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IV. PROJETO NOS CURRICULOS ADEQUADOS

2. Os Perfis Formativos

a. Entre a profissão e a Academia

No Boletim Arquitetos nº232 de Outubro de 2013, dedicado ao tema Ensino / Formação, Vítor Carvalho Araújo afirmava que os “planos de estudos dos cursos de Arquitetura em funcionamento apresentam três características principais, comuns a todos eles: as definições da Declaração de Bolonha (1999), como estrutura: as determinações da Diretiva Europeia relativa às Qualificações Profissionais (2005), como modelo programático; e o protagonismo do Projeto como referência metodológica de simulação da prática profissional”.325Segundo esta leitura, o Projeto participa num sistema de aprendizagem enquadrado pelos princípios estruturais e organizativos da universidade, tendo em vista uma formação que é programaticamente orientada para o quadro de qualificações determinado pela regulação dos atos da profissão.

Diagrama 1:Fatores na conceção dos Planos de Estudo Diagrama 2: Conceitos nos fatores dos Planos de Estudos

Situação que permite presumir que as mutações na estrutura e no programa, na academia e na profissão, terão reflexo no ensino pelo Projeto, conforme representado pelo Diagrama 1 acima. Por outro lado, a estrutura académica tem ainda objetivos próprios, acentuados com a valorização da investigação como espirito de missão e da profissionalização e avaliação como mecanismos de controlo de qualidade.326 Seguindo esta linha de raciocínio admite-se, provisoriamente, que a estrutura universitária tem uma vertente conceptual que se relaciona dialeticamente com o programa de estudos e com o Projeto como metodologia, conforme o Diagrama 2, derivado do triângulo estrutura-programa-pedagogia.

325 Vítor Carvalho Araújo 2013:36.

326 Ver Capítulo II, pontos 3 e 4, Introdução ao Ensino da Arquitetura em Portugal e Introdução ao Processo de Bolonha, respetivamente.

Estrutura : Bolonha

Programa : Diretiva Pedagogia: Projeto

Investigação & Desenvolvimento

Atos profissionais Diversos Projeto como Processo

b. O enquadramento da Diretiva

A relação de fatores na conceção dos planos de estudos indicados por Vítor Carvalho Araújo relaciona diretamente o programa de aprendizagem com o âmbito da profissão. No entanto, como o próprio Boletim dos Arquitetos de 2013 demonstra a formação universitária já não permite o acesso direto à profissão, exigindo-se uma formação adicional, um estágio profissionalizante, que já esteve integrado na academia mas que desde o início do século é tutelado exclusivamente pela ordem.327 Não obstante, o programa formativo relacionava-se com o perfil profissional e as mutações do sistema de ensino baseavam-se também em premências de transformação do perfil da profissão.

Deste modo, ao sistema Beaux-Arts correspondeu um perfil profissional do “arquiteto- artista” e ao ensino moderno, em redor da reforma curricular de 1950-57, corresponderia a uma conceção do “arquiteto-técnico”, personagem ativo da reorganização da sociedade, com uma legitimidade simultaneamente técnica e cognitiva.

A relação ensino-profissão era garantida por conteúdos curriculares, pela metodologia de ensino pelo Projeto e por uma ligação direta entre a escola e profissão,328 materializada em professores que eram simultaneamente projetistas e por uma extensão escola-atelier materializada no hábito dos alunos frequentarem os ateliers durante o tempo do curso e de o estágio ser parte integrante do currículo académico.329 Conjugando a expansão da profissão e da oferta formativa nos anos 90,330 com a consolidação da UE, a profissão seria enquadrada regulamentarmente no quadro europeu, tornando necessária uma aferição da adequação do ensino para com os pressupostos da diretiva, garantindo-se assim um dado nível de competências para a livre-circulação dos arquitetos pelo espaço Europeu.

Desta forma a OAP, criada em 1998, viria a implementar um regime de reconhecimento e acreditação dos cursos de Arquitetura, baseando-se nas diretivas comunitárias331 em conjunto com a definição de atos da profissão dada nos seus estatutos. A legitimidade para a avaliação

327 Sobre este tema ver capítulo Ensino, Arquitetura e o Processo de Bolonha, Introdução ao Ensino da Arquitetura em Portugal.

328 Estavam sobrepostas quando a formação ocorria na oficina do mestre ou no canteiro da obra. Com a institucionalização do ensino passariam a simular a prática. No sistema beaux-arts efetuava-se num atelier tutelado por um mestre da prática, onde vários alunos produziam as emulações.

