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ESTÉTICA E MODA MASCULINA

3.2.3. Moda masculina: da alfaiataria ao prêt-á-poter

O vestuário masculino atinge o seu ápice em luxuosidade com Luis XIV.

A moda masculina francesa tendo como seu maior representante o rei tornou-se referência, tornou-sendo copiada. Segundo Laver (1989), Luís XIV estava empenhado “em tornar a França o árbitro da Europa, não só politicamente, como também em questões de gosto” (LAVER, 1989, p. 116). Os detalhes eram muitos, exploravam os bordados e as rendas, o exagero era a característica do período barroco, estilo predominante da época. Ainda

segundo o autor, as roupas masculinas francesas modificaram-se pouco durante meados do século XVIII. As características de ornamento das roupas masculinas desse período podem ser observada na figura 3, que demonstra o rei Luis XIV, vestido com babados, rendas, bordados e plumas no chapéu.

Figura 3: Luís XV II; Fonte: site: olhardascienciassocias.blogspot.com.br

Após a dominação do estilo representado por Luís XIV, por volta da segunda metade do século XVIII, segundo Hollander (1996) o vestuário extremamente ornamentado da corte francesa começa a tornar-se incômodo, pois mantinham características de antigas idéias, as quais não correspondiam ao período, onde ocorreram transformações como o inicio da revolução industrial liderada pela Inglaterra, que estava democrática e tecnologicamente mais avançada que a frança, assim os ingleses tinham acabado com o regime absolutista, enquanto a França permanecia nele.

Então devido às novas necessidades da aristocracia inglesa, que exigiam roupas práticas e simples, surge o estilo inglês, influenciado por “uma mistura de simplicidade chique proposta pelos antigos puritanos, pelos proprietários de terras e pelas pessoas de boa posição social, dando destaque a vida e os esportes campestres”. Hollander (1996) ao descrever o novo estilo inglês afirma que um casaco simples, botas úteis, chapéu e roupa branca

simples era o sinal de um cavalheiro que possuía não apenas muitos acres7 e um cofre cheio, mas também uma mente sensível. Desse modo Londres transformou-se no centro do traje masculino avançado para época, pois havia abandonado as roupas ornamentadas, aderindo ao traje simples e elegante, que estava mais apropriado ao momento social do período.

O estilo inglês se consolida na França em decorrência de alguns fatores como a revolução francesa (1790). Após a queda do regime absolutista, os nobres e aristocratas eram vistos como inimigos da sociedade, logo, vestir-se de forma opulenta e faustosa tornou-se perigoso, Hollander (1996) afirma que o vestuário simplificado e prático se mostrou adequado para esta nova fase.

Por meio das transformações sociais que aconteciam, a roupa estava relacionada com a atividade que a pessoa desempenhava, ou seja, era o trabalho que definia o vestuário. Conforme Crane (2009) explica, o homem se vestia de acordo com o cargo que ocupava. Operário ou chefe, sua roupa di zia claramente quem ele era. E, dessa maneira, permaneceu pelo menos até a metade do século posterior. Vale ressaltar que o estilo de roupa não o acompanhava somente nas horas de trabalho; ela fazia parte também de suas horas de lazer. Não havia uma separação clara, como surgiu no século XIX.

Até recentemente, coibidos pelas normas de vestuário estabelecidas pelas organizações que empregavam, os homens, em sua maioria, não podiam des viar-se muito de um padrão de aparência masculina durant e o dia. A maior part e do orçamento destinado ao vestuário seria muit o provavelmente reservada para a aquisição de roupas de trabalho.

Enquanto os indivíduos que ocupavam posições de maior prestigio usavam ternos de trabalho, os trabalhadores das classes operarias e média baixa usavam roupas profissionais, muitas vezes consistindo em uniformes que indicavam de forma clara e instantânea o status de quem os vestia [...] ( CRANE, 2009, p. 343)

No início século XIX, de acordo com Hollander (1996) o olhar coletivo voltado á forma foi abruptamente reeducado, pois mesmo o vestuário mais simples, sua forma (estilo e modelagem) sugeria uma figura masculina levemente atarracada8 e infantil, o efeito total da roupa tendia a enfatizar os quadris do homem, sua barriga e suas coxas, encolher o peito e os ombros, aumentar o dorso e encurtar as pernas.

