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Modelo de dados para bibliotecas digitais musicais

2.5 BIBLIOTECAS DIGITAIS MUSICAIS

2.5.1 Modelo de dados para bibliotecas digitais musicais

Tradicionalmente, assim como a maioria dos sistemas gerenciadores de ban- co de dados, uma BDM é construída a partir de um conjunto de dados associados a um conjunto de programas para acesso a esses dados. E como já informado, este conjunto de dados é estruturado de acordo com um modelo conceitual de dados.

Os primeiros modelos de dados utilizados no âmbito das Bibliotecas Digitais são aqueles considerados “planos” (CRUZ, F. W., 2008) e espelhados nos padrões MARC75 e Dublin Core76 que, além de serem direcionados para as atividades dos bibliotecários, servem perfeitamente para o controle bibliográfico de obras literárias. Mas, neste contexto, também a Internet faz sentir sua influência, pois com o seu ad- vento e a conseqüente disseminação do acesso das bibliotecas digitais para os mais diferentes tipos de usuários, tais modelos de dados deixaram de atender plenamente às necessidades desses “novos” usuários (IFLA, 1997).

Em 1997, preconizado pela International Federation of Library Associations and Institutions (IFLA), surge o primeiro modelo teórico internacional para atender às exigências de catalogação de objetos textuais e não textuais denominados “Requisi- tos Funcionais para Registros Bibliográficos - FRBR (IFLA, 1997), ou seja, são um modelo conceitual que visa reestruturar os registros bibliográficos, reorganizando os elementos através da análise de entidades, atributos e relacionamentos.

Um dos objetivos norteadores para a criação do modelo FRBR foram as tare-

74 É a tecnologia que permite o envio de informação de áudio e vídeo através de pacotes, utilizando redes de computadores. Essa tecnologia permite dar a sensação de que o áudio e o vídeo estão sen- do transmitidos em tempo real por intermédio da otimização dos pacotes transmitidos observando a largura de banda disponível.

75 MAchine Readable Cataloging (MARC) “é um formato, elaborado pela Library of Congress (EUA), na década de 60 do século passado, persiste como formato de intercâmbio para registros bibliográfi- cos de catálogos, compondo hoje uma família de formatos, para distintos usos” (MORENO; BRASCHER, 2007).

76 Dublin Core “é um padrão de metadados voltado para descrever recursos de forma independente de domínio. Surgiu da necessidade de um esquema simples para descrever recursos disponíveis na Internet, tendo sido criado em um Workshop promovido pela Online Computer Library Center (OCLC), em 1995” (LIMA, J. A. DE O., 2008).

fas realizadas pelo usuário, que no entendimento do IFLA são detalhadas no Quadro 2.

Quadro 2: Tarefas do usuário FRBR

Encontrar Encontrar uma única entidade ou um conjunto de entidades em um arquivo ou base de dados como o resultado de uma busca usando um atributo ou o relacionamento da entidade;

Identificar Identificar Confirmar que a entidade descrita corresponde à entidade procurada, ou para distinguir entre duas ou mais entidades com características similares.

Selecionar

Selecionar uma entidade adequada às necessidades do usuário, isto é, para escolher uma entidade que vá ao encontro das exigências do usuário em relação ao conteúdo, formato físico, etc., ou à rejeição de uma entidade como sendo imprópria às

necessidades do usuário;

Obter Encomendar, adquirir, ou obter acesso à entidade descrita, isto é, para adquirir uma entidade através de compra ou empréstimo, etc., ou para acessar eletronicamente uma entidade através de uma conexão em linha a um computador remoto.

Fonte: IFLA (1997). Tradução: Moreno (2009)

Como mostrado na Figura 16, o modelo FRBR inclui um conjunto de entida- des divididas em 3 grupos, cerca de 10 relacionamentos e centenas de atributos77.

Esses grupos dizem respeito: (i) a expressões, manifestações e itens de uma obra (Grupo 1), (ii) a pessoas, famílias e corporações concernentes a uma obra (Grupo 2) e (iii) a conceitos, objetos, eventos e lugares que dizem respeito a uma obra (Grupo 3).

