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3. A STORM OF SWORDS

3.1 O mundo off-line e a televisão:

3.1.2 Modelo americano versus Modelo europeu:

Presente há mais de 60 anos no Brasil, a TV firmou-se como um dos mais importantes meios de comunicação, sendo encontrada em 97,1%18 dos lares, segundo pesquisa Mídia dados. Não pode ser vista como um veículo que

18 MIDIA DADOS, 2016. Disponível em:

<https://dados.media/#/view/CATEGORY/TELEVISION/MDB_TVA_PROJECAO_EVOLUCAO_ DOMICILIOS_TV>. Acesso em: 06 jan. 2017.

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comunica somente às classes mais baixas, pois atinge todos os níveis socais, apresentando 76% de penetração na classe A e 90% na classe D19.

[...] a televisão é a mídia brasileira mais importante. Em menos de quatro décadas, o vídeo transformou a face do país, modificou os hábitos diários do povo, revolucionou a política, impôs profundas alterações na cultura, estabeleceu parâmetros de comportamento, afetou a fala e inovou a língua dos brasileiros. [...] A televisão se transformou na principal fonte de informação e notícia para as mais amplas camadas de espectadores de todos os níveis, todas as idades, todas as classes, de todos os rincões deste país (SALLES, 2010, p.18).

Mesmo com penetração em todos os estratos sociais, é nos jovens adultos que a TV encontra seu maior público. Esse fato pode ser justificado, principalmente, por esse perfil ser maioria populacional no Brasil20. Quanto ao consumo semanal, 73%21 da população, em 2015, assistiu à televisão ao menos seis vezes por semana. Essa porcentagem manteve-se estável nos últimos doze anos, oscilando em uma margem de 1%.

Assim como o Brasil, Portugal tem números bastante elevados. De acordo com pesquisa do Instituto Nacional de estatística (apud BURNAY; CUNHA, 2013, p.452), desde 2001, a penetração da TV no país chega a 99%, e 97% da população possui ao menos um televisor em casa. A empresa Marktest, (apud BURNAY; CUNHA, 2013, p.449) acredita que cerca de quatro horas são dedicadas, diariamente ao universo televisivo, e os jovens costumam assistir à televisão ao mesmo tempo em que usam o celular, mandando mensagens.

Apesar de possuir dados quantitativos bastante similares à Europa, ao contrário do continente europeu, a televisão brasileira começou através da iniciativa privada (PATERNOSTRO, 1999), tendo no Estado apenas a sua

19 Disponível em: <http://midiadados.digitalpages.com.br/home.aspx>. Acesso em: 06 jan.

2017.

20 No Brasil, a maioria da população é formada por pessoas de 30 a 34 anos. IBGE, 2016.

Online. Disponível em: <http://www.ibge.gov.br/apps/populacao/projecao/>. Acesso em: 06 jan. 2017.

21 Estudos Marplan/EGM – 2016. Disponível em:

<http://www.secom.gov.br/atuacao/pesquisa/lista-de-pesquisas-quantitativas-e-qualitativas-de- contratos-atuais/pesquisa-brasileira-de-midia-pbm-2015.pdf >. Acesso em: 06 jan. 2017.

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concessão e fiscalização. Na sua atual configuração, é dominada por seis redes privadas nacionais, através de 138 grupos afiliados, que chegam nas residências por meio de um sinal aberto e gratuito (IBGE, 201322). A principal fonte de entretenimento e informação é financiada, com exceção da TV pública, por verbas publicitárias em troca das audiências oferecidas pelas emissoras.

Falar em televisão brasileira é pensar em uma produção regulada pelo consumo. Tudo que é produzido visa conquistar audiência, o que em muitos casos, tem maior importância do que a qualidade do conteúdo, pois sem lucro, não há sustentabilidade (CASTRO, 2006). É esta lógica de produção e consumo que garante os investimentos para atualização tecnológica, pagamentos de custos fixos e variáveis, além da obtenção de lucro.

Em contrapartida, Portugal, assim como a maioria da Europa, apresenta um modelo vinculado ao Estado, principalmente no uso de emissoras públicas. A atual configuração da TV portuguesa baseia-se em quatro canais: dois públicos e dois privados. Ainda assim, há indícios de que esse cenário poderá mudar.

A diminuição dos gastos públicos com a empresa de Rádio e Televisão, a RTP, faz parte dos compromissos assumidos pelo governo na assinatura de um resgate financeiro. Ao longo do ano de 2012, o Estado discutiu quatro propostas, segundo Catarina Duff Burnay e Isabel Ferin Cunha (2013):

1- O primeiro previa a concessão da RTP1 a empresas privadas por vinte ou vinte e cinco anos, com a obrigatoriedade de “serviço público”, recebendo em troca uma indenização referente à taxa de audiovisual paga na fatura de eletricidade. A RTP2 seria totalmente privatizada. 2- O segundo cenário sugeria a privatização da RTP1 e a distribuição

pelos três canais de acesso aberto da função de “serviço público”. Aqui a RTP2 também seria totalmente privatizada.