7 Acre: Medida agrária usada em alguns p aíses com valores diferentes. (PRIBE RAM, 2011)

8 Atarracado: baixo e gordo ou bojudo. (A URÉ LIO, 2011)

Dessa forma os trajes modernos passaram a ser cortados de modo a sugerir um corpo masculino que se afina a partir de ombros largos e um peito musculoso e que tem barriga achatada e cintura es treita e pernas compridas.

Essa nova estrutura anatômica fazia referência ao nu heróico masculino da antiguidade clássica, que passou a ser o ideal de beleza do homem moderno, na época, como Hollander (1996) exemplifica em sua citação:

Os alfaiates elegant es usaram roupas comuns para transformar o homem rococó, emperucado e artificial em um homem nobre e natural no sentido antigo. Eles ofereceram o corpo clássico perfeito, habilmente traduzido para as peças do vestuário moderno mais tradicionalmente “naturais” [...] (HOLLANDER,1996, p. 114)

A partir desse novo estilo masculino surge no início do século XIX a figura do dândi, que torna elegantes as roupas simples e escuras, modificando mais uma vez a estética do traje masculino. O estilo dândi renuncia às plumas, mas ainda é uma forma de ostentação, presente nas sutis evidências da boa qualidade do tecido, e na meticulosidade do corte, trazendo o valor da distinção através do esmero em cada detalhe ao se vestir. Rosa (2008) apresenta o estilo dândi, que também teve como representantes o escritor Charles Baudelaire e Oscar Wilde, composto de roupas extremamente justa e com caimento perfeito, os casacos escuros eram geralmente acompanhados de calças justa branca ou amarelo claro. Sem bordados e acessórios desnecessários. A camisa com gola alta era adorna com plaston, faixa de tecido, que com seus nós sofisticados, embelezava e deixava a cabeça erguida, transmitido um ar de arrogância característico do homem dândi. Sendo este estilo um reflexo dos acontecimentos da época, Queiroz (2009) afirma:

O que mais nos interessa nesse período, representado pelas figuras de Brummel, Baudelaire e Wilde, é a importância dada à vaidade ao vestir -se. Estes se tornaram os formadores de opinião, a partir de suas imagens os homens projetavam seus estilos, para mais ou menos ousado. (QUEIROZ, 2009, p. 74)

O dândi (figura 4) inaugura, então um novo tipo de masculinidade, sem perucas ou maquiagem, mas com calças muito apertadas e altamente eróticas,

sempre perfumado, com cabelos bem curtos e barbeado. Para Queiroz (2009) o dândi faz uma introdução ao que hoje chamamos de homem metrossexual9.

Figura 4: repres entação do vestuário dândi. Fonte: http://www.dandimoderno.com

Ao longo do século XIX, período que compreende a Era Vitoriana (1837- 1901), se consolidou a austeridade no vestir do homem, conforme afirma Caldas (1997), utilizando-se de cores escuras e acinzentadas, sobriedade nas formas e materiais, variando minimamente. O vestuário estava relacionado, principalmente, ao trabalho, e ao papel social. A imagem que representava o homem e o papel que ele deveria desempenhar na sociedade era uma só e estava vinculada ao poder, à heterossexualidade, ao patriarcalismo, ao provedor e chefe de família, à força física e a empregos identificados como

“trabalho de homem”.

A Revolução Industrial (1850 - 1870) configurou um burguês rico e discreto em seus trajes pessoais, o destaque para o masculino não estava apenas na forma de vestir, mas também uma forma de ser e de agir. Assim a representação de poder, riqueza e prestígio social era simbolizada por meio de sua mulher que trajada com roupas ricas, vestidos volumosos e bordados, usando muitas jóias, davam o aval do seu poder social e econômico, sobre isto Freyre (1997) discorre na seguinte citação:

9 Metrossexual: entendo-se por metrossexual o homem preocupado com a aparência.

Mesmo porque, em sociedades chamadas burguesas, o modo de as mulheres casadas se apres entarem em público constitui um dos meios dos seus maridos se afirmarem prósperos - aqui vai algum machismo- ou socioeconomicamente bem situados. Sendo assim, é preciso que os vestidos de esposas ou de filhas variem, de menos a mais exuberantemente caros, e adornados como expressão, quer da constância de status alto dos maridos e pais, quer como expressão de aumento de prosperidade ou de ascensões socioeconômicas ou políticas ou na ocupação de cargos ilustres dos mesmos maridos ou pais. (FREY RE, 1997, p. 33)

