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4. SUPERVISÃO PEDAGÓGICA

4.2. Modelos de Supervisão

No decorrer deste meu estudo, encontramos uma diversidade de modelos e abordagens de supervisão, todas elas procuram convergir para o mesmo aspeto: possibilitar aos docentes em contextos educativos possibilidades de transmutações, assentes nas práticas colaborativas, cooperativas e reflexivas de forma a fomentar crescimento pessoal e social com vista a renovar e a melhorar a qualidade das aprendizagens dos alunos.

Alarcão e Tavares (2007) expõem vários modelos da prática supervisora que no decorrer dos tempos foram surgindo, reconhecendo assim a pertinência de cada um deles nos diversos cenários possíveis da área da supervisão e nos seus aspetos mais ou menos comuns. Ainda de acordo com os mesmos autores, estes cenários não devem ser vistos de forma perentória, “estanques”, capazes de pôr em prática no imediato, uma vez que os mesmos são considerados mais “virtuais doa que reais” e subjacente ao mesmo têm implícitas diferenciações conceções de supervisão nomeadamente no que refere no campo da formação, tais como:

“relação entre teoria e prática, formação e investigação, noção de conhecimento como saber constituído e transmissível ou construção pessoal de saberes, papeis do supervisor e do professor, noções de educação e de formação de professores, assunção de escola como centro de formação ou como mera estação telecomandada de serviço à formação”, (Alarcão & Tavares, 2007, p.17).

Alarcão e Tavares (2007), no decurso do seu estudo, agruparam os nove cenários possíveis: imitação artesanal, aprendizagem pela descoberta guiada, bebavorista, clinica, psicopedagógico, pessoal, reflexivo, ecológico e dialógico.

Cenário da imitação artesanal

As suas linhas orientadoras estão assentes na imitação do mestre, isto é, os futuros professores estava sob orientação de outro professor mais experiente, o modelo, aquele que sabia como executar a sua arte de “neófito”. Implicitamente a este cenário está a crença da imutabilidade do saber, sempre associado ao princípio da demonstração e imitação como melhor forma de adquirir o conhecimento e coloca-los em prática perpetuando assim este tipo de cultura. A expansão da formação de professores que consecutivamente exigiu maior número de supervisores e ao mesmo tempo o grande desenvolvimento que se fez sentir nos

Escola Superior de Educação Almeida Garrett 57 vários domínios do saber, veio pôr em questão a forma como era feita esta prática formativa dos professores. (Alarcão & Tavares, 2007).

Cenário da aprendizagem pela descoberta guiada

A sustentabilidade deste cenário recai nos bons modelos e na perpetuidade dessas mesmas qualidades que vêm através da “imitação. No entanto, os investigadores cedo reconheceram a incapacidade de definir o bom professor e a reprodução do professor modelo foi substituída pelo conhecimento analítico dos modelos de ensino, isto é, pressupunha-se que o futuro professor tivesse conhecimento dos vários modelos teóricos, assim como, tivesse oportunidade de observar em diferentes contextos os colegas mesmo antes de iniciar o estágio pedagógico. Neste sentido, é reconhecido ao “futuro professor um ativo na aplicação experimental dos princípios que orientam o ensino e a aprendizagem, na análise das variáveis do contexto onde está envolvido e na inovação pedagógica” (Alarcão & Tavares, 2007, p.21).

Cenário behaviorista

O cenário behaviorista está ligado ao conceito do professor como um técnico específico do ensino e ao movimento do ensino por competências, que teve o seu aparecimento pelo grupo de investigadores, nos Estados Unidos nos anos 60, do séc. XX. É um tipo de modelo que centraliza atividade supervisora de professores na observação de aulas, através do registo audiovisual, uma vez que esta conceção prevê que o futuro professor não domina tudo ao mesmo tempo. O professor como técnico de ensino analisa, observa e interpreta do que vê, para posteriormente melhorar o seu desempenho em idênticas situações de ensino/aprendizagem. Assim, após a análise, treinamento e adquiridas as competências necessárias em contexto de aula, o professor daria uma outra aula, aplicando a mesma técnica, mas com alunos diferentes, a fim de colocar em ação as inovações que adquiriu consigo próprio e com os outros.

