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3 EFEITOS SUCESSÓRIOS NO CÓDIGO CIVIL BRASILEIRO DE

3.2 Modalidades de Sucessão

Suceder, conforme pressupõe Maria Berenice Dias85 86, significa substituir, tomar o lugar de outro. Em sentido geral, seria a sequência fenômenos ou fatos que aparecem uns após os outros, sendo eles interligados entre si. Sob a perspectiva jurídica, a sucessão seria a substituição do titular de um direito, a qual se daria tanto por vontade das partes, inter vivos, como em razão da morte, mortis causa.

No mesmo sentido, manifesta-se Paulo Nader87, esclarecendo ainda o objeto de estudo do Direito das Sucessões:

O vocábulo sucessão provém de succedere e significa substituir alguém. Na esfera jurídica, dá-se a sucessão também entre pessoas vivas, perspectiva que escapa, todavia, à presente área de estudo. Por ato inter vivos, a sucessão ocorre em

83 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, v. 6: direito das sucessões. 5ª ed. ver e atual. Rio de Janeiro:

Forense, 2013. P-37.

84 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3ª ed., rev., atua. e ampl. - São Paulo: Editora Revista dos

Tribunais, 2013. P – 137-138

85 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3ª ed., rev., atua. e ampl. - São Paulo : Editora Revista dos

Tribunais, 2013. P-32

86 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3ª ed., rev., atua. e ampl. - São Paulo : Editora Revista dos

Tribunais, 2013. P-99

87 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, v. 6: direito das sucessões. 5ª ed. ver e atual. Rio de Janeiro:

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diferentes modalidades de transmissão das obrigações: na cessão de crédito, o credor é substituído por terceiro; na assunção de dívida, a sucessão se opera no polo passivo; na cessão de contrato, terceiro sucede uma das partes na totalidade dos seus direitos e obrigações, ocupando a sua posição. Pelos contratos de compra e venda, troca e doação verifica-se a sucessão inter vivos de direitos.

O Direito das Sucessões regula apenas a substituição de titularidades em decorrência do fenômeno morte. Em sentido estrito, sucessão significa apenas a transmissão mortis causa.

Conforme aduziu o autor, não cabe, em uma análise do Direito Sucessório, estudar a transmissão de bens inter vivos, vez que o mesmo trata da transmissão de bens, direitos e obrigações, em razão da morte de uma pessoa aos seus sucessores. Portanto, o presente trabalho debruçar-se-á sobre os efeitos da sucessão mortis causa.

Divide-se, o nosso ordenamento jurídico, segundo Washigton de Barros Monteiro88, em duas formas de sucessão mortis causa: a legítima e a testamentária.

3.2.1 Sucessão Legítima

O artigo 1.786 do Código Civil aduz que: “A sucessão dá-se por lei ou por disposição de última vontade.”

Uma vez que os procedimentos da sucessão aconteçam por força de lei, ou seja, os sucessores são definidos no corpo do próprio ordenamento jurídico e não há um testamento válido do de cujus, tem-se a sucessão legítima.

Por tal perspectiva, expõe Paulo Nader89:

A (modalidade de sucessão) que se opera por força de lei é chamada sucessão legal ou legítima. Por ela são convocados a suceder os membros da família e de acordo com a vocação hereditária. A sucessão se faz a título universal90 e sucessores são os

herdeiros. Tem lugar quando o titular do patrimônio não deixa testamento.

Saliente-se aqui a diferença entre os herdeiros legítimos e os herdeiros necessários91. Todos os herdeiros, propõe Maria Berenice Dias92, possuem legitimidade para suceder, visto que a lei os consagra como sucessores de determinada pessoa em relação ao seu

88 MONTEIRO, Washington de Barros. Curso de direito civil, v. 6: direito das sucessões; 38. Ed. São Paulo:

Saraiva, 2011. P-19.

