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2. Enquadramento Teórico

2.4. Modelos de Acreditação Hospitalar

Existem três modelos de acreditação hospitalar em Portugal: o Caspe Healthcare Knowledge Systems (CHKS), o Joint Commission International e o programa da Agência de Calidad Sanitaria de Andalucía (ACSA).

O CHKS é uma organização inglesa sem fins lucrativos, teve origem no King’s Fund Health Quality Service (KFHQS) no início em 1988. Tinha como objetivo a promoção, implementação e o desenvolvimento da melhoria das condições de saúde da população no Reino Unido. Só em 2005, foi integrada no CHKS.

Este modelo de acreditação tem como principais objetivos:

• Facilitar uma cultura de melhoria da qualidade;

• Promover o trabalho em equipa;

• Normalizar os procedimentos;

• Incentivar atitudes de planeamento e responsabilização.

O programa de Acreditação do CHKS é “baseado no facto de que uma boa qualidade no cuidado do paciente depende da monitorização regular e forte dos sistemas e processos de uma organização” (TC, 2012).

Em 1999, este modelo foi o primeiro a ser escolhido e implementado, em Portugal, pelo Instituto da Qualidade em Saúde (IQS). Posteriormente, foi adotado o modelo americano da JCI, ficando ambos os modelos vigentes.

Após a extinção do IQS, alguns anos depois de adoção destes dois modelos, a Direção-Geral da Saúde (DGS) criou o Departamento da Qualidade na Saúde (DQS), ficando

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este responsável pela criação “um programa nacional de acreditação em saúde baseado num modelo de acreditação sustentável e adaptável às caraterísticas do Sistema de Saúde português”, em junho de 2009.

Este novo departamento ficou responsável pela criação de um novo modelo de acreditação que permitisse a acreditação não apenas dos grandes centros hospitalares, como era a realidade, mas também de “cuidados de saúde primários e cuidados continuados e as unidades de saúde com dificuldades estruturais que, não tendo condições para obter uma acreditação de toda a estrutura, também não tinham nenhuma solução alternativa” (DGS, 2014). Assim, tinha como objetivo a evolução e melhoria da qualidade dos cuidados de saúde em Portugal e ainda a criação de um modelo adaptado à realidade portuguesa.

Segundo a DGS, as vantagens para a criação de um programa nacional de acreditação de unidades de saúde, tutelado pelo Ministério da Saúde são inúmeras.

Primeiro porque permite a articulação entre “os diferentes eixos estratégicos da Estratégia Nacional para a Qualidade na Saúde, que foi desenhada para promover e desenvolver a qualidade nas unidades de saúde do Sistema de Saúde português” (DGS, 2014). De seguida, o Ministério da Saúde é responsável por garantir a qualidades dos cuidados de saúde e por verificar continuamente a mesma e ainda por definir políticas de saúde que permitam uma gestão eficiente dos recursos.

Por último, a partilha dos resultados entre os diferentes departamentos técnicos do Ministério da Saúde e a disseminação da informação a nível nacional.

Um aspeto importante a referir, é o facto de que toda a informação obtida durante o processo de acreditação, exemplos de boas práticas das diferentes unidades, a experiência obtida e a análise daquilo que deve ser melhorado, “ficam ao dispor de um organismo central do Ministério da Saúde e podem, assim, ser partilhadas e disponibilizadas” (DGS, 2014).

Assim sendo, em 2009, a Direção-Geral da Saúde assumiu a responsabilidade de criar e desenvolver um Programa Nacional de Acreditação em Saúde, tendo em conta as caraterísticas do Sistema de Saúde Português (SNS) e adaptado para qualquer que seja a tipologia das unidades de saúde SNS.

Uma vez que a criação de um modelo totalmente novo iria implicar demasiado tempo, optou-se pela adoção de um modelo que fosse possível adaptar à nossa realidade, que fosse cumprir os requisitos definidos e validado. Como tal, foi adotado o modelo de acreditação da ACSA.

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Este modelo de certificação e reconhecimento público, desenvolvido inicialmente pela Conselheria de Saúde da Região Autónoma da Andaluzia, em Espanha, foi posteriormente aplicado em Portugal.

O modelo ACSA é então um modelo oficial e nacional de acreditação de unidades de saúde do Ministério da Saúde e como principal referência para as unidades de saúde do SNS (DGS, 2014). O modelo permite, mais do que uma acreditação generalista, uma acreditação de serviços.

Para a DGS, este tipo de acreditação irá promover a envolvência de todos os serviços que servem de suporte ao serviço acreditado e assim também irão progredir numa lógica 20/80. Ou seja, quando 20% dos principais serviços hospitalares estiverem acreditados, os restantes 80% irão garantir “normas de boa prática clínica e de segurança” na prestação de cuidados aos utentes (2014).

Em Portugal, é voluntária a decisão das instituições a serem submetidas a um processo de acreditação. Contudo, em países como Itália, Inglaterra e França é obrigatória (WHO, 2003).

Uma revisão sistemática da literatura realizada pela Haute Autorité de Santé (entre 2000 e 2010), com o objetivo de avaliar o impacto da certificação de hospitais, revela que a grande maioria dos estudos sobre o tema em França sugerem que os processos de certificação em hospitais têm um impacto positivo na melhoria da organização, gestão e prática profissional em hospitais, que poucos estudos demonstram uma relação entre acreditação e melhoria nos resultados de saúde (incluindo a satisfação dos utentes), os profissionais de saúde têm uma perceção positiva acerca da acreditação e impacto da mesma, contudo os profissionais também destacam alguns efeitos negativos (como por exemplo, aumento da carga de trabalho).

Uma outra revisão sistemática mais recente, concluiu que apesar da acreditação hospitalar ter vindo a crescer e a ganhar cada vez mais importância, quer pelos utentes quer pelas administrações hospitalares, não existe evidência para se concluir que a acreditação está associada a uma melhoria da qualidade (Brubakk, K. Vista, G.

Bukholm, G. Barach, P. Tjomsland, O. 2015).

Corroborando o que foi referido no paragrafo anterior, um estudo que pretendia comparar hospitais acreditados com outros não acreditados (para as patologias mais frequentes nos mesmos), concluiu que os acreditados não apresentavam melhores resultados (taxa de mortalidade e de readmissão), assim como a The Joint Commission, que é a forma mais comum de acreditação hospitalar nos Estados Unidos da América,

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não foi associada a melhores resultados, quando comparada com outros tipos de acreditação (Lam, M. et al. 2018).

Embora diversos estudos revelem que a acreditação hospitalar não demonstra melhores resultados, há autores que defendem a influência numa melhor experiência por parte do utente, em que se verifica que hospitais acreditados originam utentes mais satisfeitos (Andres, E. Song, W. Song, W. Johnston J. 2019).

A melhoria da qualidade em saúde deve estar enraizada nas diferentes valências e serviços existente numa unidade de saúde. Os cuidados de saúde prestados no bloco operatório ao doente que necessita de cuidados cirúrgicos, devem garantir uma boa prática e cumprir critérios de qualidade e de segurança. Assim, a acreditação em saúde permite garantir a qualidade dos cuidados prestados e uma melhoria dos resultados obtidos na área cirúrgica (Ministério da Saúde, 2013).

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