Apesar dos trajes discretos marcados pela sobriedade, nesse período Hollander (1996) adverte que ao contrário, os homens não abandonaram a moda, eles apenas modificaram a forma de se expressar através dela. As roupas masculinas no estilo alfaiataria tem se mostrado variáveis e expressivas, desde 1800, construindo significados de poder, austeridade, entre outros, a partir da variação de formas, texturas e cortes, tornando-os campo de ação e comportamento. “A vestimenta e os acessórios masculinos podem ter dado a impressão de ser não-moda, mas isto é uma ilusão completa; seu compromisso com o risco e a ironia é tão profundo quanto o da moda feminina e seu aspecto representativo também.” (HOLLANDER, 1996, p. 38)

No período da I Guerra Mundial (1914 - 1918), primeira década do século XX, o vestuário masculino, como legado do campo de batalha, tornou-se uniformizado e simples, devido à escassez de material para confecção das roupas, dessa forma traduzia-se simplesmente em calça , colete, gravata e paletó. Na segunda década, de acordo com Rosa (2008) o smoking, uma nova versão do terno, foi incorporado ao vestuário masculino, como também o paletó de abotoamento duplo, o tecido de padronagem príncipe–de-gales e os sapatos bicolores. Os suspensórios são substituídos pelos cintos e surgem os relógios de pulso em lugar dos relógios de bolso. O colete sai de moda e o chapéu coco é o mais usado.

Na década de 1930, decorrente das invenções voltadas à guerra, os tecidos artificiais passam a serem usados na confecção das roupas masculinas. O cinema hollywoodiano foi o grande influenciador da moda, trazendo sofisticação à moda masculina, mesmo com a crise que afetava o mundo e, principalmente, os EUA pós 1929 com o “crash” da bolsa de valores de Nova Iorque. De acordo com Rosa (2009) os lenços de seda e as abotoaduras para os punhos das camisas são adotados pelo homem elegante.

As calças e paletós apresentam modificações na largura, sem perder a formalidade. O chapéu mais usado agora é o hamburg, com abas levantadas e fita de gorgorão.

Durante os anos de 1940, viveu-se novamente um período de escassez em função da II Guerra Mundial (1939 - 1945) que afetou diretamente o vestir de toda a sociedade, refletindo a falta de matérias para sua produção, já que os mesmos eram voltados para produzir uniformes para os soldados, e implementos de guerra. Rosa (2008) relata que:

“na segunda metade desta déc ada, o terno clássico permaneceu no vestuário masculino, e começaram a aparecer nas ruas o paletó -saco, mais longos e acompanhados por calças justas ao corpo e um pouc o mais curtas deixando as meias à mostra, as gravatas agora eram coloridas, e os relógios com pulseiras metálicas, os preferidos”.

No fim desta década os jovens começam a usar o jeans, mas como ainda havia uma forte ligação deste novo tecido com as roupas usadas pelos mineradores, seu uso ficou voltado para trabalho, sobretudo em função da alta resistência desse tecido. É assim que a moda se alia aos jovens pela primeira vez, e trabalhando no sentido de identificá-los de acordo com seus grupos.

Na década de 1950, houve um aumento da população de jovens, devido a explosão demográfica do pós-guerra, o que influenciou diretamente as modificações no vestir masculino. Como transformações do pós-guerra, o incentivo a industrialização e a revitalização do comércio, possibilitaram o aumento do consumo, e novas possibilidades começaram a se abrir ao vestuário masculino, que apresentam duas vertentes: os jovens com o visual contestador; e o tradicional, que não explora a beleza, mas começa a se relacionar de forma diferente com a moda e o seu corpo, em prol de uma “boa aparência”.

Neste período começa a ter diferenciação entre as roupas dos jovens e dos adultos, pois até então não havia. Essa mudança se deu no período pós-guerra a partir da urbanização e do desenvolvimento da indústria de entretimento, que fez surgir diversas subculturas. Nelas jovens que tinham ideias diferentes das vigentes na época e procuraram se expressar por meio do vestuário. O jeans e outras peças como a jaqueta de couro e a camiseta branca, que antes se constituam como símbolos de trabalho, uniforme e roupa

íntima, respectivamente, foram apropriados a este discurso de contestação dos jovens. Foi a partir daí que a moda masculina ganhou significativas mudanças, os tradicionalismos foram perdendo espaço para experimentações que refletem até hoje no vestuário do homem contemporâneo. Em relação à moda deste período Braga (2005) afirma que:

