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SUMÁRIO

1.1.10 Rotulagem dos alimentos transgênicos

A questão mais complexa e controversa de rotulagem no cenário internacional e nacional é a rotulagem de alimentos derivados da moderna biotecnologia, tendo em vista a necessidade ou não de informar e advertir o consumidor quanto à existência de componentes nos alimentos contendo modificações genéticas.

Neste sentido, parece haver consenso no Comitê do Codex Alimentarius sobre Rotulagem de Alimentos (CCFL), de que a rotulagem especifica quanto a

tecnologia é necessária para alimentos derivados da mesma, quando houver mudanças significativas de composição, valor nutritivo ou uso desejado. Através do consenso acredita-se que essas disposições proporcionam assistência considerável e proteção aos consumidores.

Entretanto, não existe consenso entre os países que aderem as normas do

Codex, sobre a rotulagem baseada em processo obrigatório de alimentos

derivados da moderna biotecnologia, como é o caso brasileiro. Alguns países acreditam que rótulos baseados em processo obrigatório sobre alimentos geneticamente modificados podem ser percebidos por muitos consumidores como um rótulo de advertência de que o produto é inseguro e, portanto, poderia ser confuso e inadequado como orientação internacional obrigatória.

No Brasil, o Governo editou o Decreto n.º 4.680/2003, para atender as principais reivindicações da sociedade civil organizada, especialmente do movimento de consumidores, que dispõe sobre a rotulagem de alimentos e ingredientes transgênicos, revogando o Decreto n.º 3.871, de 17/7/01. O novo Decreto estabelece que todo e qualquer alimento e ingrediente que contenha a presença acima de 1% de organismo geneticamente modificado (OGM) em sua composição deverá trazer a informação no rótulo, o que representa um avanço significativo em relação ao decreto anterior, conforme se observa no Quadro 4. Quadro 4. Decretos de regulamentação da rotulagem

Decreto 3.871/01 (FHC) Decreto 4.680/03 (Lula)

Exigia rotulagem apenas para alimentos

contendo mais de 4% de transgênico Exige rotulagem para todos os alimentos (embalados, a granel, in natura) Excluía alimentos de origem animal alimentados

com ração contendo transgênicos Exige rotulagem de alimentos de origem animal alimentados com transgênicos Não exigia identificação da espécie doadora do

gene Exige a identificação da espécie doadora do gene Fonte: www.planalto.gov.br

No Brasil, a rotulagem de alimentos transgênicos é entendida como medida de saúde pública relevante, pois permite o monitoramento e as pesquisas sobre seus impactos na saúde, após sua introdução no mercado.

A MARCA

Como já se comentou anteriormente, em muitos casos a marca é um importante instrumento de controle de qualidade e uma garantia da segurança do alimento. A marca é o principal elo entre o negócio e o cliente, pois é através dela que ele identifica o negócio e o diferencia dos demais. Com o passar do tempo, a marca passa a ser o referencial da qualidade daquele produto ou serviço. O mercado e a concorrência, por si só, já não são suficientes para assegurar a apropriação da riqueza gerada, e as relações econômicas passam a ser mediadas por contratos e instituições que têm por finalidade proteger os direitos dos vários agentes envolvidos, reduzir e mediar conflitos e diminuir os custos de transação em geral. A estratégia competitiva das empresas incorpora a diferenciação baseada na criação e desenvolvimento de “sinais” e “marcas” de expressão distintiva para seus produtos e para sua própria identificação pelos consumidores. Era preciso individualizar e caracterizar cada empresa diante do conjunto de consumidores e em face dos próprios concorrentes (VIEIRA & BUAINAIN, 2004).

Assim, a natureza da marca decorre de sua finalidade, ou seja, de identificar o produto. É preciso que a marca tenha características que permitam tal identificação. Entretanto, excluídas as proibições de caráter geral, evidentemente não pode ser registrada a marca que já pertença a outro industrial ou comerciante, ou prestador de serviços. Nesse caso se diz que a marca exige os requisitos da novidade relativa e especialização. Não é preciso que o sinal seja novo em absoluto ou o nome inventado pelo empresário. Basta que seja de fantasia, isto é, que tenha um significado novo. Pode mesmo ser um nome ou sinal já em uso ou registrado como marca de terceiro, desde que se destine a assinalar produtos que não sejam concorrentes.

