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Revisão da Literatura e Problema de Investigação

4. Alimentação em Idosos

4.4. Modelos de Envolvimento Alimentar e Escolhas face à Comida

As interrogações acerca dos comportamentos alimentares são um fenómeno complexo, que dependente de vários fatores que exercem a sua influência de forma bastante variada, resultando em diversas ações de relação com a comida (e.g., envolvimento e escolha alimentares). Em várias tentativas de compreender esta realidade foram surgindo vários modelos, que se podem incluir em três grupos. Um primeiro grupo que defende uma relação entre o alimento e a capacidade sensorial (e.g., gosto, textura), funcionalidade (e.g., acessibilidade) e o valor nutricional. Um segundo grupo que procura esclarecer questões ligadas ao consumo e um último grupo que se preocupa com os fatores ambientais (e.g., preço, popularidade do produto) e o contexto (e.g., circunstancias, quem vai consumir e onde) (Babicz-Zielínska, 2001). Os modelos que vão ser apresentados incluem-se nos dois primeiros grupos de modelos, embora essa separação poderá não ser assim tão evidente, pois estes modelos partilham características dos três tipos.

Discordando destas premissas, Somers et al, (2014), desenvolveram um estudo onde tentaram explicar as fontes de EA, e identificar as variáveis motivacionais da comida: saúde, e o prazer, as características individuais e pessoais, e o prazer com a comida. Estas variáveis, segundo estes autores influenciam EA e o conhecimento sobre a comida.

4.4.1. Modelo conceptual na escolha da comida. Os percursores deste modelo

(Furst, Connors, Bisogni, Sobal, J., & Falk, 1996; Falk et al., 1996) procuraram entender melhor os processos seletivos da comida em pessoas mais velhas. Falk et al. 1996, delinearam um estudo com idosos com mais de 65 anos, utilizando o modelo da escolha de comida desenvolvida por Furst et al. (1996), tentando melhor descrever os processos seletivos da comida, acrescentando-lhe variáveis como: aspetos sociais, culturais, ambientais e as experiências. Todos estes componentes permitem-nos uma visão de

continuum ao longo da vida, salientando as experiências da infância relativas à comida e

preferências, pois estas podem manter-se iguais ao longo da vida e também derivarem no desenvolvimento de escolhas (e.g., influencias da mãe ou cônjuge, viver sozinho ou com pessoas significativas). A sua caracterização ao longo do curso de vida produz um grupo de influências que nos permite ter uma visão quanto às nossas opções e escolha da

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comida: fatores ideais, sociais, recursos e contexto. Nos idosos o componente mais importante remete-nos para os ideais, descrito por Falk et al, (1996) como “crenças fortemente mantidas e atitudes sobre ”aquilo que deve ser”. Para além dos ideais, os aspetos sociais parecem ter também uma influência muito forte no processo de alimentação das pessoas mais velhas, remetendo-nos para, entre outros aspetos, o “ter companhia na hora de partilhar uma refeição”. Os fatores individuais incluem as condições fisiológicas ou físicas, pois os problemas encontrados passam pela dificuldade na digestão de certa comida, incapacidades físicas como (e.g., artrite, limitações ao nível da dentição), o que reduz a variedade da comida que estas pessoas preparavam e comiam.

Este modelo chama a atenção para o rendimento disponível e capacidades de preservação da comida. Existindo dois componentes deste sistema que também é necessário valorizar: negociações de valor e estratégias (Furst et al., 1996). As negociações de valor descrevem o valor dos diferentes fatores nas escolhas da comida. Dentro destes, o gosto, é a capacidade sensorial mais frequentemente descrita como aquela que conduz a uma escolha da comida. Por seu lado, a gestão do contexto social inclui fatores a considerar como o de preparar refeições para uma pessoa e/ou comer sozinhas, ter em conta as necessidades de outros, ou somente as do próprio. O contexto social e a perceção sensorial, são os fatores mais importantes nos idosos.