89 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, v. 6: direito das sucessões. 5ª ed. ver e atual. Rio de Janeiro:

Forense, 2013. P-09

90Importante elucidar que “sucessão a título universal” faz parte uma outra classificação sucessória, na qual

observa-se o modo de repartição do patrimônio deixado pelo de cujus. Quando o patrimônio é divido como um todo, pelos sucessores, em quotas não necessariamente iguais, tem-se a sucessão a título universal. Quando define-se, em testamento, a titularidade de cada bem a ser partilhado, tem-se a sucessão a título singular. (NADER, Paulo, 2013. P.09)

91 Art. 1.845. São herdeiros necessários os descendentes, os ascendentes e o cônjuge.

92 DIAS, Maria Berenice. Manual das Sucessões. 3ª ed., rev., atua. e ampl. - São Paulo : Editora Revista dos

41 patrimônio, sendo chamados de herdeiros legítimos. Dentre estes, existem os necessários que, além da legitimidade conferida por lei, não podem ser privados do direito à herança por mera vontade do de cujus.

Deste modo, segundo a autora, criou-se uma divisão da sucessão legítima em necessária e facultativa. A primeira ocorre quando o autor da herança: ou era casado, ou possuía descendentes ou ascendentes, destinando-se, necessariamente, metade do patrimônio sucessório aos referidos herdeiros. A segunda ocorre quando o de cujus ou vivia em união estável ou possuía apenas parentes colaterais até quarto grau, os quais só teriam direito à sucessão se não houvessem herdeiros necessários.

Apesar de não ser considerado um herdeiro necessário, o companheiro faz jus a tal classificação, visto que o artigo 179093 do Código Civil assegura ao convivente o direito de concorrência sobre aquilo adquiriu onerosamente, ao longo da união estável.

Art. 1.790. A companheira ou o companheiro participará da sucessão do outro, quanto aos bens adquiridos onerosamente na vigência da união estável, nas condições seguintes:

I - se concorrer com filhos comuns, terá direito a uma quota equivalente à que por lei for atribuída ao filho;

II - se concorrer com descendentes só do autor da herança, tocar-lhe-á a metade do que couber a cada um daqueles;

III - se concorrer com outros parentes sucessíveis, terá direito a um terço da herança; IV - não havendo parentes sucessíveis, terá direito à totalidade da herança.

Atente-se que o cônjuge é considerado um herdeiro necessário e as diferenças entre este e o companheiro não se resumem a tal classificação, mas também as questões atinentes à ordem de vocação hereditária e a própria concorrência sucessória, que serão melhor analisadas a seguir.

3.2.2 Sucessão Testamentária

Quando houver a manifestação da vontade do de cujus, conforme aduz Paulo Nader94, através de um testamento, verifica-se a existência da chamada sucessão testamentária ou voluntária. Assim, independente se a título universal ou singular, os sucessores testamentários podem ser legítimos ou não.

Observa ainda o mencionado jurista que a existência de herdeiros necessários limita a liberdade de testar do autor da herança, ou seja, este não pode dispor de maneira

93 BRASIL. Código Civil (2002). LEI No 10.406, DE 10 DE JANEIRO DE 2002. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2002/L10406.htm >. Acesso em: 24/10/2015

94 NADER, Paulo. Curso de Direito Civil, v. 6: direito das sucessões. 5ª ed. ver e atual. Rio de Janeiro:

42 absoluta sobre o seu patrimônio, pois é assegurado àqueles a legítima, metade do patrimônio do de cujus. Assim, propõe o ordenamento jurídico que, segundo o artigo 184595 do Código Civil, “pertence aos herdeiros necessários, de pleno direito, a metade dos bens da herança, constituindo a legítima.”

Como foi mencionado, o companheiro, salienta Maria Berenice Dias96, não é considerado de fato um herdeiro necessário, assim; diverso do cônjuge, que tem direito a parte do patrimônio do de cujus; o testador seria capaz de excluir o convivente do rol de sucessores, caso este não tenha amealhado bens na constância da união estável.