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O antigo e o novo se encontram na Folha de São Paulo. Por isso, tudo que ocorre em termos editoriais e empresarias no jornal tem a ver com a íntima relação entre o pai, Otávio Frias de Oliveira, e, o filho, Otávio Frias Filho. A partir da comunhão de suas idéias, é que, nas décadas de 1990 e nos anos 2000, configuraram-se novas estruturas no veículo.

Com sua juventude, Otávio Frias Filho criou um contorno de um jornal inquieto e perturbador. Ao estimular a contratação de um grupo de jovens chefes de redação, ousou por permitir “certas” transgressões editoriais.

Nos anos de 1990, o comprometimento de a Folha com a vida política do país manteve-se nos episódios que culminaram tanto para a eleição do presidente da república Fernando Collor de Mello como para o seu processo de impechemant. Invasões à redação, diligências de policiais e agentes federais foram atos ainda vistos dentro do jornal. Com a publicação de editoriais, cartas abertas e matérias, os jornalistas mostravam sua indignação diante dos fatos.

Na parte gráfica, o ano de 1990 marcou em definitivo a informatização das redações, que nos grandes centros urbanos brasileiros ocorria desde a década anterior. Aumentaram as possibilidades de utilização de recursos gráfico-visuais, e os jornais tornaram-se, ao menos no que tange ao uso das cores, cada vez mais parecidos com as revistas e atrações televisivas, incluindo-se os mais conservadores nos novos padrões de apresentação visual.

A Folha adotou os mesmos princípios de apresentação gráfica que tornaram famoso o USA Today. No jornal americano, por exemplo, uma prática comum era a utilização, no canto inferior à esquerda das capas de caderno, de um pequeno quadro com informações curiosas sobre a sociedade ou sobre o cotidiano norte- americano. Na Folha, adota-se esse mesmo estilo gráfico, com o título Indifolha para falar sobre “curiosidades” da vida paulistana34.

34 CÍRCULO Folha. Folha Online. São Paulo. Disponível em:

Em termos gráficos, o avanço seguinte se deu por meio da introdução das paginadoras Harris, que permitem a montagem eletrônica das páginas do jornal, eliminando o processo manual de paste-up. Houve uma reorganização do noticiário em novos cadernos de circulação diária. Além da Ilustrada, o jornal passou a oferecer os cadernos Brasil, Mundo, Dinheiro, Cotidiano e Esporte (autônomo, com veiculação aos domingos e segundas-feiras).

Em 1992, a Folha de São Paulo se consolidou como o jornal com a maior circulação paga aos domingos, registrando média de 522.215 exemplares. Visando à facilitação da leitura, ocorreu uma reestruturação gráfica. A Primeira Página passou a circular colorida todos os dias e surgiram duas novidades: o caderno Mais! e a Revista da Folha.

Nos dois anos seguintes verificaram-se novas mudanças tecnológicas. Ao Banco de Dados, se integrou uma rede de computadores para armazenar todos os textos publicados, que podiam ser consultados pelos jornalistas nas telas dos terminais. Em 1997, novo projeto editorial foi apresentado, com reflexões sobre a atual situação do jornalismo e uma manifestação de intenções para o futuro do veículo. O projeto propunha um jornalismo mais interpretativo, complexo, desestatizado e humano. A partir de 2000, o Brasil Online (BOL), empresa do Universo Online, lançou o provedor NetGratuita. O Folha Online, com veiculação de notícias em tempo real, ampliou substancialmente seu time de colaboradores e lançou novos canais na homepage. Na parte impressa, os jornais também modificaram sua forma de comunicar perante as convergências do mundo virtual. O BOL foi um dos primeiros portais a oferecer conteúdos gratuitos, junto com o IG.

Nos anos 2000, com o advento da internet, das TVs pagas e dos noticiários em tempo real, os jornais investiram mais na organização da notícia. Na Folha de São Paulo, uma das mudanças se deu no tamanho do jornal, como ocorreu com os principais jornais brasileiros.

Na Folha, a largura das páginas foi reduzida em uma polegada, ou o equivalente a 2,54 centímetros, passando dos atuais 34,29 centímetros para 31,75. A altura, porém, continuou a ser a mesma, de 56 centímetros. A largura da área impressa também se modificou, passando de 33 centímetros para 29,7. Tais mudanças significaram os jornais ficarem mais verticais e seguirem a tendência de outros países, como Canadá e Estados Unidos, ao adotar o mesmo formato do jornal americano Washington Post, por exemplo.35

No Brasil, a decisão de reduzir a largura já foi implantada por 77 jornais, entre os 96 publicados em formato standard, todos filiados a Associação Nacional de Jornais (ANJ). O objetivo, além da economia de papel e diminuição de custos, é tornar o manuseio dos jornais mais prático e confortável36.

O jornal impresso Folha de São Paulo também incorporou inovações, inclusive em suas linhas editoriais. Em seu novo projeto gráfico, de autoria do designer italiano Vincenzo Scarpellini, as letras dos títulos foram compactadas para aumentar a legibilidade. “A impressão dos leitores é que a página respira mais”, diz. Para ele, o bom jornal é o que pode ser lido em 5 minutos ou em três horas.37 A numeração das

páginas do jornal muda para o sistema alfanumérico: a letra indica o caderno, e o número, a página. No caso da Folha, as três primeiras letras do alfabeto designam, respectivamente, os cadernos que contêm o noticiário, inclusive os de Economia e Ilustrada (A); os suplementos (B) e os três Classifolha, que, além de anúncios, trazem reportagens e prestação de serviço (C).

Com essa perspectiva de inovação, foi lançada, em 18 de março de 2008, uma nova seção do jornal, a página Folha Corrida – Notícias em Cinco Minutos, objeto desta pesquisa. A página tem como objetivo trazer informações do dia em textos curtos e diretos, do mundo político à cultura38.

35 Matéria publicada na Folha de São Paulo, no dia 20 de junho de 1999, com o título: “Jornais mudam largura a

partir do dia 6”. Material fornecido pelo Banco de Dados da Folha.

36

Idem nota 34.

37

Idem, nota 34.

38 Matéria publicada na Folha de São Paulo, no dia 16 de março de 2008, com o título: “Folha Corrida vai trazer

o noticiário em cinco minutos”. Material fornecido pelo Banco de Dados da Folha. O material que contem o infrográfico com o desenho da Folha Corrida está em anexo.

De segunda a sábado, a nova página da Folha funcionará, como o próprio jornal classifica, como mais uma “porta de entrada”39 para o jornal. A intenção é que o

leitor “apressado” encontre na Folha Corrida informações, em textos curtos, que perpassarão todos os cadernos, do noticiário político ao cultural. No domingo, a Folha Corrida fará um resumo dos acontecimentos mais importantes da semana e dos personagens que mais se destacaram. O objetivo, nesse caso, é atender os leitores que não acompanharam os noticiários semanais e os que leem apenas no final de semana.

Um novo rumo ao jornal que, como veremos a seguir, mais que a contornos modernos, remete às notícias dos antigos almanaques brasileiros e mundiais.

5 CAPÍTULO IV - FOLHA CORRIDA: A NARRATIVA DO INSTANTE