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perspectiva de uma participação consciente ” (Ministério, 1995)

Esta formulação, bastante frequente, transformava a participação em etapa do programa, uma possibilidade de cidadania, um título a ser obtido pelo cumprimento consciente de tarefas ali contidas.

Propunha, também, o uso mais intensivo das campanhas publicitárias, promoção de eventos, envolvimento de professores e alunos, envio de mala direta com pedido de participação, elaboração de materiais de divulgação e outras. Constava deste plano a organização do dia 22 de novembro, o primeiro

Dia D de Combate ao Dengue. Buscava-se a “

mobilização de recursos técnicos,

políticos, humanos, operacionais e financeiros

”, uma vez que “

tem se mostrado

insuficiente para fazer frente a estas ocorrências.

..”. Entre as formas de colaborar com a superação do problema estava à criação deste dia D, expediente que se repetiu pelos anos seguintes com mais ou menos importância. Para o Ministério

da Saúde a tônica era reforçar

“o arsenal de medidas disponíveis para controle

pelas instituições de saúde. mobilização de recursos técnicos, políticos,

humanos, operacionais e financeiros

.

Em 1995, juntamente com a mudança no governo federal, assumia o governo estadual Mário Covas. Na esfera econômica, iniciava-se a consolidação da estabilização da moeda e da inflação, baseadas na restrição de créditos e manutenção de pesada carga fiscal e de juros. Estava em curso uma renegociação da dívida externa e a adesão aos preceitos e exigências das novas regras internacionais como o estabelecimento de um programa de privatização que se desenvolveria ao longo do período.

O recém empossado Secretario da Saúde de São Paulo, ao se defrontar com o Plano de Intensificação federal e com o aumento substantivo da transmissão de dengue, após 3 anos de baixa incidência, expressou a necessidade de maior empenho no controle, já que os resultados deixavam evidente a insuficiência do trabalho.

Em entrevista12, Dr. José da Silva Guedes afirmava que

“... assistimos a

introdução da dengue no Estado, cada vez com mais casos, cada vez com mais

cidades e se aproximando da área mais densamente povoada.

” A referência era ao início da transmissão em Campinas, que transpunha a “barreira” da área central e oeste do estado. Atingida a primeira cidade de grande porte, temia-se

pela proximidade com municípios da Grande São Paulo, onde,

reconhecidamente, não se conseguiria conter o avanço dos casos com os recursos disponíveis.

As cidades deixavam de ser o pano de fundo e, pela heterogeneidade de condições, passaram a se constituir em uma das dificuldades do controle do vetor.

Com a entrada de novo Ministro da Saúde, o plano recém proposto foi analisado como bom tecnicamente, mas insuficiente do ponto de vista da “mobilização da comunidade”. Levada ao Conselho Nacional de Saúde – CNS, esta perspectiva gerou a criação de uma Comissão Técnica encarregada de

pensar um “ajuste” para um programa que tivesse “

forte componente

______________

12 Secretário da Saúde do Estado de São Paulo de 1995 a 2002. Entrevista realizada em 16 de outubro de 2001

internacional e como principal estratégia a mobilização popular

” (CNS, 1995). A saída encontrada foi a erradicação do vetor.

Os assuntos discutidos no CNS que necessitam de adesão nacional, normalmente voltam várias vezes ao plenário para discussão. Neste caso, que envolvia assumir a mudança do Plano de Intensificação, ainda não totalmente implantado, para o de erradicação, contou com rapidez incomum apesar da dimensão das questões envolvidas, como demonstram as atas do CNS.

Na reunião de outubro (CNS, out/1995), os membros foram informados sobre um seminário a ser promovido pela Associação Brasileira de Saúde Coletiva – Abrasco e pela Sociedade Brasileira de Medicina Tropical – SBMT, com a

participação da “

comunidade científica, grupos sociais e instituições

formadoras de opinião

” para discutir o proposto. Em paralelo, o I Congresso de Secretários Municipais de Saúde das Américas, também promoveu discussões sobre uma estratégia de erradicação continental. Corroborando com a idéia de uma agenda já traçada, outro informe da ata apresentava a Resolução 38 do Conselho Diretor da OPS, que criara um grupo técnico para estudar a viabilidade de um plano em nível continental.

Estes eventos decorreram dos movimentos do Ministério da Saúde em tornar a idéia da erradicação uma alternativa técnico-política para responder, com uma velocidade que nenhum controle alcançaria, a esta doença de grande visibilidade. Na mesma reunião, CNS discutiu formas de manter o apoio externo e, no plano interno, de mobilizar a força política dos secretários estaduais e municipais por meio de seus conselhos, CONASS e CONASEMS.

O Dia D tornou-se estratégico, uma ponta de lança para a situação – oferecer uma resposta à preocupação nacional com o dengue que repercutiria em todos os municípios brasileiros.

O Ministério, em conjunto com representantes da OPS, definiu alguns passos a serem dados: criação de grupos com epidemiologistas, entomologistas e representantes da Fundação Nacional de Saúde e da Flora Tropical, uma empresa cuja presença neste fórum não ficou esclarecida, para elaborar um

projeto que contivesse os custos do novo programa, a ser apresentado ao Ministro ainda no mês de outubro.

Na última reunião do ano (CNS, dez/1995), apresentou-se o andamento do ainda denominado Plano de Intensificação de Ações de Controle do Dengue. Chama a atenção o fato de que todas as iniciativas mencionadas giravam em torno de uma “preparação para ação” sem nenhum registro de atividade efetivamente de controle. No relatório apresentado ao CNS constavam 14 itens desdobrados a partir de três objetivos maiores: elaboração de material educativo, mobilização de recursos para o Dia D e divulgação do evento. Previa-se elaboração de roteiros orientadores para escolas e meios de comunicação, documentos dirigidos ao COSEMS e CONASS, assessoria a outros órgãos para engajá-los, envolvimento de organizações não governamentais, atividades educativas com o pessoal de campo e monitores.

O Ministério indicava ter duas estratégias, uma implantada e outra, a erradicação, a ser viabilizada, e com rapidez transformou a primeira em etapa da segunda.

Um seminário de nome Plano de Erradicação do Aedes aegypti: Um Desafio para as Américas foi realizado ao final de 1995 com importantes e diversificados setores de representação política e acadêmica. A discussão proposta encaminhada era tão híbrida como o momento: deveria-se erradicar e intensificar as ações de controle.

Iniciava–se o processo de dar forma e consistência técnica à decisão política de, mais uma vez, erradicar o Aedes aegypti do Brasil.

7 - Período de 1996 a 1999. A re-erradicação.

Nada do que é humano me é estranho. Marx13

O ano de 1996 iniciou com a proclamação, pela Assembléia Geral da ONU como o Ano Internacional para a Erradicação da Pobreza. Os países deveriam discutir e empreender esforços concentrados em programas e soluções planetárias para eliminá-la.

No Brasil, a erradicação que tomou conta do cenário da saúde e rapidamente ampliou seu arco de aceitação, foi a do Aedes aegypti, delineada desde o ano anterior apesar das restrições orçamentárias caminharem no sentido contrário dos programas sociais.

Na agenda do governo, a prioridade continuava a ser a reforma do Estado e para recodificação das relações entre o setor público e privado, conduzida por Bresser Pereira no Ministério da Administração. Segundo Diniz (1999), um dos efeitos da globalização na administração pública, em resposta à meta de eficácia governamental, foi o paradigma tecnocrático de maximização da autonomia do círculo restrito que controla as decisões,

que se impôs em nome da maior eficiência tanto no enfrentamento de