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Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA

SUMÁRIO

CAPÍTULO 2. AMBIENTE INTITUCIONAL NA QUESTÃO DA SEGURANÇA DOS ALIMENTOS

1.1.3 Ministério da Agricultura e Pecuária – MAPA

O Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) tem como missão promover o desenvolvimento sustentável e a competitividade do agronegócio em benefício da sociedade brasileira. Sua estrutura organizacional está disposta na Lei nº 10.683/2003.

Atualmente, para cumprir sua missão, o MAPA44 formula e executa políticas

para o desenvolvimento do agronegócio, integrando aspectos mercadológicos, tecnológicos, científicos, organizacionais e ambientais, para atendimento dos

consumidores brasileiros e do mercado internacional. A atuação do ministério tem por fim a busca de sanidade animal e vegetal, da organização da cadeia produtiva do agronegócio, da modernização da política agrícola, do incentivo às exportações, do uso sustentável dos recursos naturais e do bem-estar social.

A infra-estrutura básica do MAPA45 é formada pelas áreas de política agrícola (produção, comercialização, abastecimento, armazenagem e indicadores de preços mínimos), produção e fomento agropecuário; mercado, comercialização e abastecimento agropecuário; informação agrícola, defesa sanitária (animal e vegetal); fiscalização dos insumos agropecuários; classificação e inspeção de produtos de origem animal e vegetal; pesquisa tecnológica, agrometeorologia, cooperativismo e associativismo rural; eletrificação rural; assistência técnica e extensão rural.

No Brasil, os órgãos que integram o sistema tradicional de qualidade, que envolvem as secretarias ou departamentos de Defesa Sanitária, de Inspeção Sanitária, e a rede federal de laboratórios de patologia animal e de análises de alimentos, estão subordinados ao MAPA e têm uma longa história de relevantes serviços prestados ao desenvolvimento da agroindústria de alimentos46.

Vinculado ao MAPA, o Serviço de Inspeção Federal (SIF), existe no Brasil desde 1909, e tem por objetivo fiscalizar os produtos comercializados (carnes, sucos, manteigas, leites e derivados e outros produtos de origem animal e vegetal) para a garantia de qualidade nos rótulos. O selo significa para os consumidores que o produto colocado no mercado tem procedência conhecida, está registrado e foi inspecionado pelo governo.

Para consolidação do SIF, foi publicado o Regulamento de Inspeção Industrial e Sanitário de Produtos de Origem Animal (RIISPOA), pelo Decreto n.º

45 Idem

46 Como exemplo, o MAPA promoveu, ao longo tempo, a transformação de charqueadas em

matadouros-industriais, e desses últimos em matadouros-frigoríficos, que mais tarde atingiriam alta qualificação técnica, o que, somado as mudanças do próprio empresariado e do produtores rurais, permitiu ao Brasil conquistar a posição de liderança mas exportações de carne.

30.691/1952, até hoje em vigor. A norma representa o principal marco da inspeção industrial e sanitária de produtos de origem animal, pois consolidou toda legislação específica do tema e reuniu as técnicas de fiscalização das novas atividades nas áreas de pescados, ovos, mel e cera de abelhas. Com o RIISPOA, a responsabilidade pela fiscalização ficou dividida entre o Governo Federal, estados e municípios.

Em 1971, o Serviço Inspeção Federal (SIF) do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) voltou a ser responsabilidade exclusiva do Ministério da Agricultura, O SIF também é o responsável pela inspeção sanitária dos produtos estrangeiros comercializados no Brasil.

Em 2005, o MAPA editou o Manual de Procedimentos Operacionais do Sistema de Vigilância Agropecuária Internacional (VIGIAGRO) (Portaria n.º 234, de 29 de dezembro de 2005), tem por objetivo estabelecer práticas, em permanente alerta, para promover a vigilância agropecuária internacional, impedindo a introdução e a disseminação de pragas e agentes etiológicos de doenças que constituam ou possam constituir ameaças à agropecuária nacional, de forma a garantir a sanidade dos produtos e a qualidade dos insumos agropecuários importados e exportados.

O VIGIAGRO consolida em um único instrumento as normas e diretrizes que regulamentam a fiscalização do trânsito internacional de animais, vegetais, seus produtos e subprodutos, derivados e partes, resíduos de valor econômico e insumos agropecuários; constituiu uma ferramenta importante para orientar a ação de fiscais federais e harmonizar os procedimentos bem como agilizar a liberação das mercadorias nos portos organizados, aeroportos internacionais, aduanas especiais e postos de fronteira, sem perda da qualidade da fiscalização.

O Manual é constituído por Capítulos e Seções que descrevem a organização e competências do Sistema e demais componentes da Vigilância Agropecuária Internacional, procedimentos administrativos, operacionais e controles específicos, aplicados na inspeção e fiscalização do trânsito

internacional de produtos e insumos agropecuários. A proposta é atualizada sempre que ocorrerem alterações na legislação e nas normas de Defesa Agropecuária Brasileira. Esta tarefa está a cargo da Coordenação Geral do Sistema de Vigilância Agropecuária - CGS/VIGIAGRO.

