4.4 Avaliação de desempenho
4.4.1 Modelos de avaliação de desempenho
De acordo com Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p.37), o sistema de medição de
desempenho surge como uma ferramenta capaz de gerar técnicas lógicas, padronizadas e
sistêmicas para racionalizar o processo de gestão.
Dessa forma, serão apresentados os principais modelos de avaliação de desempenho
que possuem maior fundamentação teórica e já são utilizados nas organizações, bem como
apresentam uma proposta de visão integrada entre formulação, desdobramento e a
implementação da estratégia.
4.4.1.1 Economic Value Added (EVA)
A utilização do EVA para avaliar o desempenho surgiu em resposta às deficiências do
sistema tradicional de avaliação econômico-financeira, que não dá resposta adequada em
termos de criação de valor para o acionista.
Tendo em vista que a criação de valor para o acionista está entre os principais
objetivos corporativos, foi preciso encontrar mecanismos mais adequados para mensurar e
demonstrar a riqueza gerada para o acionista.
Os sistemas que mais têm se destacado, tanto no mundo acadêmico como nos meios
de analistas financeiros de grandes instituições financeiras para medir a criação de valor ao
acionista são o Market Value Added (MVA) e o Economic Value Added (EVA).
Para Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p. 40), o EVA é um sistema de gestão
financeira que mede o retorno que capitais próprios e de terceiros proporcionam aos seus
proprietários. Ele mede a diferença entre o retorno sobre o capital de uma empresa e o custo
desse capital.
Malvessi (2000, p. 43) cita que o EVA é conceitualmente definido como o NOPAT
(Net Operating Proft after Taxes – Lucro operacional após o Imposto de Renda) deduzido do
respectivo WACC (Weighted Average Cost of Capital – Custo Médio Ponderado de Capital).
Portanto, a fórmula básica do cálculo do EVA é apresentada da seguinte forma:
EVA = NOPAT (-) VALOR MONETÁRIO DO CUSTO DE CAPITAL ($)
em que:
NOPAT = lucro operacional líquido depois dos impostos;
Custo de Capital ($) = WACC x capital aplicado;
WACC = (Passivo oneroso x taxa média do custo de capital após IR) + (Patrimônio
líquido x Custo de Capital Próprio).
Dessa forma, há criação de valor quando o NOPAT for maior que o custo do capital
aplicado no negócio e há destruição de valor quando o NOPAT for insuficiente para cobrir o
custo do capital requerido pelos investidores e acionistas.
De acordo com Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p.41), o MVA é o valor atual dos
futuros EVA. Seu objetivo é medir a valorização ou desvalorização da empresa em função da
obtenção de EVA negativo ou positivo.
Para Ehrbar (1999, p. 36), o MVA pode ser conceituado como a diferença entre
entrada de caixa e saída de caixa: entre aquilo que investidores colocam na empresa como
capital e o que poderiam receber vendendo pelo preço de mercado corrente. Como tal, o MVA
é o montante acumulado pelo qual a empresa valorizou ou desvalorizou a riqueza dos
acionistas.
Portanto, a fórmula básica do cálculo do EVA é apresentada da seguinte forma:
MVA = Valor de mercado da empresa (-) Valor investido pelo acionista (capital total)
MVA = Valor presente dos futuros EVA
O conceito do MVA indica quanto o valor de mercado das ações da empresa adicionou
em termos de valor aos acionistas, quando comparado com o valor originalmente investido.
Sua análise leva em consideração a expectativa do investidor sobre o tempo máximo
de retorno que tem sobre os capitais investidos. Se o retorno der-se no prazo estipulado, não
ocorreu ganho nem perda, e, portanto, não há valorização e nem desvalorização da empresa.
Seu MVA é zero. Se o retorno der-se num prazo diferente do máximo que foi estipulado,
ocorrerá ganho, se em tempo menor, e perda, se em tempo maior, e, portanto, valorização ou
desvalorização da empresa. O MVA será positivo ou negativo, respectivamente.
