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Estudos Empíricos

8. Estudo 2: Teste dos Modelos de Mediação 1 Teste do Modelo de Mediação do Envolvimento Alimentar (EA)

8.1.1. Resultados Os resultados obtidos para as relações estruturais não

estandardizadas (b) do teste do modelo de mediação do EA no efeito da Capacidade Motora e Visual Percebida (respetivamente, CMP e CVP) sobre a Satisfação com a Vida (SV), são apresentados na Figura 10.

O modelo encontrava-se bem ajustado e observou-se que quanto maior CMP maior SV e que a uma maior CVP correspondia uma menor SV. Verificou-se, também, que quanto maior CMP menor EA e que a uma maior EA correspondia uma menor SV (ainda que estas relações tenham sido marginalmente significativas). Entretanto, não foi observada a influência da CVP sobre o EA. Quanto à mediação do EA na influência dos preditores CMP e CVP sobre a SV, ela não foi observada para ambos os casos, não tendo um efeito estatisticamente significativo. Pode, ainda, constatar-se na Figura 10 que a

quantidade da variância (R2) de EA capturada pelos respetivos preditores era fraca,

enquanto a da SV era fraca a moderada (Cohen, 1988).

8.1.2. Discussão.

Os resultados apontaram para que a CMP foi o melhor preditor da SV. A CMP é influenciada estruturalmente pela perceção que o idoso tem de si mesmo, no qual se incluem o conjunto de funções cognitivas, sensoriais e motoras (Diener, 1984; Pimentel & Diniz, 2012), nomeadamente, as capacidades relacionadas com a alimentação (e.g., engolir, mastigar). Esta relação vai ao encontro da literatura já existente, onde a nutrição e a capacidade para dirigir comportamentos ativos ligados à alimentação são essenciais nos aspetos da vida dos idosos (Nyberg et al., 2015). A CMP é importante nas tarefas ligadas à alimentação que vão desde a capacidade para pegar nos talheres até ao ato de ingestão e deglutição da alimentação, algo que é essencial na nutrição dos idosos (Ekberg, Hamdy, Woisard, Wuttge–Hannig, & Ortega, 2002; Westergren, Unosson, Ohlsson, Lorefält, & Hallberg, 2002; Maitre et al., 2014). Acresce, ainda, que a manutenção de comportamentos motores ligados à alimentação é um dos fatores fundamentais nos idosos, afetando a escolha da alimentação, podendo esta manutenção ser considerada como um investimento para garantir a sua independência (Lundkvist, Fjellström,

Sidenvall, Lumbers, & Raats, 2010) e, consequentemente, melhorar a sua SV (Berg,

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No sentido inverso, mas congruente com o atrás referido, a manutenção da CMP ligada aos comportamentos alimentares é importante em termos de nutrição e do estado alimentar dos idosos, pois quanto menos CMP menor será a SV, o que poderá causar problemas de subnutrição (Maitre et al., 2014). Além disso, a CMP está relacionada não só com a alimentação desta população, como também com a medicamentação (e.g., adesão à medicação) e ainda mais prementemente, com a sobrevivência dos idosos, pois a ingestão de líquidos pode ser complicada quando existem dificuldades na ingestão (Ney, Weiss, Kind, & Robbins, 2009).

Entretanto, os resultados do teste do modelo indicam que a uma maior CMP corresponde um menor EA, ainda que este resultado deva ser considerado de forma prudente, uma vez que essa relação era ténue. Ainda assim, isto é algo que não seria expectável, pois o EA caracteriza-se pelo nível de importância que a comida tem na vida para cada pessoa (Bell & Marshall, 2003). Este resultado pode ter como explicação o facto de a presente operacionalização da CMP só envolver indicadores relacionados com a ação de comer, enquanto os do EA remetem para tarefas de aquisição, preparação, confeção e limpeza. Se, porventura, a CMP contemplasse outros indicadores (e.g., locomoção e equilíbrio; Pimentel & Diniz, 2012) os resultados poderiam ser mais significantes, isto é, quanto mais CMP mais, de facto, EA. Operacionalizando a CMP desta maneira em estudos futuros, seria provável o incremento da significância da relação agora encontrada.