329 Os planos de estudos culminavam em provas de projeto e estágios académicos junto da profissão, no formato CODA em 1931-32 ou no formato tirocínio de seis meses e consequente relatório de estágio, após 1957. 330 Em1992 para um universo de cerca de 6.000 arquitetos existiam 4.000 estudantes de Arquitetura, cf. Associação

dos Arquitetos Portugueses (1996:44), Livro Branco da Arquitetura em Portugal, Capítulo 2 – Os profissionais. Lisboa, pp44-47.

manter-se-ia até à adequação a Bolonha, mas a exigência de formação prática suplementar, impondo um complemento pré-profissional, persistiria, propiciando uma separação formal entre o título académico e o título profissional.332

Tabela 34: Atos Próprios da Profissão Atos da Profissão – Requisitos da Formação

Atos da Profissão Decreto-Lei nº176/98 de 3 de Julho: Estatutos da Ordem dos Arquitetos, artigo 42º, do Exercício da Profissão

Capítulo VI – Exercício da Profissão Artigo 42º - Exercício da Profissão

1- Só os arquitetos inscritos na Ordem podem, no território nacional, usar o título profissional de arquitecto e praticar os atos próprios da profissão.

2- Para efeitos de inscrição na Ordem devem os arquitetos demonstrar possuir as capacidades e os conhecimentos descritos no artigo 3.º da Diretiva n.º 85/384/CEE, do Conselho, e respectivo diploma de transposição.

3- Os atos próprios da profissão de arquitecto consubstanciam-se em estudos, Projetos, planos e atividades de consultoria, gestão e direcção de obras, planificação, coordenação e avaliação, reportadas ao domínio da Arquitetura, o qual abrange a edificação, o urbanismo, a concepção e desenho do quadro espacial da vida da população, visando a integração harmoniosa das atividades humanas no território, a valorização do património construído e do ambiente.

Bases da Formação Diretiva 2005/36/CE, de 7 de Setembro, Artigo 46º, da formação do Arquiteto.

Artigo 46º - Formação de Arquitecto

1. A formação de arquitecto compreende, no total, pelo menos quatro anos de estudos a tempo inteiro, ou seis anos de estudos, dos quais pelo menos três a tempo inteiro, numa universidade ou estabelecimento de ensino comparável. Esta formação deverá ser comprovada pela aprovação num exame de nível universitário. Esta formação, que é de nível universitário e tem a Arquitetura como elemento principal, deverá manter o equilíbrio entre os aspetos teóricos e práticos da formação em Arquitetura e assegurar a aquisição dos conhecimentos e das competências seguintes:

a) Conceber Projetos de Arquitetura que satisfaçam as exigências estéticas e técnicas;

b) Conhecimento da história e das teorias da Arquitetura, bem como das artes, tecnologias e ciências humanas conexas;

c) Conhecimento das belas-artes e da sua influência sobre a qualidade da concepção arquitectónica; d) Conhecimentos em urbanismo, ordenamento e competências relacionadas com o processo de ordenamento; e) Capacidade de apreender as relações entre, por um lado, o homem e os edifícios e, por outro, entre os edifícios e o seu ambiente, bem como a necessidade de relacionar entre si os edifícios e espaços em função das necessidades e da escala humana;

f) Compreensão da profissão de arquitecto e do seu papel na sociedade, nomeadamente, pela elaboração de Projetos que tomem em consideração os fatores sociais;

g) Conhecimento dos métodos de investigação e de preparação do caderno de encargos do Projeto; h) Conhecimento dos problemas de concepção estrutural, de construção e de engenharia civil relacionados com a concepção dos edifícios;

i) Conhecimento adequado dos problemas físicos e das tecnologias, bem como da função dos edifícios, no sentido de os dotar de todos os elementos de conforto interior e de protecção climatérica;

j) Capacidade técnica que lhe permita conceber construções que satisfaçam as exigências dos utentes, dentro dos limites impostos pelo factor custo e pelas regulamentações em matéria de construção;

k) Conhecimento adequado das indústrias, organizações, regulamentações e procedimentos implicados na concretização dos Projetos em construção e na integração dos planos na planificação geral.

Notas: O artigo 46º de 2005 transcreve na maioria o disposto no regime anterior de 1985, designadamente no artigo 3º.

