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CAPÍTULO VII OS ACHADOS DA PESQUISA: ACESSIBILIDADE ATÉ QUE PONTO?

Categoria 3: Organização dos Espaços quanto à Arquitetura e Comunicação

A forma como estão dispostos os espaços e a arquitetura dos mesmos é um aspecto importante para a acessibilidade, principalmente quando a referência são as pessoas com deficiência. Dessa maneira, procurou-se identificar, por meio da observação e das entrevistas, se esses espaços, que contemplam o atendimento educacional, estão de acordo com a Lei 10.098 de 2000 que diz que “a construção, ampliação ou reforma de edifícios públicos ou privados destinados ao uso coletivo deverão ser executadas de modo que sejam ou se tornem acessíveis às pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida”. (BRASIL, 2000, p.4).

Contemplando essa categoria, indagou-se cada uma das bolsistas: “Você acredita que

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educação especial ou falta alguma adaptação em relação à arquitetura, comunicação e recursos disponíveis?”.

Ambas responderam que é preciso uma melhoria para que se promova a acessibilidade arquitetônica, pois sentem falta de alguns recursos, como rampas e pegadores. Ainda, conforme Oportunidade, essa ausência de um ambiente adaptado para atender esse público, talvez seja oriundo da falta de informação e conhecimento acerca do que contempla as necessidades dessas pessoas público-alvo da educação especial.

Bom, eu acho que sempre falta, mesmo sendo no hospital, sendo numa universidade. Eu vejo muita falta tanto da arquitetura quanto da comunicação. Acerca da arquitetura, no sentido de espaço mais adequado, com rampas, com aqueles pegadores que a gente chama também. E, assim, comunicação também porque. Até eu vejo muito aqui no hospital, carros que estacionam em lugar onde dá acesso a cadeirante. Então, acho que falta também informação, talvez, não sei. E eu acho que os recursos também. Algumas coisas, acho que faltam, por exemplo, materiais adaptados, principalmente para baixa visão, para surdos, para deficiente físico, acho que falta. (OPORTUNIDADE)

O que desperta a atenção em sua resposta é o chamamento que a bolsista Oportunidade faz para o fato de, por ser um hospital que recebe pessoas em diversas situações, devendo ser organizado de forma a atender as individualidades desses indivíduos, não há espaços totalmente acessíveis. Indo ao encontro dessa mesma prerrogativa, a circunstância do hospital ser universitário, ou seja, localizado dentro de um âmbito em que é discutida a importância de oportunizar condições que atendam às necessidades de todas as pessoas, esse deveria ter todos os recursos de acessibilidade.

Porém, é notório que o hospital precisa passar por adequações, em determinados aspectos, não apenas em relação à arquitetura, mas à comunicação, considerando esta última como:

[...] forma de interação dos cidadãos que abrange, entre outras opções, as línguas, inclusive a Língua Brasileira de Sinais (Libras), a visualização de textos, o Braille, o sistema de sinalização ou de comunicação tátil, os caracteres ampliados, os dispositivos multimídia, assim como a linguagem simples, escrita e oral, os sistemas auditivos e os meios de voz digitalizados e os modos, meios e formatos aumentativos e alternativos de comunicação, incluindo as tecnologias da informação e das comunicações. (BRASIL, 2000, p. 2)

Para a coordenadora pedagógica, foi realizado o seguinte questionamento acerca dessa organização: “Os alunos público-alvo da educação especial conseguem ter contato com a

escolarização dentro do hospital, sem barreiras impeditivas de aprendizagem, como barreiras arquitetônicas, pedagógicas, de comunicação e atitudinais?”.

Em conformidade com Consciência, as questões que envolvem a arquitetura e a comunicação dentro do hospital dificultam a promoção da acessibilidade nesse contexto, interferindo na própria dinâmica de atuação pedagógica. De acordo com essa profissional, a própria organização do espaço pode prejudicar no momento do trabalho com o aluno, como, por exemplo, o degrau e ausência de rampa, que interferem no acesso à sala do Setor Educacional.

