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2.1 ESPORTE EDUCACIONAL E DE PARTICIAÇÃO NO BRASIL

2.1.2 Esporte Educacional e de Participação no Brasil: contextos político e histórico

2.1.2.1 Ministério do Esporte

O ME é o órgão responsável por estabelecer uma Política Nacional de Esporte (PNE) no Brasil. Inicialmente seu organograma era estruturado da seguinte forma: Conselho Nacional do Desporto; Comissão Nacional de Atletas (CNA); Comissão “Paz no Esporte”; Secretaria Nacional de Alto Rendimento (SNAR); Secretaria Nacional de Esporte Educacional (SNEE); Secretaria Nacional de Desenvolvimento de Esporte e de Lazer (SNDEL).

Os respectivos programas e projetos desenvolvidos pelas três Secretarias são apresentados na Figura 1.

SECRETARIAS PROGRAMAS

SNAR

Olimpíadas Escolares Olimpíadas Universitárias Jogos da Juventude

Descoberta do Talento Esportivo Bolsa Atleta

Rede Cenesp

SNEE Segundo Tempo

Projetos Esportivos Sociais

SNDEL

Esporte e Lazer da Cidade Jogos dos Povos Indígenas Rede Cedes

Cedime

FIGURA 1 - SECRETARIAS, PROGRAMAS E PROJETOS DO MINISTÉRIO DO ESPORTE ATÉ 2011 Fonte: Brasil/ME (2003)

Não vamos aqui analisar cada um dos programas e projetos apresentados na Figura 1, no entanto, acreditamos que sua apresentação seja importante para mostrar a mudança que houve no organograma do ME, em especial no que tange à organização e gestão do esporte educacional (EE) e do esporte de participação (EP). Em meados de 2011 houve alteração no organograma do ME e também, a partir de suspeitas de corrupção, no comando da Pasta. Em relação às Secretarias, o ME passou a ser estruturado da seguinte forma: Secretaria Nacional de Esporte de Alto Rendimento (SNEAR); Secretaria Nacional de Esporte, Educação, Lazer e Inclusão Social (SNELIS); e Secretaria Nacional de Futebol e Defesa dos Direitos do Torcedor (SNFDT) (ME, 2014). A Figura 2 destaca os respectivos programas e projetos desenvolvidos pelas novas Secretarias.

SECRETARIAS PROGRAMAS

SNEAR

Centro de Iniciação ao Esporte - CIE Plano Brasil Medalhas

Rede Nacional de Treinamento Bolsa Atleta

Jogos Escolares Brasileiros Jogos Militares

Rio 2016

SNELIS

Segundo Tempo Esporte da Escola Recreio nas Férias Esporte e Lazer da Cidade

Competições e Eventos de Esporte e Lazer Jogos Indígenas

Rede Cedes

Prêmio Brasil de Esporte e Lazer de Inclusão Social Pintando a Cidadania Pintando a Liberdade SNFDT Copa 2014 Futebol Feminino Timemania Torcida Legal

Guia de Estádios de Futebol

FIGURA 2 - SECRETARIAS, PROGRAMAS E PROJETOS DO MINISTÉRIO DO ESPORTE APÓS 2011 Fonte: Brasil/ME (2014)

Com as mudanças realizadas, as Secretarias responsáveis pela organização e gestão do esporte educacional (SNEE) e pelo esporte de participação (SNDEL) foram extintas e em seus lugares foi criada uma única Secretaria (SNELIS) que passou a ser responsável por essas duas formas de manifestação do esporte. Por outro lado, foi criada uma Secretaria exclusiva (SNFDT) para cuidar dos assuntos relacionados especificamente ao futebol, incluindo os que dizem respeito aos direitos do torcedor.

Apesar do aumento de número de programas e projetos relacionados ao EE e ao EP – de seis para dez –, a junção dessas duas Secretarias gera imprecisão quanto às especificidades de cada uma dessas duas formas de manifestação do esporte previstas na Lei nº 9.615/1998, que vigora até os dias de hoje. Além disso, a criação da nova – que, somados aos da SNAR, aumentou de 6 para 12 seus projetos/programas – sinaliza a valorização do esporte de alto rendimento, em especial o futebol. Também é importante salientar que os Projetos Esportivos Sociais – relacionados ao contexto desse estudo –, vinculados inicialmente à SNEE, deixam de aparecer explicitamente na SNELIS.