3- O terceiro modelo propunha a privatização da RTP1, que ficaria obrigada a prestar “serviço público”, receberia a taxa de audiovisual e autorização de veicular 12 minutos/hora de publicidade. Novamente, a RTP2 seria privatizada.

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4- Na quarta proposta, a única que previa a continuação da RTP2 na posse do Estado, sem publicidade e dirigida às minorias, a RTP1 seria privatizada e concorreria com os demais canais privados.

O cenário ainda não se definiu completamente, mas as perspectivas apontam para que Portugal tenha um modelo de televisão mais próximo do brasileiro nos próximos anos. Durante 2013, movimentos sociais de diversos setores e entidades tentaram impedir a privatização da RTP. Com as medidas tomadas pelo Executivo português, no ambiente de crise econômica, a TV pública sofreu uma série de cortes orçamentais, demissões e propostas de alteração de seu funcionamento.

[...] o governo português criou uma proposta de lei que propõe um novo modelo de governança da RTP, contemplando a criação de um “conselho geral independente”. Essa medida teve como objetivo principal a criação de um órgão autônomo, cuja verdadeira independência está na sua constituição original, que concorre para a eliminação do risco de percepção de “governamentalização” da empresa (BURNAY; LOPES; SOUZA, 2014, pp.417-418).

Ao comentar sobre a diferença entre o modelo americano e o europeu, Laurindo Leal Filho (1997) aborda a chamada “ética de abrangência”. Na televisão portuguesa, por exemplo, há um propósito de atender às expectativas de todo tipo de público existente. Já a ética do modelo brasileiro, segundo o autor, encontra-se em uma “ilha de bem-estar, num mar de comercialismo”. Vale mencionar que em Portugal o consumidor paga uma taxa mensal na conta de energia elétrica pelo serviço de TV, enquanto no Brasil a verba obtida é majoritariamente de ações de publicidade na programação.

Com uma opinião similar, Elizabeth Bastos Duarte (2004) faz a ressalva de que as emissoras brasileiras oferecem produtos de grande apuro tecnológico e, algumas vezes, até artístico, mas o objetivo principal é a manutenção da audiência. “É a concorrência [...] quem define a qualidade, o rumo e a vida dos produtos televisivos” (DUARTE, 2004, p.17). São as TV’s comerciais que dão as cartas, definindo a qualidade e o conteúdo dos programas, enquanto as públicas

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carecem de tudo, de recursos humanos à tecnológicos, e ainda são comprometidas com questões políticas.

A desaprovação de Leal Filho (1997) ao modelo americano é ampla, principalmente ao eleger o britânico com a “melhor TV do mundo”. Para o autor, a televisão aberta americana veicula apenas programas mais populares e de conteúdo questionável, deixando para a fechada os de maior qualidade. Mesmo com a diferença entre os modelos, faz parte do senso comum enxergar a TV como um negócio amplamente influenciado – ou até mesmo definido – pela economia e pela política.

Com uma postura também crítica, Pierre Bourdieu (1997) não poupa questionamentos à qualidade do conteúdo. Em um primeiro momento, o pesquisador comenta sobre o que é mostrado e o que é ocultado: a seleção do televisável se daria pelo espetacular, pelo sensacional. A TV, para Bourdieu, seria um convite a dramatização, exagerando em tudo, nos acontecimentos, nas causas e nas consequências.

Como a televisão pode, paradoxalmente, ocultar mostrando, mostrando uma coisa diferente do que seria preciso mostrar caso se fizesse o que supostamente se faz, isto é, informar; ou ainda mostrando o que é preciso mostrar, mas de tal maneira que não é mostrado ou se torna insignificante, ou construindo-o de tal maneira que adquire um sentido que não corresponde absolutamente à realidade (BOURDIEU, 1997, p.24).

A crítica estende-se ainda à produção televisiva, pelo fato de sua ampla homogeneização. Mesmo entre as emissoras concorrentes, as restrições e as pesquisas de opinião são as mesmas, criando um ambiente que propicia aos canais, a criação de conteúdos bastante similares. Para Bourdieu (1997), ao tratar dos telejornais e debates, só a ordem das informações muda, o texto é sempre o mesmo. A urgência e a velocidade da captura das informações, bem como a busca pela maior audiência são outros fatores que, para o autor, são inimigos da qualidade. Esse conjunto gera uma banalidade de conteúdos, baseados em ideias prontas, comuns e convencionais.

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3.2 O mundo online e as redes sociais:

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