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Modalidades de estruturação da Avaliação de Desempenho

5. Estruturação social da Avaliação de Desempenho

5.1 Modalidades de estruturação da Avaliação de Desempenho

As normas sociais de construção das práticas dos actores organizam-se através de três modalidades de estruturação: a significação, a legitimação e a dominação, sendo que “ as estruturas de significação devem ser compreendidas sempre em conexão com estruturas

de dominação e legitimação”120. Estas modalidades são recrutadas pelos agentes no decorrer das práticas sendo simultaneamente,” os meios de reprodução das componentes estruturais dos sistemas de interacção” 121, as” reservas de conhecimento” 122 e os “ recursos empregues pelos actores na produção da interacção.” 123

A significação relaciona-se com a atribuição de significados que desenvolve o conhecimento e regula o comportamento do agente social, isto é, a significação é a produção de sentido das práticas sociais. “ As organizações são constituídas por um vasto conjunto de significados socialmente partilhados que orientam a actividade diária.” 124 A significação permite ao agente social, mediante um processo de negociação com os outros, atribuir significados às suas práticas. Na organização um dos principais veículos para a partilha de significados é a comunicação em situação de co – presença.

Para que uma prática seja socialmente aceite na organização é necessário, antes de mais, que exista uma partilha de significados, o que significa que para implementar um processo de mudança é necessário antes de mais, criar um sistema de significados conhecidos por todos os agentes da autarquia. Desta forma para introduzir na autarquia o processo de mudança é importante falar sobre o que a avaliação de desempenho, a sua utilidade, os seus objectivos e os resultados esperados, prevendo os possíveis desencontros de significados originados pelas diferenças sociais e culturais dos agentes, uma vez que a comunicação só é possível e eficaz quando o significado é percebido tanto pelo emissor como pelo receptor.

A realidade social da autarquia surge de uma construção dialéctica baseada no consenso dos actores sociais, alcançado através da partilha de significados e da legitimação “ a ordem institucional outorgando validade cognoscitiva a seus significados objectivados.”125 “ A legitimação procura aproximar as práticas à norma (…) permite justificar e explicar, atribuir sentido às coisas e práticas do dia a dia, organizar as definições sociais dos factos, fornecer orientações normativas e explicar porque as coisas são o que são.” 126 A legitimação das práticas é feita através de quatro níveis: o primeiro nível de legitimação, designado por pré - teórico “acha-se presente logo que um sistema de

120 GIDDENS, Anthony (1989) A Constituição da Sociedade, São Paulo: Martins Fontes;

121 GIDDENS, Anthony (2000) Dualidade da Estrutura, Agência e Estrutura, Oeiras: Celta Editora; 122 Idem, Ibidem;

123 Idem, Ibidem;

124 DOMINGUES, Ivo (2000) Gestão de Qualidade nas organizações industriais: procedimentos, práticas e paradoxos, Oeiras:

Celta Editora;

125 BERGER, Peter e LUCKMAN, Thomas (1994) A Construção Social da Realidade – Tratado de Sociologia do Conhecimento,

Petrópolis: Vozes;

objectivações linguísticas da experiência humana é transmitida. Pertencem a este nível de legitimação (…) todas as afirmações do tipo, é assim que se faz as coisas.” 127

O segundo nível de legitimação designado por nível teórico: “ contém proposições teóricas de forma rudimentar,128esquemas explicativos que se referem a conjuntos de significações objectivas, fundamentalmente pragmáticos, relacionam-se directamente com acções concretas. A este nível estão associados os provérbios, os axiomas morais, etc.

O terceiro nível de legitimação, o nível explicito “corresponde ao das teorias explícitas, corpos de conhecimentos mais integrados e que recorrem a referências cognitivas mais vastas, podendo mesmo suportar-se em teorias científicas.” 129 Este tipo de teorias legitimadoras, “devido à sua complexidade e diferenciação são frequentemente confiadas a pessoal especializado que as transmitem por meio de procedimentos de iniciação formalizados.”130

Para finalizar, o quarto nível de legitimação diz respeito aos universos simbólicos “ que se referem a realidades diferentes das pertencentes à experiência da vida quotidiana”131, à produção de significados. Quando observam realidades diferentes das suas, os agentes sociais atribuem-lhe significados e símbolos, produzem a legitimação por meio de totalidades simbólicas inalcançáveis na prática.

