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A Lua tem vínculos de significados com várias deusas, tais como: Deméter ou Ceres, Selene, Hécate, Ártemis ou Diana, Hera ou Juno e até Vênus ou Afrodite;

todas elas corporificavam alguns traços de caráter assemelhados ao perfil da Lua astrológica, portanto, descrevê-la associada às particularidades de apenas uma deusa é reduzi-la a uma dimensão menor. No nosso texto, vamos tentar identificá-la, na sua faceta maior, com a figura da deusa Deméter (Grécia) que representa, com muita precisão, a função maternal da Lua.

Consoante às aulas e aos inúmeros livros do Mestre Junito Brandão, ao qual seremos eternamente gratos pelas magníficas aulas recebidas, apresentamos a seguir um resumo dos outros atributos lunares — significados e correspondências principais entre a Lua e as três deusas — "dea triformis": Ártemis, Hécate e Selene.

Deméter — a deusa mais incrivelmente maternal de todo o panteon grego.

Seu nome está indissoluvelmente ligado ao de sua filha, criando o mitologema das "duas deusas", ou somente, "as deusas" — Deméter-Core. Não se pensa numa sem lembrar a outra, e isso acontece tanto no mito quanto no culto.

Quando sua filha foi raptada pelo deus Hades ou Plutão, "o senhor do mundo ctônico, ou mundo inferior", Deméter ficou desesperada e vagou nove dias e nove noites pela Terra inteira. Ninguém sabia dar informações, ninguém tinha presenciado o sumiço de Core, Perséfone, ou ainda, Prosérpina (Roma), mas a mãe, com o sexto sentido próprio das mães (Luas...) tinha ouvido, nitidamente, o grito da filha, o último sinal de seu desaparecimento. Numa tristeza dantesca, nada a consolava e nada mais a interessava, a não ser recuperar a filha tão amada e por quem derramava todas as lágrimas que uma poderosa deusa pudesse verter.

Consumida pela saudade, Deméter, em revanche aos infortúnios que lhe foram impostos, resolveu castigar os deuses do Olimpo e também os mortais. Provocou uma seca terrível em toda a terra e mandou dizer aos deuses que ao Olimpo não voltaria, abdicando de todas as suas importantes funções. Os deuses, apreensivos, enviaram inúmeros mensageiros, rogando à deusa o retorno às suas funções, inclusive a mais importante — a preservação da Terra e da humanidade, pois, se os humanos morressem de fome, os deuses não teriam mais súditos, e tudo terminaria num grande caos...

Nada adiantou. Deméter, sem a filha, continuou irredutível e ameaçou mais drasticamente ainda: "— a Terra continuará estéril, e nenhuma vegetação ou forma de vida nascerá; só a morte e a desolação existirão"... até que lha devolvessem — seu único bem, verdadeiramente valioso e insubstituível. Diante de tão grande sentimento maternal e de uma dor tão compungida, Zeus não teve outra saída, a não ser pedir a seu irmão Hades que fizesse um acordo com a grande mãe Deméter. E assim foi feito. Core ficaria um terço do ano com o marido lá nas profundezas do Hades, para onde foi conduzida, e dois terços ao lado da mãe.

Ao reencontrar afilha, a Terra cobriu-se, instantaneamente, de verde, frutos e flores. Desse acordo todos nós nos beneficiamos até hoje, pois as estações do

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ano, com seus ciclos de semeadura e colheita, até hoje, seguem, disciplinadamente, os mesmos rituais produtivos acertados por Deméter e seus irmãos olímpicos.

"O rapto, quer dizer, 'a morte' simbólica de Perséfone ou Core, trouxe para os homens benefícios incalculáveis. Uma deusa olímpica, que passa a habitar uma terça parte do ano no mundo dos mortos, encurta a distância entre os dois reinos — o Hades e o Olimpo, tornando-se, devido a esse estratagema, uma ponte entre os dois "mundos divinos", podendo assim intervir no destino dos homens mortais."

Junito Brandão

"DEA TRIFORMIS"

A Lua, pelas suas variações de tamanho, cor e aparência e pelo caráter ambivalente, em função de suas quatro fases mensais, foi identificada a várias deusas, cada uma personificando aspectos peculiares de sua rica composição e coleção de atributos. Sendo assim, o mito grego representou-a como uma deusa triforme, que é um desdobramento didático do mesmo princípio lunar.

A Deusa-Lua divide-se em três estágios com funções específicas que, somadas, integram uma mesma divindade muito maior do que todas as suas componentes, rica de significados e superpoderosa.

SELENE — corresponde à Lua Cheia; ÁRTEMIS — eqüivale à Lua Crescente e

HÉCATE — assemelha-se à Lua Minguante e Lua Nova.

Selene

E o próprio nome da Lua, derivado do grego "sélas" que significa brilho, clarão, luz. Selene-Lua, nome da luz noturna, opunha-se a Hélio-Sol, o dono da luz diurna. Selene é tratada no mito como uma jovem irresistivelmente bela que passava a noite percorrendo o céu com seu carro de prata atrelado a igualmente belos corcéis. Simbolizava a fertilidade, já que o orvalho noturno promove o descanso da terra e é um elemento fundamental para o crescimento da vegetação.