4.4.1.2 Modelo de Balanced Scorecard (BSC)
O Balanced Scorecard foi desenvolvido dentro do grupo de estudos intitulado
“Medindo a performance nas organizações no futuro”, formado em 1990, em que David
Norton atuava como presidente e Robert Kaplan como consultor acadêmico.
A elaboração do BSC compreende a eleição, a partir das definições de visão, missão e
estratégia da empresa, de uma relação de objetivos estratégicos, seus indicadores de avaliação,
metas de superação e as iniciativas correspondentes para o seu alcance.
A partir da visão estratégica da empresa são derivados objetivos estratégicos. Esses
objetivos estratégicos focalizam a empresa sob as perspectivas, transformando-se em
objetivos. Para cada objetivo são definidos indicadores com metas alinhadas às iniciativas. A
realização das iniciativas propostas garante o atingimento da meta e, por, consequência, do
objetivo de longo prazo da empresa. Em linhas gerais, a Figura 1, a seguir, ilustra a estrutura
do Balanced Scorecard.
Figura 1 - Estrutura do Balanced Scorecard
Fonte: Kaplan e Norton (1997)
Os objetivos estabelecidos nas quatro perspectivas interligam-se uns com os outros
numa cadeia de causa e efeito, como, por exemplo, determinado desempenho de um indicador
dos processos internos influencia o desempenho dos indicadores da dimensão de clientes e
assim também em relação às demais dimensões.
4.4.1.3 Modelo da teoria das restrições de Goldratt (TOC)
A origem do modelo da Teoria das Restrições de Goldratt (Theory of Constraints –
TOC) está relacionada ao desenvolvimento, pelo físico israelense Eliyahu M. Goldratt, de um
software de programação da produção chamado Optimized Production Technology, que, ao
longo do tempo, ganhou mais abrangência, consolidando-se como a teoria das restrições.
Visando à meta de qualquer organização, que é ganhar dinheiro, Goldratt e Fox
propõem, para medir se a empresa está neste caminho, o modelo de avaliação de desempenho
em dois níveis: medidas financeiras de resultado e métricas operacionais globais.
As medidas financeiras de resultado referem-se ao lucro líquido do exercício, pois a
empresa precisar ter lucro; retorno sobre o investimento, que é uma medição que mostra o
ganho monetário relativo ao dinheiro investido no negócio, e fluxo de caixa, que é uma
medida de sobrevivência, pois caso a empresa não tenha caixa suficiente terá dificuldades em
relação a sua continuidade operacional.
Tendo em vista que as medidas financeiras de resultado são inadequadas para julgar o
impacto de medidas específicas, é sugerida a utilização de três medidas operacionais globais:
(i) ganho, que é um índice no qual uma organização gera dinheiro por meio das vendas; (ii)
investimento, dinheiro que o sistema investe na compra de coisas que pretende vender; (iii)
despesa operacional, todo dinheiro que o sistema gasta para transformar inventário em ganho.
Visando atingir à meta da organização de ganhar dinheiro, deve-se trabalhar no
sentido de aumentar o lucro líquido do exercício, o retorno sobre o investimento e o fluxo de
caixa. Em relação às medidas operacionais globais, a organização deve incrementar seu ganho
e simultaneamente diminuir inventário e as despesas operacionais. Essa situação pode ser
visualizada na Figura 2, a seguir:
Figura 2 - Modelo da teoria das restrições de Goldratt
LUCRO RETORNO SOBRE FLUXO
LÍQUIDO INVESTIMENTO DE CAIXA
GANHO INVENTÁRIO DESPESA
(FUTURO) OPERACIONAL
4.4.1.4 Modelo Quantum de medição de desempenho de Hronec
Esse modelo de medição de desempenho teve origem no livro “Sinais vitais”, escrito
no início da década de 90 por Steven M. Hronec, ex-sócio da empresa de consultoria Arthur
Andersen, em que apresentava uma analogia entre o sistema empresa e o sistema corpo
humano.
