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Modelo de custo de oportunidade da terra baseado na extrapolação de preços observados no mercado (Modelo COT P)

APÊNDICE A: CURVA DE OFERTA DE CONSERVAÇÃO

Mapa 4: Lucro Anual Médio da Agropecuária em R$ por hectare/ano, preços de 2013, Modelo COT L

1.1. Modelo de custo de oportunidade da terra baseado na extrapolação de preços observados no mercado (Modelo COT P)

Na primeira parte do relatório, o lucro foi escolhido como variável chave para o cálculo do custo de oportunidade da terra. Entretanto, pôde-se perceber que o processo

122 de estimação do lucro por hectare esbarrou em uma série de limitações em função da disponibilidade de dados, de onde se depreende algumas interferências sobre o resultado final, evidenciados anteriormente.

Uma alternativa ao exercício proposto na primeira parte é dada pela possibilidade de se estimar o custo de oportunidade da terra por meio do valor dos contratos de arrendamento. Em termos econômicos, o arrendamento e o lucro da terra são conceitos intercambiáveis, dado que ambos refletem a remuneração da terra enquanto fator de produção. A diferença, de fato, é que o lucro pode ser empregado em uma gama maior de situações, enquanto o arrendamento trata apenas de situações onde o proprietário transfere o direito ao uso da terra a outro agente.

A natureza das dificuldades encontradas ao longo desse exercício estatístico é rigorosamente a mesma daquela que se apresentou na primeira subseção do presente capítulo. A falta de dados em escala municipal e a descontinuidade das séries históricas impuseram grandes desafios à obtenção dos resultados, com o agravante de que a disponibilidade de informações sobre o mercado de arrendamento de terras é ainda mais precária – em parte pelo baixo dinamismo desse mercado no Brasil (PLATA & REYDON, 2006). Por esta razão, optou-se estimar o valor do arrendamento em função do preço observado da terra (Modelo COT – P), assumindo uma proporcionalidade entre essas duas estatísticas.

A devida conversão do preço da terra em valor do arrendamento foi obtida por meio da utilização de taxas reais de juros. De modo simples, é possível afirmar que o preço de um ativo equivale à perpetuidade de seu fluxo de rendimento10 descontado para o valor presente, tal qual evidenciado na equação (4), abaixo:

Equação 04.

𝑝 =𝑞𝑖 (4)

Onde q é o fluxo de renda obtido pelo ativo – no caso específico, o valor obtido pelo arrendamento da terra – e i é a taxa de juros real. Assim, tomando o log natural e resolvendo para o preço de arrendamento, tem-se que:

10 Este seria seu valor de longo prazo, livre de flutuações decorrentes de especulação com o valor do ativo.

123 Equação 05.

ln 𝑞 = ln 𝑝 + ln 𝑖 (5)

Como parâmetro para os juros reais de longo prazo foram sugeridas taxas dentro do intervalo de 4% a 9%. A escolha desses valores não foi arbitrária. O intervalo abrange os valores mínimos e máximos da razão arrendamento preço da terra no período 2000-2006, de acordo com os dados da IBRE-FGV, tal qual revela a tabela 9. Mais além, cabe ressaltar que desde o primeiro trimestre de 2009 a taxa real de juros, medida pela diferença entre o CDI e o IPCA vem assumindo valores anuais médios próximos do intervalo de 4% e 6%, com exceção do período que vai de maio de 2012 a dezembro de 2013 (Figura 5).

Tabela 9: Razão Arrendamento/Preço da Terra, período 2000-06 Tipo de Terra 2000 2001 2002 2003 2004 2005* 2006 Lavoura 0,08563 0,07964 0,08252 0,07446 0,06909 0,06503 0,06097 Pastagem 0,08189 0,07161 0,06599 0,05791 0,05298 0,05534 0,0577

Fonte: Elaboração própria segundo os dados da FGV *Valor estimado pela média de 2004 e 2006.