Marca não é um conceito fácil de definir. Na sua definição e na sua análise devem-se levar em consideração as disciplinas que a utilizam e regulam mais diretamente, que são o direito comercial e a gestão de marketing. Para o direito comercial a marca é um sinal; para Organização Mundial de Propriedade Industrial – OMPI - define a marca como um “sinal que serve para distinguir os produtos ou serviços de uma empresa dos outros de outras empresas”.

Ainda, pode ser definida como um nome, um termo, um sinal, ou um desenho, ou uma combinação destes elementos, com vista a identificar os produtos e serviços de um vendedor, ou de um grupo de vendedores, e a diferenciá-los dos concorrentes.

O Código de Propriedade Industrial (Lei n.º 9.279/96) define “marca” como todo sinal distintivo (palavra, figura, símbolo, etc.) visualmente perceptível, que identifica e distingue produtos e serviços de outros iguais ou semelhantes, de origens diversas, bem como certifica a conformidade dos mesmos com determinadas normas ou especificações técnicas.

Concluindo, a marca é um signo distintivo, visualmente perceptível utilizado para diferenciar produtos ou serviços de uma empresa das suas concorrentes, bem como atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas.

A marca é em essência uma promessa da empresa em fornecer uma série específica de atributos, benefícios e serviços uniformes aos compradores. Para Kotler et al (2005) a garantia de qualidade vem junto com as melhores marcas, mas uma marca é um símbolo mais complexo, podendo trazer até seis níveis de significados:

a) Atributos: a marca tem o poder de trazer à mente certos atributos. Por exemplo: Mercedes sugestiona automóveis caros, bons e de alto prestigio;

b) Benefícios: estes são traduzidos em benefícios funcionais e emocionais. Por exemplo: um carro Mercedes custa caro e sugestiona status elevado para o seu dono.

c) Valores: a marca também transmite os valores da empresa. Por exemplo: Um carro Mercedes simboliza desempenho, segurança e prestígio.

d) Cultura: a marca tem o poder de representar certa cultura. Por exemplo: A Mercedes representa a cultura germânica: organizada, preocupada com a qualidade e eficiente.

e) Personalidade: a marca pode projetar certa personalidade. Exemplo: um chefe decidido que tem um carro Mercedes.

f) Usuário: a marca sugere o tipo de consumidor que pode usar determinado produto. Exemplo: espera-se que um usuário de um carro Mercedes seja um executivo bem sucedido, com um pouco mais de idade e não uma secretaria de vinte e poucos anos.

O direito decorrente do registro da marca exclui seu emprego por todos os demais no mesmo ramo de atividade. Salvo se a marca estiver amparada pela proteção mais ampla, que decorre do reconhecimento de sua notoriedade, não poderá o titular do registro impedir seu uso por terceiros em ramo de atividade diverso, que não possibilite confusão entre mercadorias, produtos ou serviços. Em conseqüência, um terceiro poderá registrá-la em outra classe.

O registro de uma marca é concedido pelo INPI, órgão governamental, que garante ao seu proprietário o direito de uso exclusivo em todo o território nacional em seu ramo de atividade econômica. Ao mesmo tempo, sua identificação pelo consumidor pode proporcionar uma parcela estável de mercado, tornando-se um ativo valioso para a empresa.

No entanto, o pedido de registro de uma marca não confere ao requerente à exclusividade de uso, até que venha ser concedida pelo INPI a expedição do Certificado de Registro da Marca, que terá validade de 10 (dez) anos, prorrogável

a pedido do titular por períodos iguais e sucessivos. Em caso contrário, será extinto o registro e a marca estará, em princípio, disponível.

