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4 MY GENERATION: FAMÍLIAS E GERAÇÕES

4.3 SOBRE GERAÇÕES

4.3.2 Millennials

Tapscott (2010), ao lado de Howe e Strauss (2000), são referências pioneiras e, portanto, importantes sobre a geração dos millennials. Serão esses autores as bases desta pesquisa para pensarmos essa geração que configura boa parte do público-alvo do projeto Meu Filho, Meu Roqueiro.

O termo millennial surgiu para descrever os norte-americanos nascidos em 1982 e 2005 num estudo publicado por Howe e Strauss, em 1992. Os autores propõem que a noção de “geração” pode ser definida como “grupo de pares nascidos em um mesmo período e que farão a passagem da juventude para a vida adulta juntos” (HOWE & STRAUSS, 2000).

Seguindo a linha teórica de Mannheim, esses grupos, coletivamente, possuem características em comum, mas o que os difere é a pessoa geracional que cada um é, ou seja, sua própria biografia que implica em exceções decorrentes da opinião e da interação com outras instâncias da vida, como política, família, gênero, etc. (CRUZ, 2018). Segundo Howe e Strauss (2000), em 1997, um canal de TV norte-americano lançou uma votação aberta ao público para a sugestão de um nome para a geração dos anos 1980 em diante. Dentre muitas opções, entre elas “Geração Y” e “Geração Tech”, os mais votados foram “millennials” e “Don’t Label Us”7. De acordo com autores, isso ocorreu porque existe uma expectativa errônea de, através de uma visão linear da história, continuidade da geração anterior, de modo que os millennials entendem que não se adequam ao estereótipo da geração X8 e, exatamente por isso, rejeitam o rótulo Y como uma sequência, por isso estão vivendo ao contrário das tendências lançadas pelos baby boomers. Para os autores,

7 “Não nos rotule” (tradução nossa).

8 O termo “Geração X” é utilizado para identificar as pessoas nascidas após o chamado baby boom. Essa geração inclui aqueles que nasceram no início de 1960 até o final dos anos 1970. Por vezes, são incluídos também os nascidos até 1982.

41 Today's teens want a name that is a founding word, a word that respects their newness, a word that resets the clock of secular history around their own timetable. The name “millennial” their acknowledges technological superiority without defining them too explicitly in the terms9 (HOWE &

STRAUSS, 2000, p.12).

Ainda de acordo com eles, millennials são positivos, cooperativos em grupo, não gostam de quebrar regras, são inteligentes e entendem o papel dos pais, com quem preservam uma relação mais íntima. É uma geração mais supervisionada e que acredita no futuro. Em um artigo para a Revista de Harvard (2007), os autores observam que os millennials têm o desafio de desmitificar a imagem de juventude alienada, e essa atitude pode ser interpretada como egocentrismo. Até os trinta anos, vivem mais perto dos seus pais e escutam seus conselhos, mais do que os baby boomers e os X na mesma idade. Além disso, acrescentam que os millennials criarão novos conceitos no ciberespaço e nos usos de informações para capacitar grupos em vez de indivíduos. No que tange à política, afirmam que eles rejeitarão o que percebem como negativismo, moralismo e egoísmo. Por outro lado, millennials também seriam vistos como mais mimados, avessos aos riscos e dependentes.

Segundo Cruz (2018), alguns autores classificam essa geração por um período de nascimento mais restrito: aqueles que nasceram no final dos anos 1980 e na década de 1990 até cerca dos anos 2000. Esse seria o recorte dos jovens nascidos em um mundo onde já existia internet. No entanto, nascer em um mundo com internet não significa exatamente usufruí-la, quando as tecnologias digitais e a internet eram utilizadas prioritariamente por pessoas mais velhas, ou seja, de outras gerações. Em suma, a internet era algo disponível para consumo, mas que ia, aos poucos, sendo incorporada aos lares. Assim, aparentemente, os nascidos nesse período chegaram à sociedade junto com a tecnologia. Dan Tapscott (2010) considera os nascidos entre 1977 e 1997 como “geração internet” e os nascidos entre 1998 e 2008 como

"geração Z”. Ambas as nomenclaturas partilham de características dos chamados millennials10.