Foi também nesta mesma década que os jovens norte -americanos começaram a buscar uma identidade própria para a sua moda, associando-a a det erminados comportamentos. (...). Para os rapazes mais ousados, ou melhor, para os rebeldes, a calça jeans com a barra virada e a camiseta de malha compunham o visual. Essa rebeldia veio por influência do cinema por meio de ídolos como James Dean e Marlon Brando; e também da música, ou melhor, do rock and roll de Elvis Presley. Cabelos com brilhantina, topetes e costeletas faziam parte do visual dos rapazes jovens. (BRAGA, 2005, p. 85 -86)

Na década de 1960 solidifica a postura de contestação de valores iniciada na década anterior, e traz para a moda elementos como as camisas coloridas e as calças ajustadas ao corpo, influenciado pelos movimentos de op art 10e pop art11. Caldas (1997, p. 150) relatando os acontecimentos sociais da década, destaca: “Falava-se, então, de peacock revolution – a “revolução do pavão”, termo que se referia ao fato de que os homens estariam permitindo-se mais vaidade, integrando em sua forma de vestir elementos antes exclusivos das mulheres, como as cores fortes e o brilho”. Mais uma vez, essa década surge como um período marcante, um divisor de águas no campo da cultura e, por conseguinte, da moda.

Caracterizada por uma geração que se recusava a adotar os hábitos de seus pais, começa se delinear nesta década o movimento hippie, marcado por um visual despreocupado composto de calças boca-de-sino, batas, muitos detalhes artesanais tanto nos bordados como nos acessórios e cabelos longos (ROSA, 2008).

A moda nos anos 70 continua sendo influenciada pela cultura jovem norte americana, pela música e cinema. Rosa (2008) comenta que as

10 Op art: é um t ermo usado para descrever a arte que explora a falibilidade do olho e pelo us o de ilusões ópticas.

11 Pop art: é um moviment o art ístico surgido no final da década de 1950 no Reino Unido e nos Estados Unidos. A Pop art propunha que se admitisse a crise da arte que assolava o século XX. Desta maneira pretendia demonstrar com suas obras a massificação da cultura popular capitalista. Com o objetivo da crítica Tônica ao bombardeamento da sociedade capitalista pelos objetos de consumo da época, ela operava com signos estéticos de cores inusitadas massificados pela publicidade e pelo cons umo.

camisetas recebiam logotipos de clubes de universidades americana, blusões eram inspirados em fardas de aviadores, o blazer azul-marinho de Yves Saint Laurent se tornou peça-chave na moda masculina. As calças jeans apresentam novos modelos: a baggy e semi baggy, com volume concentrado na altura da coxa e a cintura e tornozelos ajustados. Em meados dessa década começa a ganhar contornos na cidade de Londres, o movimento punk, derivado de jovens desempregados e revoltados com as atitudes da sociedade.

Durante a década de 80 se consolida o estilo punk, de acordo com Rosa (2008), este grupo veste-se num estilo indo contra com os princípios dos trajes da época, com roupas surradas e rasgadas, cintos tachados, interferência de rebites, broches, correntes e outros adereços no vestuário. Usavam como corte de cabelo o moicano, onde os cabelos eram penteados para cima formando pontas, que iam da testa à nuca, na região central da cabeça, sendo muitas vezes coloridos. Os anos 80 também são marcados pelos jovens que se lançam no mercado de trabalho, tornando-se executivos dinâmicos conhecidos como e yuppies – Young Urban Professional Persons – jovens profissionais urbanos. Com boa situação financeira, buscavam demonstrar sua condição econômica com gastos exagerados em roupas e acessórios sofisticados como ternos com estruturas retas e robustas com grandes ombreiras, usados como símbolo de eficiência e competência no trabalho.

A década de 90, de acordo com Braga (2005) é marcada pelo surgimento de mais tribos e tendências urbanas, um desses estilos foi o minimalismo caracterizado pela simplicidade do traje social, traduzida na elegância de ternos bem cortados e de acabamentos limpos e sem exageros.