Os atos da profissão são vocacionados para a “edificação, o urbanismo, a concepção e desenho do quadro espacial da vida da população”.333 Adicionalmente, no âmbito das

332 Cf. Associação dos Arquitetos Portugueses (1995), Livro Branco da Formação. Lisboa

333 Estatutos da Ordem dos Arquitetos Portugueses, conforme o Decreto-Lei n.º 176/98, de 3 de Julho, artigo 42º, ponto 3. O enquadramento normativo do exercício do Projeto de Arquitetura, da coordenação, direcção e

atribuições estatutárias da Ordem, a relação com as instituições de formação incide na missão de acompanhamento e de controlo do ensino, incluindo a regulamentação e avaliação de estágios para acesso à profissão e a promoção e coordenação de formação e da investigação.334

A Diretiva de 2005, por seu lado, compreendia os atos da profissão de um modo abrangente, como aquelas “habitualmente exercidas sob o título profissional de arquitecto.”335Suplementarmente derrogava aos requisitos de formação universitária os indivíduos que trabalhem “no domínio da Arquitetura há pelo menos sete anos sob a orientação de um arquitecto ou de um gabinete de Arquitetura”,336 reconhecendo vias diversificadas para acesso à profissão, seja formação universitária ou pela profissão. Na realidade a Diretiva acomodava um mosaico de tradições formativas, decorrentes de diferentes entendimentos culturais e de diferentes regimes normativos da profissão.337 Apontava no entanto dois aspetos base para a formação institucional dos arquitetos: o de que a educação era considerada “de nível universitário” e o de que nesta se deveria manter “o equilíbrio entre os aspetos teóricos e práticos da formação”,338 elencando de seguida uma lista generalista e abrangente de conhecimentos e de competências a adquirir. Toda a formação converge para a organização do

fiscalização de obras seria em 2009 objecto de reformulação através da Lei nº31/2009, de 3 de Julho e respectiva Portaria nº1379/2009 de 30 de Outubro, que substituiram o antigo enquadramento dos agentes da edificação em Portugal dado pelo Decreto nº73/73 de 28 de Fevereiro (Qualificação oficial a exigir aos técnicos responsáveis pelos Projetos de obras). Em 2015 este regime foi rectificado com a publicação da Lei n.º 40/2015 de 1 de Junho (qualificação profissional exigível aos técnicos responsáveis pela elaboração e subscrição de projetos, coordenação de projetos, direção de obra pública ou particular, condução da execução dos trabalhos das diferentes especialidades nas obras particulares de classe 6 ou superior e de direção de fiscalização de obras públicas ou particulares).

334 Estatutos da Ordem dos Arquitetos Portugueses, cf. Artigo 3º, expoem as seguintes atribuições com relação ao sistema de ensino: a missão de “acompanhar a situação geral do ensino da Arquitetura e dar parecer” (alínea o)), a de “regulamentar os estágios de profissionalização organizados pela Ordem e participar na sua avaliação” (alínea m)); o de “colaborar com escolas, faculdades e outras instituições em iniciativas que visem a formação do arquitecto”, assim como “promover o intercâmbio de ideias e de experiências entre os membros e entre estes e organismos congéneres estrangeiros e internacionais, bem como acções de coordenação interdisciplinar, quer ao nível da formação e investigação, quer ao nível da prática profissional” (alíneas j) e h) respectivamente). 335 Cf. o artigo 48º, ponto 1, da Diretiva 2005/36/CE, de 7 de Setembro.

336 Cf. o artigo 47º, ponto 2, da Diretiva 2005/36/CE, de 7 de Setembro, mediante a aprovação em exame nos moldes solicitados para a conclusão do curso universitário. A este princípio de reconhecimento de formação na profissão junta-se o reconhecimento de direitos adquiridos das Fachhochschulen Alemãs, que são escolas técnicas com cursos de 3 anos que se complementam com formação prática adicional, condicionado a exame a efectuar após comprovação de quatro anos de prática profissional (ponto 1 do artigo 47º).

337 Atente-se nas listagens de cursos certificados pelos estados membros, no Anexo V, ponto 5.7.1 da Diretiva de 2005 (ou o artigo 11º em 1985), para se verificar como é diversa a filiação das próprias instituições que conferem o grau, variando entre as escolas de artes, os politécnicos, as escolas de Arquitetura ou as escolas de engenharia, assim como a designação do próprio grau, num mosaico de tradições culturais que Bolonha vem tentar aproximar. 338 Cf. o artigo 46º, ponto 1, da Diretiva 2005/36/CE, de 7 de Setembro.