Nós gostaríamos de diminuir as dificuldades, mas não conseguimos tirar todas as barreiras, pois há um degrau que impede o acesso à sala e não há rampa, apoios e nem pegadores. O espaço físico é muito restrito, comporta apenas uma criança em atendimento, necessitando as demais serem atendidas no leito. Então, isso vai além das nossas capacidades pedagógicas de intervenção, infelizmente, não conseguimos atingir a totalidade. Tentamos melhorar um pouco o real, mas não conseguimos alcançar o ideal que seria a acessibilidade. Com relação à comunicação, conseguimos profissionais capacitados na língua de sinais, os tablets munidos de aplicativos com som, com braille, no celular também e xerox ampliado. Intervimos na medida do possível, porém um total, o 100% não se consegue. (CONSCIÊNCIA) O relato de Consciência é, de certa maneira, um desabafo, pois, de acordo com ela, o que envolve as questões de comunicação e materiais adaptados pode-se buscar por conta própria. Contudo, há questões que envolvem o espaço do hospital, que ela não pode interferir. Assim, a acessibilidade promovida pelo Setor Educacional não depende apenas das profissionais da educação que atuam nesse ambiente, mas de uma parceria e mobilização de outros setores do hospital, principalmente no que concerne a acessibilidade arquitetônica.

Essa exposição não atende o que traz o Ministério da Educação, no documento sobre atendimento em Classe Hospitalar, que fala sobre a importância da “eliminação de barreiras arquitetônicas possibilitando o acesso a todos os ambientes da escola, assim como a adaptação de mobiliário, de recursos pedagógicos, de alimentação e cuidados pessoais de acordo com as necessidades do educando” (BRASIL, 2002, p. 17).

A mãe do menino com baixa visão também acredita que é preciso um maior cuidado para as questões que envolvem a interação do paciente com deficiência. Logo, respondeu à

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pergunta: “O hospital possui os recursos arquitetônicos e materiais necessários para seu

filho/filha interagir dentro desse espaço?”.

Em relação ao seu filho, ela acredita que esse não teve maiores prejuízos, pois sua baixa visão não impossibilitou sua interação. Sim. Sabem o jeito dele já ali (PERMANÊNCIA). Mas, se esse apresentasse cegueira total, pensa que não teria os recursos necessários, interferindo na dinâmica do atendimento educacional: Da visão ele não iria

enxergar. Não ia ter material para ele. E nem se não ouvisse também não. Sem aula, totalmente sem aula, sem estudo (PERMANÊNCIA).

A necessidade por esse ambiente da saúde acessível, que corrobore com as pessoas com alguma necessidade específica está descrito na Lei 13.146 de 2015:

Os espaços dos serviços de saúde, tanto públicos quanto privados, devem assegurar o acesso da pessoa com deficiência, em conformidade com a legislação em vigor, mediante a remoção de barreiras, por meio de projetos arquitetônico, de ambientação de interior e de comunicação que atendam às especificidades das pessoas com deficiência física, sensorial, intelectual e mental. (BRASIL, 2015, p. 7)

Ao longo da observação, constataram-se fatores que não são coerentes com espaços acessíveis, aproximando-se da ideia de que “muitos ambientes ainda são projetados sem a preocupação com as barreiras arquitetônicas que, muitas vezes, impedem que pessoas com limitações usufruam desses espaços com independência” (BORTOLINI, et al., 2013, p. 165).

Em relação à metragem das portas para a passagem de cadeirantes (0,80m x 2, 10m), as que dão acesso às unidades (Setor Educacional, Centro de Tratamento de Criança com Câncer e Setor Pediátrico - internação) apresentaram as medidas necessárias. No entanto, algumas portas que dão acesso aos banheiros do Setor Pediátrico não possuem as medidas indicadas na Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015).

Quanto ao deslocamento dentro das unidades de internação, pode-se dizer que não há barreiras. Porém na sala sede do Setor Educacional há um degrau que inviabiliza a entrada de cadeira de rodas, não havendo rampa de acesso para esse setor.

Conforme observado, há um elevador próximo ao Centro de Tratamento de Criança com Câncer e da sala do Setor Educacional, e outro que dá acesso ao Setor Pediátrico, os quais contribuem para o deslocamento de pessoas com limitações físicas.

Acerca das barras de apoio não foi percebido essa adaptação nos demais espaços, com exceção dos banheiros, de ambas as unidades de internação, as quais possuem esse recurso.

Sobre a existência de piso tátil para o deslocamento de pessoas com deficiência visual, não há esse recurso em nenhuma das unidades observadas. Isso denota que, nesse aspecto,

falta acessibilidade para a locomoção de sujeitos com limitação no sentido da visão, principalmente aqueles que apresentam cegueira total.

Ao observar os espaços, verificou-se que os banheiros das unidades de internação necessitam de algumas adaptações arquitetônicas, não estando totalmente de acordo com as normas da Associação Brasileira de Normas Técnicas (2015). No Centro de Tratamento de Crianças com Câncer, os banheiros, em sua maioria, possuem box com limitações, que dificultam a passagem de cadeira de rodas, fazendo com que o paciente precise tomar banho fora desse espaço. Infere-se que o Setor da Classe Hospitalar não possui um banheiro próprio.