Também coexistem juntamente outros estilos como o grunge, os clubbers, as drag queens, demonstrando como a moda era dinâmica e comunicativa. A liberdade era a característica da década, dessa forma as incorporações de um estilo ao outro não só foram possíveis como aconteceram. “A falta de identidade passou a ser a própria identidade [...]. É a metáfora da globalização na moda; [...] a reunificação das Alemanhas em 1990 e, obviamente, a união a aceitação de pessoas conceitos, valores e culturas.” (BRAGA, 2005, p. 101)

Tornou-se possível, assim, encontrar diferentes formas de se vestir dentro de uma mesma classe de trabalhadores e não só entre classes diferentes. A busca pelo terno diminuiu consideravelmente desde a década

supracitada, como reflexo evidente de que “o terno de trabalho começa a ser visto como um uniforme que esconde a identidade do indivíduo do que um traje que a revela.” (CRANE, 2009, p. 343)

Nos anos 2000, a disponibilidade de informações e a intensificação do consumo, possibilitando um maior número de marcas e de produtos voltados ao homem, passaram a interferir diretamente na moda masculina. Observa-se uma multiplicidade no vestuário masculino . Braga (2007) afirma que a pluraridade comportamental de moda, do final do século XX, alicerçou um início de século XXI com importantes conquistas (ou reconquistas) masculi nas no que diz respeito ao cuidado com a aparência.

Informado e exigente, o homem contemporâneo, do início do século XXI, legitima-se nos modos resgatando o que sempre o identificou (à exceção de um hiato de cem anos aproximadamente) ao longo da história da moda: a pecaminosa vaidade de aparência instituída pela exigente sociedade de cultura mat erial. (B RAGA, 2007, p.43)

Segundo Barros (1997) o homem contemporâneo abandonou sua maneira usual de vestir-se, para sua integração aos novos tempos, principalmente quando as alterações sociais decorrem para um novo modo de vida. Estas mudanças possibilitaram novas formas de representar a masculinidade como o metrossexual, proveniente da junção das palavras metrópole e heterossexual, caracterizado pelo homem urbano excessivamente preocupado com a aparência e a moda e com elevado sentido estético. O autor afirma que, vivemos a era do homem bem informado dando inicio a um novo ciclo masculino, no qual eles se sentem libertos de restrições em seu vestuário e procuram por meio da roupa e da aparência construir uma nova imagem.

As transformações que os conceitos de masculinidades e identidades vêm experimentando são reflexos das mudanças pelas quais a sociedade, de modo geral, vem enfrentando na contemporaneidade. Como afirma (OLIVEIRA, 2004 p.106) “Só é possível entender o valor social que a masculinidade possui no momento em que pudermos entender sua imbricação com outros ideais societários e outros sistemas simbólicos”. As sociedades modernas são essencialmente sociedades de mudança constante e rápida, a revolução tecnológica e a globalização causaram um impacto sobre a identidade cultural.

Hall (2001) afirma que a crise de identidade decorrente do amplo processo de mudanças ocorridas nas sociedades modernas. Tais mudanças se caracterizam pelo deslocamento das estruturas e processos centrais dessas sociedades, abalando os antigos quadros de referência que proporcionavam aos indivíduos uma estabilidade no mundo social. Assim, não observamos apenas novas e múltiplas possibilidades de masculinidade, mas sujeitos constituídos de diferentes identidades, identidades fragmentadas edificadas por relações, em sua maioria efêmeras, que se dão pela aparência (MAFFESOLI, 1996). E neste processo de construção e entendimento das identidades, a roupa por meio de seu conceito estético, se constitui um elemento fundamental, que pode ser exemplificado na citação de Caldas (1997):

Cert amente a roupa nunca representou tanto uma atitude que envolvesse comodidade, naturalismo, e auto-afirmação como agora. Se moda é importante porque engloba criatividade e evolução, mais important e é que o homem começou a descobrir que pode também ser criativo na busca de um estilo pessoal e que é quem mais contribui para que surjam mudanças que pouco a pouco vão sendo incorporadas no seu estilo. Como nunca, os homens se sentem realmente libertos para abandonar restrições que determinam o vestuário, e procuram na roupa a sua própria imagem. (CA LDAS, 1997, p.

136).

As escolhas que o ser masculino faz ao se vestir, construindo assim sua aparência, tornam-se importantes ferramentas para compreender seu modo de ser e estar no mundo. Na transição do século XX ao XXI o homem tem muitas possibilidades de construir esta aparência, e se expressar de diferentes formas, o que foi entendido como “novo homem” como afirma Caldas (1997), que, entretanto, tratava-se do sujeito acompanhando o espírito de seu tempo e usufruindo das diferentes possibilidades de “modos de ser”, tão característico da contemporaneidade.

Em síntese a moda como linguagem nos permite então visualizar mudanças do universo masculino. De forma consistente, a análise do vestuário masculino se apresenta um terreno fértil de pesquisa, compondo um conjunto de significados que traduzem simbolicamente informações sobre os indivíduos, seus modos de ser e modos de vida, possibilitando um melhor entendimento de como vivem, pensam e agem os sujeitos em cada tempo.

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