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Modelos Baseados em Custos de Monitoramento e Acesso à Informação

1. Problema de Pesquisa

2.3. A Escolha do Tipo de Endividamento pela Empresa

2.3.1. Modelos Baseados em Custos de Monitoramento e Acesso à Informação

Quando oferece capital a uma empresa, o credor pede em troca determinadas informações sobre ela, sua estratégia, seu posicionamento de mercado, etc., a fim de determinar os riscos envolvidos na operação. Nesta relação, tanto a empresa quanto o credor incorrem em custos (a primeira para levantar as informações com a qualidade deseja pelo credor, e o segundo, para realizar o monitoramento da empresa e das informações por ela fornecidas, além de custos envolvidos na elaboração de contratos que exerçam este monitoramento e de posteriormente, fazê-los serem cumpridos – custos de enforcement).

Como as informações produzidas pela empresa devem ser compatíveis às necessidades de monitoramento do credor, mas aquela, por sua vez, não tem interesse em ser plenamente

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transparente com este, por não desejar, por exemplo, divulgar suas estratégias, cria-se um conflito de interesses, e conseqüentemente um problema de seleção adversa (Krishnaswami et alii (1999)). Uma forma de reduzir este conflito de agência (Jensen e Meckling (1976)), seria a inclusão de cláusulas na dívida (covenants), visto que sem as mesmas o credor poderia exigir maiores taxas pelo empréstimo para ser remunerado por incorrer neste risco de agência. Outra forma seria a exigência de vincular uma garantia à dívida, pois neste caso, o credor exigirá menos informações adicionais sobre a firma do que em outra situação (Stulz e Johnson (1985)). Em ambos as formas, o custo de monitoramento por parte do credor será menor e portanto, o custo cobrado pela dívida também.

Ainda em relação ao uso de covenants como instrumento para monitorar o tomador do recurso, Barclay e Smith (1995) afirmam que os credores privados têm certa vantagem comparativa em relação aos credores públicos para elaborar este tipo de contrato. Isso porque, no caso da dívida pública, há a necessidade de acomodar as diversas percepções de risco dos investidores detentores desta dívida ao se determinar os covenants que a empresa deverá cumprir para ter acesso aos recursos. Além disso, a renegociação de um covenant que tenha sido descumprido pela empresa é muito mais difícil no caso de uma dívida pública (os interesses que devem ser atendidos são mais numerosos19).

Em relação ao acesso às informações da empresa, Krishnaswami et alii (1999) lembram ainda que os credores privados são mais bem informados do que os credores públicos. Isso porque os segundos dispõem apenas de informações públicas sobre a empresa, enquanto os primeiros tipicamente têm acesso a informações privilegiadas. Este acesso privilegiado adviria da maior disponibilidade da empresa em fornecer este tipo de informações a um grupo seleto de credores. Neste sentido, empresas menores e aquelas com maior potencial de apresentarem assimetria de informação irão buscar maior volume de dívida privada para se financiar.

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Em uma dívida pública, os diversos investidores são representados pela figura do agente fiduciário. No entanto, mesmo sendo um único agente para toda a dívida, este deverá buscar a conciliação dos interesses dos diversos investidores que representa no momento de um processo de renegociação da dívida.

Lucinda e Saito (2005) também afirmam que empresas menores devem buscar a fonte de financiamento privada. O argumento dos autores para tal afirmação seria o fato destas empresas possuírem um grau de assimetria de informação maior entre financiadores e administradores, sendo a dívida privada menos afetada por esta assimetria. Conforme a empresa adquire capital reputacional, ela passaria a recorrer às colocações públicas.

Fama (1985) é outro autor que defende a preferência por empréstimos bancários por parte das empresas menores. A razão apontada pelo autor para esta preferência é que este tipo de dívida requer o fornecimento de menor volume de informação por parte da empresa, visto que são menos credores para serem informados. Portanto, os custos envolvidos para produzi-las são menores. As empresas maiores, por sua vez, podem achar vantajoso produzir toda a informação exigida pelos credores de colocações públicas, inclusive pelos ganhos de escala possíveis de serem obtidos nos custos inerentes a estas operações, que, normalmente, são de maior volume (Krishnaswami et alii (1999)).

Johnson (1997), citando Yosha (1995), afirma que os maiores custos de disclosure maior associados à dívida pública serão evitados não apenas pelas empresas de menor porte, mas também por aquelas com projetos de alta qualidade. Isso porque, além dos próprios custos financeiros associados à preparação das informações a serem fornecidas, há ainda a preocupação em disponibilizar informações estratégicas sobre a empresa, as quais podem ser facilmente acessadas pelos concorrentes.

Para potencializar seu maior poder de monitoramento, Barclay e Smith (1995) defendem que o credor privado, especialmente os bancos comerciais, tende a privilegiar o fornecimento de recursos de curto prazo às empresas. Desta forma, ele aumentaria seu poder de barganha junto à empresa, podendo inclusive influenciar sua política de investimento20.

Em relação à hipótese do custo de contratação, num contexto de seleção adversa, se o emprestador privado é mais bem informado do que o em prestador público a respeito da

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Esta maior influência do credor também é importante para evitar que este venha a ter problemas relacionados a risco moral e à possibilidade de vivenciar um processo de liquidação ineficiente junto à empresa.

condição creditória da empresa, Krishnaswami et alii (1999) afirmam que empresas mais jovens e com maior potencial de vivenciar situações de assimetria de informação irão optar pela dívida privada. No entanto, em sua pesquisa, os autores encontraram apenas limitada evidência comprovando a afirmativa de que a dívida privada é capaz de mitigar os custos de contratação relacionados à seleção adversa.