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ELEMENTOS INTRALINGUÍSTICOS

2.2.1 Metodologias de ensino de línguas e a tradução

É com base nos estudos das línguas clássicas que temos o surgimento do primeiro método8 de ensino de línguas, conhecido como

“Método Gramática-Tradução – MGT”.

Esse é considerado o método com mais tempo de uso na história do ensino de línguas (LEFFA, 1988), tendo ocupada a tradução um lugar de destaque nele. Isso porque, para cumprir os objetivos do estudo de línguas dessa época, os quais almejavam ensinar o aluno a ler e dominar a gramática normativa em LE utilizava-se estratégias como a memorização de palavras, a fixação de regras gramaticais e exercícios de classificação, as quais eram reforçadas, especialmente, nas atividades de tradução. (SANTORO, 2011)

Nesse período, que perdurou do início do século XIX até princípios do século XX, o MGT figurou quase que exclusivo no ensino de LE. E, de acordo com Romanelli (2009), foi caracterizado pelo ensino da LE por meio da língua materna. Ainda para esse autor, a concepção de língua vigente era de que essa não passava de um conjunto de regras dentro de uma cultura, essencialmente literária e clássica. A relação entre professor e aluno ocorria de maneira vertical, na qual o professor era o detentor do conhecimento.

O MGT acabou sendo muito criticado por teóricos e profissionais da área que acreditavam que seu uso impedia o aluno de pensar em LE. A isso, soma-se o fato de que no final do século XIX o latim começou a perder espaço para as línguas modernas, as quais priorizavam a comunicação entre os sujeitos. (SANTORO, 2011) Esses acontecimentos fizeram com 8 Neste trabalho optamos por utilizar os termos método e abordagem respeitando, conforme sugere Santoro (2011), a terminologia com a qual as diversas correntes se tornaram conhecidas, sem considerar as evidentes diferenças entre os termos, pois não é esse nosso foco no momento.

que o MGT perdesse seu espaço para outros, como o método Direto – MD, que propunha uma maneira totalmente diferente de conceber a LE.

Nesse, conforme Leffa (1998) e Romanelli (2009), defendia-se o ensino da LE pela própria LE. A ênfase estava na produção oral, a qual devia preceder a escrita e ocorria, especialmente, por meio da técnica da conversação entre professor e aluno.

Com relação à língua, ela era considerada um instrumento de comunicação, e o professor usava recursos como gestos, mímicas e gravuras para transmitir os significados aos alunos, ajudando-os, dessa forma, a pensar em LE. Uma das principais características desse método, conforme Gamboa citada por Lucindo (2006), era a “condenação absoluta da tradução e da língua materna do aluno na sala, em nome do acesso direto ao significado”. (GAMBOA apud LUCINDO, 2006, p. 2)

Além do MD, outros eclodiram e igualmente suprimiram quase que totalmente o emprego da tradução. Um deles foi o método da Leitura – ML, surgido nos Estados Unidos na década de 30, tendo permanecido até o fim da II Guerra Mundial, cujo objetivo principal era a leitura de textos científicos e literários estrangeiros. De acordo com Romanelli (2009), a língua era concebida como um instrumento de comunicação autêntico, e o uso da tradução acontecia, ocasionalmente, por exercícios que, da mesma forma que o MGT, desconsideravam o contexto sociocultural.

Como forma de reação dos próprios norte-americanos contra o ML, surge a abordagem Audiolingual – AAL. Leffa (1998) aponta que essa abordagem se desenvolveu durante a II Guerra Mundial, em virtude da necessidade do exército americano de aprender as línguas faladas pelos seus inimigos em um curto período de tempo. Segundo Xavier (2011), ela tem como princípios básicos a ênfase na oralidade e a concepção de língua como um conjunto de hábitos linguísticos condicionados, adquiridos em exercícios de estímulo e resposta9, abandonando todos os aspectos

culturais e comunicativos.

Embora considerada uma reedição do MD, o qual abolia o uso da tradução, a AAL incluía de alguma forma a atividade tradutória, visto que, de acordo com Santoro (2011), ela previa a análise contrastiva de partes equivalentes das línguas.

Além das metodologias supracitadas que notoriamente excluíam o uso da tradução em aula de LE, outras surgiram e igualmente baniram a 9 Esta abordagem esteve ancorada em nomes como Skinner (psicologia comportamentalista) e Bloomfield (linguística estrutural).

prática dessa atividade, tal como a abordagem Comunicativa - AC, que surgiu na década de 1980 - momento considerado o auge da busca por um método ideal de ensino de LE - e é, sem dúvida, a mais conhecida das metodologias de ensino de línguas da atualidade.

Essa abordagem modificou substancialmente o ensino de LE ao propor a língua não mais como um conjunto de frases e regras, mas como um conjunto de eventos comunicativos. (LEFFA, 1988) A aprendizagem passou a priorizar situações da língua em uso, nas quais o uso de materiais autênticos foi privilegiado, e o professor deixou de ser a autoridade central e passou a assumir o papel de orientador.

Estamos de acordo com Bittencourt e Tecchio (2011) quando essas consideram que, sendo a aprendizagem na AC centrada no aluno e tendo como foco a comunicação, houve uma ressignificação do uso da tradução e da língua materna em sala de aula de LE. Contudo, para essas e outros autores como Romanelli (2009) e Santoro (2011), o uso desses elementos continuou sendo feito de maneira tímida e pouco reflexiva em dita abordagem.

O breve histórico traçado acima sobre as principais metodologias de ensino de línguas nos mostra que a relação dessas com a tradução é, realmente, bastante antiga. E mais: que essa relação mudou de forma substancial ao longo da história do ensino LE, principalmente devido às diferentes concepções de língua e ensino que foram surgindo ao longo do tempo.

Os dias de hoje, porém, conforme D’Ely, Gil et al (2010), apontam um movimento de distanciamento da busca por uma metodologia de ensino ideal, que servisse para qualquer contexto de ensino de línguas, dando lugar a uma época de múltiplos fazeres pedagógicos.

Trata-se do que Santoro (2011) e Leffa (2012) consideram o momento pós-método10, no qual o ensino de línguas se caracteriza pela

possibilidade de uso de diferentes estratégias, que devem ser planejadas e utilizadas de acordo com as necessidades de todos os agentes envolvidos no processo de ensino-aprendizagem.

Nesse novo contexto, vemos que a tradução volta a ocupar lugar dentro das propostas de ensino e aprendizagem de LE, conforme podemos ver em alguns trabalhos recentes, que são destacados a seguir.

10 Termo cunhado por Kumaravadivelu (1994), o qual propõe que o ensino de línguas leve em consideração particularidades políticas, culturais, sociais e linguísticas. (KUMARAVADIVELU apud LEFFA, 2012)

2.2.2 Novas propostas pedagógicas com o uso da tradução no ensino