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2. ACESSIBILIDADE AO AUDIOVISUAL: OS SURDOS, A TRADUÇÃO E AMBIENTES DE ACESSO

2.3 A TRADUÇÃO DO AUDIOVISUAL PARA OS SURDOS

2.3.2 Modalidades de tradução aplicadas ao audiovisual

No contexto do audiovisual a tradução intersemiótica pode ser entendida como a codificação do conteúdo produzido em um meio sonoro ou visual para um código escrito ou vice-versa. É possível se falar em tradução intersemiótica quando ocorre a produção de legendas do tipo closed-captions, onde o áudio do vídeo em português deve ser representado em um meio escrito em sincronia com o conteúdo principal.

A tradução intersemiótica também ocorre quando o conteúdo original está na Língua Oral (LO), no caso o português, e passa a ser apresentado na Libras, numa representação gestual.

A tradução intersemiótica também é referênciada pelo termo ‘intermodal’, conforme afirma Segala (2010) quando se refere à tradução da Libras para o português.

A recodificação de uma mensagem originalmente produzida em Libras (língua gestual-visual) para o Português (língua oral-auditiva) enquadra-se no que vem sendo chamado de tradução intermodal (SEGALA, 2010, p. 27).

Abordagens de tradução intermodal apoiada por computadores são exemplificadas por Maurer, Stubenrauch e Camhy (2003):

Sistemas computacionais de apoio a tradução entre línguas orais e línguas gestuais - em ambas as direções - estão disponíveis em versões experimentais ou comerciais. Uma abordagem experimental de reconhecimento baseado em luvas de dados é apresentado por Kadous (1995), e uma abordagem baseada no reconhecimento por visão computacional é apresentado por Holden, (2001). A tradução da fala para os sinais é demonstrado no projeto da união europeia VISICAST e foi trazida ao mercado por meio de

produtos como iCommunicatorTM

(www.myicommunicator.com) e o

SigningAvatarTM (www.vcom3d.com)

(MAURER; STUBENRAUCH; CAMHY, 2003, p.335, tradução nossa).

Nascimento (2011) apresenta um estudo sobre a interpretação da Libras em telejornais onde identifica estratégias para produção de significados utilizados pelos intérpretes. De modo a oferecer acessibilidade ao texto jornalístico, é sugerida a aplicação do princípio da redundância, ou seja, oferecer meios multissensoriais para o acesso à informação, no caso, a apresentação de legenda escrita em português ao mesmo tempo que oferece a legenda com Libras.

Por sua vez, a tradução interlinguística consiste na conversão do conteúdo de uma língua para outra língua. Em relação ao audiovisual, a tradução interlingüística auxilia o espectador a entender o contexto de uma língua para outra (LU, 2010). Ela é aplicada na veiculação de conteúdos importados, como séries de TV ou documentários, produzidos em uma língua estrangeira, como o inglês ou espanhol, e traduzidos para a língua portuguesa. Nestes casos o conteúdo é traduzido de uma língua estrangeira para uma língua nativa.

A tradução interlinguística pode ocorrer sem que haja mudança do meio de comunicação, como na dublagem, em que a mensagem é codificada no meio sonoro.

Basicamente, quando se traduz um filme ou série de televisão, os tradutores tendem a retratar à sua audiência o espírito e essência do trabalho, ao invés de esforçarem-se em fornecer uma tradução literal e pura das palavras faladas. Já em programas de noticias e documentários, o tradutor prefere permanecer próximo ao diálogo original de modo a assegurar que sua audiência receba os fatos essenciais, de modo que preocupações estéticas assumem menor importância (PETTIT, 2004, p. 37, tradução nossa).

A tradução para legendagem em texto “consiste em passar um discurso oral para uma ou duas linhas escritas, ao mesmo tempo que se passa de uma língua para outra”, onde ocorre “a passagem de um código oral a outro escrito, para além da tradução interlinguística propriamente dita” (FERNANDES, 2003, p.39, tradução nossa).

