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III. ADEQUAÇÃO CURRICULAR A «BOLONHA»

4. Modelação dos tempos curriculares

Um dos objetivos de Bolonha era tornar comparáveis os programas de estudos e os períodos de aprendizagem. Para tal promovia os conceitos de níveis de aprendizagem, objetivos de aprendizagem, desenvolvimento de competências e de créditos ECTS. Este último fator permitia a comparação dos programas em relação à sua dimensão temporal, circunstância considerada necessária para a “transparência” e para a mobilidade e o reconhecimento intercursos.300 Facilitaria ainda a implementação dos programas de estudos, na medida em que oferecia um instrumento para equilibrar a carga de trabalho dos estudantes ao longo das diferentes fases de cada plano.

Não obstante a necessidade de equiparação dos tempos das unidades curriculares, a documentação da reforma não apontava explicitamente para um modelo temporal único, se atendermos à legislação portuguesa de enquadramento ao processo de adequação a Bolonha, ela refere que a organização das “unidades curriculares” pode na realidade ser anual, semestral, trimestral ou outra.301 No entanto, a semestralização seria implementada pelas universidades para organizar os calendários letivos anuais, harmonizando a temporalidade aulas-intervalos letivos a nível institucional.302 Esta medida permitiria um aumento dos ritmos curriculares e da oferta de produtos correspondentes, estando de certo modo em consonância com o princípio de flexibilização dos percursos formativos, materializando uma oferta diversificada de matérias. Não por acaso, a semestralização era em primeira instância a unidade padrão para os cursos Optativos e de matérias complementares, por vezes oferecidas por outras áreas do conhecimento ou por outros departamentos.

300 Cf. relatório Tuning 2008:25.

301 Ver Despacho nº 7287-B/2006 de 31 de Março que instrui os processos de registo da adequação dos cursos em funcionamento, designadamente no seu Anexo II, ponto 3.4, alínea c).

302 A este respeito refere o relatório de adequação da EA-UM: “Os últimos 120 créditos ECTS serão compostos por UC exclusivamente semestrais, o que possibilita uma maior e mais fácil mobilidade a nível de intercâmbios entre escolas europeias, um dos pressupostos da DB”. O mesmo principio aplica-se a unidades de outros cursos no seio da universidade, esta promessa de compatibilidade de calendário entre os vários departamentos, as várias universidades e os vários sistemas universitários europeus, era condição considerada implicitamental para uma potencial frequências partilhada de cursos.

No que se refere ao ensino da Arquitetura nas escolas estudadas, a leitura dos planos de estudos adequados dos cinco casos de estudo permite verificar a resposta ao impacto deste princípio organizativo, designadamente:

Tabela 30: Modelação das Unidades Curriculares Escola 1º Ciclo - Modelação 2º Ciclo - Modelação Precedências EA-UM Laboratório de Desenho,

Geometria, todas as UC de Teoria, História, Laboratórios de Construção são ANUAIS. Projeto, Desenho, Movimentos de Arte, Antropologia, CAD, Estruturas, e Processos de Construção são SEMESTRAIS.

Todas as UC são SEMESTRAIS.

Projeto I para Projeto V Projeto II para Projeto VI Tese:

Projeto de Investigação para Laboratório de Investigação

FAUP Todas as UC são ANUAIS, exceto as de carácter optativo (1º e 3º ano).

Todas as UC são ANUAIS, exceto as de carácter optativo (5º ano).

Projeto 1 a Projeto 2 e Desenho 2; Desenho 1 a Desenho 2; Projeto 2 a Projeto 3;

Projeto 3 a Projeto 4; Projeto 4 a Projeto 5; Só é possível avançar um dado ano, tendo aprovado, todas as unidades de anos anteriores.

d.ARQ-FCTUC Projeto, Desenho, Geometria História e Teoria da Arquitetura são ANUAIS.

Restantes SEMESTRAIS.

Projeto e História são ANUAIS. Restantes SEMESTRAIS.

Não há precedências por força de regulamento da FCTUC. No entanto a sequenciação da UC de Projeto é aconselhada.