Este modelo faz também uma avaliação em termos do tipo de relação com a comida apresentando as comidas de conveniência como importantes nas escolhas alimentares nos idosos, sendo que nas pessoas mais jovens este valor é representado pelo tempo, e nos mais velhos, pela tranquilidade da preparação. Quando mais velhos, mais difícil se torna a preparação da refeição e face às incapacidades, encontrarão soluções de refeições simples e rápidas (Falk et al., 1996).

Este modelo abrange uma variedade de influências e de fatores que alteram a escolha e o envolvimento com a comida por parte dos adultos mais velhos e por isso as intervenções geriátricas necessitam focar-se em três áreas específicas: 1) nutrição (e.g., contexto da comida, a perceção sensorial, o bem-estar físico/satisfação), 2) social (e.g., contextos sociais ou isolamento) e 3) capacidade de empreender as funções da vida diária (e.g., fatores pessoais e conveniência).

4.4.2. Modelo de processamento na escolha de comida. Posteriormente o

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através das experiências vida, mas sobretudo acrescentando os comportamentos face à comida (Sobal & Bisogni, 2009). Esta estrutura procura tal como o modelo anterior, entender os múltiplos determinantes do comportamento de escolha da comida, apresentando uma visão mais construcionista, ao focar-se mais no sistema pessoais onde são descritos os comportamentos, pois os indivíduos têm um papel muito ativo no EA e nas escolhas da comida.

Este modelo (Sobal & Bisogni, 2009) define três dimensões: o curso de vida, as influências e sistemas pessoais face à comida. No curso de vida destacam-se os eventos e as experiências antes das decisões seletivas da comida, a antecipação e expectativas sobre o futuro. As trajetórias implicam os pensamentos persistentes de uma pessoa, sensações, estratégias e ações, basicamente como a pessoa tomou a decisão. As transições são pontos de viragem que levam a reconstruções radicais nas escolhas de comida (e.g., dieta face a problemas cardíacos e diabetes). São pontos de viragem, modificações nas trajetórias seletivas da escolha; nas quais se incluem famílias, amigos, a comunidades e outras estruturas sociais e físicas.

As influências agrupam-se em cinco categorias: ideais culturais, fatores pessoais, recursos, fatores sociais e contextos atuais. Os ideais culturais incluem um sistema erudito de regras, mapas e planos compartilhados por um grupo de pessoas e fornecem os padrões usados como pontos de referência pelos indivíduos para avaliar e julgar os comportamentos face à comida. Os fatores pessoais são atributos ou características de indivíduos que influem nas suas decisões seletivas de comida e comportamentos (e.g., perceção sensorial, gostos). Os recursos são relevantes na hora de decidir sobre a comida (e.g., valor da reforma, equipamento, espaço, capacidades, o conhecimento, tradições). O sistema de relações dos indivíduos é relevante na medida em que reprime ou facilita as decisões alimentares (e.g., comer com outras pessoas, suporte da família). Por último, o mesmo acontece para os contextos, (ambientes sociais e meios físicos; instituições sociais e políticas governamentais).

Os sistemas pessoais referem-se aos processos cognitivos na escolha da comida, que guiam os atos de comer. Para simplificar, as pessoas classificam a comida segundo as categorias que se desenvolvem com base nas características dos alimentos. As pessoas negoceiam e equilibram valores em dissonância, usando heurísticas de prioritização (gosto, custo, conveniência, saúde). As estratégias seletivas de comida incluem: a

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eliminação, a limitação, a substituição, a adição, a modificação e rotinização; estas estratégias fazem a escolha da comida, mais automática e amigável (Sobal & Bisogni, 2009).

Este modelo indica através dos comportamentos alimentares, que as pessoas formam as suas experiências, as influências e o sistema pessoal de comida. O EA passa pela aquisição de comida, pela preparação, a limpeza fornece conhecimento e as capacidades para uma gestão futura de recurso; promove novos modos de fazer compras, e cozinhar e comer leva as pessoas a descobrirem novas estratégias e a reverem o conhecimento que já tinham (Sobal & Bisogni, 2009), o que está de acordo com a visão de Bell e Marshall (2003).