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1.5 O Contributo das Tecnologias de Informação e Comunicação

1.5.1 Modelos de comunicação de ciência pós TIC

Como apontamos anteriormente, o modelo clássico de comunicação de ciência idealizado por Garvey & Griffith (1972) sofre alterações significativas com a inserção da tecnologia em seus processos. Na tentativa de incluir os novos elementos próprios da era digital na atualidade, Hurd & Weller (1996) propõe que esse modelo seja revisitado e explicitado, conforme a Figura 5 abaixo:

Figura 5-Modelo de Comunicação de Ciência modernizado Fonte: Hurd & Weller (1996).

Podemos perceber que as grandes diferenças são apontadas, sobretudo, em relação à inserção da tecnologia da informação aplicada aos processos de comunicação científica. Para a autora, a tecnologia possibilitou maior colaboração durante o processo, independentemente da localização geográfica e das limitações financeiras, bem como maior agilidade ao processo de revisão por pares e validação do conhecimento. Outro aspecto a ser destacado diz respeito à crescente digitalização do manuscrito. Observamos

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também que as fases anteriores a publicações sofrem intervenções pelos pares, bem como um tratamento documental com vistas a sua indexação antes mesmo de sua publicação. Nos moldes anteriores, a indexação era realizada após a publicação. Outra diferença é que o “manuscrito” é inserido numa base de dados eletrônica. A autora revisita o modelo acima mencionado e propõe um novo no artigo The Transformation of Scientific

Communication: A Model for 2020, no qual ela sugere a renovação do modelo que se

encontra na figura seguinte:

Figura 6-Modelo de Comunicação de Ciência para 2020 Fonte: Hurd (2000).

O modelo acima exposto na Figura 6 seria uma projeção para a comunicação de ciência do futuro para o ano de 2020. A autora aponta que os processos editoriais permanecem quase os mesmos, pois são valorizados pela comunidade científica, sendo então a grande diferença a tecnologia da informação, que serve como uma ferramenta auxiliar a esses processos. Nessa perspectiva, segundo o seu entendimento, o sistema de arbitragem científica possui o mesmo peso no processo. Ela revela que os colégios invisíveis continuam a existir, contudo agora fazem uso de estações de trabalho mecanizadas e podem se comunicar mais rapidamente entre si, formando o que denomina de “colégios invisíveis virtuais”. Como explicitado, nem tudo é aceito de forma pacífica, uma vez que a resistência ao novo se faz presente. As mudanças ocorrem em alta velocidade, mas a aceitação das alterações provocadas não tem uma velocidade correspondente. Para Arms & Larsen (2007, p.237):

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Infelizmente, a comunidade acadêmica tem um histórico de resistência a novas formas de comunicação científica. […] é fácil ver o conteúdo digital como nada mais do que uma nova representação de formas familiares de livros e revistas […] limitados por visões convencionais de revisão por pares e de direitos autorais. O desafio é elevar os modos alternativos de comunicação para o mesmo nível de prestígio das formas tradicionais […]. O sistema atual possui apoiadores vigorosos, muitos dos quais se beneficiam a partir de suas idiossincrasias. De acordo com o trecho acima, os autores salientam que a mecanização pode ser apenas um simulacro dos processos convencionais de se comunicar a ciência. O grande desafio atual ainda é aceitar esses modos alternativos de se produzir e avaliar a ciência.

A “nova” comunicação científica não pode ser estudada apenas em seu aspecto técnico. McMurdo (1995, p.121) afirma que “a comunicação científica eletrônica lida essencialmente com transmissão de informações científicas utilizando, para isto, os meios eletrônicos”. Assim, a tecnologia não deve ser vista como um fim em si mesma, e sim como um elemento intermediário no processo, de modo que não se pode cair na armadilha do determinismo tecnológico. Todavia, desejamos ressaltar que a comunicação científica realizada com o auxílio da tecnologia não se dá por meio de uma simples transposição desse processo para um ambiente digital. São feitas adaptações do processo, que se torna mais complexo e amplo, havendo a incorporação de modelos prévios.