Cenário Clínico

O cenário clínico está diretamente ligado ao modelo de supervisão clínica desenvolvido por M.Cogan, R. Goldhammer e R. Anderson no final dos anos 50 e inspirado no modelo clínico da formação dos médicos. Estes três investigadores procuraram desenvolver um modelo onde todos os fenómenos sucedidos e estudados são investigados e debatidos na intenção de aperfeiçoar a prática de ensino desenvolvida pelos professores. É um

Escola Superior de Educação Almeida Garrett 58 modelo em “que o professor fosse, ele próprio, o agente dinâmico, relegando para o supervisor a missão de o ajudar a analisar e a repensar o seu próprio ensino” (Alarcão & Tavares, 2007, p.24). Assenta a sua dinâmica na prática reflexiva e colaborativa entre o professor supervisor com vista na procura de soluções e mudanças para o desenvolvimento de ensino e aprendizagem. Esta implica ciclos de observação, encontro pré-observação; observação; análise e interpretação dos dados, e por fim, encontro pós-observação. É dado a finalização de todo o processo, quando é feita a avaliação da ação de supervisão desenvolvida. No fundo, fazer supervisão é, planificar, observar e avaliar (Alarcão & Tavares, 2007).

Cenário psicopedagógico

Tem como principal defensor E. Stones (1984), citado por Alarcão & Tavares (2007), que defende que fazer supervisão é ensinar. Para este investigador, o objetivo último do processo ensino/aprendizagem reside sobretudo na capacidade e competências de solucionar problemas e tomar decisões conscientes que possibilitem uma adaptação e acomodação ao meio em que está envolvido. Para melhor responder às exigências dessas funções, o professor socorrer-se de um conjunto de “princípios psicopedagógicos” apreendidos a partir das diferentes “teorias propostas pelos autores que estudaram as leis do desenvolvimento e da aprendizagem” (Alarcão & Tavares, 2007, p.29).

Cenário pessoalista

Este é um tipo de cenário cujos programas de formação de professores está assente nas correntes filosóficas, nomeadamente, na existencialista, na fenomenologia, na antropologia cultural, na psicanálise, na psicologia do desenvolvimento, entre outras

Os programas implementados, tinham como ponto comum a ideia da importância do desenvolvimento da pessoa do professor em formação, os eus conhecimentos, sentimentos e objetivos. Nela também inclui, “experiências vivenciais e ajudar os professores a reflectir sobre elas e suas consequências assim como sobre as percepções que delas têm os intervenientes, sobretudo o próprio professor” (Alarcão & Tavares, 2007, p.34).

Cenário reflexivo

É um modelo de cenário inspirado no filósofo John Dewey e na observação reflexiva nomeadamente na forma como os profissionais agem. Baseado no autor anteriormente mencionado Shon (1983, 1987) defende a importância da dimensão

Escola Superior de Educação Almeida Garrett 59 reflexiva da supervisão. É um tipo de abordagem que se fundamenta essencialmente no valor da reflexão sobre o que é observado e simultaneamente vivenciado, segundo a metodologia do “aprender a fazer fazendo e pensando” (Alarcão & Tavares, 2007).

Alarcão (1996), diferencia três tipos de reflexão: a reflexão na ação (em simultâneo), a reflexão sobre a ação (em retrospeção) e a reflexão sobre a reflexão na ação (sobretudo prospetiva).

Esta prática refletida tem necessidade de acompanhamento, por supervisores experientes, que possuem competências para estimular, apoiar, avaliar, orientar, exigir sobretudo, que sejam “treinadores”, “companheiros” e “conselheiros”. Na prática orientada, o supervisor deve ainda, confrontar com problemas reais, para que estes sejam descodificados e resolvidos, proporcionando assim um conjunto de ocasiões de hipóteses, experimentação e verificação.