As ações a serem executadas, de acordo com os procedimentos adotados pelo Manual, são atribuições específicas dos Fiscais Federais Agropecuários, do MAPA, respeitadas as respectivas competências profissionais. As ações de apoio às atividades previstas neste Manual poderão ser executadas por Agentes de Inspeção e Agentes de Atividade Agropecuária, sob a supervisão do Fiscal Federal Agropecuário (FFA).

Em 2006 foi publicado o Decreto n.º 5.741, que regulamenta os artigos 27- A, 28-A e 29-A da Lei n.º 9.712/1998, que organiza o Sistema Unificado de Atenção a Sanidade Agropecuária (SUASA). É o Sistema organizado sob a coordenação do Poder Público nas várias instâncias federativas, no âmbito de sua competência, incluindo o controle de atividades de saúde, sanidade, inspeção, fiscalização, educação, vigilância de animais, vegetais, insumos, produtos e subprodutos de origem animal e vegetal.

Art. 27-A – são objetivos da defesa agropecuária assegurar: I – a sanidade das populações vegetais;

II – a saúde dos rebanhos animais;

III – a idoneidade e a segurança higiênico-sanitária e tecnológica dos produtos agropecuários finais destinados aos consumidores.

§1º - Na busca do atingimento dos objetivos referidos no caput, o Poder Público desenvolverá, permanentemente, as seguintes atividades:

I – vigilância e defesa sanitária vegetal; II – vigilância e defesa sanitária animal;

III – inspeção e classificação de produtos de origem vegetal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

IV – inspeção e classificação de produtos de origem animal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

V – fiscalização dos insumos e dos serviços usados nas atividades agropecuárias.

§2º - as atividades constantes do parágrafo anterior serão organizadas de forma a garantir o cumprimento das legislações vigentes que tratem da defesa agropecuária e dos compromissos internacionais firmados pela União.

Como parte do SUASA, foi instituído o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal (SISBI/SUASA), sendo o mesmo coordenado pelo Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA) do MAPA.

Art.1º - Fica instituído, na forma definida neste Regulamento (Decreto 5.741/2006), o Sistema Unificado de Atenção à Sanidade Agropecuária:

§1º - Participação do SUASA: I – serviços e instituições oficiais;

II – produtores e trabalhadores rurais, suas associações e técnicos que lhes prestam assistência;

III – órgãos de fiscalização das categorias profissionais diretamente vinculados à sanidade agropecuária; e IV – entidades gestoras de fundos organizados pelo setor privado para complementar as ações públicas no campo da defesa agropecuária.

§2º - O SUASA opera em conformidade com os princípios e definições da sanidade agropecuária, incluindo o controle de atividades de saúde, sanidade, inspeção, fiscalização, educação, vigilância de animais, vegetais, insumos e produtos de origem animal e vegetal.

§3º - O SUASA desenvolverá, permanentemente, as seguintes atividades: I – vigilância e defesa sanitária vegetal;

II - vigilância e defesa sanitária animal;

III – inspeção e classificação de produtos de origem vegetal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico;

IV – inspeção e classificação de produtos de origem animal, seus derivados, subprodutos e resíduos de valor econômico; e

V – fiscalização dos insumos e dos serviços usados nas atividades agropecuárias.

§4º - O SUASA articular-se-á com o Sistema Único de Saúde, no que for atinente à saúde pública.

O SUASA tem como princípios e obrigações gerais: a proteção da saúde dos animais e a sanidade dos vegetais; a idoneidade dos insumos e dos serviços utilizados na agropecuária; a identidade, a qualidade e a segurança higiênico- sanitária e tecnológica dos produtos agropecuários finais destinados aos consumidores. O SUASA funciona desde o local da produção até a colocação do produto final no mercado interno ou a sua destinação para a exportação, e os produtores rurais, industriais e fornecedores de insumos, distribuidores, cooperativas e associações, industriais e agroindustriais, atacadistas e varejistas, importadores e exportadores, empresários e quaisquer outros operadores do agronegócio, ao longo da cadeia de produção, são responsáveis pela garantia de que a sanidade e a qualidade dos produtos de origem animal e vegetal.

Os processos de controle sanitário deverão incluir a rastreabilidade dos produtos de origem animal e vegetal, dos insumos agropecuários e respectivos ingredientes e das matérias-primas utilizadas, ao longo da cadeia produtiva.

Compete ao Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Animal (DIPOA/MAPA), a coordenação do Sistema Brasileiro de Inspeção - SISBI, no que se refere aos produtos de origem animal - SISBI/POA. Os Estados, o Distrito Federal e os Municípios, por adesão, poderão integrar o Sistema Brasileiro de Inspeção de Produtos de Origem Animal. Portanto, os Municípios e Estados podem pedir a equivalência dos seus serviços de inspeção com o Sistema Coordenador do SISBI. Para obtê-la, estes precisam comprovar que têm condições de avaliar a qualidade e a inocuidade dos produtos de origem animal com a mesma eficiência do MAPA.