Como parte da primeira geração global, os jovens da Geração Internet são mais espertos, rápidos e tolerantes quanto a diversidade do que seus

9 “Os adolescentes de hoje querem um nome que seja uma palavra fundadora, respeite sua novidade, reinicie o relógio da história secular em torno de seu próprio cronograma. O nome ‘Millennial’ reconhece a superioridade tecnológica sem defini-los explicitamente” (tradução nossa).

10 Como se pode ver, não existe consenso, por isso vamos considerar millennials como identificados por Tapscott (2010), os nascidos entre 1977 e 1997.

42 predecessores. Eles se preocupam bastante com a justiça e com os problemas enfrentados pela sociedade e geralmente participam de algum tipo de atividade cívica na escola ou trabalho, ou em sua comunidade (TAPSCOTT, 2010, p.15).

Na citação acima, o autor refere-se aos predecessores da geração digital: baby boomers e geração X. Don Tapscott, nascido em 1947, é, ele mesmo, um baby boomer (nascido depois da Segunda Guerra Mundial, entre os anos 1940 e 1950). Os membros dessa geração eram considerados, pelo senso comum, inseguros e impacientes, embora tenham sido responsáveis por grandes mudanças, lutando por direitos e tomando conta dos centros acadêmicos, grandes festivais de música e das ruas. Foram eles que inventaram o que ficou conhecido como lifestyle jovem e foi com eles que as culturas juvenis proliferaram no ocidente. Segundo Tapscott,

os baby boomers abriram um precedente como uma grande ameaça geracional aos seus antepassados. as gerações anteriores não tiveram o luxo de uma adolescência prolongada; após uma infância breve, as crianças entravam direto no mercado de trabalho. Mas os baby boomers cresceram numa época de relativa prosperidade e frequentaram a escola por muito mais tempo do que seus pais. eles tiveram tempo de desenvolver sua própria cultura jovem. Rock’n’roll, cabelos compridos, protestos, roupas estranhas e novos estilos de vida incomodavam seus pais. Também tiveram uma nova mídia por meio da qual podiam comunicar sua cultura – a televisão (TAPSCOTT, 2010, p.16).

Atualmente, os baby boomers estão incomodados. Afinal de contas, são os millennials, a juventude, que estão no topo da pirâmide de influência, com novos valores e uma nova mídia por meio da qual podem expressar-se com mais rapidez e eficiência. Uma geração que se apresenta aspiracional para os mais novos e inspiracional para os mais velhos. A relação que se estabeleceu é o clássico conflito de gerações, portanto não é estranho que se veja tanta confusão e insegurança, por parte dos baby boomers, materializada na enxurrada de artigos acadêmicos, jornais e programas de TV cheios de críticas, preocupações e visões negativas em relação a tudo o que diz respeito aos millennials. Toda semana, os millennials “estragam

43 alguma coisa”11, pois são o bode expiatório preferido da mídia e uma distração para o sofrimento econômico generalizado.

Quando saíram na capa da Time12, em 2013, com a manchete “The Me Me Me Generation – millennials are lazy, entitled narcissists who still live with their parents” (“A geração eu eu eu  –  millennials são preguiçosos, narcisistas que ainda vivem com seus pais”, em tradução livre), os Estados Unidos enfrentavam o quarto ano de recuperação da taxa de desemprego, e os millennials, além de não conseguirem uma vaga de trabalho após o término da faculdade, acumulavam dívidas astronômicas de empréstimos feitos para pagar a faculdade. Tais fatos não foram abordados pela revista, que os representou simplesmente como crianças grandes que não aguentavam a pressão de trabalhar. Em resumo, sob esse ponto de vista negativo, a nova geração é conectada, multifacetada, autônoma e, ao mesmo tempo, inconsciente sobre sua responsabilidade em relação ao passado. Portanto, os millennials abriram uma fissura nos alicerces sociais, que se torna clara na transição para a vida adulta e para a cidadania.