FAUL Todas as UC são SEMESTRAIS. Todas as UC são SEMESTRAIS.

Projeto, entre anos curriculares. ISCTE-IUL Todas as UC são s

SEMESTRAIS.

Todas as UC são

SEMESTRAIS, exceto PFA no 9º e 10º semestre, que é ANUAL.

Projeto. Transito de ano desde que não tenha em atraso mais do que 24 ECTS, independentemente do ano e dos créditos. Nota: conforme planos de estudos da adequação a Bolonha. Suplementarmente foram consultados: (1) O Anexo III do Despacho RC/C- 190/2006 da Reitoria da Universidade do Minho. Notamos que o sistema de precedências seria alterado, sendo alargado, em 2011-2012, passando a incluir: 1. Laboratório de Desenho precede Desenho; 2. Projeto I precede Projeto III; 3. Projeto II precede Projeto IV; 4. Projeto III precede Projeto V; 5. Projeto IV precede Projeto VI; 6. Projeto V precede Atelier 1 e Seminário 1; 7. Projeto VI precede Atelier 2 e Seminário 2; 8. Atelier 1 precede Atelier 3; 9. Teoria da Arquitetura I e História da Arquitetura I precede Teoria da Arquitetura III; 10. História da Arquitetura II precede História da Arquitetura III; 11. Laboratório de Construção precede Processos de Construção e Estruturas; 12. Laboratório de Urbanística precede Obrigatória 1 e Obrigatória 2; 13. Projeto de Investigação precede Laboratório de Investigação. Cf. Despacho RT/C-108/2010 da Reitoria da Universidade do Minho. (2) O Regulamento do MIARQ da FAUP de 2011; (3) O Regulamento dos Cursos de segundo ciclo integrado na FCTUC, de 2006-10-09. Cf. artigo 18º - Precedências. (4) Consultados planos de estudos e FUCs da FAUL; (5) Consultados planos de estudos e FUCs do ISCTE-IUL.

A modelação curricular dos cursos estudados pode ser considerada heterogénea. Observamos no entanto que com a exceção do curso da FAUP, as escolas adaptaram-se de alguma forma à temporalidade em semestres, enquadrando-se com a oferta de conteúdos dos restantes cursos das instituições de acolhimento e com os próprios calendários letivos das instituições.

Na EAUM, no primeiro ciclo, há um conjunto de unidades curriculares que se mantêm anuais, no entanto as unidades de Projeto são semestrais, situação acentuada no ciclo seguinte,

onde todas as unidades curriculares passam a semestrais, considerando-se no relatório que nesta fase da formação o “aluno possui já um domínio metodológico capaz de permitir desenvolver competências em períodos mais curtos, razão pela qual se opta pela semestralização, no sentido de facilitar a mobilidade”.303 O plano curricular distingue estruturalmente e pedagogicamente entre ciclos. Em paralelo, a liberalização de precedências entre as unidades semestrais de Projeto permite no 1º ciclo articulações individuais dentro da estrutura proposta pela área de Projeto, assumindo-se que dentro de determinados limites a frequência e hierarquia das unidades de Projeto pode ser alterada, situação que veremos mais adiante. No segundo ciclo a construção de um currículo mais individualizado é ensaiado através da combinação entre a escolha dos ateliês semestrais e a eleição de um tema de investigação final.

No caso do curso da FAUP a separação entre ciclos não é acentuada, o regime curricular mantém-se anual e a hierarquia e rigidez do currículo são totais.304 Como refere o relatório de adequação, “a adequação e a adopção do ciclo de estudos integrado, reafirma o sentido de uma pedagogia com características próprias e definidas, a qual assenta no enquadramento dos seus objetivos e no equilíbrio das suas competências e demais componentes”.305

No d.ARQ-FCTUC, as unidades com “uma natureza mais oficinal, como Projeto, Desenho, Geometria e a Construção”, funcionariam em regime anual, uma vez que estas pretendem “um entendimento da Arquitetura pela via instrumental, evidenciando-a como disciplina que gere a complexidade sem perder a noção do todo e enunciando-a como uma disciplina experimental dada a constante mutabilidade dos fatores que enquadram cada conjuntura conceptual”, mediante um processo que necessita de tempo, admitindo-se todavia que poderia ser aligeirado progressivamente, acompanhando o processo de autonomização dos alunos. Quanto às precedências, não são vinculativas por regulamento da FCTUC, embora o d.ARQ as recomende.306