Figura 16: Modelo, grupos e entidades-relacionamentos do FRBR

As principais entidades são aquelas referente ao grupo I, assim definidas pela IFLA (1997): Obra “Work - a distinct intellectual or artistic creation”; Expressão (Ex-

77 Link (http://kcoyle.net/rda/group1propsby.html) dos atributos referentes somente as entidades do grupo 1.. Acesso em 30/10/2011.

pression - “the intellectual or artistic realization of a Work”), Manifestação (Manifesta- tion - “the physical embodiment of an Expression of a Work”) e Item (“a single exem- plar of a manifestation”).

Por ser considerado um modelo de dados (um conjunto de conceitos utiliza- dos para descrever um banco de dados) o FRBR é baseado no modelo entidade relacionamento (MER).

Se por um lado o FRBR teve uma relativa aceitação devido as suas caracte- rísticas relacionais, pois veio a acrescentar vasta informação àquela proporcionada pela catalogação tradicional, centrada exclusivamente no que vem a ser a entidade “manifestação” (ASSUNÇÃO, 2005), por outro lado o modelo não foi muito bem compreendido e foi suscetível de múltiplas interpretações pela comunidade da Ciên- cia da Informação (COYLE, 2010), o que vem prejudicando uma mais ampla adoção. Mesmo assim se tornou uma ferramenta importante para a construção de diversos tipos de bibliotecas digitais, algumas no âmbito das BDM (AYRES, 2004; ASSUNÇÃO, 2005; KURTH, 2006; RILEY, 2008) uma vez que demonstrou um a- vanço no processo de catalogação das peculiaridades do registro musical bem como as interconexões entre a obra musical e suas manifestações e instâncias disponí- veis. Na Figura 17 é apresentado um exemplo hipotético de representação de um objeto musical.

Figura 17: Representação de um objeto musical na estrutura FRBR Obra1: Suites para Violoncello Solo, de J. S. Bach

Expressão1: Performance de Janos Starker executada em 1965

o Manisfestação1,1: Registro em vinil em 33 1/3 rpm de 1966 da gravadora Mer-

cury

o Manisfestação1,2: Registro (re-masterização) em CD de 1991 da gravadora

Mercury

Expressão2: Performance de Yo-Yo Ma executada em 1983

o Manisfestação2,1: Registro em vinil em 33 1/3 rpm de 1984 da gravadora CBS

Records

o Manisfestação2,2: Registro (re-masterização) em CD de 1992 da gravadora

CBS Records

Varias instituições vêm promovendo a “ferberizing”, ou seja, a transcodifica- ção do conjunto de dados associados aos padrões legados (por exemplo, do MARC para o modelo FRBR) bem como do conjunto de programas que acessam esses da- dos.

da Biblioteca de Música da Universidade de Indiana do Estados Unidos, denominado projeto Variations. Este projeto fornece acesso on-line mais de 5.000 gravações digi- tais de música. Este universo musical se refere às composições consideradas ne- cessárias para o ensino da música no âmbito da Escola de Música da Universidade de Indiana78. Em média, são acessadas diariamente cerca de 500 gravações de áu- dio. Seu banco de dados dedica-se principalmente ao repertório clássico, mas tam- bém inclui alguns gêneros de músicas populares, tais como rock, jazz e world music. Outra característica deste projeto é a vasta documentação disponível para consulta, que engloba os vários aspectos da construção dessa biblioteca, incluindo a publica- ção dos resultados de vários testes de usabilidade além da disponibilidade para download de um conjunto de dados (dataset) “ferberizados”79, no formato de arqui- vos XML80, que foram utilizados na prototipação descrita mais adiante.

A despeito dessas características relacionais, os resultados para a cataloga- ção no domínio da música, utilizando o modelo FRBR, são mais insatisfatórios. Isso se deve, de acordo com ASSUNÇÃO (2005), as especificidades dos documentos musicais, tais como: (i) a natureza da obra musical; (ii) a sua multiplicidade docu- mental (bibliográfica ou arquivística); (iii) os aspectos técnicos da sua representação e (iv) a sua potencial utilização (para execução, para estudo, para investigação). A- crescenta-se a isso a custosa migração dos dados de sistemas legados para o pa- drão FRBR (“ferberization”) que impõe uma grande dificuldade técnica inerente a esse tipo de operação (COYLE, 2010).

2.5.2 Representação do objeto informacional musical e as necessidades de