Alarcão e Tavares (2007) evidenciam ainda a importância dos estudos que Zeichner (1993) realizou, onde realça a relevância que a abordagem reflexiva trouxe para o desenvolvimento da capacidade emancipatória do professor no exercício do auto supervisão.

Cenário ecológico

É um tipo de cenário que inspira-se no “Modelo Ecologico de Desenvolvimento Humano” da autoria de Bronfenbrenner (1979) e que foi expandido e desenvolvido por Alarcão e Sá-Chaves (1994) e posteriormente por Oliveira- Formosinho (1997) (Alarcão & Tavares, 2007).

Alarcão e Tavares (2007) mencionam que, neste cenário, “a supervisão, como processo enquadrador da formação, assume a função de proporcionar e gerir experiências diversificadas, em contextos variados, e facilitar a ocorrência de transições ecológicas” (Alarcão & Tavares, 2007, p.37) que proporcionam oportunidade aos jovens professores de efetuarem novas atividades, assumirem novos papéis, possibilitando aos mesmos, a interação com outras pessoas, permitindo, assim, o seu desenvolvimento formativo humano e profissional.

Na perspetiva bronfenbrene-riana, os contextos assumem importância vital, pois no ponto de vista da autora, (Bronfenbrenner, 1979), citado por Alarcão & Tavares (2007), a interação do conjunto dos microssistemas onde os profissionais estão inseridos, têm sobre estes uma grande influência.

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Cenário dialógica

Este integra na corrente filosófica, conceções e correntes se pensamento que se assentam nos conceitos antropológicos, sociológicos e linguísticos, abordagem por Waite (1995), defendendo assim uma supervisão dialógica e contextualizada. Este tipo de abordagem cujos cenários assumem aspetos pessoalista, desenvolvimentista, assim como, destaca a dimensão política e emancipadora da formação. Na perspetiva de Alarcão e Tavares (2007), este modelo evidencia a relevância dada à linguagem e ao diálogo crítico na “construção da cultura e do conhecimento próprio dos professores como profissionais e na desocultação das circunstâncias contextuais, escolares e sociais, que influenciam o exercício da sua profissão.” (Alarcão & Tavares, 2007, p.40).

Este desenvolvimento profissional dá predominância à comunicação, ao diálogo construtivo que se institui entre os pares, professores e supervisores, vistos como parceiros profissionais da mesma comunidade educativa, numa perspetiva de inovar e criar novos contextos educativos.

Finalizada esta reflexão sobre os vários cenários possíveis de supervisão, e assente na investigação elaborada, concluo que não existe uma forma ímpar, singular do ato supervisivo, independentemente da forma como esta é compreendida ou interpretada, nem está assente num conjunto de estratégias, ou seja, a prática de supervisão está assente numa multiplicidade de formas, histórica e culturalmente contextualizada. No entender de Alarcão e Tavares (2007), estes cenários, revelam perspetivas distintas sobre “a supervisão como processo intrapessoal e interpessoal de formação profissional que visa a melhoria das escolas” (Alarcão & Tavares, 2007, p.41).

No momento atual, desponta novos modelos de supervisão baseados na realidade das escolas e das organizações escolares, passando assim da “ênfase no ensino para a ênfase na aprendizagem” (Tracy, 2002, p.82).

Tracy (2002) refere no seu estudo que, os professores são elementos de aprendizagem ao longo de todo o seu ciclo de vida e não somente na formação inicial; que as pessoas são responsáveis pelo seu desenvolvimento e têm competência de se autodirigirem e de se auto supervisionarem, desde possuem recursos e estruturas de acompanhamento apropriados; as necessidades de formação dos adultos, são distintas das aprendizagens das crianças e que a motivação para a colaboração promove melhores aprendizagens. “ (Tracy, 2002, p.84). Tudo leva a crer que este tipo modelo já emerge, mas que que este se torne uma realidade “o campo” de supervisão precisa de académicos que desenvolvam os seus

Escola Superior de Educação Almeida Garrett 61 estudos/investigação e de profissionais dispostos arriscarem de forma radical novas formas de supervisão.

4.3. A Supervisão como parte crucial na construção da identidade profissional dos