Os cursos da FAUL e do ISCTE-IUL adotam um regime semestral integral, no entanto mantém precedências a Projeto e uma complementaridade direta entre ciclos, pelo que aparenta

303 Cf. refere o relatório interno da proposta de adequação da licenciatura da Escola de Arquitetura da Universidade Minho, 2006:6.

304 O regulamento do Mestrado Integrado dispõem que “só é possível a inscrição em unidades curriculares de um dado ano curricular, desde que seja feita a inscrição, ou se tenha obtido aproveitamento, em todas as unidades curriculares de anos anteriores”, cfr. artigo 8º, ponto 3, do Regulamento do Mestrado Integrado em Arquitetura da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, 2011.

305 Relatório de Adequação da FAUP (2008:14).

haver uma reestruturação da modelação do currículo e a manutenção, em simultâneo, da hierarquia e a rigidez da estrutura curricular.

O objetivo das precedências é a forçar uma continuidade e integridade entre unidades curriculares, garantindo uma determinada estrutura e homogeneidade do percurso de aprendizagem, interligando matérias e semestres, oferecendo um percurso gradativo. Nas unidades semestrais, o regime de precedências e a repetição de docência entre dois semestres do mesmo ano letivo, encadeia inevitáveis os dois semestres, constituindo tendencialmente um duplo semestre uma mesma unidade.

b. Compressão de ritmos e de tempos letivos

Esta situação de “quase-anualidade” do regime de duplo semestre com precedências é pressionada pela semestralização do calendário académico geral e pela compressão do tempo letivo decorrente. Esta compressão deriva da harmonização dos tempos curriculares e tem como base instrumental o principio de distribuição de créditos, que são entendidos como “unidades de medida de trabalho dos estudantes”.307

A estrutura de créditos (ECTS) implementada baseou-se no princípio de que 60 créditos equivalem à carga de trabalho em tempo integral para um aluno médio concluir um ano curricular, definindo-se ainda que “trabalho de um ano curricular realizado a tempo inteiro situa-se entre 1500 e 1680 horas e é cumprido num período de 36 a 40 semanas”,308de onde decorre que 30 créditos representam um semestre, 20 créditos um trimestre e que uma unidade de crédito corresponderá a um intervalo entre 25-28 horas de trabalho total, incluindo as horas de contacto direto entre aluno e docente e horas de trabalho autónomo.

O número de horas de trabalho total contempla todas as formas de trabalho previstas pela estrutura curricular, designadamente as horas de contacto e as horas dedicadas ao estudo e avaliação, pelo que a fundamentação do número de créditos a atribuir a cada unidade curricular, dependia do tipo de metodologias de ensino309 assim como da relação com o restante currículo, em função da ponderação da carga horária de trabalho semanal expectável. Este balanço entre

307 Cf. o Preâmbulo do Decreto-Lei nº 42/2005 de 22 de Fevereiro.

308 Cf. Decreto-Lei nº 42/2005 de 22 de Fevereiro e o ECTS User’s Guide 2005.

309 Cf. as normas técnicas para a Descrição da estrutura curricular e do plano de estudos, conforme o Anexo II do Despacho nº7287-B/2006 de 31 de Março, designadamete no ponto 3.4, alínea e), distinguiam entre as seguintes metodologias: Ensino teórico (T); Ensino teórico-prático (TP); Ensino prático e laboratorial (PL); Trabalho de campo (TC); Seminário (S); Estágio (E); Orientação tutorial (OT); Outra (O).

horas letivas e horas de trabalho autónomo seria enquadrado por dois aspetos: conceptualmente, pelo paradigma de aprendizagem, que privilegiaria, a par de uma componente de contacto letivo, o trabalho realizado de forma autónoma pelo aluno com vista a uma construção ativa do seu conhecimento,construindo um modelo pedagógico baseado não apenas na transmissão de conhecimentos teóricos de base, em aulas teóricas, como na aplicação prática desses conhecimentos, mediante a elaboração de trabalhos.310 Estruturalmente, pela calendarização do ano académico em semestres, que levaria a interrupções letivas para épocas de exames, conduzindo a semestres de 14 a 15 semanas de aulas,311 que na prática se traduz em semestres com 3 e 4 meses de duração efetiva. Ou seja, conduziu a uma sucessão de compressões, do tempo letivo anual, semestral e semanal, reduzindo as horas de contacto direto em benefício de trabalho autónomo.