Don Tapscott (2010), apesar de ter uma visão positiva sobre os millennials, também não ignora que o posicionamento contrário sobre esses grupo exista. O autor aponta características indesejáveis que são utilizadas no senso comum justamente pela aproximação do jovem com a internet. Em outras palavras, o autor reconhece que os millennials sejam vistos como menos focados, com menos leitura, comunicação e com déficit de atenção.

Também seriam superficiais, menos sociáveis e de pouca interação em locais públicos, perdendo, aos poucos, suas habilidades com esportes e atividades saudáveis, resultando, inclusive, em mais pessoas obesas, dentre outras coisas. O autor questiona a maioria desses pontos negativos e alerta que se deve olhar as críticas com cuidado, pois são apresentadas, muitas vezes, exageradamente. De acordo com ele, “Inovações e mudanças históricas no modo de pensar muitas vezes são recebidas com frieza, até mesmo com escárnio”

(TAPSCOTT, 2010, p.16). Nesse sentido, entende que a aparente hostilidade em relação à cultura jovem e à mídia justifica-se pela defensiva que sempre ocorre quando algo ou alguém se sente ameaçado por algo novo e fora da compreensão.

11 Vários sites listam as matérias que saem na mídia acusando os millennials de arruinarem uma série de instituições e costumes que hoje já são associados aos baby boomers. Disponível em:

<https://www.forbes.com/sites/valleyvoices/2016/04/25/Millennials-and-their-destruction-of-civilization/#4ff80a442830>; < https://www.marketwatch.com/story/here-are-all-of-the-things-Millennials-have-been-accused-of-killing-2017-05-22>. Acesso em: 07 mar. 2019.

12 Disponível em: <http://time.com/247/Millennials-the-me-me-me-generation/>. Acesso em: 03 mar. 2019.

44 Assim, para conhecer mais a fundo e traçar um perfil esclarecedor dos millennials diante do perfil apocalíptico apresentado, a empresa de Tapscott fez outra pesquisa entre 2006 e 200813. Foram entrevistados mais de 10 mil integrantes da geração internet de doze países (incluindo o Brasil): acadêmicos, cientistas e líderes empresariais, educacionais e governamentais. Essa nova pesquisa permitiu pontuar oito características que descrevem os integrantes dessa geração e os diferencia de seus pais:

1) Prezam pela liberdade, sobretudo a de escolha;

2) Querem personalizar e se apropriar das coisas;

3) “São colaboradores naturais que gostam de conversas e não de sermões”

(TAPSCOTT, 2010, p.16);

4) Analisam minuciosamente as pessoas e as empresas;

5) “Insistem na questão da integridade” (TAPSCOTT, 2010, p.16);

6) Querem se divertir, mesmo no trabalho ou na escola, “acreditam que devem gostar do que fazem para viver” (TAPSCOTT, 2010, p.113);

7) A velocidade para eles é algo normal;

8) A inovação é parte de suas vidas.

Dessa forma, o autor concluiu que “embora haja várias preocupações, as crianças em geral estão muito bem!” (TAPSCOTT, 2010, p.15). Ao contrário do que os pessimistas apontam, os estudos demonstram que os millennials são uma geração engajada politicamente e que veem a democracia e o governo como ferramentas essenciais para melhorar o mundo (por exemplo, as eleições presidenciais de Barack Obama, quando, pela primeira vez, centenas de milhares de jovens envolveram-se na política ou em mobilizações pela internet, que tiveram seu ápice com a Primavera Árabe).

Assim, entender a geração internet é entender o futuro. O século XXI apresenta uma nova cultura de trabalho de alto desempenho; a escola, a universidade e as empresas serão inovadoras; a família será mais aberta; a democracia terá cidadãos mais engajados; uma nova sociedade em rede será construída. Por isso, mobilizando essa cultura de interação,

13 O projeto de pesquisa “The Net Generation: A Strategic Investigation” custou 4 milhões de dólares e teve apoio de grandes empresas. Uma das metodologias usadas foi a realização de pesquisas qualitativas por meio de uma comunidade no Facebook (Grown up Digital – Help me write the book), em que os participantes foram convidados a contribuir com suas opiniões e histórias, e especialistas foram consultados sobre tópicos específicos surgidos nas discussões do grupo.

