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2.2. O SETOR DE PLÁSTICOS

2.3.2. Metodologias de Gestão Sustentável

O caminho em direção à sustentabilidade requer que os negócios encontrem formas inovadoras de rentabilidade, expandindo as fronteiras tradicionais para incluir as dimensões sociais e ambientais. No entanto, as inter-relações entre lucro, padrões de qualidade e pressão ambiental dificultam a disseminação da atividade da reciclagem (Figura 5).

Figura 5 – Inter-relações entre parâmetros de negócios que afetam a atividade de reciclagem.

Fonte: GOODSHIP, V. Introduction to Plastics Recycling. UK: Smithers Rapra Technology Limited, 2007. P.9.

A Ecologia Industrial parte da premissa de que o processo de manufatura deve ser um ciclo fechado no qual o resíduo de um processo pode ser matéria-prima para outro. Goodship (2007, p.47) cita como exemplo desse ciclo uma empresa que recicla o resíduo de manufatura de parachoques em um grade de Polipropileno. Seu fornecedor recupera o material através da mistura com a resina virgem e o retorna para o processo. As propriedades dos parachoques são tão boas quanto as do mesmo produto feito com material virgem e os testes não apontaram diferenças significativas nas propriedades do material até oito ciclos de reprocessamento. Padrões de Qualidade Forças do Mercado Pressão Ambiental

34 O Projeto Sustentável de Produto (Sustainable Product Design – SPD) busca conciliar, além dos aspectos econômicos e ambientais, também as questões sociais e éticas relativas ao ciclo de vida do produto. No entanto, as ecoinovações ou inovações sustentáveis ainda são incipientes.

2.3.2.1. Ecoprojeto

Ecoprojeto ou Ecodesign, (do inglês Design for Environment – DfE), visa

desenvolver produtos com foco em seu ciclo de vida, minimizando o impacto ambiental e maximizando os benefícios para a empresa e seus clientes. Dessa forma, as empresas podem cumprir o regulamento ambiental ou reduzir custos de eliminação de resíduos, melhorar a consistência e a qualidade do produto e do processo, diminuir custos com materiais e produção, reduzir o tempo ocioso e aumentar o rendimento do processo (GÓES; GOULART, 2005).

Segundo Cândido (2012, p.16), o Ecodesign considera a questão ambiental desde a fase de concepção do projeto, baseado no ciclo de vida completo do produto e podendo ser balizado por cinco etapas fundamentais – seleção de materiais, otimização da produção, sistema eficiente de transporte, redução do impacto em vida útil do produto e fim da vida útil do produto.

2.3.2.2. Ciclo de vida do produto

O LCA (Ciclo de Vida do Produto, do inglês Life Cycle Assessment) é uma ferramenta muito importante para aprimorar o entendimento sobre os benefícios da reciclagem e tomar decisões mais corretas. Como método científico, o LCA é uma técnica que analisa o impacto ambiental potencial associado ao produto, processo ou serviço. Nele, listam-se o conjunto das etapas necessárias e dos impactos gerados para que um produto ou serviço cumpra sua função na cadeia produtiva ou de bens de consumo. Essa análise pode evidenciar a viabilidade de se produzir um produto a partir de reciclados, ao invés de utilizar o material virgem, demonstrando as quantidades de energia gastas no processo e os custos a ele associados (Figura 6).

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Figura 6 – Ciclo de vida genérico de um produto. O ciclo de vida de um produto pode começar na extração da matéria prima a partir de recursos naturais

e da geração de energia. Materiais e energia são parte do processo de produção, embalagem, distribuição, uso, manutenção e, eventualmente, reciclagem, reuso,

recuperação ou descarte final.

Fonte: Adaptado de CÂNDIDO, L. H. A. Estudo do Ciclo de Reciclagem de

Materiais em Blendas Acrilonitrila-Butadieno-Estireno / Policarbonato.

Tese (Doutorado em Engenharia) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia Minas, Metalúrgica e de Materiais, Universidade Federal do Rio Grande do Sul,

Porto Alegre, 2012.

