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2. P LANEJAMENTO E M OBILIDADE U RBANA NAS C IDADES B RASILEIRAS

2.1 Mobilidade Urbana e Mobilidade Urbana Sustentável

A mobilidade urbana é um componente vital de qualquer cidade, muitas vezes influenciando a sua forma física, bem como seu nível de desenvolvimento econômico e social

(CASCETTA et al., 2007). Para Tagore & Sikdar; Raia Júnior (1995; 2000)), a mobilidade urbana pode ser definida como sendo a capacidade dos indivíduos se moverem de um lugar a outro que depende ainda do desempenho do sistema de transportes, tais como disponibilidade, frequência, tempo de espera, dentre outros; e características do indivíduo, como renda, posse de veículo próprio, recursos gastos na viagem pelo indivíduo etc.

Vasconcellos (2001) define mobilidade urbana como a habilidade de movimentar-se, em decorrência de condições físicas e econômicas. Neste sentido, as pessoas pobres, idosas ou com limitações físicas estariam nas faixas inferiores de mobilidade em relação às pessoas de renda mais alta ou sem problemas físicos de deslocamento.

A mobilidade é um atributo associado à cidade; corresponde à facilidade de deslocamento de pessoas e bens na área urbana. Face à mobilidade, os indivíduos podem ser pedestres, ciclistas, usuários de transportes coletivos ou motoristas; podem utilizar-se do seu esforço direto (deslocamento a pé) ou recorrer a meios de transporte não motorizados (bicicletas, carroças, cavalos) e motorizados (coletivos e individuais). Portanto, o conceito de mobilidade urbana vai além de simples deslocamentos e de usos dos modais, apresenta relações dos cidadãos com o espaço – seu local de vida – com os objetos e meios empregados para que o deslocamento ocorra, e com outros indivíduos (BRASIL, 2006).

Macário (2011) afirma ainda que a mobilidade urbana atua como um módulo da vida urbana, contribuindo para a sua configuração através da interação com o uso da terra, o ambiente e outros subsistemas. Enquanto Suen & Mitchell (2001) definem mobilidade como a disponibilidade de serviços e modos de transporte (automóvel, ônibus, trem, bicicleta, entre outros) para qualquer destino e horário, com informação sobre seu funcionamento, sua forma de utilização e seus meios de pagamento. Desta forma pode-se afirmar que os diversos autores são consensuais em afirmar que mobilidade corresponde à facilidade de deslocamento de pessoas e bens na área urbana e que representa um atributo da cidade, e é assim que o termo “mobilidade urbana” deve ser entendido neste trabalho.

Para Vasconcellos (2001), os principais fatores que interferem na mobilidade das pessoas são a renda, o gênero, a idade, a ocupação e o nível educacional. A mobilidade aumenta com o nível de renda do cidadão, variando em função de características econômicas e sociais das população. Viegas (2002) apresenta a mobilidade motorizada como um direito individual e um fator de cidadania fundamental para a integração social, sem a qual a exclusão social poderia ocorrer.

A preocupação com o desenvolvimento sustentável tem incentivado o estudo e a implantação, em diferentes setores, de medidas e procedimentos que contribuam para a

sustentabilidade em áreas urbanas. Em relação aos transportes esta questão pode ser vista através de uma busca pela mobilidade urbana sustentável. Esta busca deve ter como base o conceito de desenvolvimento sustentável, que se procura de uma forma geral em definir estratégias dentro de uma visão conjunta de questões sociais, econômicas e ambientais. Além disso, deve-se ter em mente o princípio mais comumente conhecido do desenvolvimento sustentável definido como “uma forma de desenvolvimento que vai de encontro às necessidades da geração atual sem comprometer a possibilidade (ou capacidade) das gerações futuras em satisfazer as suas necessidades” (PLUME, 2003; CAMPOS, 2006).

Um dos motivos que levou o conceito de sustentabilidade a ser adicionado ao de mobilidade urbana foi a sua ligação com a eficiência da gestão da cidade e à necessidade do uso racional dos recursos. Por ser essencial às necessidades humanas e, até mesmo, envolver mudança de cultura, este passou a ser associado a conceitos como a gestão participativa e a sustentabilidade ambiental. Isto ampliou sua relevância, transformando-o em parâmetro para guiar a utilização de vias e espaços urbanos de forma eficiente e dinâmica, com a minimização dos impactos negativos (RODRIGUES DA SILVA et al., 2008).

O conceito de mobilidade urbana sustentável é ainda mais amplo como é definido pelo Ministério das Cidades (BRASIL, 2006), ou seja, é o resultado de um conjunto de políticas de transporte e de circulação que visam priorizar os modos não motorizados e coletivos de transporte, de forma efetiva, que não gere segregações espaciais, seja socialmente inclusiva e ecologicamente sustentável.

Macário (2011) enfatiza que o ajuste fino dos conceitos de sustentabilidade tem colaborado para reforçar os processos de planejamento, fornecendo uma conscientização profunda das barreiras para sua interpretação operacional, implementação, avaliação e na necessidade do controle dos riscos inerentes da não efetivação. A avaliação e o monitoramento do progresso alcançado ao longo dos anos são ferramentas fundamentais para esses processos de avaliação, embora deva ser evidente que a sustentabilidade é um conceito que vai além do objetivo de meio ambiente e corresponde aos indicadores tradicionais.

A Agência Europeia do Ambiente (AEA) propõe um modelo conceitual, denominado DPSIR, que tem como objetivo analisar problemas ambientais. Esse modelo é apresentado na Figura 2.

Figura 2: O modelo DPSIR: D – força motriz; P – Pressão; S – Estado do Ambiente; I – Impacto; R – Responsabilidades Sociais

Fonte: Adaptado de Macário, 2011.

Gomes et al., (2000) enfatiza ainda que o modelo apresentado na Figura 2 considera que a Força Motriz ou Atividades Humanas (D), nomeadamente a indústria e os transportes, produzem Pressões (P) no ambiente, tais como emissões de poluentes, as quais vão degradar o Estado do Ambiente (S), que por sua vez poderá originar Impactos (I) na saúde humana e nos ecossistemas, levando a que a sociedade emita Respostas (R) através de medidas políticas, tais como normas legais, taxas e produção de informação, as quais podem ser direcionadas a qualquer compartimento do sistema.

A utilização de indicadores e índices nas mais diversas áreas setoriais tem auxiliado pesquisadores e gestores em suas tomadas de decisão de modo eficiente e sustentável.

Ademais, a sustentabilidade objetiva induzir os planejadores urbanos e os gerenciadores a não mais utilizar o pensamento tradicional fragmentado e disciplinador, quebrando as barreiras artificiais que constituem as fragilidades para o nosso conhecimento contextual de fatores que influenciam a dinâmica dos sistemas urbanos e mesmo nossa habilidade em predizer a evolução a longo prazo (MACÁRIO, 2011).

A mobilidade urbana sustentável deve estar integrada às demais políticas urbanas, com o objetivo maior de priorizar o cidadão na efetivação de seus anseios e necessidades, melhorando as condições gerais de deslocamento na cidade. Portanto, a ideia de mobilidade centrada nas pessoas é o ponto principal a ser considerado numa política de desenvolvimento urbano que busque a produção de cidades justas, de cidades para todos, que respeitem a liberdade fundamental de ir e vir, que possibilitem a satisfação individual e coletiva em atingir os destinos desejados, as necessidades e os prazeres cotidianos (BRASIL, 2006).

De acordo com o Ministério das Cidades (BRASIL, 2006), quatro são os pilares da mobilidade sustentável: (1) planejamento integrado de transporte e uso do solo urbano; (2) melhoria do transporte coletivo urbano; (3) promoção da circulação não motorizada; (4) uso racional do automóvel.

A mobilidade da população urbana no mundo tem diminuído bastante principalmente devido ao crescimento desordenado da população das cidades e à falta de planejamento urbano. Dentre os fatores que afetam negativamente a mobilidade urbana destaca-se também o aumento da taxa de motorização da população, ou seja, o número de veículos por habitante (SCHMITT, 2006). Após o levantamento de definições de mobilidade e sustentabilidade urbana, verifica-se que todos os conceitos encontram-se relacionados entre si, dessa forma fica bem claro que a mobilidade urbana é algo muito mais complexo e abrangente do que o simples fato de ir e vir dos cidadãos, de forma que existe uma forte relação entre três variáveis principais: o uso do solo, os transportes e o meio ambiente, o que pode ser constatado ainda que a sustentabilidade urbana vem como uma forma de reforçar o planejamento urbano, evitando as barreiras sociais que impedem a efetivação desse planejamento adequado.

Planejadores e tomadores de decisão buscam o entendimento dos conceitos de mobilidade urbana e sustentável com o intuito de implementar práticas modernas nas cidades visando melhorar a circulação de pessoas e mercadorias. A próxima seção apresentará algumas práticas de mobilidade urbana que vem sendo aplicadas com sucesso.