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na “ proposição aceita por todos os países que integram o Mercosul ”, afirmação que indicava concordância com a idéia, mas que não redundou em nenhum

movimento efetivo para o propósito em questão. A ata de fevereiro informava, adicionalmente, que a participação da OPS já estava consolidada e buscava-se a constituição de um Grupo Técnico Assessor no qual o Brasil, por ser o país proponente da erradicação continental, teria direito a três participantes ao invés de um.

A posição da OPS ficaria mais clara em artigo (PAHO, 1997) que reproduz

parte da discussão ocorrida na 118ª reunião do Comitê Executivo em junho de

1996. Naquela reunião, Brasil e Cuba apresentaram seus planos e sugeriram maior envolvimento dos países americanos. Diante das reservas manifestas sobre a

factibilidade da proposta foi recomendada uma intensificação com

vistas a

uma eventual erradicação nas Américas

”, expressão que se tornou cada vez mais freqüente à medida que declinava o ímpeto em realizar o plano. A proposta brasileira de uma erradicação descentralizada, até então não experimentada, levou o Comitê a sugerir que se realizasse um piloto para posterior expansão.

A reunião do Conselho Diretor, em setembro do mesmo ano, ratificou a

decisão de

“instar os governos a intensificar o combate ao Aedes aegypti

”, por

meio de planos e diretrizes que utilizassem os meios de comunicação para informar e educar a população, reforçando a participação comunitária. Propunham, ainda, promover a vigilância epidemiológica, fortalecer os laboratórios e, sempre que os recursos permitissem, assessorar os demais países para apoiar ações continentais baseadas nos planos nacionais (CNS, set/ 1996).

Em meados da década de 90, o dengue hemorrágico estava presente em praticamente toda América Central e em alguns países latino-americanos. Alguns estudos iniciavam a constatação de que os casos com esta forma grave

não tinham necessariamente correspondência com as elevações do denominado dengue clássico.

Na tabela 10, observa-se a crescente participação do dengue hemorrágico em vários países americanos. O único que apresentou taxa negativa foi a Guatemala, em função de se encontrar em fase pós epidêmica.

As recomendações de investimento para eliminar a doença, embora contassem com o apoio formal da OPS, não lograram uma ação efetiva nas dimensões pretendidas. Os Estados Unidos, importante aliado no sentido de pesar a balança na direção de apoiar uma nova erradicação continental, mostrou-se contrário à idéia, o que diminuiu o espaço internacional de adesão. Em relação aos demais países, o peso das dívidas externas e escassez de recursos impediu-os de avançar na direção pretendida.

No Brasil, já estavam presentes os obstáculos para eliminar o Aedes aegypti e respeitar o sistema hierarquizado no qual cada instância pode divergir na definição de prioridades, mas ainda assim apostava-se na mobilização em reposta aos problemas gerados pelas epidemias na vida dos cidadãos. Desta forma, erradicar o mosquito com sistemas autônomos parecia ser uma política que teria a adesão de todos, tanto pelo altruísmo dos objetivos como pela possibilidade de novos financiamentos e diminuição das dificuldades operacionais dos serviços.

Nada do que se conhecia até então sobre as dificuldades político-partidárias para construção de pactos amplos, sobre a impossibilidade de convergência entre grupos de interesses distintos, sobre a crise econômica que atravessava o país e impedia investimentos em setores estratégicos, sobre a representação do dengue para os diferentes segmentos da população e os limites dos serviços públicos para darem outros passos além de suas programações normais, apareceram formalizados como obstáculos. E, trazendo as dificuldades para o campo do cotidiano dos serviços, a falta de unidade de execução e de continuidade do trabalho e a rotatividade das equipes, tudo seria ultrapassado porque desta vez, era desta vez.

Tabela 10 - Incidência, porcentagem de crescimento 1996-97, número de óbitos e letalidade por FHD em países selecionados, 1997.

PAÍSES INCIDÊNCIA % ANUAL CRESC. 96-97 ÓBITOS LETALIDADE VENEZUELA 28,84 73,33 43 0,68 COLÔMBIA 11,25 55,52 28 0,71 NICARÁGUA 1,64 27,94 - GUATEMALA 0.06 - 68,42 - - MÉXICO 1,05 7,43 - - MARTINICA 3,96 100,00 3 20,00 TRINIDAD TOBAGO 2,98 100,00 9 23,09 CUBA 1,87 100,00 12 5,85 PORTO RICO 1,69 61,29 5 8,06

*por 100 000 mil habitantes

Fonte: Indicadores de Salud en las Américas 1996/ OPS

E, mais surpreendente, os órgãos com tradição neste trabalho, como a FNS e a Sucen, não caminharam na direção de refletir sobre a presença cíclica da doença. Ao analisar suas próprias histórias, poderiam encontrar nelas a impossibilidade de manter a primazia constante e imutável das práticas que desempenhavam enquanto tudo ao redor se transformava, gerando, apesar do trabalho, um panorama de resultados pouco efetivos.

Tratado sempre como um plano “ousado e complexo”, provavelmente pelos motivos apontados ou outros não claramente explicitados, foi obtendo adesões que resultaram numa quase unanimidade discursiva e no que parecia ser a chance de, mais uma vez, eliminar a espécie que outros haviam tentado com sucesso temporário.

Passou também a fazer parte dessa “pregação” erradicacionista, o argumento de melhoria da qualidade de vida, conceito bastante elástico no seu significado e presente em todas as ações de saúde voltadas à eliminação de doenças. Associava-se neste momento o “componente” saneamento básico, que atualizava em dimensão nacional, as recomendações dos primeiros anos de 1900, relacionadas ao esgotamento adequado da água e dejetos nas áreas onde a febre amarela irrompia.

A discussão e movimentos para equacionar os recursos necessários para implantar a erradicação estão presentes ao longo de 1996. Na reunião extraordinária (CNS, jun./1996) para apresentação da proposta orçamentária do ano seguinte, não foi possível ao plenário conhecer os valores destinados ao Plano de Erradicação do Aedes aegypti – PEAa, uma vez que não estavam concluídas as negociações com a área econômica do governo. Os resultados, entretanto, já se mostravam desfavoráveis. O orçamento previsto havia sofrido uma redução de 26 bilhões para 20,3 bilhões de reais, dos quais 5,3 bilhões deveriam vir da CPMF, naquele momento, ainda não regulamentada pelo Congresso Nacional. A redução, em relação ao ano que estava em curso, era de cerca de 20%.

O CNS, mesmo sem condições de analisar adequadamente os cortes

orçamentários para 1997, teceu comentários sobre tratarem-se de “

focos de

saneamento básico (um terço) e no controle de endemias, a metade

” (CNS, out./