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um raio de 100 metros em torno do foco, eram também tratadas pelos vapores do enxofre, destruídas as larvas, suprimidas coleções de

água inúteis e removidos ou destruídos os recipientes que poderiam se

converter em criadouros de mosquitos”.

Interessante menção à equivalência com um serviço de incêndio, uma vez que, ainda hoje, entre as dificuldades apontadas para planejar as atividades do sistema de vigilância, está a constante interrupção pelas “tarefas de bombeiro” a que estão sujeitas.

Para levar a efeito o trabalho de combate às larvas e remoção de criadouros, a “brigada sanitária” chegou a 2500 homens, cujo apelido de mata-mosquitos acompanhou esses trabalhadores por muito tempo. Espalhavam-se por todas as ruas e praças e executavam a contínua tarefa denominada de arrastão - ir de casa em casa examinar todos os depósitos de água, inclusive calhas, eliminar os focos do mosquito, limpar valas e terrenos baldios e todos os espaços que pudessem ser identificados como possíveis criadouros. Em oito de

março de 1907, um expediente de Oswaldo Cruz ao Ministro apontava:

Finda hoje o prazo dentro do qual a Diretoria Geral de Saúde

Pública se comprometeu, perante o Governo, a extinguir no Rio de

Janeiro a febre amarela sob a forma endêmica... graças à vontade

e firmeza do Governo, a febre amarela não mais devasta a Capital

da República

” (Franco, 1962).

À guisa de entender o esforço despendido na obtenção de resultados, o Rio de Janeiro então tinha 635 061 moradores6 e concentrava na área central o movimento de recém vindos estrangeiros e nacionais, os hotéis e hospedarias, a população mais pobre e a febre amarela (Barroso, 1922). Somente no ano de 1906, o serviço executou a limpeza de 857 957 calhas, tinas e barris, 618 616 lavagens de caixas de água e tanques, 1 558 212 petrolizações de ralos, bueiros,

etc., 2 546 viagens de carroças para retirada de latas, cacos, outros removíveis e 524 509 visitas domiciliares.

Este trabalho reduziu a mortalidade por febre amarela em 73% entre 1903 e 1907 (de 584 a 39 notificados ao serviço). Em 1909, sem registro de óbitos, considerou-se a doença eliminada da capital da República, feito tratado pela imprensa como equivalente à abolição da escravatura. A utilização deste modelo de intervenção se repetiu, sob o comando daquele sanitarista em Belém, Porto Velho e outras cidades e projetos na região amazônica como a construção da estrada de ferro Madeira-Mamoré.

A grandeza do trabalho fez com que se esquecesse o potencial cíclico que a presença do vetor oferece, e que se confirmaria, mais tarde com o dengue. A vitória, sempre momentânea, exige um tempo para que se recoloque, mais adiante, o problema da manutenção do trabalho e da prontidão para agir nos períodos interepidêmicos.

Ao final dos anos 10, epidemias ocorreram em vários estados. Em 1914, com Oswaldo Cruz já afastado e o Serviço de Profilaxia da Febre Amarela reduzido e sem as brigadas sanitárias, registrou-se novamente a presença do mosquito no Rio de Janeiro. A situação de crescente infestação determinou um acordo de trabalho conjunto entre o governo brasileiro e a Fundação Rockefeller que mantinha outras atividades no Brasil. Dividiram-se as responsabilidades e o norte (da Bahia ao Acre) ficou sob a responsabilidade da Divisão de Saúde Internacional daquela fundação e o sul, do Espírito Santo ao Rio Grande do Sul, incluídos os estados do centro oeste sob a responsabilidade brasileira.

Em 1928/29 iniciou-se nova epidemia no Rio de janeiro quando “

ninguém

mais pensava na possibilidade de retorno daquele flagelo à Capital da

República

” (Franco, 1969). A cidade com cerca de 200 mil domicílios, esparramava-se por uma topografia acidentada, com morros e terrenos ocupados desordenadamente, distanciando-se muito daquela que Oswaldo Cruz havia dirigido.

Reiniciada a campanha, retomou-se o modelo de controle do vetor e a vigilância dos doentes e comunicantes. Realizaram-se contratações e treinamentos de chefes de turma e polícia de focos voltados à inspeção de calhas, caixas de água e de outros possíveis depósitos nas casas e quintais. Cabia a esta policia a perfuração ou remoção de latas ou outros objetos capazes de reter água, destruição dos focos do mosquito usando petróleo e, fora dos domicílios, limpeza e desobstrução de sarjetas. A estrutura montada na Inspetoria do Serviço de Profilaxia dividiu a área urbana em 16 Distritos, cada um deles com cerca de 10 Seções, que por sua vez tinham 10 turmas em média. Em cálculo aproximado, sem considerar as áreas com exigências maiores de a pessoal, a campanha envolveu cerca de dez mil e trezentos funcionários, a maioria de campo. Segundo estimativa do IBGE, em 1928 a capital federal tinha aproximadamente um milhão e trezentos mil habitantes, o que representou um funcionário para cada 127 moradores, o dobro do padrão utilizado em Ribeirão Preto vinte e poucos anos antes. E, apesar do intenso trabalho, a epidemia durou 17 meses e esparramou-se para o resto do estado (Secretaria da Saúde, 1943).

Com as mesmas características do modelo de intervenção, mas com a incorporação de recentes descobertas, novas ações foram experimentadas como colocação de peixes larvófagos em determinados depósitos de água e nebulizações de preparados à base de querosene ao invés do antigo sistema de expurgo. Os exames laboratoriais mais precisos permitiam monitorar a presença do vírus em contingentes populacionais maiores. Novos instrumentos para punção hepática e a execução sistemática de necropsias melhoraram a perspectiva do conhecimento da doença no Brasil.

O maior passo dado na década de 30 foi, sem dúvida, a estabilização de uma vacina contra febre amarela. A parte do vírus conhecido como 17 D permitiu sua fabricação, a partir de 1937, pelo Instituto Oswaldo Cruz. Posteriores inquéritos sorológicos em vacinados, permitiram afirmar que a duração média

A vacina introduziu maior efetividade na prevenção da doença em situações específicas de risco, mas o controle do mosquito continuou como o principal espaço de atuação dos programas.

O modelo centrado na biologia do vetor já havia dado muitas demonstrações tanto de sua capacidade em reduzir as epidemias como das dificuldades em mantê-las afastadas. Exemplos como o de Pernambuco, em que uma vila se reinfestou após 16 semanas de intenso trabalho de combate ao mosquito, expunham os obstáculos que o Serviço de Febre Amarela teria para impedir sua domiciliação. Mas foi a presença do vírus em todas as regiões do país que fortaleceu, rapidamente, a idéia da erradicação.

A Campanha de Erradicação

Próximo ao final da 2ª guerra, Soper, em publicação de 1943, ao avaliar o trabalho da Fundação Rockefeller no Brasil, apontou:

O período de 1926-40 mostrou que campanhas anti-aegypti

temporárias nos principais centros não erradicavam a febre