Capítulo 4 – Resultados 4.1 Análise energética
4.2.1. Modelos de negócio 1 Modelo base
O modelo base baseia-se nos pressupostos apresentados na metodologia (Secção 3.3.5.1). O dimensionamento da bateria do parque deste cenário considera o dia característico mais significativo, isto é, o dia útil típico (Figura 46). O consumo que se encontra acima da curva de produção de energia representa a capacidade de armazenamento necessária, para que nos dias úteis se consiga satisfazer o pico de consumo. Neste caso, a bateria de apoio deverá armazenar 1,70 MWh, valor que determina o seu custo.
O balanço de energia num dia útil típico apresenta um défice de ESF produzida de 353 kWh (Tabela 16). A energia produzida em falta tem de ser verificada para cada dia útil; i.e., segunda- feira de manhã a bateria encontra-se completamente carregada, suprindo todo o consumo. Quando o excesso de consumo dos carregamentos em relação à energia produzida termina, a bateria já está todavia completamente descarregada. E então, carrega desde o fim do excesso de consumo de segunda-feira até ao começo desse consumo de terça-feira. Porém, não carrega o suficiente para suprir todo o consumo em excesso deste dia, recorrendo-se à rede para carregar os VEs em falta (353 kWh). O mesmo ocorre para os restantes três dias úteis da semana, levando a que a compra de energia à rede seja necessária em quatro dos cinco dias úteis.
As receitas obtidas através da energia produzida subdividem-se em duas categorias: a venda de energia aos VEs e a venda às instalações da empresa. As despesas indicam os custos com a compra de energia à rede, operação e gestão do PE. Quer as receitas quer as despesas estão presentes na Tabela 17.
Tabela 17: Energia produzida no primeiro ano do projeto e receitas correspondentes para o modelo de negócio base.
Energia [MWh] Receitas/Despesas [k€] Receitas VE 1,02 96,7 Instalações da empresa 0,37 25,1 Total 1,05 121,8 Despesas
Compra de energia à rede 0,07 4,3
Operação e manutenção - 34,9
Gestão - 6,1
Total 0,07 45,3
A grande porção das receitas obtidas, cerca de 79%, provém da venda de energia aos VEs. Já maiores despesas são as de operação e manutenção. É ainda possível verificar que a energia que é necessário comprar tem um valor muito inferior à energia vendida.
O investimento total necessário e as suas componentes encontram-se discriminadas na Tabela 18.
Tabela 18: Investimento necessário para o modelo de negócio base.
Modelo de negócio base - Investimento (k€)
Módulos fotovoltaicos 726 Estruturas metálicas 300 Estações de carregamento 833 Conjunto de inversores 299 Bateria 1315 Outros equipamentos 14 Investimento Total 3487
Figura 47: Investimento necessário para o modelo de negócio base
Todos os modelos de negócio apresentados de seguida apenas consideram alterações nas fontes de receitas; a estrutura inicial e, consequentemente, o investimento necessário mantêm- se. O investimento total para o projeto ronda os 3,49 M€ (Tabela 18). Observando o gráfico da Figura 47, verifica-se que a bateria é o equipamento que representa maior fração do investimento, cerca de 38%. Os carregadores vêm a seguir, com 24%, e os módulos fotovoltaicos representam 21%.
Os indicadores económico-financeiros do modelo de negócio base encontram-se na Tabela 19.
Tabela 19: Indicadores económico-financeiros para o modelo de negócio base.
Período de retorno 22,8 anos
TIR 1,1%
ROI 1,1
VAL total 0,61 M€
O período de retorno do investimento é de 23 anos, um tempo muito longo, tornando-o pouco atrativo para um investidor. A TIR e o ROI também são desfavoráveis.
Sob este modelo de negócio, o projeto financeiramente é desinteressante. De seguida, são apresentados dois modelos de negócio diferentes para perceber se tornam o investimento atrativo.
4.2.1.2. Carregamento ilimitado
Neste cenário, os condutores que aderem à modalidade de carregamento ilimitado carregam tendencialmente mais os seus veículos do que na modalidade em que a energia é paga. Como tal, o consumo de energia do PE sobe significativamente, originando a compra de mais energia nos dias úteis e a venda de menos energia nos fins-de-semana (Tabela 20).
Tabela 20: Balanço energético diário discriminado por dia característico para o modelo de negócio com carregamento ilimitado.
Concluindo, as receitas com este modelo de negócio resultam da venda de energia às instalações da empresa nos fins-de-semana, aos VEs com bilhetes diários, da taxa dos bilhetes diários e do valor adicional para a tarifa plana de carregamento. Quanto às despesas, são as mesmas que as descritas no modelo de referência, embora tenham diferentes valores.
Tabela 21: Receitas e despesas obtidas no primeiro ano do projeto para o modelo de negócio com carregamento ilimitado. Receitas/despesas [k€] Receitas Instalações da empresa 24,3 VE Bilhetes diários Energia 23,2 Taxa de carregamento 17,4 Mensalidades adicionais 105,3 Total 170,0 Despesas
Compra de energia à rede 27,6
Operação e manutenção 34,9
Gestão 8,5
Total 71,0
O balanço de venda e compra de energia no primeiro ano é positivo, uma vez que as receitas obtidas superam as despesas. Do lado das receitas, o valor adicional das mensalidades representa uma grande parcela, o que é expectável porque os VEs com mensalidades representam uma larga porção da ocupação do PE, cerca de 76%. Já nas despesas verifica-se que a compra de energia nos dias úteis é ligeiramente superior à venda da energia às instalações, como seria de esperar com o aumento do consumo. Porém, a despesa que toma o valor mais elevado é a de operação e manutenção do PE.
Os indicadores económico-financeiros para este modelo de negócio encontram-se na Tabela 22.
Tabela 22: Indicadores económico-financeiros para o modelo de negócio base e para o com carregamento ilimitado.
Modelo de negócio base Modelo de negócio com
carregamento ilimitado
Período de retorno 22,8 anos 19,7 anos
TIR 1,1% 2,7%
ROI 1,1 1,3
VAL total 0,61 M€ 1,69 M€
Balanço energético diário [kWh]
Dia útil Dia de fim-de-semana
Consumo total dos VEs 5750 333
Produção de ESF 3480 3754
Embora o período de retorno continue a ser insatisfatório, este diminui cerca de 3 anos em relação ao modelo base. Quanto aos restantes parâmetros, apesar de serem ligeiramente superiores ao caso anterior, continuam a não ser vantajosos para o investidor.
4.2.1.3. Regulação secundária de frequência
O presente modelo de negócio está de acordo com a descrição apresentada na Secção 3.3.5.3. A sua remuneração equivale a cerca de 17 k€ no primeiro ano do projeto.
Os indicadores económico-financeiros para o modelo de negócio baseado na regulação secundária de frequência são os apresentados na Tabela 23.
Tabela 23: Indicadores económico-financeiros para o modelo de negócio base e para o com oferta de regulação secundária de frequência.
Modelo de negócio base
Modelo de negócio com regulação secundária de
frequência
Período de retorno 22,8 anos 20,5 anos
TIR 1,1% 2,2%
ROI 1,1 1,2
VAL total 0,61 M€ 1,38 M€
O período de retorno decresce aproximadamente 2 anos e a TIR aumenta 1,1% em relação ao cenário base; todavia, estes valores continuam a ser impeditivos para o avanço do projeto. A viabilidade do projeto com oferta de regulação secundária de frequência continua a não ser rentável, apesar de se observarem ligeiras melhorias em relação ao modelo de referência.