Para aderir ao SISBI/POA, as unidades da federação deverão adequar seus processos e procedimentos de inspeção e fiscalização, ficando obrigada a seguirem a legislação federal ou disporem de regulamentos equivalentes. Os requisitos para obtenção da equivalência entre os serviços estão definidos na Instrução Normativa n.º 19, de 24 de julho de 2006.

O DIPOA constituiu um grupo de trabalho para definir os requisitos e demais procedimentos necessários para a adesão ao SISBI, também foram instituídos gestores estaduais para atuarem como técnicos de referência junto às Superintendências, os quais são responsáveis pela divulgação e orientação aos serviços de inspeção interessados na adesão ao sistema.

O sistema, com esse novo cenário, gerou algumas perspectivas para os Estados, Distrito Federal, Municípios, indústrias e consumidores, tais como:

• Ganho na saúde pública, devido à prevenção das doenças transmitidas por alimentos de origem animal;

• Diminuição do abate e comercialização de produtos de origem animal (POA) clandestinos;

• Ampliação da comercialização para as indústrias que fabricam produtos de origem animal promovendo o desenvolvimento das pequenas agroindústrias;

• A garantia da segurança do alimento que a população consome; e • A inspeção será praticada por métodos universalizados e sempre

baseada nas Boas Práticas de Fabricação (BPF).

Há um longo caminho a ser percorrido para que haja maior coordenação entre as organizações que tratam da segurança e qualidade dos alimentos. O exemplo do MAPA, ver organograma na Figura 5, conforme a complexidade organizacional pode-se ver que diversos órgãos tratam, diretamente ou indiretamente, sobre a questão da segurança, qualidade e inocuidade dos alimentos (circulados em vermelho). Alem disso, discutido no presente estudo, há sobreposição de normas entre a ANVISA e o MAPA e entre outros órgãos que tratam sobre o tema, o que fica caracterizado ainda mais a descoordenação entre as instituições para garantir a saúde dos consumidores.

Figura 5. Organograma Mapa (2009)

Pressupõe no presente estudo que, uma vez criadas as instancias organizacionais, tende a prevalecer a inércia que marca o setor público, a dificuldade para fechar serviços, departamentos, etc., caracterizados pela tendência de crescer mesmo quando se funde e se reestrutura para reduzir seu ambiente institucional. É certo que esta situação reflete, em parte, a própria natureza multifacetada da cultura brasileira; mas reflete, também, um processo evolutivo particular das instituições e uma maneira específica de lidar com os problemas, que em geral responde ex post por meio de novas regulamentações e criação de novos departamentos, coordenação, institutos, etc, e raramente “racionaliza” o marco institucional, eliminando leis superadas, consolidando-as, reformando organizações, para pretensamente arrumar a casa. O ambiente institucional brasileiro é um sistema que vai evoluindo de uma maneira descoordenada, respondendo às pressões da sociedade, com driver diferente, custos de transação elevados e com maior dificuldade para funcionar e solucionar os problemas que vão surgindo, a exemplo da recente interdição da fábrica na Ambev (uma renomada marca de cerveja e que “supostamente” trás em seu bojo “segurança”) em São Luis no Maranhão, levou 3 anos para a empresa fosse interditada para verificar as denúncias realizadas por consumidores. Houve a participação do Ministério Público e da Anvisa. Verifica-se, no entanto, que há a negligência do sistema em pontos chaves, como a questão da saúde dos consumidores (principio este que está fundamentado na própria CF).

Diferentemente, na União Européia, que adota o sistema de alerta rápido. A partir do momento em que há uma denúncia, independentemente do produto ter ou não insegurança, ele é retirado de circulação do mercado, em 24 horas, para posteriormente avaliar os riscos, uma vez que há a preocupação, em primeiro lugar com a saúde da população.

Destaca-se ainda, que o Brasil tem que estar adequado aos novos desafios dos exigentes mercados consumidores, bem como sua estrutura física, os números e os níveis de capacitação dos recursos humanos. Ainda, precisa reduzir

o número de instituições formais que tratam da questão da qualidade e segurança dos alimentos, haja vista o excesso de normas existentes, muitas vezes com sua aplicabilidade ineficaz (verificar a sua complexidade no Quadro 2 a título exemplificativo)

Quadro 2. Marco institucional do MAPA

LEIS

• Lei nº 9.973, de 29 de maio de 2000, dispõe sobre o sistema de armazenagem dos produtos agropecuários.

DECRETOS

• Decreto nº 5.705, de fevereiro de 2006, promulga o Protocolo de Cartagena sobre Biossegurança da Convenção sobre Diversidade Biológica.

• Decreto nº 4.074, de 4 de janeiro de 2002, Regulamenta a Lei nº 7.802, de 11/071989, que dispõe sobre a pesquisa, a experimentação, a produção, a embalagem e rotulagem, o transporte, o armazenamento, a comercialização, a propaganda comercial, a utilização, a importação, a exportação, o destino final dos resíduos e embalagens, o registro, a classificação, o controle, a inspeção e a fiscalização de agrotóxicos, seus componentes e afins, e dá outras providências.

• Decreto nº 30.691, de 29 de março de 1952, aprova o novo Regulamento da Inspeção Industrial e Sanitária de Produtos de Origem Animal.