Ainda em relação à dificuldade de conceituar com precisão as diversas formas de manifestação do esporte, transcrevemos a seguir um trecho de um documento oficial do ME que tratava da I Conferência Nacional do Esporte, denominado “Texto Básico Sistematizado”, no qual se ressaltava a possibilidade de uso de outra forma de expressão/categoria relacionada ao esporte – além das três já previstas na legislação –, que refletisse de maneira mais contundente a inquietação com a inclusão social,

Entretanto, o Ministério do Esporte colocou em uso a expressão esporte social, nascida do processo de debates com a sociedade e que vem funcionando como uma categoria a mais. Esta classificação reflete a preocupação com a inclusão social. Por isso, é merecedora de políticas que, embora específicas, perpassam as outras três dimensões. A preocupação com o social deve estar, portanto, na escola, na recreação e mesmo no esporte de alto rendimento para garantir profissionais qualificados em todo o País. Essas modalidades devem ser ministradas, orientadas e supervisionadas por profissionais qualificados(BRASIL/ME, 2004, p.14).

Dando sequência à nossa apresentação do ME, a Figura 3 assinala as competências gerais do ME, conforme indicado no Art. 1º do Capítulo 1 – Da Natureza e Competência do anexo que trata da Estrutura Regimental do Ministério do Esporte.

CAPÍTULO I - DA NATUREZA E COMPETÊNCIA

Art. 1o O Ministério do Esporte, órgão da administração direta, tem como área de competência os seguintes assuntos

I - política nacional de desenvolvimento da prática dos esportes

II - intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais, internacionais e estrangeiros, voltados à promoção do esporte

III - estímulo às iniciativas públicas e privadas de incentivo às atividades esportivas e

IV - planejamento, coordenação, supervisão e avaliação dos planos e programas de incentivo aos esportes e às ações de democratização da prática esportiva e da inclusão social por meio do esporte

FIGURA 3 COMPETÊNCIAS GERAIS DO MINISTÉRIO DO ESPORTE Fonte: Brasil/ME (2014)

Destacamos entre as competências gerais do ME (grifo nosso) os itens iii e iv na Figura 3, pois dizem respeito mais diretamente ao contexto foco desse trabalho – organizações do terceiro setor. Como vimos anterirormente, a SNELIS é a responsável por desenvolver programas e projetos relacionados ao EE e ao EP. A Figura 4 apresenta suas competências.

I. Fazer proposições sobre assuntos da sua área para compor a política e o Plano Nacional de Esporte II. Coordenar, formular e implementar políticas relativas ao esporte educacional, desenvolvendo gestão de

planejamento, avaliação e controle de programas, projetos e ações

III. Implantar as diretrizes relativas ao Plano Nacional de Esporte e aos Programas Esportivos Educacionais, de Lazer e de Inclusão Social

IV. Planejar, supervisionar, coordenar e elaborar estudos compreendendo:

a) o desenvolvimento das políticas, programas e projetos esportivos educacionais, de lazer e de inclusão social

b) a execução das ações de produção de materiais esportivos em âmbito nacional e c) a execução das ações de promoção de eventos

V. Zelar pelo cumprimento da legislação esportiva

VI. Prestar cooperação técnica e assistência financeira supletiva a outros órgãos da administração pública federal, Estados, Distrito Federal, Municípios e entidades não governamentais sem fins lucrativos, nas ações ligadas aos programas e projetos sociais esportivos e de lazer

VII. Manter intercâmbio com organismos públicos e privados, nacionais, internacionais e com governos estrangeiros, para o desenvolvimento dos programas sociais esportivos e de lazer

VIII. Articular-se com outros órgãos da administração pública federal, tendo em vista a execução de ações integradas na área dos programas sociais esportivos e de lazer

IX. Planejar, coordenar e acompanhar estudos com as universidades e outras instituições correlatas com vistas à obtenção de novas tecnologias voltadas ao desenvolvimento do esporte educacional, recreativo e de lazer para a inclusão social e

X. Articular-se com os demais entes da federação para implementar política de esporte nas escolas

FIGURA 4 - COMPETÊNCIAS DA SECRETARIA NACIONAL DE ESPORTE, EDUCAÇÃO, LAZER E INCLUSÃO SOCIAL

Fonte: Brasil/ME (2014)

Aqui também destacamos entre as competências da SNELIS a VI, que trata do subsídio financeiro a entidades governamentais sem fins lucrativos.

De acordo com a Constituição Federal de 1988, e a partir dela a Lei nº 9.615/1988 (Lei Pelé), a organização sistêmica do esporte no Brasil é constituída pelo Sistema Brasileiro de Desporto (SBD) e este, pelo Ministério do Esporte (ME), pelo Conselho Nacional do Esporte

(CNE), pelo Sistema Nacional do Desporto (SND) e os sistemas de desporto dos Estados, dos municípios e do Distrito Federal (MATTAR; MATTAR, 2013).

O CNE e o ME promovem as Conferências Nacionais do Esporte – em tese, espaço aberto a todos os setores organizados da sociedade civil para debater, formular e deliberar as Políticas Públicas de Esporte e Lazer para o Brasil. Avanços importantes da área esportiva, como a Lei de Incentivo ao Esporte e os programas Segundo Tempo, Esporte e Lazer na Cidade e Bolsa Atleta, foram resultados das resoluções tomadas nessas Conferências (MATTAR; MATTAR, 2013).

O Governo Federal iniciou um processo de descentralização das suas ações nas Políticas Públicas do Esporte por meio das Conferências Nacionais do Esporte (SILVA, 2012). Ao longo das Conferências, parcerias entre o setor público e o setor privado foram consolidadas. Os interesses advindos das iniciativas privadas tiveram um peso decisivo na formulação dessas políticas e projetos, assim como aumentou também a importância dada às organizações sem fins lucrativos, como as organizações do terceiro setor (OTS) (TERRA et al., 2009).

Com o objetivo de ampliar o atendimento à demanda existente, o ME busca firmar parcerias com organizações governamentais e não governamentais. Com a regulamentação da Lei de Incentivo ao Esporte por meio do Decreto 6.180/2007, esse tipo de parceria possibilita às OTS captar recursos financeiros por meio de incentivos fiscais. Em seu Artigo 1º, a Lei permite que pessoas físicas e jurídicas possam descontar até 6% e 1% do Imposto de Renda devido, respectivamente, na forma de patrocínio ou doação, para a aplicação em projetos esportivos sociais aprovados (BRASIL/ME, 2007). A Figura 5 assinala as Diretrizes da Ação Projetos Esportivos Sociais relacionadas a essas parcerias.

 Ênfase no atendimento esportivo: todos os beneficiados praticando no mínimo uma atividade esportiva  Oferta de atividades complementares, em especial palestras educativas, atendimentos médico, psicológico e

social, reforço escolar e alimentar, oficinas profissionalizantes a partir dos 14 anos, entre outras que visam o desenvolvimento humano

 Atividades em horário inverso ao da escola

 Prioridade de atendimento à população menos favorecida e em vulnerabilidade social  Custos voltados ao atendimento dos beneficiados

 Atividades esportivas praticadas no mínimo três vezes por semana  Utilização de infraestrutura já existente

 Alocação de recursos segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias

 Cronograma de atividades e planilha de custos referentes ao atendimento por no mínimo um ano  Ação complementar a outros programas, inclusive o Segundo Tempo

FIGURA 5 - DIRETRIZES DA AÇÃO PROJETOS ESPORTIVOS SOCIAIS Fonte: Brasil/ME (2007)

De acordo com informações do ME, a ação Projetos Esportivos Sociais, por meio de parcerias com vários setores, oportuniza o atendimento de grande demanda sócio-esportiva do país – crianças e jovens na faixa etária entre 0 e 18 anos –, visando contribuir para o combate das mazelas da sociedade, o que agrega valores às suas marcas como: Responsabilidade Social, Sustentabilidade e Governança (BRASIL/ME, 2007).

O próximo capítulo do referencial teórico apresenta aspectos concernentes ao surgimento e evolução do Empreendedorismo Social (ES). Inicialmente perpassa pelo contexto histórico das principais crises cíclicas do capitalismo, em seguida analisa a origem do fenômeno e identifica os principais conceitos relacionados ao ES e, por fim, discorre sobre o tema no contexto brasileiro, especialmente no que tange ao terceiro setor.