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Políticas Públicas de Combate à Pobreza: Contribuições e Limites

3.3. Programas Alternativos de Garantia de Renda Mínima: Características Gerais das

4.3.1. Microssimulação de Programas de Garantia de Renda Mínima

Os trabalhos de simulação se concentraram em sete propostas, todos eles focalizados sobre as famílias pobres (aquelas em que a renda familiar per capita é de até meio salário mínimo).

Três são variações de bolsa-escola, que têm como característica comum atender às famílias pobres, das quais se exige uma contrapartida: ter filhos ou dependentes menores de 14 anos, em que aqueles entre 7 e 14 anos devem estar freqüentando escola. O programa BE1 concede às famílias com renda familiar per capita (YFpc) inferior a meio salário mínimo, que tenham n dependentes com idade inferior a 14 anos, em que todas aquelas entre 7 e 14 anos estejam freqüentando a escola, um benefício equivalente à diferença entre o valor de RS 15,00

por dependente e 50% da renda familiar per capita (uma proporção t), calculado por B = (n x BM) – (t x YFpc ). O benefício mínimo (BM) é de R$ 15,00.

Neste caso, o benefício é calculado de forma a evitar que alguma família que atenda aos critérios (ou seja, esteja incluída naquele que é o público-alvo) corra o risco de “receber” um benefício negativo, garantindo-se, assim, um benefício mínimo. Além disso, tem o objetivo de manter o incentivo ao trabalho da família, pois quanto maior a renda familiar per

capita, maior será a renda total (ou seja, a renda inicial mais o benefício).

O BE2 é uma variação do primeiro, em que t = 0, e equivale ao desenho do Bolsa- Escola do Governo Federal, sem restringir valor ou número de dependentes. Neste caso, concede às famílias, que atendem aos mesmos critérios do BE1, um benefício equivalente ao valor de RS 15,00 por dependente.

O BE3 equivale ao programa Bolsa-Escola adotado no Distrito Federal na gestão do governo de Cristovão Buarque, que confere um benefício de um salário mínimo, equivalente a R$ 136,00, às famílias com uma renda per capita inferior a meio salário mínimo, com dependentes menores de 14 anos, com todas as crianças entre 7 e 14 anos freqüentando a escola, sem restringir ao tempo de moradia.

Um quarto programa, o BA se diferencia do BE2 apenas por relaxar o critério de freqüência à escola, exigindo apenas a presença de filhos ou dependentes menores de 14 anos, concedendo um benefício de R$ 15,00 por criança. Equivaleria ao programa do Projeto Alvorada, de Bolsa-Alimentação, embora sem restringir o número de crianças.

Outro programa, o BU (Benefício Único), tem o desenho de uma garantia de renda mínima, embora não universal porque impõe um único critério de acesso (ter renda familiar

per capita menor que meio salário mínimo), focalizando unicamente os pobres, desabilitando-

se o critério de ter dependentes na escola, concedendo a todas as famílias pobres um benefício equivalente a um salário mínimo. É uma transferência condicionada apenas à linha de pobreza.

Outras duas propostas se baseiam no programa de garantia de renda mínima, apresentado pelo projeto de lei do Senador Suplicy, com desenho para famílias, equivalentes a um imposto de renda negativo. No desenho de um imposto de renda negativo é garantido um benefício que é uma proporção t da diferença entre o valor garantido e a renda da família. Isso se presta a evitar que haja um desestímulo ao trabalho, uma das distorções que preocupam aos que analisam programas de garantia de renda. Com essa formulação, sempre haveria estímulo para as pessoas trabalharem e buscarem obter rendas do trabalho maiores. Isso ocorreria porque, à medida que a renda se eleva, cabe um acréscimo de renda em relação ao que poderia obter caso não estivesse exercendo atividade remunerada. Este acréscimo é limitado pelo valor fixado como renda limite.