45 colaboração e capacitação, acredita-se que se preparará o planeta para um futuro mais seguro, justo e próspero. Consoante Tapscott, “Este é um período extraordinário da história humana.

Pela primeira vez, a geração que está amadurecendo pode nos ensinar como preparar o nosso mundo para o futuro” (2010, p.18).

As relações mudaram em todas as dimensões: a conduta extraordinariamente colaborativa da internet tornou-se muito importante para os negócios do século XXI; a abordagem tradicional da educação é inapropriada para essa geração; o modo de fazer política mudou; a imersão digital é uma boa coisa para os filhos das gerações mais velhas. No nível das relações de trabalho, por exemplo, a geração millennial provocou uma revolução com a quebra da hierarquia tradicional, com a mudança dos horários fixos e com a troca do local definido.

Apesar de não compartilhar da visão pessimista de alguns, ainda assim Tapscott (2010) preocupa-se com algumas questões complicadas em relação à geração internet que exigem respostas ponderadas. Uma delas é o fornecimento de informações pessoais em redes sociais e outros locais: acredita que isso pode arruinar a privacidade futura, como na candidatura a um emprego no alto escalão de uma empresa ou setor público. Ainda assim, defende que nenhuma dessas questões justifica a atitude que os mais pessimistas têm ao atacar os millennials.

Embora as definições de Tapscott (2010) acerca do perfil dessa geração sejam apropriadas para o desenvolvimento do tema da presente pesquisa, é importante fazer uma ressalva em relação a dois pontos. O primeiro é que, como o número de pessoas com acesso à internet mais do que triplicou entre 2000 e 2008 e a geração internet tornou-se global, com grandes semelhanças em diversos países, de modo que, “de alguma maneira, as diferentes características locais específicas dos jovens estão sumindo” (TAPSCOTT, 2010, p.36), fazendo com que “países e regiões [tenham] ainda [...] culturas próprias e características independentes, mas cada vez mais jovens em todo o mundo estão se tornando muito parecidos” (TAPSCOTT, 2010, p.36), inclusive no Brasil. Sob esse ponto de vista, Martins (2010) faz uma observação prudente aos estudos de Tapscott:

Antes de avançar na análise das contribuições do livro de Tapscott é preciso fazer algumas ressalvas, sendo a mais importante o fato de que, embora a pesquisa realizada tenha incluído países emergentes como o Brasil, acaba por desconsiderar os diferentes graus e ritmos de popularização da tecnologia e da internet em relação ao que ocorreu nos EUA, Europa e Japão.

46 Assim, se nos EUA um indivíduo de 30 anos pode ser considerado como membro da “Geração Internet”, no Brasil seria preciso ampliar essa periodização em no mínimo 20 anos, uma vez que a internet e os computadores pessoais em nosso país começaram a se popularizar somente a partir de 1996. Ou seja, no Brasil o membro mais velho da “geração internet” teria no máximo 15 anos [em 2000] (MARTINS, 2010, p. 313).

Martins (2010) ainda aponta para o que chama de etnocentrismo, já que Tapscott recorre a muitos exemplos de sua vida pessoal (familiar e profissional), “como se pudessem ser considerados argumentos indiscutíveis em favor de suas teses, muitas vezes citando opiniões de seus filhos e situações características de uma família de classe média americana”

(MARTINS, 2010, p. 313). De qualquer modo, as informações trazidas por Tapscott (2010) são importantes, pois traçam um panorama geral da geração internet, sobretudo comparando-a com comparando-a gercomparando-ação dos bcomparando-aby boomers.

Para dar continuidade às conceituações básicas necessárias para o entendimento desta pesquisa, faz-se necessário um perfil dos filhos da geração internet, a geração alpha.

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