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3.1 O PARADIGMA DA PESQUISA

3.1.1 Metodologia qualitativa

Na introdução de, O Choque do Futuro, Alvim Toffler (1998), aborda a impetuosidade das mudanças contemporâneas, que de tão suntuosas estão subvertendo as instituições, alterando valores e arrancando raízes. Para compreender esta impetuosidade, Toffler nos aconselha a examiná-las “bem de perto, não apenas a partir das grandes perspectivas históricas, mas também do ponto de vista dos seres vivos, palpitantes, que a vivenciam”. (TOFFLER, 1998, p.13).

Esta perspectiva, aponta para os estudos de natureza etnográfica, nos quais, do ponto de vista de Lapassade (2005), dispõe de dispositivos como a observação participante e a pesquisa ação, ambos adequados para o aludido exame de caráter etnográfico.

Assim, um Mestrado em Ciências da Educação na linha de Inovação Pedagógica, fomenta “resposta à inovação”, a partir da observação, da análise e da crítica a situações de permanências de práticas pedagógicas atreladas ao mundo e à escola do passado; ao tempo em que observa, analisa e critica; esta linha de pesquisa também instiga a prospecção de ruptura nos processos de ensino e de aprendizagem (para além das práticas da escola industrial) e que favoreçam a atuação afirmativa em questões próprias da sociedade pós-industrial, deslocando a lógica da aprendizagem artificial, caricaturada na escola, para a lógica da aprendizagem autêntica desenhada nas experiências legítimas).

Portanto, o que se pretendeu nesta pesquisa foi rastrear (por dentro de uma ação potencialmente afirmativa da Barriguda), alguma ruptura com o paradigma fabril de ensino, com “um olhar interpretativo e crítico sobre fenómenos educativos, também, uma posição epistémica sobre os instrumentos e as práticas que compõem esse olhar” (FINO e SOUSA, 2001).

À vista disto, a natureza deste trabalho é portanto, qualitativa, com tendência etnográfica, do tipo que busca, conforme Spradley, apud FINO (1979), compreensão do modo como outras pessoas veem a sua experiência, devendo ser encarada mais com uma ferramenta que permite aprender com as pessoas, do que um utensílio para estudar essas pessoas.

Assim, os dados recolhidos e analisados na itinerância da pesquisa são oriundos de aproximações sucessivas e da construção de uma dialogicidade com as participantes das atividades do Projeto.

Ainda em função do caráter qualitativo da pesquisa, o recolhimento de dados se deu, naturalmente, a partir da interação com os sujeitos, nas relações interpessoais, no contato direto nos espaços de ocorrência das atividades do projeto (e posteriormente além deles), visando interpretar o significado daquele “objeto”- conteúdo e daquelas experiências para os sujeitos da pesquisa, uma vez que:

[...] tanto o processo de pesquisa quanto o processo de investigação do objeto fazem parte de um mesmo exercício interpretativo que busca penetrar nas relações socialmente construidas para compreendê-las, aplicá-las e inferir em sua constituição.

O pressuposto do recolhimento de dados foi a convivência, a observação direta, os dialógos, as entrevistas não estruturadas, as anotações, o registro de imagens, as histórias biográficas, apresentadas oral e espontaneamente, e o diálogo virtual a partir de diferentes grupos em redes sociais, sempre procurando desenvolver/estabelecer um olhar através da “lente” etnográfica.

Como não existem instrumentos pensados para a extraordinária variedade de sistemas sócioculturais, mesmo sob a aparente uniformidade da globalização, o investigador social só pode conhecer outros mundos através da sua “imersão” nos mesmos. Esta “imersão” tem duas faces: os mecanismos ou instrumentos que imagina, cria, testa e recria para poder estabelecer contacto com a população em questão e trabalhar com ela, e a postura sociocultural que manifesta. As técnicas mais utilizadas são a entrevista não-dirigida e a observação participante. O instrumento é o próprio investigador com os seus atributos sócio-culturalmente considerados, género, nacionalidade, etnia e o relacionamento social que é capaz de estabelecer no campo da observação.

(CORREIA, 2011, p. 302) Conforme Lapassade (2005, p.70), a observação participante permite ao pesquisador "se esforçar e adquirir um conhecimento do membro". Essa aproximação constrói vínculos e significados de participação. Assim, esta investigação considerou questões relacionadas ao impacto da formação construída a partir das ações do Projeto SerTão Mulher, no âmbito indivivual e coletivo, e vislumbrou o quanto as atitudes posteriores dos envolvidos estavam ou não no espectro do que Freire demominou de práxis (ato de agir, refletir sobre a ação e voltar a agir – de um outro “lugar”), ou seja, se havia rupturas com a passividade comum às práticas pedagógicas tradicionais.

Na busca pelo objetivo da pesquisa, tomei como referência os autores dos seminários de concentração desenvolvidos no ciclo de acesso ao mestrado em educação, na área de inovação pedagógica - Fino e Sousa; além do aporte para o estudo de natureza etnográfica em autores como Lapassade, Macedo, Bento, Esteban e ainda o suporte teórico do orientador Correia. Avancei para a investigação ainda conflitando entre a tradição do procedimento quantitativo (pautado em medidas, descrições numéricas, aferições, com o qual precisava romper), e a perspectiva qualitativa da pesquisa (cujo objetivo é “compreender e encontrar significados através de narrativas verbais e de observações” (BENTO, 2014, p.13). No entanto, respeitei a itinerância do Projeto SerTão Mulher e o segui em suas ações junto às comunidades (nos municípios baianos de São Gabriel, Lapão e Irecê), compartilhando significados, dores, necessidades e esperanças com as/os participantes.

Para organizar meu processo de pesquisa e dissertação, busquei autorização da entidade para observar seu trabalho, contato sendo feito, a priori informalmente e depois através de visitas a sede e do compartilhamento do projeto de pesquisa em 2013.

Posteriormente, adentrei na “intimidade” do grupo focal (participantes do Projeto SerTão Mulher), fiz contato com suas narrativas empregnadas por experiências de vida e de trabalho e sorvi da experiência social e cultural do grupo e da ação formativa que justificava a existência do Projeto.