A marca terá validade quando constituir em sinal visualmente perceptível. Os sinais visualmente perceptíveis devem revestir-se de distintividade, para se prestarem a assinalar e distinguir produtos ou serviços dos demais, de procedência diversa e a marca pretendida não podem incidir em quaisquer proibições legais, seja em função da sua própria constituição, do seu caráter de liceidade ou da sua condição de disponibilidade.

A lei brasileira prevê ainda a Marca de Alto Renome, para os casos em que o sinal devidamente registrado goze de renome que transcenda o segmento de mercado para o qual ele foi originalmente destinado. A Marca de Alto Renome tem assegurada proteção especial em todas as classes.

Para efeito de utilização, as marcas dividem-se em:

a) Marcas de produto: são as utilizadas pelo industrial ou comerciante para distinguir um comércio ou um produto de outros;

b) Marcas de serviço: são as utilizadas pelo prestador de serviço para distinguir os seus serviços de outros;

c) Marcas coletivas: são as que visam identificar produtos ou serviços provindos de membros de uma determinada entidade;

d) Marcas de Certificação: são as marcas que se destinam a atestar a conformidade de um produto ou serviço com determinadas normas ou especificações técnicas.

Para efeito de registro, as marcas podem ser:

a) Nominativas: constituídas apenas de palavras, conjunto de letras, números ou algarismos;

b) Figurativas: representadas por um desenho, imagem ou sinal gráfico; c) Mistas: compostas de uma marca nominativa e uma figurativa, ou

d) Tridimensionais: constituídas pela forma plástica de um produto ou de uma embalagem, sendo que tal forma tem de possuir identidade própria.

Segundo Machado (2000), para o consumidor a marca é um redutor de custos de transação porque ajuda identificar produtos e garante um padrão de qualidade comparável, independente do local de compra. Para ele a marca é um contrato, que diminui o risco no momento em que consumidor adquire o produto. A marca identifica, por exemplo, numa oferta com produtos muito diferentes, a marca facilita o reconhecimento e favorece a fidelidade. Como exemplo as bebidas alcoólicas (preferência do consumidor pela cerveja Skol), alimentos (preferência do consumidor por produtos Sadia), os televisores (preferência dos consumidores por Phillips), os eletrodomésticos (preferência do consumidor pela Brastemp), etc.

A marca diferencia, valoriza aquele que a usa ou a consome. Ela transmite a sua identidade às pessoas. Para as compras de status social, a marca é o principal instrumento de diferenciação e de poder de mercado. Escreva uma linha sobre o uso das marcas para destacar a qualidade e inocuidade dos alimentos, e como isto se relaciona à adesão aos diversos protocolos, certificados e métodos de monitoramento e controle do processo produtivo como um todo.

PROGRAMAS E POLÍTICAS PÚBLICAS

É tarefa do Estado a instituição de programas e políticas públicas para garantir a segurança e qualidade dos alimentos. Na área agroalimentar, foram criados diversos programas, de acordo as exigências das normas internacionais, para garantir o alimento seguro e inócuo. Os próximos itens têm como objetivo apresentar os principais programas na área de alimentos.

1.1.11 Pró-Orgânico

O Programa de desenvolvimento da agricultura orgânica do MAPA é regulado pela Instrução Normativa n.º 007/99, do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA), em seu item 1.1, considera que:

O sistema orgânico de produção agropecuária e industrial todo aquele em que se adotam tecnologias que otimizem o uso dos recursos naturais e socioeconômicos, respeitando a integridade cultural e tendo por objetivo a auto- sustentação no tempo e no espaço, a maximização dos benefícios sociais, a minimização da dependência de energias não-renováveis e a eliminação do emprego de agrotóxicos e outros insumos artificiais tóxicos, organismos geneticamente modificados (OGM) transgênicos ou radiações ionizantes em qualquer fase do processo de produção, armazenamento e de consumo, e entre os mesmos privilegiando a preservação da saúde ambiental e humana, assegurando a transparência em todos os estágios da produção e da transformação.