Tabela 31: Carga letiva – comparação antes e pós Bolonha

Plano de Estudos pré-Bolonha Plano de Estudos pós-Bolonha Unidades / Ano Horas / semana Unidades / Semestre Horas / semana

EAUM 6 32 5 26 (1ºciclo), 20 (2ºciclo)

FAUP 5,5,6,6,8 32, 36 (4º e 5º ano) 6 26 (1ºciclo), 23 (2ºciclo) d.ARQ-FCTUC 6 32, 30 e 22 (4º e 5º ano) 6 27 (1ºciclo), 27

(2ºciclo)

FAUL ? ? 6 28 (1ºciclo), 24

(2ºciclo)

310 Atente-se como exemplo o Relatório de Concretização de Bolonha, ISCTE-IUL, 2006/2007 e 2007/2008, p44- 45. O relatório demonstrava a mudança de paradigma referindo que se privilegia a “construção activa do conhecimento”, observando que a média de todos os cursos para o 1º ciclo prévia que “cerca de 65% do de trabalho dos alunos seja despendido em atividades de aprendizagem autónomas. A maior parte do tempo de contacto lectivo destina-se à modalidade pedagógica teórico/prática (22,2%), sendo dedicado um tempo lectivo sensivelmente equivalente a modalidades de cariz marcadamente teórico (5,8%) e prático (6,9%) ” (p45). Isto é, a maioria das horas de trabalho consignadas às unidades curriculares era despendida em trabalho autónomo, fora das horas letivas. A excepção era o Mestrado Integrado de Arquitetura, onde apenas 36% do tempo consignado pelos créditos era despendido em trabalho fora das horas letivas, o que o próprio relatório justificava no facto de o plano de estudos de Arquitetura ter a mais alta componente prática de contacto, cerca de 62,9% no 1º ciclo e 55 para o 2º ciclo. Ou seja, para uma semana de trabalho a tempo integral, de 40 a 45 horas, apenas 35% desse tempo corresponde a atividades letivas, ou seja apenas 14 a 20 horas por semana. Sublinhando este dado, o indicava a intenção de se reduzir o tempo de contacto lectivo para 15h por semana. Neste cenário, o curso de Arquitetura resistiria, mantendo uma forte componente prática nas aulas de Projeto, que contribuíam para uma média 26 horas de contacto por semana no 1º ciclo e 22 horas no segundo.

311 Este aspecto é abordado no relatório do curso de Coimbra, referindo: “considera-se que cada semestre terá a duração de 15 semanas letivas e seguidas de um período de avaliação com uma duração de 5 semanas. Esta calendarização corresponde ao que se encontra atualmente em vigor na Faculdade de Ciências e Tecnologia da Universidade de Coimbra: 1ºsemestre – período lectivo: 2ª quinzena de Setembro a 3ª semana de Dezembro; avaliações: Janeiro e 1ª semana de Fevereiro; 2ºsemestre - período lectivo: 2ª quinzena de Fevereiro a 1ª semana de Junho, com interrupção de uma semana na Páscoa; avaliações: entre a 2ª semana de Junho e a 3ª semana de Julho”, p52.