Há uma reconfiguração do relacionamento tradicional entre todos os envolvidos, sobretudo em face da ascensão da Web 2.0. Nesse contexto, Calvi & Cassella (2013, p.113) expõem: “O potencial completo e inovador dos modelos de comunicação oferecidos pela tecnologia, particularmente a partir da combinação presente no paradigma do Acesso Aberto/Dados Abertos com as ferramentas mais avançadas da Web 2.0 estão reconfigurando o relacionamento tradicional entre ciência e sociedade […]”. É necessário levar em consideração que esses impactos causaram uma verdadeira reviravolta e modificaram a forma como a informação é processada, desencadeando a necessidade ubíqua de se repensar como a ciência pode ser mais bem comunicada. A esse respeito, Borges ressalta (2007, p.6):

Os processos de criação, produção, tratamento e entrega da informação estão a sofrer alterações provocadas pelas novas tecnologias da informação e comunicação que eliminam tempo e a distância. Analisar as consequências de uma mutação em pleno processo significa contribuir para o desenho de sistemas de informação cuja concretização ao mais alto nível será digital.

Como afirma a autora, estamos em pleno processo de mutação em que tudo se altera, trazendo uma nova “paisagem” em relação à ciência na sociedade atual. São novas

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possibilidades, novas alternativas que se apresentam. Segundo o relatório The National

Academies, “a revolução digital está oferecendo alternativas tanto para a condução das

etapas no processo da comunicação científica como para quem as executa”. Sem dúvida, essas alterações são importantes e estão continuamente moldando essa paisagem da comunicação científica. Para Nentwich (2012, p.12), os cientistas estão sendo confrontados constantemente com novos desafios que subvertem a forma tradicional de se produzir conhecimento, de se fazer ciência e investigação. Ainda segundo o referido autor, as atividades acadêmicas podem ser divididas nesta sequência:

a) Produção do Conhecimento – refere-se ao processo criativo por trás da produção de novos conhecimentos. Diz respeito à coleta de dados, informação e seu processamento, além de sua análise e gestão. Outra faceta presente nesta fase é a Representação da informação, que se relaciona à forma como os resultados de pesquisa serão apresentados. b) Comunicação – reporta-se ao conhecimento produzido em laboratórios nas variadas áreas científicas. Além disso, relaciona-se a trocas e à produção colaborativa de conteúdos bem como a debates realizados em seminários científicos.

c) Distribuição – ocorre após a produção e a avaliação do material publicado, que em seguida será utilizado e implementado (por meio de políticas públicas, por exemplo).

Conforme exposto, a produção do conhecimento passa por fases distintas e inter- relaciona-se com os elementos presentes em seu meio, compondo uma ecologia fluída e dinâmica atrelada a um contexto instrucional. No entanto, cada etapa da produção do conhecimento exige o uso de determinadas competências para o cumprimento do objetivo final, que é o de socializar a informação. Como podemos perceber acima, trata-se de uma sequência lógica importante. As alterações e mudanças no cenário devido à inserção das TIC podem ser verificadas em todas as fases das atividades acadêmicas.

A figura abaixo ilustra bem esses elementos, demonstrando os variados tipos de condicionantes presentes nessa sequência, especialmente os três eixos temáticos: 1) Produção do Conhecimento, 2) Comunicação de Ciência e 3) Distribuição do Conhecimento, assim como todos os elementos externos que influenciam essas ações. Outro elemento de destaque nesse ciclo é o ambiente Institucional ou o lócus onde se desenvolvem essas atividades.

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Figura 7-Tipos de atividades acadêmicas e infraestruturas Fonte: Nentwich, (2012, p.13).

Portanto, para que cada etapa funcione de forma efetiva, faz-se necessário haver um bom equilíbrio entre as partes.

Diante de tudo o que foi explicitado, podemos afirmar que novos tempos exigem novas habilidades e literacias em relação à multiplicidade de possibilidades e plataformas existentes. Além de novos modelos de comunicação digital, temos assistido a uma nova ambiência no que concerne ao fazer científico como um todo. Todos os aspectos do fazer científico são afetados e inauguram novas realidades, marcadamente após a emergência dessa nova complexidade digital. Essa nova realidade que se relaciona com as transformações que as instituições acadêmicas e os acadêmicos (docentes, discentes) vêm experimentando com a crescente adoção de tecnologia da informação em suas práticas de comunicação científica tem sido denominada de formas variadas na literatura. Nesse sentido, podemos afirmar que não existe ainda um consenso terminológico que abarque o assunto em todas as suas nuances e suscetibilidades. São novos conceitos e múltiplas visões que vêm à tona, o que de modo geral tem sido mais aberto e favorável à difusão da ciência.

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2 Visões sobre a Comunicação Científica mediada pelas

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