espaço edificado, informando culturalmente e tecnicamente a realização do Projeto, sendo a investigação referida no contexto de que a formação deveria assegurar o conhecimento “dos métodos de investigação e de preparação do caderno de encargos do Projeto”.339 Ou seja, o quadro conceptual da Diretiva em 2005 referia-se a uma investigação implícita aos mecanismos produtivos do processo do Projeto e não a uma investigação enquanto processo conceptual ou como missão formativa de nível universitário.

c. Mutações na Profissão

Segundo o retrato da profissão elaborado pelos sociólogos Manuel Villaverde Cabral e Vera Borges em 2006,340 a profissão era à altura marcada socio-demograficamente por uma extrema juventude341 e por uma crescente de paridade entre homens e mulheres, atenuando o tradicional “fechamento social da profissão”, fruto de uma “endogamia socioprofissional”. 342 Ao mesmo tempo menciona uma assinalável insatisfação profissional (acima dos 40%), refletindo as dificuldades em acesso ao seu pleno exercício, decorrentes de um mercado que não crescia ao ritmo com que aumentaram os novos efetivos profissionais. Significativamente o relatório indicava que havia uma recomposição do próprio mercado, designadamente especializando-se, mas a um ritmo não acompanhado pela profissão, derivado de uma conjugação de fatores, incluindo um forte ethos profissional, um baixo nível de expressão de descontentamento e uma forte concentração de recursos materiais e simbólicos, em redor de redes familiares de profissionais, que constituíam obstáculo para a adaptação às dinâmicas de transformação.

O inquérito à profissão revelava que cerca de 30% dos arquitetos já tinham algum tipo de formação pós-graduada, numa tendência crescente de prolongamento e reorientação da formação base e que ao mesmo tempo adiava a entrada no mercado de trabalho. Quanto à

339 Ponto g).

340 Manuel Villaverde Cabral e Vera Borges (2006), Relatório Profissão: Arquitecto/a, promovido pela Ordem dos Arquitetos.

341 Villaverde Cabral e Borges (2006:Ponto 2), notanto que em 1974 havia 935 arquitetos inscritos no Sindicato Nacional dos Arquitetos, em 1988 ascendiam a 3648 e em 1998 passavam a 8121. Em 2006, tal como na década anterior, cerca de 65% dos arquitetos tinha, menos de 40 anos.

342 Villaverde Cabral e Borges (2006), refere endogamia como o grau de arquitetos filhos e/ou familiares próximos de arquitetos, que no caso da Arquitetura revelavam em 2006 um grau de auto-reprodução social superior ao que se conhecia para qualquer outra das profissões liberais (5% para licenciados em Direiro, 12% em Medicina e 25% para a Arquitetura, sendo que em 1974 este valor era de 50%). Esta endogamia auxiliava, segundo os autores, a compreender o forte ethos da profissão, ou seja uma homogeneidade de valores e de atitudes e uma fraca contestação, seja no plano simbólico ou manifesto, contra as dificuldades então sentidas de acesso ao exercício da profissão.

formação base o inquérito revelava uma relativa satisfação com os objetivos gerais académicos dos cursos de Arquitetura, nomeadamente na capacidade destes introduzirem os alunos no ethos cultural da disciplina e permitirem o desenvolvimento de capacidades de autonomia. Em sentido oposto os graduados criticavam a escassa preparação para o exercício prático profissional, situação que o relatório apontava poder ser um reflexo das próprias dificuldades de acesso ao mercado.343

Esta difícil relação entre um perfil formativo mais profissional ou mais generalista e cultural não é todavia um exclusivo da Arquitetura. Gilles Lipovetsky aponta que a universidade está “doente”, não discernindo qual o papel a desempenhar, entre “os polos de ensinar uma ciência pura ou profissionalizar os seus ensinamentos”,344 uma vez que na sociedade hipermoderna, na sua vertigem de mudança e transformação, torna-se inútil centrar a formação superior somente no desenvolvimento de uma competência profissional, quando as dinâmicas de transformação do mercado do trabalho tornam pueril qualquer previsão do estado das profissões num curto horizonte temporal. Em contrapartida, há o perigo de uma formação superior inútil para a entrada no mercado de trabalho, convergindo num sentimento de afastamento e de amargura, que Lipovetsky afirma ser uma das características da vida hipermoderna e globalizada.

