em 2005, era de 12% e, em 2020, a média dos objetivos é de 21%. Apesar de o objetivo para aquela quota ser de 20%, a média dos objetivos é de 21% e será com este valor que se fará a análise. Da observação do Quadro 3 é possível concluir pela heterogeneidade dos valores, quer no valor histórico observado quer no próprio objetivo definido. Calculou-se o desvio-padrão e o coeficiente de variação (CV) para os dois anos: para 2005 o desvio-padrão calculado foi de 10,36% e o CV de 86,33% e para 2020 o desvio-padrão calculado foi de 9,92% e o CV de 47,24%. Considera-se que CV superiores a 20% são sinónimo de amostras com grande heterogeneidade. Se o desvio-padrão dá nota de uma considerável heterogeneidade, o CV confirma essa conclusão. Adicionalmente, e de grande importância, podemos concluir que a definição dos objetivos induz a uma menor heterogeneidade das quotas nos Estados-Membros, que a atingir-se tais objetivos a heterogeneidade (medida através do CV) diminuir-se-á substancialmente, na ordem dos 45%.

2.2. Motivação Empírica

Vimos anteriormente que a Diretiva tinha o objetivo de “reduzir as emissões de gases com efeito de estufa na Comunidade e a sua dependência das importações de energia”. Mas será que a redução dos gases com efeito de estufa é a principal razão para promover a produção de energia através de fontes renováveis? Marques et al. (2010) elaboraram um estudo empírico sobre as motivações efetivas da promoção da energia renovável, tendo chegado a conclusões interessantes. Os autores analisaram um conjunto de variáveis para 24 países do continente europeu, para o período de 1990-2006, tendo introduzido uma variável dummy para identificar se cada país em análise era membro da União Europeia em 2001. A introdução desta variável permite retirar conclusões interessantes sobre a promoção da energia renovável na Europa e perceber se existem

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diferentes comportamentos consoante os países eram ou não membros da União Europeia. Marques et al. (2010) justificam a escolha do ano de 2001 para esta análise por ser o ano de publicação da primeira Diretiva11 europeia relativa aos targets e linhas gerais de orientação na promoção de energia renovável. Alguns países incluídos na amostra vieram a integrar a União Europeia após 2001, outros países, como é o caso da Islândia, Suíça e Turquia, mantêm-se fora da União Europeia.

Marques et al. (2010) identificaram quatro fatores importantes na definição da orientação europeia para a promoção de energia renovável: i) a pressão de lobbies dos sectores tradicionais da indústria da energia (petróleo, carvão e gás natural); ii) a segurança energética; iii) as emissões de CO2; e iv) o nível de riqueza dos países. A conclusão mais importante do estudo, e a mais imprevisível, é da relação negativa em todas as estimações entre as emissões de CO2 e a promoção das energias renováveis. Ou seja, os autores não encontram evidência empírica que a redução das emissões de CO2 constituam motivação para a promoção de energia renovável. Menos surpreende é o efeito negativo dos lobbies das energias convencionais na promoção de energia renovável. A dependência de energia do exterior é um fator de incremento de energia renovável em todos os países. Adicionalmente, para os países membros da EU (membros em 2001) o PIB (enquanto medida do nível absoluto de riqueza dos países) é um fator de promoção das energias renováveis.

Para a compreensão do estudo de Marques et al. (2010) é importante ter em conta a abordagem assumida na avaliação do desenvolvimento das energias renováveis. De acordo com Marques et al. (2010) existem, na literatura várias abordagens para mensurar o desenvolvimento das energias renováveis: i) medir a substituição de energia produzida através de fontes convencionais por energia produzida através de fontes renováveis; ii) medir o valor total de energia renovável produzida (Bird et al. (2005)); e iii) usar o logaritmo natural da quota de energia renovável na produção total de energia (Carley (2009)). Os autores adotaram a abordagem proposta por Carley (2009) utilizando o logaritmo da contribuição da energia renovável na produção de energia como uma percentagem da energia primária oferecida (LCRES). Esta é a variável dependente na estimação econométrica realizada.

As variáveis explicativas da promoção da energia renovável consideradas pelos autores estão divididas em três grupos: fatores políticos, fatores socioeconómicos e fatores

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específicos por país. Em seguida, apresenta-se uma breve descrição de cada uma das variáveis explicativas do modelo, de acordo com os grupos formados.

• Fatores Políticos: a introdução de variáveis explicativas de cariz político pretende testar o argumento proposto pela literatura (Carley (2009) e Menz and Vachon (2006)), de que as motivações políticas são as principais responsáveis pela promoção das energias renováveis. Dentro deste grupo Marques et al. (2010) incluem duas variáveis:

- Variável Institucional – ser membro da União Europeia em 2001

A categorização de um país como membro ou não membro da União Europeia tem como objetivo perceber o impacto das Diretiva 2001/77EC da Comissão Europeia. Esta Diretiva foi a primeira forma legal a introduzir targets específicos e bem definidos para os Estados-Membros da UE. Assim, com esta variável pretende-se explicar se a existência de imposições legais tem um impacto positivo na promoção das energias renováveis..

- Segurança Energética

O conceito de segurança energética está relacionado com o grau de dependência de um país em relação à importação de energia. Segundo Marques et al. (2010), a literatura propõe que a segurança energética promove as energias renováveis. Com a introdução desta variável pretende-se verificar se na amostra e no período temporal considerado a segurança energética promove o investimento em energias renováveis.

• Fatores Socioeconómicos: Marques et al. (2010) consideram que os fatores socioeconómicos são os que permitem fazer a seleção das fontes renováveis de energia a utilizar e incluem:

- Preço do Petróleo, do Gás Natural e do Carvão

A introdução dos impactos dos preços do petróleo, do gás natural e do carvão como variável explicativa da promoção da energia renovável é feita uma vez que o preço da energia renovável é consideravelmente superior ao preço da energia proveniente daquelas fontes. Contudo, de acordo com Menz e Vachon (2006) o preço da energia proveniente de fontes convencionais não reflete as externalidades negativas da sua produção e utilização.

Referências

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