• Nenhum resultado encontrado

2. POLÍTICAS PÚBLICAS: CONCEITUAÇÃO

3.2 Mineirão

Neste subcapítulo, bem como nos dois subseqüentes serão descritos e analisados os três projetos que foram escolhidos para a análise. A intenção inicial era realizar uma análise profunda dos projetos, porém um número limitado de documentos, informações e apresentações foram cedidos pelas fontes oficiais. Espera-se que, a partir dos relatos que foram colhidos dos gestores, os quais serão analisados no quarto capítulo possa-se realizar uma análise mais criteriosa sobre os projetos.

O projeto Modernização do Mineirão é o primeiro projeto do Planejamento Estratégico Integrado e visa em sua descrição, “a modernização do estádio com vistas a adequações de infraestrutura para a Copa 2014, promovendo a sustentabilidade após o evento” (MINAS GERAIS; BELO HORIZONTE, 2009, p.29).

Já no título do projeto cabe chamar a atenção para o termo modernização, pois este tem sido usado freqüentemente com o significado de geração de novos benefícios e suplantação de um modelo ultrapassado. Mas Linhales (2001) atenta para o fato de que essa concepção não pode ser automaticamente considerada

válida, pois, em alguns casos, este termo tem sido usado para representar um ajustamento e/ou subordinação às lógicas e demandas mercadológicas. A partir somente das modificações enunciadas no projeto, não é possível entender qual significado este vocábulo pode assumir e em que medida estas mudanças poderão influenciar nas práticas do esporte e do lazer que tinham lugar no estádio antes da reforma estrutural.

Como se pode observar no quadro abaixo, além do projeto de “Modernização do Mineirão” existem também mais dois projetos correlacionados, o “Plano de Operação Mineirão” e o “Modelo de Gestão Mineirão” que serão abordados de maneira complementar ao primeiro, mas que não se constituem no foco de análise deste estudo.

FIGURA 14: Descrição Projetos Modernização do Mineirão

FONTE: Minas Gerais; Belo Horizonte. Planejamento Estratégio Integrado – Projeto Copa 2014 (2009, p.30-31).

O “novo Mineirão” 5 terá uma esplanada de 80 mil metros quadrados no mesmo nível de acesso ao interior do estádio, e terá capacidade para 65 mil pessoas. O projeto prevê tornar o estádio uma arena multiuso que poderá ser utilizada para eventos e diversas modalidades esportivas, culturais, de lazer e religiosas. Além disso, o novo espaço contará com 7 mil metros quadrados para comércio e um estacionamento com 2.521 vagas, sendo 1.534 cobertas e 987 descobertas. Está prevista também a construção de uma passarela do Mineirinho para o Mineirão de 15 metros de largura para o trânsito de pessoas, atletas e imprensa.

A partir das modificações elencadas pode-se perceber que o estádio passará por várias reformulações, bem como, de acordo com o PEI, sofrerá também ajustes de acordo com as demandas da FIFA, mas apesar da enunciação de que o estádio poderá ser utilizado para outros eventos e práticas e da presença do comércio, nos documentos não é apresentado um plano de ocupação pós-evento. Raeder (2010) ressalva que é fundamental a formulação deste, bem como que seja pensada a relação que será estabelecida entre o equipamento esportivo e a população da cidade de Belo Horizonte para que o mesmo não se torne oneroso ou até um elefante branco.

Outro ponto que deve ser indagado é se as modificações que ocorrerão no estádio influenciarão/modificarão as vivências de esporte e lazer dos freqüentadores e da população local.

De acordo com Gomes (2004) o lazer orientado pelas práticas culturais abrange inúmeras práticas como o jogo, a brincadeira, a festa, o passeio, a viagem, o esporte, diferentes formas de arte, dentre outras atividades. Cabe questionar, portanto, de que forma serão gerenciados os espaços pela concessionária responsável pelo estádio e se o “novo Mineirão” se constituirá em um espaço de fruição destas vivências por parte da população belohorizontina.

5

Informações retiradas do site oficial do Governo de Minas Gerais: Disponível em: <http://www.novomineirao.mg.gov.br/noticia.php)> Acesso em: 07 out.2010. e em OLIVEIRA et all. (2011)

A figura abaixo mostra o modelo arquitetônico que o estádio deverá ter após a reforma.

FIGURA 15: Modificações nos setores arquibancada e gramado do estádio

FONTE: Minas Gerais; Belo Horizonte. Planejamento Estratégio Integrado – Projeto Copa 2014 (2009, p.11)

Neste ponto cabe realizar também indagações sobre algumas questões que os documentos não abordam: será que a retirada do setor Geral, o qual

normalmente abrigava os torcedores de menor poder aquisitivo e que possuíam uma lógica própria de tradição e cultura do torcer nesta área continuarão freqüentando o estádio? Os preços que eram praticados e que possibilitavam o acesso destes torcedores serão mantidos pós-reestruturações?

Caso a gestão do estádio se oriente por uma lógica do lucro e preços elevados sejam praticados como justificativa da manutenção do equipamento, Marcellino (1996) afirma que esta dinâmica pode se configurar também em uma barreira interclasse social, na medida em que estabelece uma relação de apropriação desigual no que se refere ao acesso ao lazer.

