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Modelos de mensuração de sustentabilidade com um foco empresarial

2.3 INDICADORES E MODELOS DE MENSURAÇÃO DE SUSTENTABILIDADE

2.3.2 Modelos de mensuração de sustentabilidade com um foco empresarial

Desde a publicação de documentos importantes como o Relatório Brundtland “Nosso Futuro Comum” e a Agenda 21, nota-se que há um encorajamento de inserção da iniciativa privada e do setor produtivo na temática do desenvolvimento sustentável, no momento em que se fomenta a integridade ambiental, a igualdade social e a prosperidade econômica como condições necessárias para o desenvolvimento corporativo sustentável (BANSAL, 2005).

Apesar do grande esforço em incorporar os princípios do desenvolvimento sustentável, muitas corporações tem dificuldade em desenvolver medidas e sistemas de mensuração de sustentabilidade que sejam confiáveis e sintéticos (SEARCY, 2009). Assim, há a necessidade de se desenvolver modelos de mensuração robustos que possam retratar o desempenho das empresas, concebidos sob certos padrões e condições universais que possam assegurar maior validação e confiabilidade dos resultados avaliados (DELAI, TAKAHASHI, 2011).

Neste sentido, ao longo dos anos surgiram várias propostas de modelos de mensuração de sustentabilidade relacionados ao contexto empresarial, aplicados nos mais diversos setores produtivos, indústrias e prestadoras de serviços, com o intuito de ajudar os tomadores de decisão a avaliar o desempenho sustentável das empresas, bem como fornecer informações que subsidiem o planejamento de ações futuras. Além disso, esses modelos oferecem a chance de visualizar tendências que não são de fácil discernimento, proporcionando a antecipação de condições futuras e a comparação de situações e conjunturas. Alguns autores como Callado (2010) e Delay e Takahashi (2011) identificaram várias iniciativas de mensuração e modelos de sustentabilidade corporativa, sendo descritas no Quadro 5 abaixo:

Quadro 5 - Estudos associados à mensuração de sustentabilidade com perspectivas empresariais Atividade da empresa

investigada / Modelo proposto

Propósito da pesquisa Autores

The Global Reporting Initiative (GRI)

Propõe um framework para reportar sobre o desempenho econômico, ambiental e social de empresas. Pretende ajudar companhias e starkeholders a entender e comunicar suas contribuições para o desenvolvimento sustentável, melhorando a qualidade e a utilidade dos relatórios de sustentabilidade.

CERES e UNEP (2002;

1997)

Fumageira Propor uma metodologia que permita avaliar a sustentabilidade em sistemas de produção para facilitar a comunicação entre atores envolvidos em processos de desenvolvimento, no sentido de conduzir as intervenções dos mesmos para contextos de maior sustentabilidade nas dimensões social, econômica e ambiental.

Moura (2002)

Metalúrgica Determinar um método para avaliação dos indicadores de sustentabilidade das organizações que permita identificar oportunidades em um processo de melhoria contínua.

Oliveira (2002) Indicadores de

Responsabilidade Social Corporativa ETHOS

Um conjunto de indicadores projetados para ajudar empresas Brasileiras a aprender e avaliar a gestão da organização em relação à práticas de Responsabilidade Social, estratégias de negócio e o monitoramento do desempenho geral da firma.

Instituto ETHOS (2005; 2002) Mineradora Este trabalho visa contribuir para estas atividades ao nível

setorial, através de um desenvolvimento de um quadro de indicadores de sustentabilidade como ferramenta para avaliação de desempenho e melhorias.

Azapagic (2004)

Produtora de café orgânico Desenvolver indicadores ecológicos, econômicos e sociais para auxiliar o monitoramento da sustentabilidade na produção na cadeia do café.

Claro e Claro (2004)

The sustainability Metrics of the institution of Chemical

Engineers

É um conjunto de indicadores desenvolvidos para medir o desempenho da sustentabilidade de indústrias de processamento. Utiliza as dimensões do Triple Bottom line.

