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As empresas de capital aberto podem recomprar ações via tender offer (oferta pública de aquisição), open market (mercado aberto), e private purchase (compra privada). A modalidade tender offer pode ser segregada em duas, fixed price (oferta pública a preço fixo) e dutch- auction (leilão holandês de oferta pública) (VERMAELEN, 1981; DITTMAR, 2000).

A) Tender Offer

A.1) Fixed Price Tender Offer (oferta pública a preço fixo)

No Brasil, a Fixed Price Tender Offer é conhecida como oferta pública a preço fixo de ações, onde a empresa se oferece a comprar um determinado número de ações a um valor preestabelecido, com data também acordada anteriormente, essa prática é válida por período de tempo determinado, normalmente de três semanas a um mês após a oferta, lembrando que pode haver uma quantidade mínima de ações a serem compradas pela empresa. A oferta pública é considerada uma forma eficaz para os gestores transmitirem informações sobre a rentabilidade futura da organização, ou para sinalizar ao mercado a sua crença de que a empresa está subavaliada (GRULLON, IKENBERRY, 2000).

A.2) Dutch-Auction Tender Offer (leilão holandês de oferta pública)

A diferença para a prática anterior é de que o preço é definido ao final do processo, ou seja, os gestores consultam os acionistas para assim chegar ao preço final, em vez de ser definido inicialmente pela administração. O preço nessa modalidade é fixo. Além de serem previamente definidos; a quantidade de ações que a empresa pretende recomprar, o prazo para se efetuar a recompra, e possíveis preços para as ações. Com isso, os acionistas podem oferecer ou não suas ações dentro dos preços preestabelecidos, e a empresa vai comprar partindo do menor valor até completar a quantidade desejada, formando assim uma espécie de leilão de preços mais baixos (GABRIELLI, SAITO, 2004).

B) Open Market

Esse processo em mercado aberto envolve a recompra de ações em pequenas quantidades no dia a dia, aproveitando as melhores oportunidades em termos de valor das ações. As empresas têm preferido esse método, onde não é necessário fixar o preço das ações nem a quantidade recomprada, apesar que esse método envolve custos extras, como comissões e taxas. Gera a possibilidade para a empresa de não recomprar ações caso as mesmas estejam sobre

avaliadas e de comprar em maior escala na hipótese de que o preço das ações demonstrem-se subavaliados (GRULLON e IKENBERRY, 2000).

C) Private Purchase

Essa modalidade, chamada no Brasil de compra privada, consiste na empresa negociar diretamente com o acionista por determinada quantidade de ações. A iniciativa pode ser tomada tanto pela empresa, no intuito de recomprar, quanto a procura pode ocorrer pelo investidor externo ou acionista, quando o mesmo não se interessa mais em ficar com os papéis, lembrando que a empresa deve concordar com a reaquisição (VERMAELEN, 1981).

Bens et al. (2003) encontraram que as recompras de ações são decisões dos gestores afetadas por seus incentivos para gerir o lucro e impactar assim o valor das ações, portanto, em alguns casos, os gestores reduzem o resultado da empresa para comprar ações subavaliadas, e gerar ganhos anormais em períodos futuros. Kahle (2002) documenta também evidências de que as empresas recompram ações como forma de distribuição de dividendos, de maneira a remunerar seus acionistas, em alguns casos os seus funcionários.

No entanto, as empresas que anunciam planos de recompra tem um ano após o anúncio para praticar a recompra, existindo inclusive a possibilidade de não realizar a recompra de ações. Há discrepância entre o número de ações efetivamente adquiridas e o número de ações anunciadas a serem recompradas. Stephens e Weisbach (1998) mostram que apenas uma fração das ações anunciadas para recompras de mercado aberto de fato ocorrem.

