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Modalidades – oralidade e escrita A título de ilustração, citaremos alguns domínios

Critérios e Estratégias de mediação da Aprendizagem

2. Modalidades – oralidade e escrita A título de ilustração, citaremos alguns domínios

discursivos (científico, jornalístico, religioso, instrucional) assim como exemplificaremos alguns gêneros pertencentes à modalidade escrita (artigos científicos, notícias, receitas culinárias) e alguns pertencentes à modalidade oral (entrevistas , debates, comunicações, etc).

3 Intuitivamente, entendemos como suporte de um gênero um locus físico ou virtual com formato específico que

serve de base ou ambiente de fixação do gênero materializado como texto. Numa definição sumária, pode-se dizer que suporte de um gênero é uma superfície física em formato específico que suporta, fixa e mostra um texto. ( MARCUSCHI, 2003, p.3)

Após esclarecer os conceitos de texto, tipo e gênero textual, abordaremos a seguir alguns aspectos relevantes, sobre o uso de gêneros textuais no ensino de línguas.

As funções comunicativas dos gêneros textuais, por exemplo, são apontados por Meurer (2000, p. 152-153) como um dos fatores de grande importância para sua utilização em sala de aula. Os demais fatores são os seguintes:

1. os gêneros textuais podem reproduzir ou transformar a cultura dos povos pois seus conhecimentos, “sua identidade, seus relacionamentos sociais e sua própria vida são em grande parte determinados pelos gêneros textuais a que estão expostos, que produzem e ‘consomem’.”

2. os gêneros textuais oferecem um contexto para as modalidades discursivas orais e escritas o que pode servir de motivação para o aluno aprender a língua materna assim como a língua estrangeira.

3. os gêneros textuais possibilitam sua análise não apenas em termos das suas regularidades típicas como também das regularidades nas esferas sociais. Em outras palavras, o estudo dos gêneros textuais possibilita uma análise que contemple aspectos da sua textualização, associados a uma reflexão sobre aspectos socioculturais explícitos ou implícitos no texto.

A importância dos gêneros textuais no ensino de línguas é, pois, incontestável. Existem, porém, alguns desafios a enfrentar decorrentes de problemas que envolvem perspectivas teóricas diferentes e, conseqüentemente, abordagens pedagógicas diversas.

No que se refere a problemas teóricos, Meurer (2000, p.151) afirma que “se sabe ainda muito pouco sobre a linguagem efetivamente utilizada nos diferentes contextos das atividades humanas características da cultura moderna, sendo que muitos gêneros textuais (a grande maioria, de fato) não foram ainda descritos e analisados.”

Tomando a falta de descrição dos gêneros textuais como ponto de partida, nos deparamos com dificuldades práticas que podem ocorrer quando, principalmente, um professor de língua estrangeira auxilia seu aluno a identificar o gênero textual, baseando-se em suas características peculiares, a saber:

1) “conteúdo temático: o que é e o que pode tornar-se dizível por meio do gênero; 2)construção composicional: estrutura particular dos textos pertencentes ao gênero; 3) estilo: configurações específicas das unidades de linguagem derivadas, sobretudo, da posição enunciativa do locutor; conjuntos particulares de seqüências que compõem o texto etc. ( BAKHTIN,1992, p. 21, apud BIASI-RODRIGUES,2002,p.55).

Definindo o que entende por seqüências, Adam, (1987, p.21, apud Biasi-Rodrigues, 2002, p. 55-56) afirma que:

as seqüências são conjuntos de proposições hierarquicamente constituídas, compondo uma organização interna própria de relativa autonomia, que não funcionam da mesma maneira nos diversos gêneros e nem produzem os mesmos efeitos: assumem características específicas em seu interior. Podem se caracterizar como narrativa, descritiva, argumentativa, expositiva e conversacional.

A respeito da dificuldade de identificar os gêneros textuais, Marcuschi (2001, p.1) faz a seguinte assertiva:

[...] todos os textos empíricos realizam algum gênero textual, mas[ ...] nem todos os textos desenvolvem apenas um tipo de texto. Pois os tipos textuais, como se sabe, caracterizam-se como seqüências típicas e um dado texto é enquadrado num tipo pelo predomínio de um dado tipo de seqüência. Além disso, é interessante ter em mente que há certos gêneros que realizam preferencialmente certas seqüências e por isso se confundem com o tipo.” Esse é o caso do conto que é confundido com narrativa.

Além da carência de resultados científicos baseados em pesquisas empíricas que ofereçam ao professor as características peculiares de, pelos menos, alguns dos muitos

gêneros mais utilizados na nossa sociedade globalizada, o professor de línguas se depara com outro desafio. Esse desafio refere-se ao preparo necessário que o capacite selecionar abordagens condizentes com perspectivas teóricas que favoreçam a reflexão crítica dos textos assim como a interação na sala de aula. De outra forma, o ensino mediante gêneros textuais denotará apenas um aparente progresso teórico-pedagógico, perpetuando as análises de cunho meramente lingüístico-estruturais do texto.

Outro aspecto relevante, no que se refere ao uso de gêneros textuais em sala de aula, refere-se a como analisá-los criticamente, considerando-se que “neles e através deles os indivíduos produzem, reproduzem ou desafiam a realidade social na qual vivem e dentro da qual vão construindo sua própria narrativa pessoal”. MEURER (2002, p.18).

Para tanto, esse autor baseou-se em grande parte na Análise Crítica do Discurso (ACD) e na noção de que o discurso tem um poder construtivo tríplice de 1) representar a realidade de diversas maneiras ao produzir e reproduzir conhecimentos e crenças; 2) estabelecer relações sociais; 3) criar, reforçar ou reconstituir identidades.

Defendendo essa perspectiva de análise dos gêneros textuais, Meurer (2002, p.20) apresenta a transcrição de uma narrativa pessoal de um atropelamento, que poderia ter resultado em conseqüências irreversíveis para a vítima. Surpreendentemente, porém, ela narra o fato em tom jocoso demonstrando ainda achar natural que um motorista tenha o direito de decidir quando o pedestre pode ou não atravessar a rua, como veremos no excerto abaixo:

Eu vinha passando lá na... [...]. Aquela rua ali. Vinha passando ali. Tinha dois carros. Aí uma senhora veio no fuça. Aí mandou eu parar. Aí eu parei. Parei. Atravessar a rua. Parei. Ela garrou, mandou eu passar. Quando eu passei, ela botou o carro em cima.”

A importância da abordagem de Meurer na análise dos gêneros textuais reside no fato de que a construção da cidadania, um dos objetivos do ensino defendidos nos PCN, requer a

conscientização das responsabilidades e direitos dos indivíduos numa sociedade com a conseqüente disposição de lutar para garanti-los sempre que se fizer necessário.

Considerando-se que os gêneros textuais expressam o conteúdo comunicativo de um grupo social, representado num determinado texto pelo discurso de um indivíduo, cabe ao professor auxiliar o aprendiz a ter uma visão crítica de sua mensagem, aprendendo a ler nas entrelinhas, inferindo o não-dito. Dessa forma o aluno aprenderá a reagir para mudar a realidade vigente, assumindo o seu direito de se posicionar perante os outros membros da sociedade, pois o grande perigo de não se ler criticamente um texto é ser incapaz de se defender de possíveis manipulações ideológicas já que, segundo (Fairclough, 1989, p.85; apud Meurer,2002, p.28), “a ideologia é mais efetiva quando sua ação é menos visível”.

A seguir apresentaremos o quarto capítulo que informa ao leitor sobre a metodologia utilizada para a coleta de dados.