Institution of Chemical Engineers (IChemE, 2005)

The Dow Jones

Sustainability Index (DJSI) Criado para rastrear o desempenho das melhores empresas no índice Dow Jones Global que lideravam o campo em termos de sustentabilidade corporativa.

Dow Jones (2005; 1999)

The Triple Bottom Line

Index (TBL) É um índice que avalia o desempenho da sustentabilidade das empresas, considerando a sustentabilidade como o equilíbrio entre crescimento financeiro, melhoria ecológica e equidade ética.

Wang (2005)

Transmissora de energia Elétrica

O objetivo deste trabalho foi apresentar e analisar um estudo de caso sobre a concepção de um sistema de indicadores de desenvolvimento sustentável. Searcy, Karapetrovic e McCartney (2005) Financeira, telefonia, seguradora e transporte aéreo

Investigar a utilização de indicadores de sustentabilidade por empresas espanholas a partir de aspectos econômicos, sociais e ambientais

Gallego (2006) Manufaturas, construção

civil, hotéis, restaurantes, mineradoras, financeiras, transportadoras e outras.

A pesquisa buscou identificar o significado e a relevância da sustentabilidade atribuídos por empresas alemãs, bem como analisar as motivações por trás de seu compromisso com a sustentabilidade. Hahn e Scheermesser (2006) Prestadora de serviços (Auditoria)

Propõe um framework que pode ser utilizado para obter e interpretar aspectos da sustentabilidade.

Kiewiet e Vos (2007) Metalúrgica O objetivo deste trabalho foi apresentar a sustentabilidade

por meio de um modelo conceitual de decisão, utilizando processo de hierarquia analítica (AHP) para auxiliar na avaliação do impacto do desempenho de uma organização de sustentabilidade.

Singh et al. (2007)

A pluralidade de modelos e sistemas de indicadores de sustentabilidade é decorrência da diversidade de conceitos e de perspectivas adotadas, bem como a complexidade inerente a cada setor, atividade produtiva e realidade econômica, social e ambiental das regiões. Gray e Bebbington (2007) mostram que os modelos de sustentabilidade corporativa são úteis para demonstrar, na verdade, o grau de insustentabilidade das organizações, cujas informações são úteis para que gestores possam buscar reduzir os impactos das operações. Em contrapartida, os autores lançam uma crítica aos relatórios de sustentabilidade empresarial, quando seus modelos de avaliação cobrem somente elementos selecionados de atividades empresariais relacionadas a um conceito geral e confuso de sustentabilidade, o que enviesa seus resultados.

Além dos citados estudos e publicações, várias outras pesquisas foram feitas, fazendo uso de indicadores que cobrem as dimensões econômicas, sociais e ambientais, de natureza teórica e empírica, em diferentes setores industriais. Dentre estes, pode-se destacar os estudos realizados por Spangenberg e Bonniot (1998), Callens e Tyteca (1999), Azapagic e Perdan (2000), Veleva et. al. (2001), Oliveira (2002), Azapagic (2003), Azapagic (2004), Krajnc e Glavic (2005a), Krajnc e Glavic (2005b), Labuschagne, Brent e Van Erck, (2006), Singh et al. (2009), Callado, (2010), Epstein e Widener (2010), Bai et. al. (2012), Lee et. al. (2012), Lee e Saen (2012), Schlör, Fischer e Hake (2013).

Após serem analisados alguns dos estudos supracitados, Callado (2010) buscou desenvolver um modelo robusto e sintético que pudesse avaliar a sustentabilidade empresarial de organizações de diferentes setores, através de um conjunto de indicadores inerentes às três dimensões do modelo triple bottom line (ambiental, econômica e social). A partir da definição de pesos para cada indicador, estabelecidos por especialistas em sustentabilidade, possibilita- se a determinação de índices agregados que permitem a comparação dos resultados em empresas de uma mesma indústria de forma simplificada, concisa e confiável, com uma abordagem de comunicação efetiva e representação tridimensional através de um Grid. A seguir, a próxima subseção descreve o modelo GSE de Callado (2010).