No interior da organização existem alguns agentes que, quer pela posição que ocupam quer pelo seu carácter ou conhecimento técnico, poderão tornar-se legitimadores e encarregar-se de integrar e legitimar os significados das práticas dos agentes que interagem no seio de uma organização. Na autarquia em estudo será de todo pertinente trabalhar numa primeira fase com os chefes de divisão e de secção e alguns funcionários chave (uma vez que não é de todo impossível supor que alguns daqueles que se encontram socialmente em posições de subordinação possam compreender melhor as condições de reprodução social do que aqueles que noutros aspectos os dominam), para que a legitimação da avaliação de desempenho possa chegar a “bom porto”.

Falar em significação (permitida pela comunicação e pelo uso de esquemas interpretativos partilhados) e legitimação (assente na moralidade e nas regras morais) não fará sentido sem a dominação (facilitada pelo uso de meios e recursos). Todos aqueles que tem capacidade para criar significados, têm também a fonte do poder, que se apresenta não

127 Idem, Ibidem; 128 Idem,Ibidem;

129 DOMINGUES, Ivo (2000) Gestão de Qualidade nas organizações industriais: procedimentos, práticas e paradoxos, Oeiras:

Celta Editora;

130. BERGER, Peter e LUCKMAN, Thomas (1994) A Construção Social da Realidade – Tratado de Sociologia do Conhecimento,

Petrópolis, Vozes;

como um recurso mas como uma propriedade da acção que se revela através das regras e dos recursos. Tem um duplo sentido, “ enquanto algo que se encontra institucionalmente envolvido nos processos de interacção, e enquanto algo utilizado para obter determinados resultados. Podemos definir o poder como a capacidade dos actores sociais alcançarem os resultados esperados, exerce-se através da utilização de regras e recursos e pode ser utilizado ou economizado para ser utilizado sempre que necessário.” 132

Segundo Giddens, a reprodução das regras e das estruturas envolve a comunicação de sentido e o exercício de poder e a avaliação da conduta. Tal como afirma o autor a acção implica meios para alcançar os fins e o poder representa a capacidade do agente para mobilizar os recursos que operacionalizam esses meios. Poder é a capacidade transformadora da acção, a capacidade do agente em intervir em acontecimentos e alterar a sua evolução. Quando se fala em poder na teoria da estruturação significa falar em assegurar resultados quando estes dependem da agência de outros, ou seja falar em poder equivale a falar em dominação, disparidade na distribuição dos recursos. A dominação descreve a dimensão estrutural das relações na organização em que os diversos recursos são desigualmente distribuídos pelos agentes e poder significa o uso desses recursos pelos agentes nas interacções diárias. Estes recursos não existem à priori mas são mobilizados no âmbito das interacções concretas. A acção humana ainda que orientada por normas, pode- se desenvolver de acordo com estratégias que gozam de um certo grau de liberdade quanto à interpretação das normas e que permitem alianças que podem, por sua vez, alterar as relações de força entre os agentes e promover a mudança. As estruturas de dominação (políticas, económicas, teóricas, etc) aliam-se aos recursos alocativos e autoritários utilizados pelos agentes nas interacções diárias. Normas e significados partilhados no contexto organizacional podem ser legitimadas nas práticas do dia a dia por intermédio dos recursos.

Por último, para remodelar a organização em estudo é necessário ter em conta que esta é povoada por agentes inteligentes e que a aplicação do conhecimento devidamente ministrado poderá influir na remodelação e na criação de novas formas de “viver”. A reflexividade será o motor que impele os agentes para a ambientação na mudança e à confiança para seguir em frente restabelecida na crença em sistemas peritos e na mutualidade da auto-revelação nas relações interpessoais.

132 DOMINGUES,Ivo (2000) Gestão de Qualidade nas organizações industriais: procedimentos, práticas e paradoxos, Oeiras: