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A mobilidade urbana, atributo das cidades, se refere à facilidade de deslocamentos de pessoas e bens no espaço urbano. É mais do que o que chamamos de transporte urbano, ou seja, mais do que o conjunto de serviços e meios de deslocamento de pessoas e bens, é o ir e vir cotidiano das pessoas, resultado da interação entre os deslocamentos de pessoas e bens com a cidade. Entende-se a maneira de como se organizam os usos e a ocupação da cidade e a melhor forma de garantir o acesso das pessoas e bens ao que a cidade oferece (locais de emprego, escolas, hospitais, praças e áreas de lazer) (BRASIL, 2004). De outro modo, corresponde a maneira como as pessoas escolhem para se deslocar na cidade, que, afeta diretamente a qualidade de vida urbana.

A necessidade de movimento dos cidadãos depende de como a cidade está organizada territorialmente e está vinculada funcionalmente com as atividades que se desenvolvem no espaço urbano (DUARTE, 2012). Nesse sentido, sustentabilidade é um paradigma que ganha importância quando se aplica a todas as formas de eficiência energética e de redução de desperdício, como forma de implicar mais corretamente na alocação de recursos, como, fortalecer a mobilidade urbana integrando e sincronizando sinais, e dessincronizando horários de trabalho para diminuir engarrafamentos e encurtar o tempo de locomoção, como o fato de trabalhar em casa ou aproximar a casa do trabalho, que são medidas que aliviam a circulação urbana (CAMARGO et al., 2014).

No caso das cidades médias esse conceito de mobilidade urbana adquire um novo significado. Nas cidades médias a mobilidade está associada a estrutura de referência urbana, econômica e social das cidades médias, destacada por um lado pelos limiares populacionais que delimitam a cidade de outros centros urbanos, e por outro lado pelas funcionalidades potenciais que as cidades de médio porte desempenham no território, como a articulação entre os diferentes níveis da hierarquia urbana, a provisão de bens e serviços, e a acomodação dos níveis da administração do governo local e regional (PASCIARONI, 2012).

Cabe sinalizar que, de acrodo com Dias e Araújo (2013), não há um consenso sobre o conceito de cidades médias, sendo, entretanto, denominadores comuns que as caracterizam, o tamanho demográfico e a sua função. Cidades médias ou intermediárias são centros regionais importantes na dinâmica socioeconômica brasileira e tem desempenhado papel de núcleo

estratégico nas redes urbanas, constituindo elos entre o espaço urbano e o regional e entre cidades maiores e cidades menores, sob sua influência (DIAS; ARAÚJO, 2013; DA SILVA, 2013).

2.3.1 O sistema de mobilidade urbana

Pensar a mobilidade urbana é, portanto, pensar sobre como se organizam os usos e a ocupação da cidade e como garantir uma melhor forma de acesso das pessoas e bens ao que a cidade oferece. Isto implica não apenas pensar os meios de transporte e o trânsito e sim todas as condições necessárias a qualidade de vida nos deslocamentos, tais como, a informação, as tecnologias, o ambiente sustentável, além da disponibilidade de bens e serviços (BRASIL, 2004).

Para Balbim (2004), a mobilidade está relacionada às determinações individuais: vontades ou motivações, esperanças, limitações e imposições, e sua lógica apenas se explica através da análise conjunta dessas determinações, levando-se em conta a organização do espaço, as condições econômicas, sociais e políticas, os modos de vida, o contexto simbólico, as características de acessibilidade e o desenvolvimento científico e tecnológico.O autor enfatiza que a vida cotidiana é organizada segundo a mobilidade das pessoas, no conjunto da cidade e na intensificação da vida de relações, inclusive entre lugares e objetos técnicos, que segundo Carvalho (2016a), afetam diretamente a qualidade de vida urbana.