Fried (2005) documenta evidência de que os gerentes impulsionam os preços das ações ao anunciar programas de recompra que não pretendem implementar. Ou seja, enquanto alguns autores (VAFEAS, et. al, 2003; RODRÍGUEZ, YUE, 2008; FARREL, UNLU, YU, 2013) sugerem que podem haver práticas de gerenciamento de resultados no intuito de reduzir o lucro no momento pré recompra de ações, para adquiri-las à preços subavaliados, na literatura também é encontrado o aumento manipulado do lucro caso o objetivo seja anunciar a recompra de ações e não praticá-la.

Essa estratégia corrobora com a teoria acerca de recompra de ações. No momento em que a empresa anuncia a recompra de ações, ocorre uma sinalização para o mercado de que as ações estão subavaliadas, e com isso existe a possibilidade de gerar um aumento na demanda pelas ações da empresa. Supondo que a empresa tenha gerenciado seu resultado para aumentar seus

lucros, é conveniente que a empresa não efetue a recompra das ações, pois, nesse caso, recompraria a preços sobreavaliados.

Os gestores ou executivos têm informações privilegiadas acerca do valor de uma empresa, isso gera a possibilidade da utilização dessas informações no momento de recomprar ações. Assim, devido à assimetria de informação entre gestores e acionistas externos, interesse ou motivações pessoais do gestor, pode ocorrer a recompra de ações em valores elevados (LIN, et. al, 2008).

Analisando a bolsa de valores de Hong Kong, Brockman e Chung (2001), encontraram evidências de que os gestores passaram a recomprar ações devido à informações privilegiadas, para beneficiar acionistas majoritários em detrimento a acionistas minoritários. Por outro lado, acionistas e investidores conseguiram detectar essa movimentação, afetando diretamente a liquidez das ações das empresas pesquisadas.

Cerca de 27% das empresas listadas na bolsa de valores de Hong Kong praticaram recompra de ações na década de 1990, foram percebidas 5111 recompras, totalizando 2,17 bilhões de ações, com valor de 2 bilhões de dólares. Cada empresa recomprou cerca de 27 vezes suas ações, dentre as que praticaram o negócio (BROCKMAN, CHUNG, 2001).

Nos 5 anos de 1995 a 1999, de acordo com Grullon e Ikenberry (2000), mais de 5.900 empresas norte-americanas anunciaram planos de recompra, aproximadamente US$ 780 bilhões em ações. Damodaran (2014) além de enfatizar o aumento nos programas de recompra na década de 1990, ainda destacou que esses programas chegaram ao seu ápice em 2007, atingindo um valor superior a um trilhão de dólares em recompra de ações, chegando em 2013 no valor de 700 bilhões de dólares, no mercado norte americano.

No Brasil existe um grande movimento de recompra de ações a partir da década de 1990, a mesma é conhecida como recompra a mercado aberto. A possibilidade de reaquisição de ações no Brasil teve sua primeira regulamentação lei 6404 de 1976, porém somente em 1997 houve uma expansão significativa na prática, chegando a valores próximos a R$ 2,0 bilhões, hoje, a regulamentação passa pela Instrução da Comissão de Valores Mobiliários número 567 de 2015. Além disso nota-se um aumento nos programas de recompra em períodos de crise, tanto em âmbito nacional como internacional (MOREIRA, 2000). Nos anos 2000, especialmente no fim da década, quando o mundo passava por mais uma crise econômica, os programas de recompra foram maximizados, países como Estados Unidos chegaram a aumentar 70% em recompra no setor imobiliário (GAUDI, NASCIMENTO e NOSSA, 2011). O momento desafiador vivido

no Brasil hoje, pode significar uma boa oportunidade para empresas recomprarem seus papéis. Segundo os dados do site da Comissão de Valores Mobiliários (CVM), a partir de 2015 houve um incremento nas empresas que anunciam programas de recompra de ações.

Os gerentes utilizam a ferramenta de recompra de ações como um dispositivo substituto para incrementar o valor da empresa. A recompra de ações visa demonstrar ao mercado, confiança de que as operações da empresa acarretarão em aumento dos resultados ao longo do tempo, pois se a própria empresa está comprando suas ações, a mesma acredita que elas estão subavaliadas com potencial de aumento no futuro (LIN, et. al, 2008).