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PARTE I ENQUADRAMENTO TEÓRICO

CAPÍTULO 2 FUNDAMENTOS DA AÇÃO EDUCATIVA COM CRIANÇAS

2.1. Modelos de aprendizagem segundo Bruner

É na sala de aula que professores e alunos se encontram para efetuar um misterioso intercâmbio a que chamamos educação. Para compreender este processo é importante compreender a mente, sendo que, a psicologia e a pedagogia cultural ajudam-nos a compreender o ensino e aprendizagem dentro das salas de aula. Neste sentido, toda a minha prática pedagógica foi centrada nos modelos pedagógicos de Bruner, sendo que, estes modelos não se incidem apenas no modo como a mente funciona, incide também no modo como a mente da criança aprende e até mesmo o que lhe dá o desenvolvimento. De forma esclarecedora, Bruner (1996) determina quatro modelos dominantes de mentes das crianças que têm preponderando nos nossos tempos, ou seja, quatro modelos que demonstram diferentes prespetivas acerca da criança e das suas capacidades que são determinantes para o modo como o professor/educador ensina e educa.

O primeiro modelo definido por Bruner é designado como “as crianças enquanto aprendizes por imitação: a aquisição do “saber-fazer”, sendo que tal como o próprio nome indica, este modelo perspetiva a criança como um ser que não saber fazer x, aprende a fazer x vendo a demonstração. O uso da imitação como suporte para o ensino implica uma convicção adicional sobre a competência humana, sendo que, esta consiste em talentos, capacidades e habilidades e não em conhecimento e compreensão. Através deste modelo, as crianças aprendem as competências através da prática, sendo que, através deste modelo não se aprende nem teorias nem negociações ou discussões. No entanto, a verdade é que, para nós, este modelo é insuficiente para o desenvolvimento intelectual da criança, uma vez que, tal como afirma Bruner (1996) “a mera aprendizagem para a aquisição de destreza não tem a mesma eficácia que a perícia flexível, como é o caso quando se aprende através de uma combinação entre a prática e a explicação conceptual (…)".

O segundo modelo definido por Bruner (1996) é o modelo que defende que “as crianças que aprendem a partir de uma exposição didática”, sendo que este se baseia essencialmente no ensino didático, “normalmente na noção de que os alunos devem ser confrontados com factos, princípios e regras de ação que são para aprender, recordar e

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aplicar” (p. 81). Este modelo, perspetiva criança como um ser ignorante e inocente, pressupondo assim que esta é “uma tábua rasa” ou um quadro preto apagado, “apto a ser preenchido” (p. 83), sendo que, a interpretação ativa e construtivista não entra neste modelo, uma vez que este modelo vê a criança de fora, em vez de entrar nos seus pensamentos. Na nossa perspetiva acreditamos que apenas este modelo não possibilita o desenvolvimento pleno da criança, uma vez que acreditamos e valorizamos aquilo que as crianças já sabem.

Ao contrário dos dois primeiros modelos, o terceiro modelo de Bruner (1996) já define a criança como alguém que pensa e detém conhecimento, sendo que neste modelo o professor preocupa-se em perceber a criança, ou seja, em perceber o que a criança pensa e como chega aquilo em que acredita. Neste modelo, a criança é assim vista como uma “construtora” de um modelo do mundo que a ajuda a construir a sua própria experiência. O professor tem como função ajudar a criança a entender de forma consciente aquilo em que acredita, sendo que, essa ajuda é feita através da discussão e da colaboração encorajando “a criança a exprimir melhor as suas visões, para conseguir uma certa conjugação de mentes com outros que podem ter outras conceções” (p. 83). É de salientar ainda que, ao contrário do que é referido acerca dos modelos anteriores, neste modelo é visível uma tentativa de manter um intercambio de entendimento entre o professor e o discente com o intuito de encontrar nas intuições da criança as raízes do conhecimento sistemático. Segundo Bruner, este modelo pressupõe que todas as mentes humanas são capazes de suportar crenças e ideias, que posteriormente, através da discussão e da interação com os outros podem ser orientadas, uma vez que, “crianças e os adultos têm os seus pontos de vista, e cada qual é animado a reconhecer a visão do outro, mesmo que possa não concordar com ela” (p.83). Sendo que, neste modelo, são encorajadas a compreender que visões divergentes podem assentar em diferentes pontos de vista e que por isso, por vezes podem estar erradas e outras vezes podem estar certas, dependendo deste modo da razoabilidade das conceções, sendo assim a criança capaz de pensar acerca do seu próprio pensamento, e de corrigir as suas próprias ideias através da reflexão. De forma geral, e conclusivo, este modelo de educação é “mutualista e dialético” uma vez que é “mais preocupado com a interpretação e a compreensão do que com a perfeição do conhecimento factual ou da realização já exercitadas” (Bruner, 1996, p. 84)

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detentoras de conhecimento: A gestão do conhecimento “objetivo”, defende que “o ensino deveria auxiliar as crianças a captar a distinção entre conhecimento pessoal, por um lado, e “aquilo que é tido por conhecido” pela cultura, por o outro” (p. 84). Isto significa que, muito daquilo que as crianças já sabem é adquirido ao longo da sua vida através da interação com o mundo, com a cultura, com a sociedade e com os outros, sendo que, é através da sua iteração com o meio escolar que a criança começará a criar significados mais científicos daquilo em que já acreditava. Nesta perspetiva, Janet Astington citada por Bruner (1996, p. 90) reforça que quando as crianças começam a perceber até que ponto a prova é usada para verificar as crenças, estas vêm frequentemente o processo como se se tratasse de formar uma crença acerca de uma crença, isto é, a criança prova que a sua crença é verdadeira através da justificação da mesma através de outras crenças. Deste modo, a criança procurará justificações em autores que permanecem vivos através de textos, sendo por isso, defendido neste modelo de Bruner (1996) que “há qualquer coisa de especial em “falar” com autores já mortos, mas ainda vivos nos seus velhos textos” (p.90).

Dentro destes quatro modelos, modelos destacamos os últimos dois modelos como os modelos chave que utilizei para trabalhar com as crianças, acreditando assim que as crianças não são “tábuas rasas”, são sim crianças que detêm conhecimento através das suas vivências com o mundo e com os outros e portanto assumi sempre a criança como alguém capaz e assumindo o meu papel de professora/ educadora como alguém que ajuda e proporciona vivências e aprendizagens que ajudam no desenvolvimento gradual da criança.

Achamos importante acrescentar ainda que ao longo de todo o processo escolar, assim como pessoal, a junção dos quatro modelos é crucial para o desenvolvimento da criança, uma vez que, nós enquanto seres humanos aprendemos também pela imitação e pela exposição didática. No entanto, é necessário que exista um equilíbrio entre estes quatro modelos para o sucesso da aprendizagem.

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