Magagnin e Da Silva (2008) em um estudo de caso de cidades médias (Bauru, São Paulo), relata que usuários do sistema urbano são confrontados com inúmeros aspectos da mobilidade, levando a uma mudança ou ampliação da visão que têm do conceito de mobilidade urbana abrangendo às dimensões urbana e rural. Essa perspectiva sugere a necessidade de pensar a cidade na via de uma cidade colaborativa e inteligente, com políticas públicas de mobilidade urbana sustentável, capazes de garantir a efetiva participação comunitária como parte do processo de planejamento da cidade, adotanto políticas públicas que fomentem um cenário urbano mais acessível e adequado ao estímulo das viagens sustentáveis (GRIECO; DA SILVA PORTUGAL; ALVES, 2016).

Quanto ao conceito de desenvolvimento local sustentável, a mobilidade se refere à promoção do equilíbrio entre a satisfação das necessidades humanas com a proteção do ambiente natural (CARVALHO, 2016a). A satisfação das necessidades humanas implica que os bens e serviços têm de ter oferta disponível e compatível com as demandas da população, e essa oferta tem de apresentar estabilidade e regularidade ao longo do tempo. Tudo isso de forma

que o impacto ambiental não comprometa a capacidade futura de satisfação das demandas das próximas gerações. Assim como se trabalha o desenvolvimento sustentável nas três dimensões principais – econômica, social e ambiental –, o mesmo pode ser feito em relação aos sistemas de mobilidade.

No contexto nacional, mobilidade urbana é marco genérico estabelecido pelo Estatuto da Cidade através da Lei Federal nº 10.257, de julho de 2001, que regulamenta e estabelece diretrizes gerais da política urbana. Essa lei surgiu no intuito de nortear a política pública e regulamentar a prática dos Planos Diretores dos municípios brasileiros, trazendo o termo “mobilidade urbana” (LIMA, 2010). Com isso, o Plano Diretor pode ser definido como um conjunto de princípios e regras orientadoras da ação dos agentes que constroem e utilizam o espaço urbano.

Ao que se refere às diretrizes do Estatuto da Cidade, elas foram instituídas pela Lei Federal nº 12.587/2012 que institui as diretrizes da Política Nacional de Mobilidade Urbana e definiu mobilidade urbana como a “condição em que se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano”, em consonância a política nacional de mobilidade urbana (BRASIL, 2004). Note-se que a condição em se realizam os deslocamentos de pessoas e cargas no espaço urbano, não se refere somente os meios de transporte e o trânsito, ela diz respeito ao sistema no qual está inserida a mobilidade urbana, desta forma tornando possível tratar a mobilidade urbana como um paradigma e também como dependente de um ecossistema. As principais diretrizes para a construção desse novo paradigma, relativo à mobilidade urbana são:

a) Diminuir o número de viagens motorizadas; b) Repensar o desenho urbano;

c) Repensar a circulação de veículos;

d) Desenvolver os meios não motorizados de transporte; e) Reconhecer a importância do deslocamento dos pedestres;

f) Proporcionar mobilidade às pessoas com deficiência e restrição de mobilidade; g) Priorizar o transporte coletivo; considerar o transporte hidroviário, quando disponível; h) E, por fim, estruturar a gestão local.

O Planejamento da mobilidade urbana é um tema complexo e a sua realização constitui um desafio para as cidades, em todas as partes do mundo, em grande parte pela opção pelo uso do automóvel, e por outra parte pela crescente demanda por acessibilidade às novas formas da urbanização e seus entornos. A viabilização de um sistema de mobilidade urbana sustentável compreende a implantação de sistemas inteligentes de acordo com a dimensão territorial das

cidades, podendo abranger capacidades e soluções inovadoras, independente do porte da cidade, a exemplo do sistema de bicicletas públicas implantados em grandes centros urbanos como Copenhague, Paris, Barcelona, Bogotá, Boston, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Pelotas RS e dos pequenos centros urbanos brasileiros como em Afuá PA, Tarauacá AC, Antonina PR, Cáceres MT, Gurupi TO, Pomerode SC, São Fidélis RJ, Pedro Leopoldo MG, Tamandaré PE e Ilha Solteira SP (SOARES; GUTH, 2019), entre várias outras cidades mundiais, além de calçadas confortáveis, niveladas, sem buracos e obstáculos.