O programa tem por objetivo:

• A oferta de produtos saudáveis e de elevado valor nutricional, isentos de qualquer tipo de contaminantes que ponham em risco a saúde do consumidor, do agricultor e do meio ambiente;

• A preservação e a ampliação da biodiversidade dos ecossistemas, natural ou transformado, em que se insere o sistema produtivo;

• A conservação das condições físicas, químicas e biológicas do solo, da água e do ar;

• O fomento da integração efetiva entre agricultor e consumidor final de produtos orgânicos e o incentivo à regionalização da produção desses produtos orgânicos para os mercados locais.

Ormond et al (2002) conceituando agricultura orgânica, define como:

um conjunto de processos de produção agrícola que parte do pressuposto básico de que a fertilidade é função direta da matéria orgânica contida no solo. A ação de microorganismos presentes nos compostos biodegradáveis existentes ou colocados no solo possibilitam o suprimento de elementos minerais e químicos necessários ao desenvolvimento dos vegetais cultivados. Complementarmente, a existência de uma abundante fauna microbiana diminui os desequilíbrios resultantes da intervenção humana na natureza. Alimentação adequada e

ambiente saudável resultam em plantas mais vigorosas e mais resistentes a pragas e doenças.

Segundo Buainain & Batalha (2007-A), as políticas públicas, em especial, mas também as privadas, sempre tiveram papel imprescindível no desenvolvimento da agricultura orgânica em países mais desenvolvidos, como a Alemanha, Estados Unidos e Japão. A participação de produtos orgânicos certificados no mercado dessas nações cresceu rapidamente. O apoio governamental à agricultura orgânica nestes países ocorre de forma indireta, principalmente por intermédio do estabelecimento de marcos regulatórios claros e estáveis.

O governo brasileiro, segundo os autores, atua de duas formas: de um lado, busca a regulamentação do mercado por meio da criação do marco regulatório para a produção e a comercialização de produtos orgânicos, como o programa “Pró-orgânico”. Por outro, atua no financiamento à agricultura orgânica por meio da criação de linhas especiais de crédito que contemplam o setor.

A comercialização de produtos orgânicos vem crescendo entre 20 a 50 % ao ano. A produção brasileira de orgânicos representa menos de um 1% da área agricultável. Segundo dados do MAPA82, em 2006, o Brasil possui uma área estimada de 800 mil hectares com agropecuária orgânica e cerca de 15 mil produtores. Os principais produtos orgânicos cultivados são: fruticultura (goiaba, mamão, manga, maracujá, banana, uva, morango e citrus); olerícolas (alface, couve, tomate, cenoura, agrião e berinjela); culturas (arroz, soja, milho, trigo, mandioca, café, cacau e cana-de-açúcar); produção animal: carne (bovinos e suínos), aves, leites, ovos, peixes e mel; extrativismo (palmito, castanha do Brasil, castanha de cajú, açaí e babaçu). Mundialmente o índice é semelhante, cerca de um por cento, com 31 milhões de hectares, ou pouco mais de 630 mil propriedades.

Em 2008, entrou em vigor o Decreto n.º 6.323/2007, substituindo a Instrução Normativa n.º 007/1999, criando novas regras para a produção e comercialização de produtos orgânicos no Brasil. Entre as principais mudanças está a criação do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade Orgânica, que visa a assegurar a confiabilidade da certificação dos produtos orgânicos. Caberá ao MAPA, juntamente com as secretarias estaduais, fiscalizar entidades responsáveis pela certificação dos produtos.

Entretanto, orgânico não deve ser confundido com qualidade e segurança. Não há relação direta, automática. Para que haja o controle e devido o crescente interesse pela agricultura orgânica, surgiu a necessidade de uma verificação segura, que garanta ao consumidor a certeza de estar adquirindo produtos orgânicos. O Instituto Biodinâmico de Desenvolvimento Rural -IBD, localizado em Botucatu, São Paulo, fiscaliza e certifica produtos orgânicos no Brasil de acordo com normas internacionais. Este selo só é conferido após rigorosos exames de controle de qualidade de solo, água, reciclagem de matéria orgânica, dentre outros.