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Tratamento não farmacológico: reconhecido como atividade

No documento deniserocharaimundoleone (páginas 122-125)

6 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE PRELIMINAR DOS DADOS

6.2 COMPREENDENDO AS DEMANDAS DE AUTOCUIDADO

6.2.2 Codificação Axial: Reagrupando os dados empíricos

6.2.2.5 Ritual Terapêutico: realização das atividades de autocuidado

6.2.2.5.2 Tratamento não farmacológico: reconhecido como atividade

Conforme descrito anteriormente neste trabalho, o autocuidado é definido como “a prática de atividades que os indivíduos iniciam e executam em seu favor, na

manutenção da vida, saúde e bem-estar” (OREM, 1995, p.104). E, quando foi perguntado aos participantes quais eram as atividades de autocuidado desenvolvidas por eles, respostas como realização da dieta e atividade físíca foram as mais prevalentes.

Eu até vou à Chácara fazer ginástica, mas uma vez por semana, é eu fazia lá duas vezes por semana quando eu morava lá, né. Aí eu vim embora pra cá, né, aí, quando eu posso, eu só vou assim uma vez por semana [Tulipa]. Eu gostava de fazer caminhada, que eu não estou fazendo, porque teve uma época que eu não estava passando bem, mas eu deveria voltar, né? [Begônia].

Conforme descrito acima, a prática de atividade física foi relatada, porém não como atividade contínua, apesar de os entrevistados saberem dos benefícios desta para o tratamento dialítico e a qualidade de vida. Em um estudo realizado por Stringuetta-belik et al. (2012), verificou-se uma associação positiva entre o nível de atividade física e a melhora da função cognitiva em pacientes renais crônicos em tratamento hemodialítico.

No que se refere à dieta, percebe-se que o grau de adesão é pequeno e varia de acordo com cada um e que os participantes recebem orientações nutricionais, porém sentem dificuldades em segui-las.

Dieta eu não faço não, risos, mas a gente não é muito de comida não, sabe? De comer muita coisa não [Cravo].

Ah, eu evito comer muito, mas dieta eu não faço não. Eu evito comer muito, eu como de tudo, mas evito comer muito [Azaleia].

Mas eu procuro, assim, a questão de alimentação, ainda assim é mais tranquilo. Eu sei que eu devo procurar obedecer o médico em questão de alimentação. Olha, não come chocolate, aí eu não como chocolate, tá? Olha o fósforo, vai devagar, então tem que ver direitinho aí. Eu procuro consumir mais frutas, legumes e verduras [Margarida].

Os entrevistados realizam esforços para manter a prática de autocuidado terapêutico relacionada à dieta, porém apresentam dificuldades. Zilmer e Silva (2015, p.306) relataram em seu estudo que “a alimentação é uma das dimensões do tratamento em que as pessoas em CAPD fazem mais adaptações ou não seguem as indicações dos profissionais de saúde”. Essa assertiva vai ao encontro da análise dos dados desta dissertação, pois se percebe que os entrevistados, ao mesmo

tempo que descrevem a dieta como atividade de autocuidado, realizam adaptações de acordo com suas vontades e necessidades.

A realização da dieta em indivíduos com DRC visa à melhora da condição geral do paciente a partir do controle da uremia, dos distúrbios hidroeletrolíticos, da condição nutricional e do tratamento de doenças correlatas. Os pacientes em DP apresentam maior estabilidade metabólica do ponto de vista nutricional, mas, em contrapartida, há maior perda de proteínas e de aminoácidos, além de absorção contínua de glicose presente na solução de diálise. Portanto, faz-se necessário ao individuo em DP seguir as orientações dietéticas prescritas (KAMIMURA; BAZANELLI; CUPPARI, 2013).

O manejo da restrição do consumo diário de líquidos também foi apontado pelos entrevistados como atividade de autocuidado. Para tanto, uma entrevistada, com o objetivo de facilitar o controle de sua ingesta hídrica, reduziu o tamanho do copo de água, de 200 ml para um de 50 ml, que ela utilizava quando estava com sede. Segundo ela, com o copo menor, a recomendação de diminuir a ingesta hídrica era facilitada. Outros relatos relacionados a esta prática de autocuidado terapêutico também foram descritos pelos entrevistados.

Ultimamente, eu estava ficando bem inchada, então eu estou evitando. Eu não parei de tomar, mas eu estou evitando. Assim, eu só tomo mesmo quando eu estou com muita vontade, fora disto, não. Eu estava ficando muito inchada [Azaleia].

Ah, eu, se me der vontade de beber água, eu vou lá e bebo um golinho, entendeu? Porque esses dias que estava fazendo mais calor, aí dava mais sede. Aí, eu ia lá e bebia um golinho [Tulipa].

Mais é o líquido, né? que eu tenho que controlar, porque eu já não urino, né [Tulipa].

Apreende-se, com os trechos das falas, a dificuldade de adesão à recomendação profissional em relação à restrição de ingesta de líquidos, principalmente devido ao calor. Ademais, percebeu-se que a ingesta de líquido é reduzida e não cessada. Dados semelhantes a esses foram encontrados nas pesquisas de Zillmer e Silva (2015) e Calderan et al. (2013).

Uma estratégia utilizada pelos entrevistados no manejo do controle dos líquidos ingeridos durante o dia é a autoavaliação dos mesmos, no que se refere à presença de edema.

De acordo com que eu me avalio em termos do inchaço, eu uso determinado tipo de bolsa, se eu me excedi no líquido, igual foi falado “olha, se você bebeu muita água, se você tomou suco, se você misturou, você vai usar uma bolsa de 4,25; 2,5 e 1,5 e, caso você esteja muito inchado, vai usar 4,25; 2,5 e 2,5. Porque aí puxa mesmo, aí desincha [Crisântemo].

Crisântemo, ao se preparar para o procedimento dialítico, realiza uma avaliação em relação à presença de edema e, a partir desta, o mesmo utiliza na diálise daquele dia uma bolsa com solução de diálise de 2,5% de dextrose, em vez de uma de 1,5%, juntamente com outras duas bolsas de diálise com 4,25% e 2,5% de glicose respectivamente. Destaca-se que, para a realização da troca de bolsa de menor concentração de dextrose por uma de maior concentração, o mesmo, além da autoavaliação, ancora-se na orientação recebida pelo profissional do serviço de diálise.

No procedimento dialítico, a retirada de líquidos do organismo é denominada de ultrafiltração (UF). E esta é consequência do gradiente osmótico entre a solução de diálise, hipertônica, e o sangue do indivíduo, que é relativamente hipotônico. Sendo assim, a UF é estimulada pela presença de altas concentrações de glicose na solução de diálise, ou seja, quanto maior a quantidade de glicose presente na bolsa, mais efetiva é a retirada de líquidos do individuo (BLAKE; DAUGIRDAS, 2010).

Diante do exposto, considera-se que os entrevistados empenhavam-se para a manutenção do autocuidado terapêutico, pelo conhecimento relacionado aos tipos de bolsas de diálise, que poderiam ser utilizadas caso estivessem edemaciados, e também por meio da tentativa de diminuição da ingesta hídrica. Estas atitudes direcionavam o manejo do volume de líquidos ingeridos durante o dia.

No documento deniserocharaimundoleone (páginas 122-125)