ISCTE-IUL 9,10,10,10,10 34, 36, 36, 34, 31 6 (1ºciclo) – 5 (2ºciclo) 26 (1ºciclo), 23 (2ºciclo) Notas: O curso da FAUP contemplava optativas semestrais no 4º ano (2 optativas) e no 5º ano (4 optativas), pelo que se infere a seguinte distribuição semestral: 7º e 8º semestres 6 UC; 9º e 10º semestre 8 UC. O curso do d.ARQ-FCTUC tem optativas no 5º ano, duas por semestre, fazendo como que o 9º e 10º semestre tenham 6uc. O curso do ISCTE-IUL já contemplava optativas em regime semestral, pelo que se pode atender a um desdobramento entre semestres, designadamente: 1º semestre 8uc; 2º semestre 7 UC; 3º semestre 8 UC; 4º semestre 6 UC; 5º semestre 8 UC; 6º semestre 7 UC; 7º semestre 7 UC; 8º semestre 7 UC; 9º semestre 6 UC e 10º semestre 5 UC..

Tabela 32: Carga letiva – Situação com a Adequação a Bolonha Semestre 1 ECTS

Horas Totais

Interrupção para avaliação

Carga letiva - 1ºciclo Carga letiva - 2ºciclo

h/sem UC h/sem UC

EA-UM Variável 28 HT Variável 27 (1º-2º semestre) 26 (3º-4º semestre) 26 (5º-º6 semestre) 5 5 5 20 (7º semestre) 20 (8º semestre) 20 (9º semestre) 20 (10º semestre) 5 5 5 1 FAUP Variável 26,6 HT Variável 26 (1º- 3º anos) 6 26 (4º ano)

20 (5º ano)

6 5 d.ARQ-FCTUC 14 Semanas 27 HT 5 Semanas 28 (1º-2º semestre)

27 (3º- 4º semestre) 26 (5º-º6 semestre) 6 6 6 27 (7º semestre) 27 (8º semestre) 16 (9º semestre) 12 (10º semestre) 6 6 5 2 FAUL 14 Semanas 28 HT 6 Semanas 28 (1º-2º semestre)

28 (3º-4º semestre) 26 (5º-6º semestre) 6 6 6 24 (7º semestre) 24 (8º semestre) 24 (9º semestre) 20 (10º semestre) 6 6 6 2 ISCTE-IUL 14 Semanas 28 HT 6 Semanas 26 (1º-2º semestre)

26 (3º-4º semestre) 26 (5º-6º semestre) 6 6 6 24 (7º semestre) 23 (8º semestre) 22 (9º semestre) 12 (10º semestre) 5 5 5 1 Notas: O relatório EAUM não permite uma leitura da carga letiva semanal, a informação é dada pelos horários dos anos letivos. Idem para o relatório FAUP, sendo que este não faz a demonstração de correspondência entre a distribuição de ECTS a carga horária.

Comparando a estruturação da carga letiva dos cursos, entre os planos antes e depois de Bolonha, constatamos a forte diminuição das horas letivas, a qual em casos como o do curso do ISCTE-IUL pode chegar a uma redução do número de unidades curriculares por semestre. Verifica-se igualmente uma tendência para a diminuição da carga horária na passagem do primeiro para o segundo ciclo, que chega também em alguns casos a ser acompanhada por uma redução do número de unidades curriculares.

Estes fatores levam-nos a reconhecer um alinhamento pela redução das horas de contacto em benefício do trabalho autónomo, adaptando o modelo de ensino ao paradigma de ensino preconizado pela reforma de Bolonha. Constatamos que a redução da carga horária é ainda acentuada ao longo do plano de estudos, acompanhando uma presumível crescente maturidade e autonomia dos alunos, que se exprimiria também na capacidade para a experimentação e investigação autónomas.312

c. Flexibilidade e integração de outras áreas de conhecimento

A autonomia progressiva dos alunos pode ser relacionada com outro aspeto conexo à modelação curricular e ao paradigma de aprendizagem centrado na aquisição de competências, que é o da flexibilidade para a construção de percursos curriculares alternativos pelos estudantes.