No âmbito local a mobilidade urbana é tratada através das Leis municipais nº 5.481/2011 que institui o PLANMOB – Plano Diretor de Transporte e Mobilidade do município de Ijuí/RS e lei nº 5.630/2012 que institui o Plano Diretor Participativo do município de Ijuí.

2.3.2 Mobilidade urbana sustentável

A mobilidade urbana sustentável pode ser definida como um atributo relacionado aos deslocamentos realizados por indivíduos nas suas atividades de estudo, trabalho, lazer e outras, de modo que a cidade é levada a desempenhar suas funções nas diversas relações de troca de bens e serviços, e de cultura e conhecimento entre seus habitantes (MAGAGNIN; DA SILVA, 2008). Nessa condição, o desenvolvimento sustentável nas dimensões ambiental, econômica e social, estabelece uma correlação entre esses três pólos com a finalidade de garantir a eficácia econômica e a proteção do meio ambiente, sem perder de vista as finalidades sociais que são a luta contra a pobreza, as desigualdades, a exclusão, e a busca por eqüidade.

A inter-relação equilibrada entre os componentes meio ambiente, economia e sociedade possibilita a realização das necessidades das pessoas em relação à qualidade de vida, à acessibilidade, ao respeito ao habitat com menor impacto da atividade humana e aos recursos disponíveis na satisfação das necessidades de cada cidadão

(

STEG; GIFFORD, 2005).

Em relação as necessidades das pessoas, na relação com a acessibilidade urbana, Wachs e Kumagai (1973) asseguram que a acessibilidade diz respeito as formas e as funções urbanas de uma determinada região, condicionando a acessibilidade às oportunidades econômicas, recreativas, de serviço e sociais, como um componente importante da qualidade de vida dessa região, que é constantemente modificado pelas políticas públicas do sistema de transporte público e privado e pela localização das atividades econômicas e do serviço público. Os autores enfatizam ainda a possibilidade da provisão de igualdade de oportunidades por ocasião da formulação das políticas de transporte, na direção mais consistente aos objetivos nacionais e regionais, medida através de indicadores de acessibilidade.

De forma análoga, Krempi (2004) observa que há uma acessibilidade, que está relacionada com a maneira como a disponibilidade de transportes e o uso do solo afetam os indivíduos na realização de viagens para o desenvolvimento de suas atividades habituais, que está diretamente relacionada aos diversos locais de interesse e necessidades, e que contribui para reduzir as diferenças de oportunidades existentes no espaço urbano e rural (SAKAMOTO; LIMA, 2016).

Para Sakamoto e Lima (2016) há um aspecto relevante a observar, que diz respeito a redução das diferenças no acesso às oportunidades, aumentando o poder de cooperação na sociedade e com isso tornando a cidade mais colaborativa e inteligente. Nessa abordagem conferida a mobilidade urbana, com frequência encontra-se a menção a “cidades colaborativas” que são cidades inteligentes e sustentáveis, que trabalham o conjunto de decisões de forma coletiva para que programas, planos, projetos e políticas públicas sejam implementadas num determinado tempo com a presença da administração pública no processo (DUFUMIER, 2010; CAMARGO et al., 2014; CUNHA et al., 2016; WEISS et al, 2015, 2017).

Neste cenário de desenvolvimento local sustentável, a mobilidade é promotora do equilíbrio entre a satisfação das necessidades humanas e a proteção do ambiente natural, ou seja, para satisfazer as necessidades humanas, os bens e serviços têm de ter oferta disponível e compatível com as demandas da população, e essa oferta tem de apresentar estabilidade e regularidade ao longo do tempo, de forma que o impacto ambiental não comprometa a capacidade futura de satisfação das demandas das próximas gerações.

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