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2. INTERVENÇÃO PROFISSIONAL MAJOR

2.2. Enquadramento Conceptual e Teórico

2.2.1. Modelo para mudança da prática baseada em evidências

Segundo Larrabee (2011), a PBE consiste no exercício profissional que fundamenta o processo de tomada de decisão na experiência clínica e, concomitantemente, na melhor evidência, obtida através da pesquisa sistematizada, considerando igualmente os valores do doente.

A versão original do MMPBE apoia-se, fundamentalmente, em aspetos teóricos e empíricos sobre a mudança, o recurso à pesquisa e a PBE, obtidos através da literatura (Larrabee, 2011; Rosswurm & Larrabee, 1999). Esse modelo foi testado pelos autores originais e, desde então, aplicado por enfermeiros e outros profissionais de áreas distintas, em diferentes contextos. Com base na experiência de Larrabee, e dos enfermeiros que aplicaram o modelo, surgiu a necessidade de proceder à sua revisão, por forma a aprimorar o desenvolvimento de programas de melhoria contínua, incorporando, na versão revisada, conceitos referentes à qualidade dos cuidados de enfermagem (Larrabee, 2011).

O MMPBE surge da constatação de que os profissionais de saúde apresentam dificuldades em sintetizar dados empíricos e integrar mudanças na prática de cuidados, defendendo a prática baseada num raciocínio interativo e crítico, promotor do desenvolvimento da investigação em enfermagem, em detrimento da prática baseada unicamente na intuição, que resulta da experiência individual e de processos assentes na opinião pessoal (Rosswurm & Larrabee, 1999). Segundo o modelo teórico de Larrabee, a mudança na prática deve basear-se na combinação entre a identificação de necessidades e/ou análise de dados, a pesquisa clinicamente relevante e a experiência clínica. A integração sincrónica destes aspetos tem o potencial de melhorar os processos de tomada de decisão dos enfermeiros, modificar os padrões dos cuidados de enfermagem, melhorar a segurança e a qualidade dos cuidados, assim como os resultados para o doente, e garantir cuidados individualizados (Larrabee, 2011; Rosswurm & Larrabee, 1999).

Segundo a mesma autora, os líderes de enfermagem, tendo como função a supervisão dos cuidados e gestão de recursos, em prol dos melhores resultados para os doentes, desempenham um papel importante na promoção da PBE, sendo que o apoio por parte dos mesmos se revela essencial para a motivação da equipa e obtenção do sucesso da mudança. Já as organizações profissionais de enfermagem determinam os padrões de excelência, quer para a formação, quer para a prática da enfermagem (Larrabee, 2011).

Larrabee (2011) refere que o MMPBE compreende 6 etapas que, apesar de serem progressivas, podem não ser seguidas de forma linear (Figura 1), nomeadamente:

Etapa 1: Avaliar a necessidade de mudança da prática – Consiste em identificar e envolver as “partes interessadas”3 no problema prático; colher dados sobre a prática atual e compará-los com

dados externos, de modo a validar a necessidade de mudança; identificar o problema e relacioná-lo com intervenções e resultados. É sugerida a utilização de instrumentos como o brainstorming e instrumentos de colheita de dados.

Etapa 2: Localizar as melhores evidências – Abrange a identificação da melhor evidência disponível, através do planeamento da estratégia de pesquisa, da seleção dos instrumentos de avaliação crítica dos estudos e de outras fontes de informação, bem como dos métodos a utilizar na organização dos dados obtidos, como são exemplo as tabelas para recolha de dados.

Etapa 3: Fazer uma análise crítica das evidências – Consiste na síntese das evidências e aplicação dos instrumentos de avaliação crítica selecionados previamente, por forma a avaliar o nível e qualidade da evidência, bem como os riscos e benefícios da sua integração na prática clínica.

Etapa 4: Projetar a mudança na prática – Compreende a definição da mudança proposta, identificação dos recursos necessários, planeamento das estratégias para implementação do plano delineado e da sua avaliação.

Etapa 5: Implementar e avaliar a mudança da prática – Inclui a implementação do plano definido, a avaliação do processo, dos resultados e dos custos e, com base na análise efetuada, o desenvolvimento de recomendações e conclusões.

Etapa 6: Integrar e manter a mudança na prática – Consiste em divulgar a mudança recomendada às “partes interessadas”, implementar a nova prática, monitorizar os indicadores de processo e de resultado e divulgar os resultados.

O MMPBE é um modelo teórico com eficácia comprovada no que respeita à implementação de modificações na prática clínica. No entanto, Larrabee ressalva que o sucesso na aplicação deste

3 Stakeholders - “Pessoas que têm interesse no resultado de uma prática de saúde”. Podem incluir os doentes, famílias,

modelo requer a aquisição de competências por parte dos enfermeiros, que os tornem capazes de operacionalizar os processos de mudança (Larrabee, 2011).

Importa ainda referir que o MMPBE reflete igualmente a metodologia aplicada na realização de revisões integrativas, sendo manifesta a analogia entre as etapas definidas no MMPBE e as etapas definidas para esta metodologia de investigação.

Figura 1. Esquema do Modelo para Mudança da Prática Baseada em Evidências

(Fonte: Adaptado de Larrabee, 2011)

Não obstante o supracitado, por forma a avaliar o MMPBE, optámos por analisá-lo à luz dos critérios de avaliação e análise das teorias de enfermagem propostos por Fawcett (2005), nomeadamente: significância, consistência interna, parcimónia, adequação pragmática e testabilidade.

Assim, constatamos que o MMPBE demonstra significância, na medida em que se trata de um modelo teórico centrado no doente, que instiga a investigação em saúde, defendendo a PBE como forma de proporcionar cuidados de qualidade e melhorar os resultados para o doente, o que atesta a sua importância para a Enfermagem enquanto disciplina do conhecimento, sendo a autora reconhecida e citada bibliograficamente. Verificamos igualmente que, o MMPBE apresenta-se estruturado em etapas coesas, cujo conteúdo é preciso, sendo a correlação entre as mesmas descrita com clareza e consistência semântica, o que revela consistência interna e parcimónia.

Etapa 1: Avaliar a necessidade de mudança na prática Etapa 6: Integrar e manter a mudança da prática Etapa 2: Localizar as melhores evidências Etapa 3: Fazer uma análise crítica das evidências

Etapa 5: Implementar e avaliar a mudança da prática Etapa 4: Projetar a mudança da prática

O MMPBE reveste-se de utilidade, uma vez que já foi testado e aplicado em diversos contextos, com resultados positivos para os doentes, enfermeiros e instituições, constituindo-se um instrumento valioso na orientação da mudança da prática e resolução de problemas reais, o que comprova a sua adequação pragmática e testabilidade. Entre os projetos implementados, que utilizaram o MMPBE e conduziram à mudança da prática, salientamos alguns que foram direcionados para o doente crítico, nomeadamente: avaliação da sedação do doente adulto internado em UCI; cuidados de higiene oral no doente crítico; estratégias para diminuir a contaminação de nutrição entérica; utilização de solução salina antes da aspiração traqueal (Larrabee, 2011).

Perante a análise do modelo confirmámos a sua utilidade, tanto na prática clínica como na investigação, bem como a sua adequação ao contexto da prestação de cuidados ao doente crítico, o que fundamenta a escolha deste modelo teórico como linha orientadora da IPM desenvolvida.