Figura 5: Taxa Real de Juros (CDI-IPCA)

período 2000-2015

Fonte: Elaboração própria segundo dados do IBGE e do Banco Central.

0 2 4 6 8 10 12 14 16 d ez /0 0 ju l/ 01 fev /0 2 se t/ 0 2 ab r/ 03 n o v/ 03 ju n /0 4 jan /0 5 ag o /0 5 mar /0 6 o u t/ 06 mai /0 7 d ez /0 7 ju l/ 08 fev /0 9 se t/ 0 9 ab r/ 10 n o v/ 10 ju n /1 1 jan /1 2 ag o /1 2 mar /1 3 o u t/ 13 mai /1 4 d ez /1 4 ju l/ 15

124 As estatísticas descritivas foram calculadas para diversos patamares de taxas de juros, mas os resultados aqui apresentados referem-se ao caso da taxa de juros igual a 6% ao ano. Entende-se que esse patamar reflete um cenário de normalidade, especialmente por estar razoavelmente próximo dos valores médios nas séries históricas de juros reais, quando observados para o último decênio, e dos valores assumidos pela razão arrendamento/preço no final da série histórica acima apresentada.

Os dados referentes ao preço da terra foram obtidos juntos ao Anualpec (2013) e Agrianual (2014), ambas as publicações de autoria da Informa Economics (FNP). A base contida nas referidas publicações foram formadas pela coleta de dados referentes à venda de propriedades rurais junto a corretores imobiliários. Desta forma, o valor contido nos Anuários reflete o valor de mercado de fato, não sendo fruto de estimação, mas da transação entre vendedores e compradores.

A grande vantagem de se utilizar esses dados é que as cifras sinalizam a real disposição a pagar e a receber dos agentes que transacionam no mercado de terras. Para compradores, o montante pago no momento da aquisição da terra reflete, grosso modo, o valor presente do somatório das rendas esperadas ao longo da vida útil desse ativo. Na perspectiva dos vendedores, trata-se da quantia mínima de moeda que exigem receber para se desfazerem do direito que possuem de usufruir dessas rendas ao longo do tempo. (KEYNES, 1936; REYDON, 1992; YOUNG, 1997; ALVARENGA JR., 2014).

As informações fornecidas pelos dois anuários estatísticos acima (ANUALPEC e AGRIANUAL) encontram-se majoritariamente expressas em nível microrregional. Desta forma, um dos maiores desafios encontrados no presente modelo de estimação do custo de oportunidade da terra consistiu em transformar uma base de dados microrregional em um conjunto de informações em escala municipal.

O processo de municipalização das informações contidas no Anualpec (2013) e Agrianual (2014) seguiu a metodologia presente nos estudos de Young et al. (2007); Queiroz (2008) e Alvarenga Jr (2014).

Ainda que para alguns municípios brasileiros os preços para os tipos de terra catalogados pela FNP (mata, pastagem e terra agrícola) estejam disponíveis em ANUALPEC (2013) e AGRIANUAL (2014), para a grande maioria estas informações apresentam algum grau de incompletude. Isto é, para a grande maioria dos municípios brasileiros ou inexiste informação sobre o preço de um determinado tipo de terra, ou

125 simplesmente inexiste qualquer dado referente ao preço das propriedades transacionadas naquelas localidades.

Para os municípios com falta de dados para áreas de mata, foi utilizado o menor preço disponível para a terra naquela localidade. No caso de falta de informações sobre o preço das áreas de pastagem, foi tomada a média entre o preço da mata e o preço da terra agrícola. Por fim, em caso de inexistência de dados referente ao preço de terras agrícolas, tomou-se o maior valor da terra no município. No caso extremo, em que inexistiam informações de preços para quaisquer tipos de terra, tomou-se para esse município o valor das médias estaduais para as áreas de mata, pastagem e terra agrícola.