Para este autor a resposta reside numa necessária convergência entre as duas facetas, e mediante um discurso articulado com a organização universitária proposta por Bolonha, defende uma articulação entre um 1º ciclo propedêutico e generalista, um “colégio

343 Segundo Boyer (1998) esta era também uma crítica persistente no sistema de ensino nos EUA, assinalando constantemente o desfasamento entre a preparação académica e a adequação à realidade do “mercado”. Segundo Dana Cuff (1991) trata-se de um “sentimento-sintoma” de uma série de desfasamentos entre o ethos tradicional da profissão e as condições reais da sua prática profissional. Ainda nos EUA, Gerry Stevens (1999:170) assinalava que este ethos revela uma posição de poder, de capacidade de impor uma dada definição de realidade que é vantajosa para uma minoria, cuja predominância é mantida pelo uso de poder simbólico, por meios culturais, que no ensino se reflecte no estúdio de Projeto como lugar bizarro, afastado da realidade, encorajando o culto da personalidade e que acaba por favorecer os já favorecidos socialmente.

universitário”345 e um segundo ciclo onde se poderiam escolher entre duas vias: a especialização para uma profissão ou a investigação fundamental.346

Desta forma, seria atendendo a uma crescente separação entre ensino académico e formação profissional, enfatizado quer pela imposição do estágio como requisito para acesso à profissão (acesso ao reconhecimento pela OAP), quer pela “doença” do sistema universitário no seu todo, face à pressão da globalização e às transformações cada vez mais rápidas das bases profissionais; tendo como base o programa dado pelo enquadramento jurídico da profissão (diretivas e estatutos) e a noção de que a própria profissão e as suas condições práticas estão em transformação critica, que os perfis formativos para os cursos de Arquitetura seriam definidos.

d. Perfis de Formação

Observando a descrição dos objetivos de formação apresentados nos relatórios de adequação das várias escolas estudadas, verifica-se que as bases para a definição do perfil escolar e dos objetivos formativos foram a Diretiva 2005/36/CE de e 7 de Setembro, os Estatutos da Ordem dos Arquitetos (1998) e os descritores gerais de ciclo de estudos desenvolvidos para o processo de Bolonha pelo grupo de projeto Tuning e pelos Descritores de Dublin (JQI). Em termos gerais as escolas realçam os seguintes temas e objetivos curriculares e de formação:

• Realçam a dimensão múltipla da Arquitetura: artística, social e técnica e científica; • A centralidade do exercício do Projeto de Arquitetura (e urbano);

• O reconhecimento de uma prática profissional de âmbito crescentemente alargado; • A novidade dos estudos/investigações de carácter científico no âmbito disciplinar; • Realçam a importância do desenvolvimento de competências pessoais transversais,

como a criatividade, a capacidade de crítica, o trabalho em grupo, a adaptabilidade e a capacidade de expressão e comunicação;

345 Segundo Lipovetsky (2008:205), por oposição à “universidade propriamente dita”, que seria o 2º ciclo, o 1º ciclo dirigido para o “sentido, os métodos e as abordagens históricas e fenomenológicas. Deste modo, seriam formados alunos de letras abertos às artes, à literatura, à filosofia, à linguística, à história, à geografia, às línguas, à comunicação, etc; juristas e economistas de igual modo abertos às ciências cognitivas, históricas, sociológicas, políticas, etc.”.

346 Para Lipovetsky (2008:207) este 2º ciclo poderia ensaiar uma articulação entre as necessidades do mundo empresarial e a universidade, e que no caso da difícil harmonização entre investigação e mercado, poderia almejar uma legitimação social da universidade e da investigação.

Tabela 35: Relatórios de Adequação – Objetivos dos Ciclos de Estudos

Escola Objetivos dos Ciclos de Estudos (Peça C) Referências e Notas EAUM OBJETIVOS: favorecimento da empregabilidade no mercado europeu e um Projeto de ensino

baseado também na investigação aplicada. Flexibilizar os aspetos formativos, equilibrando-os numa formação abrangente e diversificada que em 2º ciclo será mais especializada, suportada por conteúdos “verdadeiramente opcionais em vários domínios curriculares para os últimos

anos de formação”. Conjuga uma “contínua formação em Projeto” com uma aprendizagem mais específica e aprofundada. O objetivo é o de correspondendo às responsabilidade do Arquiteto (profissionais), acentuar as “crescentes necessidades disciplinares de investigação” e os requisitos de um mercado de emprego global.

PERFIL: “sólida formação nos domínios do desenho, da construção, da história e sociedade;

combinando adequadamente aspetos teóricos e práticos, pela exploração de novas

metodologias de ensino/aprendizagem”. Fomentar a criatividade, inovação técnica e funcional e sensibilidade cultural e ambiental. Atitude pró-ativa face à mudança. Capacidade de comunicar, empreendorismo, trabalho em equipa e valores de cidadania e atuação eco sustentável.