Uma das tendências globais na comunidade dos negócios são companhias se responsabilizando cada vez mais por seu papel na sociedade enquanto grandes produtores e consumidores de matérias-primas. Processos sustentáveis trazem benefícios às empresas em três níveis:

 Produção limpa – redução de recursos / aumento na margem de lucro  Gestão Ambiental – melhoria contínua / mudança na reputação do negócio  Produtos limpos e sustentáveis – vantagem competitiva / aumento da receita

Pensar o ciclo de vida de um produto é essencial para o desenvolvimento sustentável. O principal objetivo dessa abordagem é reduzir o uso de recursos e emissões provenientes do processamento de um produto e melhorar sua performance sócio-ambiental (United Nations Environment Program UNEP, 2008).

36 Por meio dessa abordagem do “ciclo fechado”, torna-se uma estratégia bastante coerente a reutilização dos próprios resíduos de processo como matéria-prima, criando novos ciclos de vida para os materiais descartados (ZANIN; MANCINI, 2009).

Considerando a cadeia automotiva, é possível observar que o impacto ambiental ocorre em várias etapas e em várias escalas. Cada fornecedor da cadeia automobilística tem em seu processo produtivo um ciclo fechado que vai impactar o ambiente desde a extração do recurso natural até a emissão de poluentes no meio ambiente (SOUZA, 2010). Mas, a degradação ambiental gerada pela indústria automobilística não se encerra no processo produtivo. O automóvel, em si, é um produto que gera poluição e que precisa ser devidamente destinado ao fim de sua vida útil.

2.3.2.2.1. Veículos em Fim de Vida

O conceito de Veículo em Fim de Vida (do inglês, End of Life Vehicles – ELV) busca compartilhar a responsabilidade dos veículos enquanto “descarte pós-consumo” com a sua cadeia produtiva, incentivando o reuso de peças e a reciclagem de materiais.

Zorpas e Inglezakis (2012) apontam que a Diretiva 2000/53/EC instituiu o conceito da responsabilidade extendida sobre o produto e estipulou requisitos técnicos para projeto de veículos, assim como as cotas de reuso e recuperação para ELV. Objetivos como a redução de substâncias perigosas no processamento de materiais, projeto de componentes com facilidade de desmontagem e aumento do uso de materiais reciclados na composição dos veículos foram algumas das medidas instituídas. A Diretiva instituiu ainda prazos para o cumprimento das metas, conforme ilustrado na Tabela 1.

Tabela 1 – Principais metas da Diretiva 2000/53/EC na União Europeia em relação aos ELVs

Prazo Meta

Até Julho/2003 novos veículos não podem conter metais pesados como chumbo, mercúrio, cádmio ou cromo hexavalente

Até Janeiro/2006 (a) reuso e recuperação de 85% em massa para veículos produzidos após 1980;

(b) reuso e recuperação de 75% em massa para veículos produzidos até 1980.

Até Janeiro/2015 reuso e recuperação de 95% em massa

A estipulação de metas fez com a cadeia automotiva se mobilizasse na busca de soluções e desenvolvimento de novas tecnologias para reciclagem e reuso dos ELVs. A

37 reciclagem de componentes eletrônicos (WEEE – Waste Electrical and Electronic Equipment) foi uma das tecnologias que emergiram a partir dessas pesquisas e em decorrência do crescente uso de eletrônicos nos veículos.

Na Alemanha, no Japão e nos EUA foram desenvolvidos centros de competência responsáveis pela desmontagem e logística reversa dos materiais e componentes dos veículos.

No Brasil, a Política Nacional de Resíduos Sólidos institui políticas similares às da Diretiva da União Europeia. No entanto, o ELV não possui valor agregado e é comercializado como sucata. Estima-se que o valor de um ELV seja cerca de 3% do valor do veículo novo (CASTRO, 2010). Além disso, a questão dos desmanches e do mercado informal de venda de peças de veículos atrapalham a implementação de um ciclo oficial de logística reversa como parte da cadeia produtiva.

Piva e Wiebeck (2004, p.22) lembram que ‘a reciclagem de materiais [...] requer conhecimento do processo, de aditivos e do polímero reciclado, principalmente porque há limites técnicos, que estabelecem quantas vezes um material pode ser reciclado mantendo suas propriedades físicas aceitáveis’.

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