Plutarco afirmava: "A Lua, por sua luz úmida e geradora, é favorável à propagação dos animais e das plantas". A Lua sempre foi conhecida pelo seu poder especial de umedecer e, por isso, foi chamada "a dispensadora das águas". Como uma grande mãe, protege e alimenta a terra, favorecendo e propiciando condições a quase todas as formas de vida.

Dessa função aquosa da Lua, surge também a explicação de um de seus atributos astrológicos: suavizar os ânimos, contrapondo-se ao árido e seco poder de Saturno, seu oposto e complementar no Zodíaco. As pessoas lunares, são, em geral, mais doces e ternas e, assim como a maternal deusa, gostam de velar pelas noites de sono dos seus amados.

Ártemis

A virgem indomável, a arqueira ou Sagitária que, além de caçadora, era uma guerreira ardente e ousada. Vivia em constante simbiose com a natureza, percorrendo campos e florestas, no meio de todos os animais, tanto os dóceis quanto os ferozes, pois todos se curvavam ao seu comando e poder. Era a única dentre os deuses, exceto Dioniso, que sempre foi acompanhada por um séquito alvoroçado e buliçoso composto de animais e ninfas. Ártemis ultrapassava a todas em altura, beleza e esplendor. Era também chamada — "a senhora das feras" pelo seu caráter de Grande Mãe da natureza e dos animais, dos quais os seus prediletos eram: a corça, o javali, o urso e o cão; suas plantas preferidas, o loureiro, o mirto, o cedro e a oliveira.

Os raios da Lua foram sempre identificados com as figuras femininas do mito, pelos seus atributos fecundantes e fertilizadores. Em algumas culturas primitivas, o papel do homem era secundário; as mulheres é que semeavam a terra, mercê da proteção da Lua, com a qual se pareciam e mantinham maior intimidade, intercâmbio — elas "incham" e têm ciclos mensais com a mesma duração do astro noturno. Apenas as mulheres faziam prosperar as colheitas porque somente elas eram protegidas pela Lua. Portanto, invocava-se Ártemis, sempre que era preciso apelar para seus magos poderes lunares. Essa grande deusa poderia realizar o sonho de todo camponês: ver sua plantação produzindo.

"O sol, fonte constante de luz e calor, brilha enquanto dura o trabalho; é o macho, o homem. A lua, inconstante e mutável, é fonte de umidade e brilha à noite; sua luz é doce e terna, é a fêmea, a mulher. O sol, princípio masculino, reina sobre o dia, a luz; a lua, princípio feminino, reina sobre a noite, as trevas. O sol é lógos, a razão; a lua é éros, o amor, e só o amor faz germinar! Não foi em vão que Deus criou duas luzes: a mais forte para preponderar durante o dia; a mais frágil e terna para governar a noite."

Junito Brandão

"Fez Deus pois dois grandes luzeiros, um maior, que presidisse ao dia, outro menor, que presidisse à noite."

(Gênese 1,16)

E assim, os povos primitivos, confiantes em suas crendices, achavam que bastava a mulher deitar-se sob os poderosos raios da Lua, no quarto crescente, para ficar grávida, e a criança, no devido tempo, seria trazida pelo Pássaro-Lua

— a cegonha de hoje tem origens milenares... Ao contrário, aquelas que não

queriam ser fecundadas, deveriam não olhar para a Lua e friccionar o ventre com saliva... talvez o primeiro anticoncepcional tentado pelos homens.

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Hécate

É a deusa da trindade Lua, que corresponde aos poderes mágicos, alquímicos e misteriosos do astro noturno. Todas as magas, bruxas e feiticeiras de todos os tempos invocam-na e apelam para seus poderes secretos e, quando urdiam seus trabalhos, obedecem ao ciclo presidido por Hécate, sempre na Lua Minguante e na Lua Nova, os dois ciclos de luz bruxuleante, os mais propícios a todos os encantamentos.

Hécate recebeu alguns privilégios do próprio Zeus, sendo considerada, por isso, uma deusa benéfica que, quando derrama sobre os homens os seus favores, concede-lhes prosperidade material, dons de eloquência nas assembléias, vitória nas batalhas e nos jogos, abundância de peixes aos pescadores (migração para os ritos de Iemanjá); faz prosperar rebanhos e é uma deusa nutriz da juventude, portanto, em pé de igualdade com Apolo e Ártemis.

Representada por três corpos e três cabeças, presta-se a várias interpretações. Como deusa lunar, simboliza três fases da evolução cíclica da Lua: crescente, minguante e nova, reunindo também os três níveis: infernal, telúrico e celeste. Por tudo isso, é cultuada nas encruzilhadas — representação material das dificuldades que acompanham cada decisão humana, tanto no nível horizontal da superfície da Terra quanto no nível vertical, que significam o mundo mental e o espiritual, que participam de todo processo decisório.

Essa grande maga da noite simbolizaria, ainda, partes do nosso inconsciente onde se agitam monstros, fantasmas e espectros, nos segredos e nas sombras de um mundo psíquico desconhecido. Por um lado, o mundo infernal de um psiquismo inacessível; de outro, o maior reservatório de energia de que o homem dispõe.

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