Este aspeto era sublinhado pelo Projeto Tuning quando referia que o uso do conceito de resultados de aprendizagem permitiria uma maior flexibilidade do que os programas de estudos tradicionais, na medida em que se estabeleciam mecanismos de comparação de diferentes caminhos curriculares. Legibilidade almejada “não apenas num quadro global, Europeu, nacional ou institucional, mas também no contexto de um único programa”.313 No entanto, os planos de estudos adaptados nas cinco escolas estudadas e com a exceção do 2º ciclo da escola do Minho, reduzem as opções de flexibilidade do percurso e de conteúdos curriculares à oferta optativa, conforme a tabela seguinte ilustra:

Tabela 33: Unidades Curriculares Optativas nas Escolas de Arquitetura

Escola Optativas ECTS % Notas

EAUM 7º Semestre, duas (9 opções – 5ects) 8º Semestre, duas (idem)

9º Semestre, duas (6 opções – 5ects) 6 Optativas

30 10 Todas no 2º ciclo, associadas a um esquema de variedade controlada na progressão e conteúdos curriculares.

FAUP 2º Ano (9 opções-3ects), uma por semestre

3º Ano (9 opções-3ects), uma por semestre

4º Ano (13 opções-3ects), um semestre 5º Ano (9 opções-3ects), um semestre 6 Optativas

18 6 No 4º e 5º ano são passíveis quaisquer opções da UP. Nos restantes anos são dadas áreas científicas, admitindo-se optativas da UP em conteúdos correspondentes.

d.ARQ-FCTUC 7º Semestre, uma (13 opções – 4ects) 8º Semestre, uma (idem)

9º Semestre, três (idem) 5 Optativas

20 6 As optativas disponíveis são publicadas anualmente, em princípio resumem-se a oferta do departamento ou do Colégio das Artes.

FAUL 7º Semestre, uma (variável – 3ects) 8º Semestre, uma (variável – 3ects) 9º Semestre, uma (variável – 3ects) 3 Optativas

9 3 Na revisão do Plano de Estudos de 2013 as optativas passam a 4, mas os créditos decrescem para 6.

ISCTE 6º Semestre, uma (variável – 6ects) 8º Semestre, uma (variável – 6ects) 9º Semestre, uma (variável – 6ects) 3 Optativas

18 6 As optativas disponíveis são publicadas anualmente, em princípio resumem-se a oferta do departamento. Na revisão do Plano de Estudos de 2010-2011, passa a haver 5 optativas, num total de 15 ects, sendo que duas delas podem ser em cursos exteriores ao de

Arquitetura Notas: Elementos retirados com base na versão inicial dos planos de estudo adequados.

313 Projeto Tuning (2008:18).

Verificamos que a oferta optativa corresponde entre 3, 6 e 10% dos créditos dos planos de estudos. O padrão de localização da oferta Optativa é o 2º ciclo, com a exceção do curso da FAUP, onde as opções são distribuídas ao longo do plano de estudos. Notamos que o único plano curricular que oferecia opções de raiz na área do Projeto seria o curso da EAUM no segundo ciclo, oferecendo neste caso uma flexibilidade de conteúdos em temas-áreas optativas com reflexo nas hipóteses-síntese exercitadas no Projeto.

Deste modo o peso relativo de unidades curriculares de carácter opcional é escasso e limitado, de um modo geral e com a exceção do curso da EAUM, a unidades não-nucleares. Esta característica revela que os currículos adequados mantêm um corpo central monolítico, fechado a hipóteses de construção curricular mais autónomas. A exceção é o curso da escola do Minho onde é ensaiada uma alteração deste esquema a partir do 2º ciclo, estabelecendo simultaneamente uma separação metodológica entre ciclos.

Este conjunto de questões; a ligação ou separação entre ciclos e a compressão dos tempos e dos ritmos letivos, foram impostas pela estrutura da reforma, tendo havido, como vimos, uma posição genericamente conservadora das escolas da Arquitetura. Estas transformações estruturais pressionam uma tradição de aprendizagem disciplinar pelo Projeto de Arquitetura, onde o fator tempo, associado a um processo longo de pesquisa, maturação e reconhecimento, quer de situações externas, dos problemas e dos princípios dos temas lançados, quer de situações internas, de construção de uma posição dos alunos perante as ferramentas metodológicas e os limites disciplinares, é tradicionalmente longo. O impacto destas transformações na tradição pedagógica do ensino pelo Projeto é desenvolvido ao longo do próximo capítulo.