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MODELO TEÓRICO SUBSTANTIVO

No documento deniserocharaimundoleone (páginas 137-141)

O autocuidado terapêutico desenvolvido pelas pessoas em diálise peritoneal domiciliar, no contexto das relações destas com os serviços de enfermagem existentes na rede de atenção à Saúde do SUS, pode ser compreendido a partir da conjunção de fenômenos que se inter-relacionam.

O fenômeno Convivendo com a diálise peritoneal se apresenta como a condição causal do evento, pois receber o diagnóstico de DRC e realizar a DP como tratamento no domicílio gera a ocorrência da necessidade de o indivíduo e/ou o responsável pelo procedimento desenvolver e/ou aprimorar as habilidades de vida e motoras para a realização dessa terapêutica.

As pessoas, ao iniciarem o tratamento com a DP, vivenciam incômodos e receios relacionados à realização da terapêutica no domicílio, porém, com o passar do tempo, as mesmas apresentam a superação destes sentimentos, o que as deixa mais tranquilas e confortáveis.

A diálise peritoneal para aqueles que realizaram e para os que não realizaram o tratamento hemodialítico é tida como melhor opção, haja vista a não necessidade de deslocamento até o centro de diálise três vezes na semana, por longo período de tempo. A realização dessa terapêutica oferece maior liberdade durante o dia a quem convive com a DP, mesmo assim, faz-se necessária a adequação de algumas atividades, pois existem restrições impostas pela presença da doença e da diálise. Essas restrições variam de acordo com a forma em que a DP foi inserida na vida do indivíduo e elas são minimizadas conforme a aceitação deste.

O fenômeno realizando a DP no domicílio e estando inserido na Rede

de Atenção à Saúde do Sistema Único de Saúde representa o contexto no qual o

indivíduo que realiza DP no domicílio se encontra, pois o tratamento é feito em sua residência, que é área de abrangência de alguma Unidade Básica de Saúde, e o mesmo apresenta necessidades de saúde diversas que o direcionam para outros serviços da Rede. Entretanto apenas o serviço de nefrologia

no qual os pacientes estão cadastrados se apresenta como referência para dúvidas e/ou intercorrências dos pacientes.

O enfermeiro do serviço, quando necessário, é acionado via telefonema, mesmo fora do seu turno de trabalho, para sanar as demandas desses pacientes. Dessa forma, os indivíduos não sentem necessidade de melhorar a interface do serviço de nefrologia com a Unidade Básica de Saúde, pois o centro de diálise torna- se suficiente para o atendimento de suas necessidades. Apreendeu-se a criação do vínculo entre as pessoas que realizam a DP no domicílio e o serviço de diálise, sobretudo com o enfermeiro responsável pelo serviço.

Pode-se dizer que a educação terapêutica fornecida pelo enfermeiro do centro de diálise aprimorou as habilidades requeridas para a realização da DP no domicílio, entre elas destacam-se a habilidade de comunicação efetiva, o pensamento crítico, a tomada de decisão e a habilidade motora.

O processo de articulação do serviço de nefrologia com a Rede de Assistência à Saúde do SUS, em relação ao procedimento dialítico dos pacientes que realizam DP no domicílio, apresenta fragilidades que vão desde a não interação da APS no cuidado ao domicílio até a não realização do procedimento em UPA por falta de autorização, bem como a efetivação do procedimento em internação hospitalar pelo cuidador ou por outra pessoa que recebeu a educação terapêutica para a DP por falta de conhecimento dos profissionais. Desta forma, os indivíduos encontram-se vulneráveis, no que tange as suas necessidades de saúde. A RAS para eles é fragmentada, o que ocasiona a fragilidade desta e do cuidado, não garantindo, assim, o princípio da integralidade do SUS.

Destaca-se que é no contexto daqueles que convivem com a DP no domicílio e que estão inseridos na Rede de Atenção à Saúde do SUS que as estratégias de ação e interação são tomadas e que os fatores intervenientes atenuam a realização do tratamento no domicílio.

Dessa forma, o fenômeno Adaptando-se às necessidades: a estratégia

de ação e interação se apresentou como a estratégia de ação e interação

desenvolvida pelos indivíduos que realizam DP no domicílio. A todo momento, desde o início do tratamento, adaptações permearam o convívio com a DP. Estas são realizadas na casa, sobretudo no quarto, local onde ocorre o procedimento e a escolha visa à minimização de riscos, principalmente os relacionados a eventos

infecciosos. Aqueles que possuem animal de estimação evitam que os mesmos adentrem nesse ambiente.

A vida social sofre interferência da necessidade do procedimento dialítico, por este motivo, adaptações em relação aos dias de folga da diálise e horários do procedimento também são realizadas pelas pessoas. O processo de adaptação vivenciado pelo indivíduo que realiza DP interfere na maneira de viver do mesmo.

No que diz respeito ao tratamento, caso haja necessidade de hospitalização, os indivíduos que realizam a DP ou o responsável pelo procedimento precisa adaptar-se à rotina hospitalar, de forma a realizar o tratamento naquele ambiente.

Para a obtenção das adaptações que se fazem necessárias, as pessoas que realizam seu tratamento no domicílio precisaram desenvolver habilidades de tomada de decisão e de pensamento crítico, que as ajudam a ponderar se estas serão benéficas ou danosas à saúde.

Realizar o tratamento continuamente no domicílio faz com que as pessoas sintam a necessidade de se ocupar, como uma forma de distração e de não focar apenas no tratamento dialítico. Desta forma, o fenômeno Utilizando a ocupação

como forma de atenuar o convívio com a DP emergiu dos dados como condição

interveniente. Para aqueles que necessitam desse tratamento como forma de manter a vida e o realizam no domicílio, ter uma ocupação, seja ela remunerada ou não, faz aflorar a autoestima e o sentimento de ser útil.

Aceitar e realizar o tratamento se torna mais fácil para aqueles que possuem uma ocupação, pois assim o tratamento não é o direcionador da vida. Para tanto, a pessoa precisa apresentar a habilidade de autoconhecimento para avaliar a possibilidade de ter uma ocupação. Este propicia a habilidade de pensamento crítico que direciona a tomada de decisão que resulta em ter ou não uma ocupação.

Como consequência de todo o processo descrito acima, tem-se a concepção do fenômeno Ritual terapêutico: realização das atividades de

autocuidado. Para a realização da DP no domicílio, faz-se necessário o

cumprimento de um ritual terapêutico que envolve o cuidado com o quarto, a higiene das mãos, a antissepsia do material, a montagem da cicladora, o conectar-se, a posição de dormir, o dormir e dialisar, e o acordar e desconectar, com vistas a prevenir infecções, internações e melhorar a qualidade de vida e sobrevida.

Realizar o ritual e as atividades de autocuidado terapêutico de forma adequada e contínua é o que se deseja para as pessoas que fazem a DP no domicílio, porém existe a necessidade de que elas ou o seu responsável desenvolvam tanto as habilidades cognitivas quanto as motoras. Dentre elas destacam-se a habilidade de pensamento crítico, a tomada decisão e a comunicação efetiva quanto às habilidades motoras que lhes possibilitarão realizar na prática todos os passos do procedimento dialítico.

9 O DIÁLOGO ENTRE O MODELO TEÓRICO SUBSTANTIVO E A TEORIA GERAL DE

No documento deniserocharaimundoleone (páginas 137-141)