O resultado encontrado para a relação entre EA-SV também tinha um sentido negativo e era ténue. O facto de que quanto maior o EA menor a SV pode derivar, tal como no caso anterior, da operacionalização do contructo EA, que remete para tarefas de vida que vão para além do prazer de comer (Daniel, Glorieux, Minnen & Van Tenoven, 2012; Quandt, McDonald, Arcury & Vitolins, 2000), as quais poderão ter uma conotação entediante ou que lhes retira o tempo que gostariam de despender noutras atividades percebidas como mais prazerosas. Acresce que a amostra deste estudo era composta por muitos idosos viúvos, solteiros, divorciados e separados (50.8%). No que respeita, principalmente, ao estado civil, relacionável com o facto de os idosos viverem ou não sozinhos, a literatura tem apontado para resultados análogos aos agora encontrados. Apesar deste resultado não ser diretamente contrastável com conteúdos de publicações prévias à realização deste estudo, a SV na sua relação com a alimentação (a preparação e

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o comer) mostrou que ela é negativa, fruto da solidão involuntária desencadeada pela viuvez (Hughes et al., 2004). Contudo, dada a significância marginal ou, como atrás foi mencionado, ténue, da relação EA-SV observada neste estudo, esta inferência deve ser prudentemente considerada. Para melhor garantir a fiabilidade do resultado encontrado o modelo deverá ser testado noutras amostras de idosos.

Observou-se, também, que quanto maior foi a CVP menor foi a SV, algo que também não vai ao encontro do que seria expectável (Horowitz, 2003; Horowitz, Brennan, & Reinhardt, 2005). Conforme a definição do constructo CVP (cf., ponto 7.), ele remete para tarefas de aquisição e preparação, o que exige esforço por parte dos idosos e, muitas vezes, estas tarefas sendo realizadas em benefício somente do próprio tornam- se penosas Outra explicação para este resultado pode ter a ver com a importância da CMP ser superior para a SV do que a da CVP. Porque a perda de CVP pode ocorrer mais cedo na vida, do que a perda da CMP, e portanto, estas últimas terem um maior efeito na SV de idosos do que as CVP.

Quanto à relação não observada de forma significativa entre a CVP e o EA, ela poderá dever-se a idiossincrasias da amostra em estudo e ao modo como foi avaliada a capacidade visual dos seus participantes, uma vez que noutros estudos a capacidade visual objetivamente avaliada revelou-se um importante preditor das tarefas da vida diária (Suttie, Howley, Dryden, Magnúsdóttir, & Verstraten, 2014).

Por último, apesar de Bell & Marshall (2003) referirem que o EA teria efeitos de mediação com outras variáveis relativas à alimentação, tal não foi constatado neste estudo. Contudo, as componentes do efeito de mediação CMP-EA-SV previsto neste estudo foram marginalmente significativas (conforme o destacado e discutido anteriormente).

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Figura 10. Teste do modelo de mediação do EA no efeito da Capacidade Motora e Visual Percebida sobre a SV: Relações estruturais não estandardizadas. Erros-padrão entre parêntesis.

Índices de ajustamento: SBχ2 = 204.55, gl = 164; SB2/gl = 1.247; CFI = .979; RMSEA = .024; SRMR = .043. p < .10. *p < .05. Capacidade Motora Percebida (CMP) Capacidade Visual Percebida (CVP) .35* (.14) -.16† (.09) .11 (.07) -.21* (.10) -.14† (.07) Envolvimento Alimentar (EA) R2 = .02 Satisfação com a Vida (SV) R2=.06 Efeitos totais CMP-SV = .37(.14), t = 2.65, p < .01 CVP-SV = -.22(.10), t = -2.20, p < .05 Efeitos indiretos CMP-EA-SV = .02(.02), t = 1.37, p = ns CVP-EA-SV = -.02(.01), t = -1.20, p = ns

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