O modelo Quantum de Hronec busca o monitoramento dos processos, a satisfação dos
clientes, o benchmarking de processos e a geração de mudanças por intermédio da medição do
desempenho nas três dimensões: qualidade, tempo e custo. O relacionamento das dimensões
de custo com qualidade gera a satisfação correspondente ao valor para o cliente. E o
relacionamento entre as dimensões qualidade e tempo atende às expectativas do cliente
quanto a excelência no serviço.
Sendo assim, uma empresa que for competitiva em custo e qualidade apresenta grande
valor para seus clientes, da mesma forma que outra que seja forte em qualidade e tempo
apresenta bom nível de serviço ao cliente.
Desempenho Quantum é o nível de realização que otimiza o valor e o serviço da
organização para seus interessados. A meta é a otimização geral, sendo que custo, qualidade e
tempo devem ser melhorados simultaneamente. Esses relacionamentos estão ilustrados na
Figura 3, a seguir:
Figura 3 - Modelo Quantum de Medição de Desempenho de Hronec
Valor Serviço
Custo Qualidade Temp
DESEMPENHO
4.4.1.5 Modelo dos três níveis do desempenho de Rummler e Branche
Segundo Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p. 80), Rummler e Branche propõem um
modelo de três níveis para aperfeiçoamento do desempenho a partir da visão da empresa no
nível de organização, no nível de processo e no nível de trabalho/executor. O nível de
organização contém os objetivos estratégicos, a estrutura da organização, o emprego dos
recursos e as medidas em nível de organização. O nível de processo contempla os processos
existentes, o fluxo do trabalho e os produtos que não atendem às necessidades do cliente. O
nível de trabalho/executor compõe-se da contratação e promoção, das responsabilidades e dos
padrões de cargo, do feedback, das recompensas e do treinamento.
O modelo é constituído de duas dimensões. A primeira compõe-se dos três níveis de
desempenho. A segunda compreende três fatores, denominados necessidades do desempenho:
objetivos, projeto e gerenciamento. A combinação entre os três níveis e as necessidades do
desempenho resulta em uma matriz que explicita nove variáveis do desempenho, conforme
demonstrado no Quadro 5, a seguir:
Quadro 5 - Modelo dos três níveis do desempenho de Rummler e Branche
Objetivos Projeto Gerenciamento
Nível de
Organização Objetivos da Organização
Projeto da
Organização
Gerenciamento da
Organização
Nível de Processo Objetivos do Processo Projeto do
Processo
Gerenciamento do
Processo
Nível de Trabalho/
Executor
Objetivos do
Trabalho/Executor
Projeto do
Trabalho/Executor
Gerenciamento do
Trabalho/Executor
NÍVEIS DE
DESEMPENHO
AS TRÊS NECESSIDADES DO DESEMPENHO
Fonte: Rummler e Brache (1994, p. 24)
As variáveis de desempenho representam o conjunto de parâmetros de controle que o
modelo utilizará para o aperfeiçoamento do desempenho. Elas demonstram a
interdependência dos três níveis, ou seja, um cargo não pode ser definido se não atender aos
requisitos dos processos ou um objetivo da organização não se realizará se não estiver
apoiado por processos e pelos sistemas do desempenho humano.
4.4.1.6 Modelo de melhoria da performance de Sink e Tuttle
De acordo com Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p.64), o modelo proposto por Sink e
Tuttle está centrado no planejamento e medição do desempenho para o gerenciamento da
performance de uma organização.
Esse modelo de acompanhamento organizacional foi estabelecido a partir da medição
de sete critérios de performance: eficácia, eficiência, qualidade, produtividade, qualidade de
vida de trabalho, inovação e lucratividade. Eles propõem um modelo para a definição dos
parâmetros que possibilitam a avaliação do desempenho de um sistema organizacional.