A obra foi prevista em 3 etapas. Na primeira (25 janeiro/junho 2010) foram feitos ajustes estruturais das vigas de sustentação do estádio. O custo deste investimento foi de R$ 8,2 milhões realizado pelo governo do Estado. Na segunda etapa (26 de junho/20 de dezembro) foi executada a demolição de parte da arquibancada inferior e da geral e o rebaixamento em 3,4 metros do gramado, com 3,5 milhões de recursos do Estado de Minas Gerais. Já na última etapa (22 de dezembro de 2010/dezembro 2012) o Mineirão será adequado aos requisitos exigidos pela FIFA. O custo total da obra está orçado em R$ 654 milhões e será gerenciado em um modelo gestão compartilhada entre o Governo do Estado de Minas e a empresa Minas Arena, responsável pela obra e concessionária do estádio pelo período de 25 anos. Além disso, para o início da operação do empreendimento, o Governo de Minas forneceu 25 milhões para compra de equipamentos de informática, desenho de processos, contratação de funcionários e parceiros e aquisição de telão; 16,3 milhões para cobrir custos relacionados às garantias exigidas pelo edital de licitação; 1,8 milhões para os custos com a de contratação de empresa de certificação ambiental e fiscalização de obras; elevando o custo da obra para 697,7 milhões.

No quadro abaixo podem ser observadas as etapas que envolvem a realização do projeto “Modernização do Mineirão”.

FIGURA 16: Matriz de Responsabilidades- Projeto Modernização do Mineirão

FONTE: Minas Gerais; Belo Horizonte Matriz de Responsabilidades de Minas Gerais- Copa 2014, (2009, p.7.)

A SECOPA (Secretaria de Estado extraordinária da Copa do Mundo) forneceu um artigo intitulado: “O compartilhamento de ganhos nas PPPs: Um estudo de caso na concessão administrativa para a modernização ‘do complexo do Mineirão’ no contexto da Copa de 2014”, no qual apresenta a parceria pública privada como a melhor alternativa da divisão de custos e compartilhamento de ganhos no caso de concessão administrativa do Mineirão. Neste artigo os autores asseveram que existe uma forte sinergia entre as parcerias públicas privadas e o Project finance (Projeto Financeiro). Dessa forma a parceira público privada entre Minas Arena/Governo de Minas foi implementada sob a forma deste último.

Muito embora sejam conceitos bastante distintos, é possível identificar uma forte sinergia entre as PPP’s e o project finance. As distinções são latentes tanto na finalidade quanto no foco, enquanto as parcerias são classificadas como uma espécie de colaboração entre Estado e iniciativa privada, o segundo é uma técnica de captação de recursos com limitação de responsabilidades e alocação de riscos (CAMPOS et all, 2011).

Foi criado um modelo de remuneração e pagamentos especificamente para o projeto de modernização do complexo do Mineirão, em função do alto valor de investimento em relação à receita realizada pela concessionária na operação do

estádio e dos riscos de demanda flutuante mediante o desempenho e decisões dos clubes. O modelo de remuneração prevê o pagamento pelo Governo à Concessionária a soma das parcelas pecuniárias mensais (Pb) acrescidas à parcela de ajuste sazonal anual. Foram apresentados três possíveis cenários: a) A margem operacional se iguala à margem de referência. b) A margem operacional é menor que a margem de referência – nesse caso o governo paga uma importância resultante da diferença entre o valor de referência e a margem operacional, sendo o pagamento público maior do que o previsto. C) A margem operacional é maior que a margem de referência – nesse caso a Governo disponibiliza um bônus para compor o fluxo de caixa da Concessionária de 50% da margem operacional que superar a margem de referência. O valor de referência e a margem de referência foram fixados em R$ 3,7 milhões e R$ 2,59 milhões respectivamente. A figura seguinte reproduz o gráfico de compartilhamento dos ganhos nas parcerias.

FIGURA 17: Gráfico de compartilhamento dos ganhos nas parcerias.. Fonte: OLIVEIRA et all. (2011, p. 22)

Na tentativa de explicar essas novas parcerias que vêm surgindo entre o setor público e o privado, Raeder (2010) ressalta que um novo empreendedorismo urbano tem surgido com o objetivo de angariar fontes externas ou internas de financiamento. Porém, ressalta que, na maioria das vezes, estas ações têm sido direcionadas para o aumento do capital simbólico da urbe na medida em que visa à obtenção de receita privilegiando a construção de marcos simbólicos; objetivando a promoção da imagem da cidade em nível global. Nesta direção, Compans apud

Raeder (2010) afirma que essa dinâmica pode contribuir ainda para o estabelecimento de atmosferas favoráveis aos negócios privados, à adoção de comportamentos flexíveis pelo poder público, à incorporação de uma lógica empresarial na administração urbana, assim como da venda de projetos públicos a investidores privados. Além disso, o empenho público somente nestas parcerias pode mascarar ou deixar de combater problemas relacionados às áreas como a educação, saúde, violência.

Outro ponto que não fica claro a partir dos documentos cedidos é de que forma será garantida a sustentabilidade do estádio pós-evento, menção inscrita na descrição do projeto, uma vez que, ao analisarmos o quadro de compartilhamento de receitas e o paper sobre a parceria público privada estabelecida entre a concessionária e o Governo de Minas Gerais (GMG), atenta-se para o fato de que caso a margem operacional não seja maior que a margem de referência, o governo sempre terá que compensar ao investidor pagando a diferença entre as duas margens. O grande problema que pode surgir, é que dessa forma o GMG poderá ter de assumir os possíveis prejuízos do estádio caso este não apresente uma

percentual consistente de assiduidade e volume de freqüentadores,

descaracterizando seu papel como instituição pública.