Tendo a família como beneficiária, são propostas que preveêm o pagamento de um benefício mensal a famílias com renda per capita mensal menor do que meio salário mínimo calculado por B = t.(N x YLFpc) – t.(YF) = t.(N x YLFpc – YF). t é uma alíquota marginal de imposto, uma proporção do hiato entre o limite de renda familiar (que equivale ao limite de renda familiar per capita64 YLFpc multiplicada pelo número N de indivíduos da família) e a renda familiar inicial, YF. Ou seja, para cada unidade monetária extra de renda familiar (YF), o valor do benefício é reduzido em t. Neste caso, alíquota t pode ser alterada para analisar efeitos de propostas alternativas.

Baseadas nisto, o IRN é a proposta que utiliza uma alíquota t de 0,3, proposta original de um imposto de renda negativo para famílias. A outra proposta, o RM (Renda Mínima), concede, às famílias pobres, um benefício que equivale ao hiato de renda necessário para tirá- las da pobreza. Ou seja, o RM adota uma alíquota t igual a 1, o que garante uma renda mínima que concede a cada família pobre um benefício igual à diferença entre a linha de pobreza (ou seja, o limite de renda) multiplicada pelo número de pessoas na família e a renda das famílias. Equivaleria ao montante necessário para retirar os beneficiários do status de pobreza.

O Quadro 1 apresenta um resumo dos critérios de elegibilidade e da forma de cálculo dos benefícios dos programas simulados. Os programas que vinculam a transferência de renda à freqüência à escola, classificados como bolsa-escola (BE1, BE2 e BE3), têm como público alvo as famílias pobres com crianças em idade escolar. A variação se encontra no cálculo do benefício, que somente no caso do BE3 é constante e equivale a um salário mínimo.

O BA tem como público alvo as famílias pobres com dependentes menores de 14 anos, independente de freqüência a escola. Concede um benefício de R$ 15,00 por dependentes. Decorre, portanto, de uma flexibilização dos critérios adotados no programa de

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Bolsa-Escola BE2, com o objetivo de atender às famílias carentes com crianças, em que a importância está na possibilidade de atender crianças na fase de formação cognitiva (do 0 aos 6 anos de idade), e supondo que as crianças em idade escolar irão freqüentar a escola.

Quadro 1 – Resumo: Critérios de Eligibilidade e Cálculo do Valor do Benefício dos Programas Simulados

Programa Critérios Valor do Benefício

BE1 Renda familiar per capita inferior a ½ salário mínimo (R$ 68,00)

• Ter filhos ou dependentes menores de 14 anos.

• Filhos e dependentes entre 7 e 14 anos freqüentando escola.

B = (n x BM) – (t x YFpc ) em que t= 0,5

sendo que o benefício tem um valor mínimo garantido B ≥ R$ 15,00.

BE2

Mesmos critérios do BE1. B = (n x BM) – (t x YFpc ) em que t= 0. Logo B = n x BM

BE3

Mesmos critérios do BE1. B = R$ 136,00

BA Renda familiar per capita inferior a ½ salário mínimo (R$ 68,00)

• Ter filhos ou dependentes menores de 14 anos.

B = (n x BM) – (t x YFpc ) em que t= 0. Logo

B = n x BM BU Renda familiar per capita inferior a ½

salário mínimo (R$ 68,00) B = R$ 136,00

IRN Renda familiar per capita inferior a ½ salário mínimo (R$ 68,00)

B = t.(N x YLFpc) – t.YF = t.(N x YLFpc – YF) em

que t = 0,3

RM Renda familiar per capita inferior a ½ salário mínimo (R$ 68,00)

B = t.(N x YLFpc) – t.YF em que t = 1. Logo

B = (N x YLFpc) – (YF) = hiato de renda.

O BU, o IRN e o RM são programas cujo único critério de elegibilidade é o do limite da renda familiar per capita (dado por uma linha de pobreza de R$ 68,00). Ou seja, têm como público alvo as famílias pobres: aquelas que apresentam uma renda familiar per capita inferior a meio salário mínimo. O que os diferencia é o cálculo do valor do benefício. O BU concede um valor constante de um salário mínimo para todas as famílias pobres (nesse sentido um benefício uniforme). Nos casos do IRN e do RM, estes seguem o desenho do imposto de renda negativo que garante uma transferência de t.YLF ( ou t.N.YLFpc) e que tributa YF em t, que para as famílias pobres equivale a um acréscimo de renda de t.(N.YLFpc – YF).