Uma vez em posse de uma base municipal, o passo seguinte foi multiplicar o preço da terra pelo parâmetro referente à taxa de juros real, de modo a chegar ao valor do arrendamento de um hectare em cada município brasileiro para cada um dos tipos de terra (mata, pastagem, terra agrícola). Por fim, para se chegar a um valor médio por hectare arrendado, coube multiplicar o resultado acima pelo peso relativo dos diferentes tipos de terra em cada município brasileiro – dados estes obtidos junto ao Censo Agropecuário (IBGE). Ou seja, optou-se uma média ponderada do valor do arrendamento da terra, tal qual expressa na equação abaixo:

Equação 06

Ai = (Ami . Ysi) + (Api . Ypi) + (Ati . Yai) (6)

Onde:

Ai = valor do arrendamento de um hectare de terra no município i; Ami= valor do arrendamento da mata no município i;

Api = Valor do arrendamento do pasto no município i;

Ati = Valor do arrendamento da terra agrícola no município i;

Ysi = fração da área do município i ocupado por remanescente florestal; Ysi = fração da área do município i ocupado por pastagens

Ysi = fração da área do município i ocupado pela agricultura.

A tabela 10, abaixo, apresenta os resultados da estimação do custo de oportunidade da terra segundo o modelo de preços de mercado. Tendo o parâmetro para a taxa de juros sido fixado em 6% - valor que expressa a condição de normalidade –,

126 nota-se que a média do valor dos contratos de arrendamento nos municípios brasileiros encontra-se abaixo dos R$ 435,00 por hectare/ano. Adicionalmente, o modelo de preços exógenos revela que 50% dos municípios brasileiros possui um custo de oportunidade menor que R$ 323,60 por hectare/ano, valor que se encontra dentro da fronteira de pagamentos nos casos de PSA efetivamente implementados no Brasil.

Tabela 10: Custo de Oportunidade da Terra em 2013 – (R$/Ha)

Estatística 4% 5% 6% 7% 8% 9%

Média 289,42 361,78 434,14 506,49 578,85 651,20

Mediana 215,74 269,67 323,60 377,54 431,47 485,41 Fonte: Elaboração própria

Os valores para referentes ao custo de oportunidade da terra – aqui tratados como valor do arrendamento – estão heterogeneamente distribuídos pelo território nacional, tal qual revela o mapa 511. As condições técnicas e de mercado que

determinam os baixos retornos esperados na região amazônica e no sertão nordestino, acabam por jogar o foco dos projetos de PSA para essas frações do território nacional, em especial para as áreas de floresta amazônica, onde os benefícios provenientes da conservação tendem a ser elevados (ver capítulo 3).

11 A relativa homogeneidade de valores observada na região norte se deve fundamentalmente ao baixo número de observações sobre o preço da terra em escala municipal nessa localidade, agravados ainda pela grande extensão dos municípios nessa porção do território nacional. Esses dois fatores em conjunto acabaram contribuindo para o padrão monocromático observado na região, sendo tão mais evidente quanto menor for a quantidade de dados em escala municipal, e quanto maior for o tamanho dos municípios em uma dada unidade da federação (vide o caso do Amazonas).

127 Mapa 5: Custo de arrendamento da terra em R$ por hectare/ano, preços de

2013, Modelo COT - P

Fonte: elaboração própria

Além de atentar para a significativa heterogeneidade na distribuição espacial de valores, convém chamar a atenção de que o custo de oferta de conservação em uma parcela significativa do território nacional é relativamente baixo (Figura 6). Os resultados da estimação feita nesta seção revelaram que com aproximadamente R$100,00 por hectare/ano seria possível equiparar o lucro da terra (valor do arrendamento) em cerca de 40 milhões de hectares. Com R$ 200,00 hectare/ano seria possível equiparar os rendimentos agropecuários recebidos em cerca de 92,5 milhões de hectares.

128 Figura 6: Curva de oferta de conservação para PSA no Brasil em R$ por

hectare/ano, preços de 2013 (Modelo COT – P)

Fonte: Elaboração própria

1.2. Modelo de estimação do custo de oportunidade da terra baseado em