Esses parâmetros de desempenho interagem entre si, havendo superposições entre eles,
como, por exemplo, a eficácia incorpora atributos de qualidade, a produtividade inclui
qualidade etc., sendo que cada empresa dará diferentes pesos a cada um dos parâmetros de
acordo com suas peculiaridades. Além disso, esses parâmetros formam um conjunto de
informações necessárias para que as equipes gerenciais façam uma administração adequada
do sistema organizacional.
A mensuração do desempenho da qualidade na proposta de Sink e Tuttle deve cobrir
toda a cadeia produtiva da organização. Para expressar essa visão, eles se valem de uma
concepção sistêmica da organização, na qual identificam cinco elementos: o sistema; a
entrada; a transformação; a saída e o sistema à montante. A esses elementos eles associam
seis classes de indicadores de desempenho de qualidade, um para cada cadeia produtiva, e o
sexto o próprio processo de gestão de qualidade. Cada classe contempla os seguintes aspectos:
• Indicadores de qualidade classe 1: associados ao sistema da organização, lidam
com aspectos do desenvolvimento de novos produtos e serviços e seleção de
fornecedores;
• Indicadores de qualidade classe 2: associados à entrada do processo produtivo da
organização, apontam para os aspectos da programação e do controle da produção e
dos estoques de matérias-primas. Sua função é indicar se o processo estará ou não
sob controle;
• Indicadores de qualidade classe 3: associados à transformação, ou seja, a
produção em si, é a forma mais clássica de controle da qualidade de processos e
indicará se os requisitos da qualidade estão sendo incorporados aos produtos e
serviços;
• Indicadores de qualidade classe 4: associados à saída do processo produtivo, são
os processos de inspeção e verificação da produção, armazenagem e distribuição;
• Indicadores de qualidade classe 5: associados ao sistema da organização, lidam
com o atendimento às expectativas e necessidades do cliente, são indicadores
proativos que subsidiam todo o sistema;
• Indicadores de qualidade classe 6: associados a todo o sistema produtivo,
monitoram a qualidade do processo gerencial da organização.
O funcionamento do modelo mensuração de desempenho proposto por Sink e Tutttle
pode ser visualizado na Figura 4, a seguir:
Figura 4 - Modelo de melhoria da performance de Sink e Tuttle
ETAPA 1 Análise de Sistemas Organizacionais ETAPA 2 Hipóteses do Planejamento Reciclagem (Anual) ETAPA 3 Evolução e
Objetivos Indicadores- Melhorias
Estratégicos Chaves de Contínuas
performance ETAPA 4
Objetivos Táticos ETAPA 8
e/ou Itens de Ação Gerenciar a
Implementação Eficaz ETAPA 5
Times de ação: Indicadores- Acompanhar e
Propostas de Chaves de Controlar
Trabalho e performance Planejamento do Projeto ETAPA 6 ETAPA 7 Gerenciamento Medição de do Projeto Avaliação
O modelo de Sink e Tuttle é representado como um sistema de feedback em ciclo
fechado composto de oito etapas, sendo projetado para vislumbrar a organização do futuro,
que tem o compromisso de sobreviver, crescer e competir por meio de melhoria dos níveis de
performance. O modelo inicia-se com a visão da organização do futuro e o estabelecimento
dos objetivos estratégicos, passa por um processo de medição dos indicadores-chaves de
performance, chegando até a obtenção de feedback para o gerenciamento da implementação
estratégica.
4.4.1.7 Gestão da Qualidade Total (TQM)
Segundo Schmidt, Santos e Pinheiro (2007, p.92), o processo de TQM pode ser
entendido como um conjunto de causas que provoca um ou mais efeitos. O controle de
processo é a essência do gerenciamento em todos os níveis da empresa. O primeiro passo para
se entender o controle de processo é a compreensão do relacionamento de causa e efeito,
conforme apresentado na Figura 5, a seguir:
Figura 5 – Relacionamento de causa e efeito