• Nenhum resultado encontrado

MITOS E ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO: UMA MANEIRA EQUIVOCADA DE PERCEBER AS POTENCIALIDADES

CAPÍTULO II ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: QUEM É ESSE PÚBLICO-ALVO DA

2. ALTAS HABILIDADES/SUPERDOTAÇÃO: QUEM É ESSE PÚBLICO-ALVO DA EDUCAÇÃO ESPECIAL?

2.1 MITOS E ALTAS HABILIDADE/SUPERDOTAÇÃO: UMA MANEIRA EQUIVOCADA DE PERCEBER AS POTENCIALIDADES

O contexto da sociedade atual apresenta inúmeras informações, sendo que a globalização permitiu que as ideias, pensamentos e conhecimentos fossem repassados com maior rapidez e facilidade. Porém, esse mesmo contexto, com o acesso desfreado e, às vezes, não consciente das mídias, faz com que muitos desses saberes sejam repassados de maneira equivocada.

Dessa maneira, nem tudo que é visto nos meios de comunicação é merecedor de credibilidade. Mas, por que foi preciso referir-se a esses canais de informações quando se deseja abordar os mitos que permeiam as altas habilidades/superdotação? A resposta está associada ao fato de que algumas pessoas conhecem ou ouviram falar sobre o assunto apenas

pelas mídias, não tendo contato maior com esse público-alvo. E esse conhecimento, nem sempre, é o correto, podendo ser permeado de mitos.

A mídia, muitas vezes, nos dá uma idéia estereotipada sobre a superdotação, vista principalmente sob a ótica da pessoa academicamente precoce e capaz de feitos maravilhosos. O termo “superdotado”, além de ser apresentado de forma deturpada, gera confusões até mesmo entre as pessoas com habilidades superiores, que não se percebem como superdotadas. Isto provavelmente se dá porque a palavra as remete aos super-heróis das estórias em quadrinhos que, com seus poderes sobrenaturais, as fazem se sentir diferentes dos demais. (VIRGOLIM, 2007, p. 10)

Segundo Miguel (1998, p. 1) “na linguagem corrente, a palavra "mito", desprovida de qualquer complexidade, designa uma ideia falsa ou, então, a imagem simplificada e ilusória de uma realidade”. Por conseguinte, entende-se que os mitos fazem com que essas pessoas não sejam vistas como realmente são, pois a compreensão que se tem sobre elas não é coerente com a verdade exposta na teoria. Sobre isso, Pérez diz que os mitos “são fortes empecilhos para a formação de uma identidade própria das PAHs e contribuem para uma representação negativa ou, pelo menos, distorcida destas pessoas” (2003, p.1).

Um erro, percebido no contexto escolar, é a associação das altas habilidades/superdotação como “aquela pessoa que sabe tudo”, o que gera rótulos como “nerd”, “cdf”, “gênio”. Essa realidade não contempla apenas os colegas e amigos, mas os próprios profissionais da educação, que depositam expectativas surreais em relação ao aluno com altas habilidades/superdotação.

Essa credibilidade faz com que alguns desses profissionais não olhem para as limitações e dificuldades que o educando pode apresentar. Ainda, acreditam que não é preciso estimulá-los, afinal sabem todos os conteúdos e conseguem aprender sozinhos. Consequentemente, o pensamento que recai sobre esse aluno é de que este não precisa ter acesso ao atendimento educacional especializado. Para Rech e Freitas:

Outro mito se refere aos alunos como “globalmente superdotados”. Ou seja, apresentam uma habilidade superior em todas as áreas do conhecimento, sendo inadmissível que apresentem alguma dificuldade de aprendizagem em qualquer campo do saber ou do fazer. Diante desses mitos propagados por professores, deduzimos que os alunos com altas habilidades constituem uma parcela da população escolar que não é facilmente reconhecida pelos professores. (2005, p. 296)

O pensamento de que apenas alunos que são superestimulados pelos familiares e que têm contato com atividades diversificadas, desde pequenos, apresentam altas

44

habilidades/superdotação não é verdadeiro. Afinal, crianças que não fazem parte de um ambiente rico em estímulos também podem ser identificadas com indicadores de altas habilidades/superdotação.

Apesar desse estímulo ser significativo para potencializar as habilidades desses alunos, os fatores genéticos também influenciam para essas se fazerem presentes. Logo, na constituição das altas habilidades/superdotação é importante considerar ambos os aspectos: os traços genéticos e o estimulo do ambiente.

Dando continuidade às formas deturpadas de olhar para as altas habilidades/superdotação, recorre-se à associação de superdotação aos testes de inteligência. Esse entendimento ainda se faz presente em que, para ser um aluno com altas habilidades, é preciso apresentar níveis elevados nos testes de Quociente Intelectual (QI). Porém, esses testes, na maioria das vezes, estão voltados para as habilidades na área do raciocínio lógico, associado à matemática, deixando de perceber as outras áreas do conhecimento humano.

Passou o tempo em que a identificação de altas habilidades/superdotação se dava somente por testes de Quociente Intelectual (QI). Na contemporaneidade tornou-se importante também inserir outros instrumentos que contribuam no processo de reconhecimento destes potenciais, para também realizar uma avaliação pedagógica (FREITAS; NEGRINI, 2014, p. 169).

Recorrendo-se aos autores que estudam sobre o tema, têm-se várias informações a respeito de quais os mitos que imperam na sociedade e as consequências dos mesmos para os sujeitos com altas habilidades/superdotação. Dentre esses, faz-se referência à Pérez (2003, p.2) que destaca sete categorias de mitos:

a) mitos sobre constituição, que vinculam características e origens; b) mitos sobre distribuição, que adjudicam distribuições específicas às AHs; c) mitos sobre identificação, que buscam omitir ou justificar a desnecessidade desta identidade; d) mitos sobre níveis ou graus de inteligência, originados de equívocos sobre este conceito; e) mitos sobre desempenho, que repassam expectativas e responsabilidades descabidas e irreais; f) mitos sobre consequências, que associam características de ordem psicológica ou de personalidade não vinculadas a este comportamento; e g) mitos sobre atendimento que, muitas vezes, são a causa da precariedade ou ausência de serviços públicos eficientes para esta população.

Como se pode perceber, a autora faz alusão às maneiras distorcidas de perceber as altas habilidades/superdotação, seja no reconhecimento das características desses sujeitos, na identificação dos mesmos, no comportamento apresentando e no atendimento educacional. Esses mitos prejudicam os alunos, não apenas na percepção de quem realmente são, mas na

maneira como estes entram em contato com a aprendizagem, afinal, quando não são identificados, não têm acesso à educação estimuladora de seus interesses.

Fazendo referência ao contexto das escolas, urgem formação para os professores acerca desse assunto, para que esses mitos sejam descontruídos. Pois, “à medida que os professores os reconhecerem como crianças com necessidades educacionais especiais e desmitificarem seus conceitos referentes às altas habilidades, haverá uma maior probabilidade de que tais alunos tenham seus direitos educacionais realmente cumpridos” (RECH; FREITAS, 2005, p.297).

2.2 PROGRAMAS DE ENRIQUECIMENTO E ATENDIMENTO EDUCACIONAL