No caso de tradução do português para a Libras, além de uma tradução intersemiótica, ocorre a tradução interlingüística. Cabe ressaltar que

O Tradutor intermodal e intersemiótico /interlinguístico deve conhecer as duas línguas e suas articulações em duas modalidades diferentes. O desconhecimento ou a falta de fluência pode comprometer as traduções e resultar na insatisfação dos leitores usuários da Língua Brasileira de Sinais (SEGALA, 2010, p.30).

Na tradução de audiovisual, é necessário o acesso prévio do intérprete aos materiais que serão apresentados de modo que este tenha uma referência para a interpretação. Além disso é comum o uso de recursos de expansão e compressão durante a interpretação de modo que a fala do intérprete seja simultânea com a do locutor (NASCIMENTO, 2011). Para a expansão ou compressão do conteúdo apresentado, a tradução intralinguística mantém a mesma língua e o mesmo meio de representação da mensagem na origem e no destino da tradução.

É possível analisar a tradução intralinguística nos meios de representação oral, gestual e escrito. O objetivo deste tipo de tradução no contexto da legendagem do audiovisual é condensar o conteúdo de modo a torná-lo mais acessível às audiências. A tradução intralinguística auxilia surdos ou aprendizes de uma segunda língua e ocorre dentro da mesma língua, e no caso dos surdos, consiste em uma estratégia interessante quando se simplifica a linguagem utilizada pelos ouvintes de modo a facilitar a leitura da mensagem.

Na tradução intralinguística, a edição pode ser entendida como “não dar Surdos tudo o que é dado aos ouvintes”, pois transcrever cada palavra, não serve às necessidades desse público específico. Deve-se remover a informação supérflua, introduzir notas explicativas, tornar explícito o implícito (NEVES, 2005).

Há também uma adaptação da linguagem diante a variação linguística decorrente dos espaços geográficos, dentro da própria Libras, conforme destaca Avelar (2010) a respeito da tradução em um cenário de ensino a distância.

deve haver respeito à variação linguística de cada ator-tradutor surdo, nas situações cotidianas de interação e também quando traduz livros especificamente para a região de onde é. Mas [..] é preciso levar em consideração que os atores- tradutores surdos são contratados para atenderem a um público bastante diversificado e têm aí a oportunidade de introduzir sinais novos na língua

para todos os alunos do Brasil. Por essa razão, os sinais devem estar padronizados (AVELAR, 2010, p.71).

O quadro a seguir sintetiza as diferentes modalidades de tradução onde se desenvolvem as estratégias de oferta de acesso ao audiovisual. O foco está na tradução do português para a Libras ou então na tradução intralinguitica da Libras, de modo que as lacunas referentes à tradução da Libras para o português não são analisadas.

Quadro 4: modalidades de tradução para o acesso do surdo ao audiovisual e artefatos resultantes

Fonte: os autores

Português Libras

Oral Escrito Gestual Escrito

P or tug uê s O ra l Intralinguística Dublagem oral Intersemiótica e intralinguística, produzindo legendas textuais em português a partir da informação sonora Intersemiótica e interlingüística, resultando em legenda com intérprete de LS Intersemiótica e interlingüística, gerando texto em escrita de sinais E sc ri to Intralinguística, permitindo a criação de legendas com diferentes níveis de condensação de conteúdo Intersemiótica e interlinguística, resultando em vídeo com intérprete de LS Interlinguístico, gerando texto em escrita de sinais L ibr as G es tua l Intralinguístico, refletindo diferenças de interpretação devido às diferença regionais, resultando em vídeo com intérprete de LS Intralinguística e intersemiótico, produzindo legendas textuais em sistema de escrita de sinais E sc ri to Intralinguística

que gera legendas multiníveis em escrita de sinais, podendo haver variação no sistema de escrita utilizado

Os artefatos resultantes das possibilidades de tradução descritas acima são o vídeo com intérprete, a legenda textual em português e a legenda em escrita de sinais.