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1. INTRODUÇÃO

1.5 MICRORNAS (MiRNAS)

1.5.1 MiRNAs relacionados com CCR

A desregulação da expressão dos miRNAs em um organismo pode provocar uma série de modificações nos padrões de migração celular, mitose e controle de apoptose. Esses padrões alterados são típicos em tumores e podem levar à evolução de um câncer (PEACOCK et al., 2012; SHIMONO et al., 2009).

Os miRNAs exercem funções como de supressores de tumores ou protooncogenes nos processos de carcinogênese (PEACOCK et al., 2012). Alguns fatores que levam à expressão aberrante de miRNAs são a instabilidade cromossomal, deleções, mutações, SNPs (Single Nucleotide Polimorfism), defeitos na maquinaria que processa o miRNA e

mudanças epigenéticas (como metilações). Sendo assim, as regiões codificantes para muitos miRNAs estão localizadas em sítios de frequente deleção ou amplificação em câncer, bem como regiões de fragilidade genômica (CALIN et al., 2004), onde pode ocorrer a perda de heterozigosidade (de um gene supressor de tumor), uma amplificação (que pode conter um ongogene) ou translocações e inserções de vírus associados ao câncer (CALIN et al., 2004; VISONE; CROCE, 2009).

Uma das principais causas epigenéticas para a mudança do padrão de expressão

de miRNAs está na metilação de ilhas CpG, pois cerca de 50% dos miRNAs estão

associados a essas regiões. Quaisquer mutações no miRNA maduro, no pré-miRNA ou regiões genômicas próximas a proteínas da maquinaria de processamento do miRNA podem afetar seu processamento, levando a uma redução na expressão das proteínas da maquinaria processadora e gerando miRNAs que não pareiam com o mRNA como previsto. Isso gera um padrão de expressão diferenciado, que apresenta níveis de expressão de miRNA maduro baixos em relação aos tipos imaturos. Esse fato pode ser explicado pela perda da função de proteínas processadoras como a RNAse III DROSHA. Estudos com murinos indicam a perda da enzima DICER tornando impossível que animais com essa deficiência ultrapassarem a fase de gastrulação pela falta de células-tronco multipotentes (VISONE; CROCE, 2009).

Estudos em humanos indicam que o nível de expressão de DROSHA, DICER e DGCR8 se encontram notavelmente alterados em linhagens celulares de câncer gastrointestinal, quando comparado com linhagens normais (JAFARI et al., 2013).

A quantidade de miRNAs expressos em um tipo celular varia, então, entre os tecidos, e entre tecidos normais e patológicos. Logo, cada tipo celular apresenta um padrão de expressão de miRNAs que podem estar mais ou menos expressos em determinado momento. Isso cria uma assinatura celular que aponta para a identificação da mesma, implicando utilidade diagnóstica e prognóstica desses padrões de expressão (LU, J. et al., 2005).

Experimentos que identificam os diferentes perfis de expressão de miRNA em vários tipos de câncer têm sido bem sucedidos. Slattery et al. (2011) utilizaram 40

amostras de câncer na região do cólon, 30 amostras de região do reto e 30 amostras de tecido normal (10 da região do cólon distal, 10 do cólon proximal e 10 do reto) para comparação dos perfis entre amostras normais e cancerosas relativas à mesma região em que o câncer estava situado. Apenas entre as amostras de tecido normal foram encontrados 287 miRNAs diferencialmente expressos entre as regiões do cólon. Isso evidencia a importância em se comparar perfis de miRNA de amostras que estejam em regiões similares. Foram selecionadas também amostras que possuíam particularidades, como instabilidade de microssatélite (MSI), metilação de ilhas CpG (CIMP+), amostras

mutadas para o gene KRAS e mutações para o gene tp53. Para cada grupo uma

comparação foi feita com suas respectivas amostras de tecido normal, e 143 miRNAs diferencialmente expressos em MSI, 129 miRNAs diferencialmente expressos em CIMP+,143 miRNAs em mutações em KRAS e 136 miRNAs em mutações em tp53 foram relatados (SLATTERY et al., 2011).

Estudos têm identificado miRNAs em câncer colorretal, a fim de usá-los como possível ferramenta para diagnóstico. Luo et al. (2011) identificaram 164 miRNAs com variações significantes em CCR em relação a amostras saudáveis, sendo que as variações mais significativas foram a superexpressão do miR-31 e a subexpressão do miR-145, sendo isso confirmado em mais oito estudos. Manne et al. (2010) identificou a diminuição dos miRNAs miR-133b, miR-143 e miR-145 e o aumento dos níveis de miR17- 92, miR-18a, miR-20a, miR-31, miR-92, miR-96, miR135b e miR-183 como variações relacionadas ao CCR. O aumentos nos níveis de miR-17-92 é associado com aumento na expressão de C-MYC para carcinoma colorretal, e o aumento da expressão desse miRNA está diretamente associado com a progressão do câncer. Também, os miRNAs miR-135a e miR-135b foram correlacionados com níveis mais baixos de mRNA do gene APC (DIOSDADO et al., 2009; MANNE et al., 2010). A expressão do miR-21 aumentada também foi correlacionada com a progressão de tumores, uma vez que sua expressão em pólipos não-neoplásicos não é aumentada, mas em adenomas pré-cancerosos e tumores sua expressão aumenta progressivamente (YAMAMICHI et al., 2009).

Dessa forma, fica evidente a importância da expressão diferencial dos miRNAs tanto para a biogênese do CCR quanto para o seu uso como molécula marcadora de tipos

tumorais. O quadro 3 mostra os principais miRNAs diferencialmente expressos em CCR em distintos momentos.

Quadro 3: MiRNAs diferencialmente expressos em CCR relacionados a distintas fases tumorais

Fases MiRNA

Screening miR‐17‐92, miR‐20a, miR‐21, miR‐92, miR‐96, miR‐106a, miR‐135, miR‐144, miR‐203, miR‐326

miRNAs mais frequentemente

alterados Subexpressos: miR‐133b, miR‐143 e mir‐145. Superexpressos: miR‐17‐92, miR‐18a, miR‐20a, miR-21, miR‐31, miR‐92, miR‐96,miR‐135b e miR‐183

Associados com pior prognose miR‐18a, miR‐21, miR‐20a, miR‐31, miR‐143, miR‐145, miR‐155, miR‐181b, miR‐200c, miR‐203 e miR‐106a Associados com metástase miR‐17‐92, miR‐21, miR‐31, miR‐135a, miR‐335, miR‐206, miR‐10b, miR‐146a/b e let7a/b

Fonte: MENENDEZ et al. (2013)

Faber; Kirchner; Hlubek (2009) descrevem alguns miRNAs diferencialmente expressos em CCR com potencial para predição de prognóstico. Eles evidenciam a superexpressão do miR-21, já descrito antes como superexpresso em câncer de pulmão (SLABY et al., 2007), associado com um pior prognóstico. Esse miRNA também foi encontrado superexpresso em adenomas, o que indica que o miR-21 é um forte candidato a indicar ocorrência em fases iniciais da doença. Outros miRNAs também associados a um pior prognóstico nesse estudo foram a superexpressão do miR-200c e do miR-31 (figura 7), enquanto que os miRNAs miR-320 e miR-498 possuem relação com baixos níveis de recorrência do CCR (FABER; KIRCHNER; HLUBEK, 2009).

Figura 7: Mudanças na expressão de miRNAs em adenomas e carcinomas colorretais correlacionados com estágio e sobrevivência.

Fonte: FABER; KIRCHNER; HLUBEK (2009)

Schetter et al. (2008) também observaram o miR-21 superexpresso em CCR. Eles avaliaram 84 pacientes com amostras de tumores colorretais e tecido normal, identificando 37 miRNAs diferencialmente expressos, sendo que o miR-21 apresentou o maior nível de superexpressão em relação a todos os miRNAs, indicando também pior prognóstico. Também identificaram quatro miRNAs superexpressos associados a baixa sobrevida (miR-20a, miR-106a, miR-181 e miR-203) que pode também ser utilizado como fator indicador de prognóstico em CCR.

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